As lendas contam que um duende escondeu no fim do arco íris um
pote de ouro. O arco íris, um sinal tão evidente, considerado a ponte entre
mundos e mensagem dos Deuses, não parece ser o lugar mais adequado para
esconder uma riqueza.
Eu desconfio que o duende mesmo quem espalhou a lenda,
esperto como deve ser, criou uma distração, apontou para o arco íris pois sabia
que o homem iria buscar o pote de ouro onde ele não está. Eu desconfio até que
o duende não tinha ouro, sequer o pote. Certamente ele guardava uma riqueza,
mas sábio como deve ser, não poderia entregar algo tão valioso ao homem. O homem
tem um vazio que tenta preencher com sua ganância, mas nunca estará satisfeito.
O homem estraga tudo que põe a mão.
Se há alguma riqueza e se esta é guardada por um duende,
devemos nos perguntar de que tipo de valor nós estamos falando e no que a posse
deste bem irá alterar nossas vidas. Se esta riqueza está oculta, há um mapa, um
cofre, um caminho, um desafio, um herói. Quando falamos em algo oculto e uma
missão, falamos de um mistério e do caminho iniciático.
O duende tem a reputação de ser ardiloso, traiçoeiro e
mentiroso. Mas antes de querermos condenar o duende, o homem também é uma
criatura dissimulada. O que mais vemos no mundo dos humanos é gente fazendo
trapaça com gente. O que mais vemos no mundo dos humanos é vigarista vendendo o
caminho dos tijolos amarelos. O que mais vemos no mundo dos humanos é guru
oferecendo a plenitude.
O buscador fica perdido diante de tantos caminhos, práticas,
fórmulas, promessas. Tudo está bem, enquanto o buscador não perceber o homem
por detrás da cortina. Quando isso acontece, tudo aquilo que foi prometido lhe
será negado. Quando isso acontece, o buscador é renegado, repudiado, perseguido,
maldito, pela simples ousadia de ter percebido que nunca precisou de gurus, mestres,
orientadores, sacerdotes, iniciações, ordenações, linhagens ou tradições para
encontrar o pote de ouro.
Quem tiver entendimento, entenda. O segredo consiste em
fazer o buscador acreditar que o pote de ouro está onde não está. O segredo
sustenta seu valor enquanto estiver oculto em uma falsa aparência de mistério. No
entanto, quando se chega ao centro do mistério, o buscador encontrará o mesmo
vazio que existe nos templos.
Seja pote, caixa ou templo, estas coisas são vãs tentativas
de controlar, conter, delimitar o inefável, o divino. Seja ouro, conhecimento,
sabedoria ou iluminação, estas são vãs fórmulas que apenas laureiam o ego de
quem se arroga possuir o caminho. Quem tiver entendimento, entenda. O divino
está em todo lugar, inclusive dentro de você. Para encontrar o caminho basta
caminhar com seus pés.
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