Por mais generalizada e superficial que seja a opinião dos ateus de que a religião é baseada na ignorância, eu não tiro a razão deles quando eu leio textos dos cricriacionistas, sobretudo quando usam de analogias pobres ou citam supostos estudos científicos para mostrar que eles estão certos.
Em dias como os nossos, onde o politicamente correto flerta com a hipocrisia e direitos são distorcidos para ora censurar ora para discriminar, meus textos podem ser facilmente ser tachados de "intolerância religiosa" unicamente porque eu tenho a coragem de contestar o fundamentalismo cristão. Eu deveria ter aprendido que essa gente não escreve uma opinião nem estão propondo um debate.
Esse é o problema sério dos cricriacionistas que são, ao menos no Ocidente, cristãos fundamentalistas. Eles não estão falando de suas idéias ou crenças, mas de "fatos" e "verdades". Então tudo que contraria ou contesta estas "verdades" só pode ser falso, mentiroso, que deve ser desmentido e refutado. Por causa disso, a Teoria da Evolução ganha uma atenção especial dos cricriacionistas, embora a teoria de Darwin tenha, ao menos, uma explicação mais plausível do que a da bíblia.
O pior não é lidar com tamanha desonestidade, dissimulação, distorção, o pior é saber que existem institutos e pesquisadores dispostos a trabalharem arduamente para dar um "embasamento científico" ao que a crença determinou como sendo "fato" e "verdade" indiscutíveis, indubitáveis, irrefutáveis. Quando não conseguem, dão um jeito de usar pesquisas científicas sérias para seus propósitos escusos. Os casos mais espantosos que encontrei na net foram textos que "comprovam" que o aborto causa câncer de mama e textos que "comprovam" que há uma conspiração homossexual para liberar a pedofilia.
Engraçado mesmo são as lendas que os cricriacionistas recorrem como analogia para "comprovar" a existência do Deus Cristão, como o Relojoeiro Cego, a Tipografia Explodida, etc. Eu encontrei um texto que usam inclusive o Teorema dos Macacos da mesma forma, citando o trabalho de Gerald Schroeder, que testou tal teorema.
O “Teorema do Macaco” estabelece que: se colocarmos um “macaco” imortal em frente a uma máquina de escrever inquebrável, que fique teclando aleatoriamente e indefinidamente, então todas as obras que se possa imaginar serão escritas. Ele irá escrever todas as obras de Shakespeare, todos os contos da Agatha Christie, a Bíblia etc. Sem um único erro, vírgula por vírgula, ponto por ponto!
O cientista israelita Gerald Schroeder fez uma famosa experiência que foi conhecida pelo “teorema dos macacos”, e que consistiu em colocar um teclado de um computador dentro de uma jaula com seis macacos.
A ideia de Schroeder seria a de que eventualmente os macacos, brincando aleatoriamente com o teclado e pressionando ao acaso as diversas teclas, conseguissem escrever um soneto, ou no mínimo, escrever uma só palavra correta em qualquer língua conhecida. Ao fim de um mês de experiência verificou-se que os macacos tinham datilografado 55 páginas mas não conseguiram escrever uma só palavra em qualquer língua conhecida, nem mesmo tinham escrito palavras básicas e monossilábicas como existem no inglês: a (artigo indefinido) ou I (eu) necessitam de um espaço antes e depois da letra para poderem serem identificadas com o seu próprio significado.
Qual a chance de um bando de macacos batucando à esmo em teclados de computador, produzirem algo inteligível? Resposta: depende do número de macacos. O tamanho da amostra conta demais. Se há 5 macacos na amostra eu ficaria muito surpreso se algum deles escrevesse, digamos, “O diário de um mago”, do Paulo Coelho (se acontecesse, eu consideraria isso uma mágica do Paulo Coelho, ou alguma intervenção sobrenatural que fez com que o macaco encarnasse o autor). Mas, se o número de macacos é um bilhão elevado à potência de um bilhão, eu ficaria muito menos impressionado. Na verdade, eu ficaria surpreso se algum macaco não reproduzisse um livro bem conhecido (mas não especificado) por pura sorte. Um deles poderia até mesmo escrever o próximo livro do Paulo Coelho que ele mesmo ainda nem sabe qual será. Se alguém se deu melhor que a multidão no passado, é válido presumir que tenha alguma habilidade que o fará dar-se melhor no futuro também. Mas essa presunção PODE ser tão fraca a ponto de ser inútil para a tomada de decisão. Por quê? Porque tudo depende de dois fatores: o conteúdo de acaso em sua profissão, e o número de macacos na amostra.
O estudo não explica que tipo de macaco foi usado nem que tipo de linguagem o texto deveria ser escrito. Existe uma diferença entre macacos selvagens e macacos de laboratório, macacos de laboratório tendem a cooperar mais em um ambiente de testes. Existem diversos tipos de macacos, para o senso comum, um sagui e um gorila são macacos. Existem diversas formas de linguagem, incluindo a criptografia.
Conforme são apertados, os cricriacionistas vão pulando de macacos para átomos, de probabilidade para determinismo, de Deus (o Cristão) para Mecânica Quântica.
Mecânica Quântica não é placebo para explicações esdrúxulas.
Macacos escrevem melhor do que cricriacionistas.
Republicando. Texto originalmente escrito em 22/09/2009, resgatado com o Wayback Machine. Nota humorística: científicamente falando, nós, seres humanos, somos macacos evoluídos, portanto, esse texto foi escrito por um macaco.
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