quinta-feira, 9 de abril de 2015

Quando um rótulo não faz o conteúdo

Nas comunidades pagãs do exterior existe um mal estar causado pelas declarações de Zsuzsanna Budapest. A discussão é evitada no exterior e aqui no Brasil impera uma supremacia das religiões da Deusa sobre a comunidade pagã que torna meu trabalho impossível.

Jason Mankey tentou apontar para o elefante na sala, mas com muita delicadeza, no texto “When Wicca is not Wicca”.

Segundo Jason: “No seu início a Wicca era apenas uma tradição iniciática; para se tornar um wiccano tem que ser iniciada por outro wiccano. Isso começou a mudar na década de 1970 e pelo início de 1990 a Wicca havia se tornado algo que era facilmente acessado”.

Para entender esse processo eu recomendo a leitura do texto “A Origem Americana da Neo-Wicca”. Aqui no Brasil a Wicca veio americanizada e nos faltam meios, recursos e fontes para conhecer a Wicca Tradicional. Felizmente eu encontrei o texto de Janluis Duarte, “Reinventando Tradições Representações e Identidades da Bruxaria Neopagã no Brasil”.

De certa forma eu entendo quem quer evitar ou silenciar os fatos, as evidências, as controvérsias e as polêmicas. Há a impressão que se nos dispusermos a discutir esses assuntos em público irá acarretar em uma diminuição do interesse popular. Eu vejo algo desse processo no Cristianismo, que tem se travestido de outra coisa, como Cristianismo Progressista, para manter a audiência. Mas para o autor deste blog e para o interesse do dileto e eventual leitor, eu tenho que afirmar aquilo que se quer evitar dizer: Diânico não é Wicca.

Para embasar tal afirmação, eu tenho que recorrer à Teoria dos Grupos. Primeiro nós temos o Paganismo como um grupo geral. O Paganismo se subdivide em Paleo, Meso e Neo. O Neopaganismo, ou Paganismo Moderno, se subdivide em Reconstrucionistas, Aborígenes e Religiões de Bruxaria. As Religiões de Bruxaria se subdivide em Bruxaria Tradicional, Wicca, Feri, Diânico e Eclético. Eu agrupei e separei esses sistemas por um motivo: não é por que algo recebeu o rótulo de Wicca que será Wicca. Estão aí a “Wicca Cristã” e outras viagens esquisotéricas, como Eddie Van Feu, que mostram bem o caso.

Há anos eu afirmo: Wicca é uma religião e, como tal, tem características, princípios e valores. Tem vertentes do Cristianismo que, para resguardar a audiência, abre mão de diversas características, princípios e valores próprios do Cristianismo. Estão distorcendo a um ponto que mal dá para se reconhecer a religião como aquilo que a define.

Em muitos textos neste blog eu dou pistas de quais são as características, os princípios e os valores da Wicca Tradicional, mas eu não apontei quais, como e por que, as características, princípios e valores das vertentes diânicas, o torna uma forma diferente de Religião de Bruxaria, de Paganismo Moderno, mas não Wicca.

Ausência de linhagem – as fundadoras das vertentes diânicas não tem linhagem, seja em relação a alguma forma de Bruxaria Tradicional, seja em relação aos fundadores da Wicca Tradicional.

Ausência do Deus – a característica em comum nas vertentes diânicas é uma ausência ou diminuição do Deus. O excessivo enfoque na Deusa denota uma forma de Monoteísmo invertido, quando não uma forma equivocada de Monismo.

Ausência do sagrado masculino – esta é outra característica comum das vertentes diânicas, nega-se aos homens seu lado divino e sagrado, uma forma de misandria, uma inversão da misoginia das religiões monoteístas.

Ausência de ortopraxia – as vertentes diânicas divulgam práticas e rituais de outras tendências místicas, ocultas e esotéricas que tem pouca ou nenhuma relação com a Wicca.

Mistura de Panteões – as vertentes diânicas não demonstram o menor respeito aos mitos, mistérios e sacerdócio de outros panteões, promovendo uma mistura desaconselhável.

Adoção de regionalismo – as vertentes diânicas tornam a Wicca uma religião regional, adotando práticas, panteões, mistérios e mitos regionais.

Mistura de sistemas – as vertentes diânicas realizam tanto o giro pelo norte quanto o giro pelo sul no mesmo espaço. Isso causa confusão na correlação dos rituais com as estações do ano e os sabats.

Um comentário:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Não sei se concordo em absoluto com os pontos de vista suscitados no texto... Ou que o dianismo pregue uma ausência da divindade masculina, o que de fato não prega, quanto o regionalismo e a mistura de sistemas isso se deve ao uso do diânismo mais como uma forma de culto ao Sagrado Feminino do que como uma bruxaria. Isso é perceptível quando vemos grupos assumidamente diânicos trabalhando com egrégoras católicas, o que não veja mal algum afinal numa perpectiva diânica a Deusa "transcende" (sei que é controverso) as religões, todas elas.
UMA COISA EU CONCORDO DIÂNISMO EM ESSÊNCIA NÃO É WICCA.
E acredito que não seja obrigatório seguir o wicca para ser uma bruxa neo-pagã. Não sou nenhuma especialista no assunto, e uma vez recentemente comentaram algo a respeito da negação do Deus na minha página e eu responde que não o negava, nem ao seu culto (que eu pratico em particular) mas que minha página é voltada exclusivamente para o sagrado feminino tendo sido esse o foco exclusivo dela.

Não quero lançar nenhuma controvérsia, acho inclusive seu ponto de vista muito lógico e inteligente e entendo sua preocupação com o Wicca,mas...como sempre existe uma miríade de perpectivas ao falarmos de um mesmo tema.