O uso de ossos, animais e humanos, em cerimônias religiosas
é tão velho quanto o homem. O osso é a ultima coisa que resta quando há tempos
a carne desvaneceu. Ossos podem estar
vinculados à ruinas de velhas construções onde antes habitava uma vida
vibrante. Mas como as ruinas agora permanecem como uma silenciosa lembrança de
que a vida não é permanente, mas transitória.
Nas cerimonias religiosas ao redor do mundo se celebra a
vida e muitas vezes a morte e o que está além das portas da morte. O uso de
ossos em cerimônias serve para mostrar a natureza curta da vida e que o tempo
chega para todos. Para muitos de nós a morte é um grande e temido mistério.
Ossos de animais como ferramentas e objetos cerimoniais têm
sido usados por incontáveis anos pelos antigos xamãs. Os ossos de certos
animais eram frequentemente engastados na forma de um ser vivente e, na forma
da magia simpática, possuíam-se os poderes do animal. Ossos de animais eram frequentemente
usados por xamãs para divinação.
O ritual conhecido como “chod”, que significa “cortar” é uma
mistura de práticas culturais antigas, tendo suas raízes no xamanismo Bon. Hoje
devem ter mais pessoas que praticam o chod do que antes. Esta é uma prática que
se encaixa muito bem para os tempos degenerados que vivemos, onde as pessoas
procuram por saúde e segurança material acima de qualquer coisa, uma
necessidade que jamais está satisfeita. Estes desejos e ambições são as raízes
de muitas de nossos sofrimentos. A prática do chod é uma forma eficiente de
lidar com esses problemas e ilusões que tão fortemente afetam nossas vidas.
Quanto à prática em si mesma, o praticante visualiza sua
consciência fluindo como uma luz através da coroa da cabeça para então se
transformar em um Dakini. A Dakini desce ao corpo vazio e com uma foice corta o
topo da cabeça formando então uma tigela na qual é colocada uma grade de três
caveiras humanas que surgiram instantaneamente de uma chama. Retornando ao seu
ofício, a Dakini corta a carne e os ossos remanescentes e os coloca na tigela. Esta
se expande e se torna vasta e o conteúdo se transforma e se torna um néctar de
substâncias benéficas. Este néctar se torna uma oferenda a todos os seres de
todos os reinos, os seres partilham a substâncias do néctar e eles se tornam
plenamente saciados e beneficiados por esta suprema oferenda. Todos os demônios
de nossa mente, as raízes de nossos sofrimentos, tomam forma como seres que são
purificados por nossas ações. Com isso tudo se torna vazio em existência e
forma.
Pode se ver que a prática do chod trata diretamente dos problemas
e obstáculos ao nosso caminho para a iluminação. Torna-se um método e um meio
para perceber que tudo é inerentemente vazio. Ao aplicar esta prática aos
problemas da vida, nós podemos superá-los e ao mesmo tempo alcançar grande mérito
ao nos oferecer como sacrifício.
Fonte: Black Moon Archives.
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