sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Escândalo na Academia

Não se falava outra coisa na Ágora. Nem mesmo quando Platão andou fazendo a apologia de Sócrates tinham tantos comentários e boatos. Aos cochichos, aqueles senhores barbados, sisudos, cochichavam sobre se era verdade ou não que o grande Aristóteles tinha se submetido a uma mulher. Como aquele que era chamado de mestre por tantos estava ausente e ocupado tutelando Alexandre III, o filho de Felipe II e Basileu da Macedônia, só o que restava eram conjecturas e muitas fantasias.

Os boatos mais gentis contavam que o mestre tinha sido vítima de uma trapaça forjada por Alexandre, mas mesmo isso era inaceitável. Os boatos mais maldosos eram de que o mestre tinha servido, voluntária e alegremente, como cavalo dessa enigmática mulher. Ah, sim, as gerações futuras irão perguntar e até se tentará esconder, mas a Grécia Antiga foi o berço da misoginia que existe no mundo ocidental contemporâneo.

A história ou lenda foi registrada por Lope Garcia Salazar, no livro Bienandanzas e Fortunas, no Tomo Cinco, em castelhano arcaico, no que eu transcrevo a tradução dada pelo Google Tradutor:

Título de como Aristótiles foi enganado de uma donzela a conselho de Alixandre, porque o repreendia muito para não usar com mulheres.

Alixandre, vendo-se repreendido por seu mestre Aristótiles, seiendo mançebo, por ser próximo das mulheres, resolveu repreendê-lo. E ele tinha um jeito com uma de suas donzelas que o enganava dessa maneira: aquela donzela se aproximava dele com tal engenhosidade, que o fazia entender que o amava mais do que a si mesma e o colocava em tal estado, que ele a amava de forma desigual , no entanto, que ela descobriu seu amor por ela, o que, com zelo devido à indústria de Alixandre, gelo estava delicadamente atrasando, desde que lhe dissesse que lhe daria todas as coisas que ela exigisse dele e tudo o que ela lhe enviasse, que ela respondeu que queria mais do que ele, mas que ele a deixava fazer uma coisinha e então que secretamente confiava nela a sua vontade, porque era casado e velho. E ele respondeu com uma alegria maravilhosa para perguntar o que ele queria. Diga à ele:

-Senhor, deixe-me encarar e selar e cavalgar em você com esporas como um cavaleiro a cavalo e você vai correr à noite, para que não se saiba, no grande salão do palácio iluminado por velas quando todos estão dormindo.

Aristóteles, surpreso e pesado com isso, disse:

-Oh, senhora fixa! Por que está fazendo isso, é meu mal e probleminha? E me diga por que você quer isso.

-Senhor, eu quero isso porque as omes têm o costume de zombar das mulheres quando elas cumprem suas vontades, porque se quiser zombar de mim depois de concordar com sua vontade, para que eu possa decidir como cavalguei em você antes como a um cavalo.

E concedido por ele, ele o enfrentou e o selou, e, cavalo nele, o fez correr a quatro pés, ferreting d'espuelas. Como Alixandre, que enfrentou tudo isso, ele estava ali escondido atrás de uma parede e veio até eles e disse "o que é isso, professor ilustre?" O Aristótiles o viu, com grande pesar e muita vergonha disse:

-Oh consertou Alixandre! Você namorou tudo isso. Jamais te repreenderei por uma coisa de mulher, por nenhum senso de omne do mundo que não seja enartado pelo amor de mulher.

Notem que não se declara o nome da beldade. No entanto, consultando o Oráculo Virtual [Google], tanto em páginas em inglês quanto em português, acusam o nome de Filis [Phyllis]. Nessas versões, algumas dão a entender que Filis era uma cortesã ou esposa de Alexandre e que a ideia dessa pegadinha foi toda dela.

Lenda assim não é novidade. Desde que os meninos tomaram o mundo e instituíram o Patriarcado, os meninos ainda tem medo da mulher. Sansão teve a Dalila, Holofernes teve a Judite, Herodes teve a Salomé. Todas essas lendas mostram como nós, homens, somos o verdadeiro sexo fraco.

Quando Alexandre resolveu tirar férias depois da batalha de Gaugamela, Aristóteles veio junto na comitiva de volta à Macedônia. No ato, Aristóxeno, Critolau, Nicômano, Teofrasto, Estradão, Demétrio e Eudemo foram ter com o mestre.

- Mestre! Mestre!

A figura de uma mulher aparece na ventana e os tenta enxotar.

[em persa]- Fora daqui, o mestre está dormindo.

Felizmente Teofrasto passou alguns anos na Síria e pode entender e dizer algumas palavras com essa mulher.

[em sírio]- Gentil donzela, nós precisamos ver o mestre.

[em macedônio]- Você é um dos alunos dele?

- Sim! Graças aos Deuses, nós falamos a mesma língua.

[irritada]- Como eu disse, vão embora, o mestre está descansando.

- Por favor, nobre donzela, isso é importante!

[de dentro da casa]- Quem é, querida?

- Ah, meu chuchu, só alguns homens inconvenientes.

[esgueirando pela ventana] - Quem? Ah! Teofrasto! Entre, entre, vamos conversar.

- Nós todos podemos entrar?

[acenando]- Claro, claro. Filis está apenas sendo superprotetora.

Os sete homens passam pela porta sentindo os olhos daquela mulher lançar adagas pelos olhos. A casa continuava do mesmo jeito. Simples, espartana e limpa. Metade da casa tomada por nichos recheados de pergaminhos e a parte do quintal decorada com inúmeros objetos e experimentos do mestre.

- Felizmente eu preparei muito chá de melífera e hortelã. Sentem-se que eu os sirvo.

Acanhados e envergonhados, aqueles homens se serviram dos banquinhos que encontraram e se dispuseram em círculo. Rápida e agilmente Aristóteles entrega uma xicara e chá para cada um.

- Lamento. Os biscoitos egípcios acabaram.

- Hã... tudo bem, mestre. Perdoe-nos o incômodo. Nós apenas queríamos saber e entender o que aconteceu com... o senhor e a Filis.

[rindo]- Nada que não aconteça desde que nossa espécie apareceu no planeta.

- Mas... o senhor... nos ensinou tanto sobre o gênero feminino!

[sério]- E eu não poderia estar mais errado. Eu espero viver o suficiente para repara meu erro.

[apreensivo] - Isso... é bom, mestre. Sua ausência foi sentida na Academia. Eu e muitos ficaremos muito contentes com o seu retorno. Mas por favor, nos conte se é verdade?

[estreitando os olhos]- Isso é alguma brincadeira? Eu refutei Platão e Sócrates.

[gesticulando]- Não, mestre! Nós apenas queremos ouvir a história, tal como aconteceu, diretamente do senhor!

[suspirando]- Oh, bem... eu acho que esse é o meu castigo. Que falta me faz os canudos de cálamo da Bitínia! Eu acho que foi em Issus, depois da vitória em Gaugamela. Alexandre foi reconhecido e coroado como Basileu da Pérsia. Em poucos anos, o garoto tinha seu império e eu estava preocupado se ele teria condições de reger. Quando se fala em regência e obrigações imperiais, eu achei prudente alertar Alexandre de que esse tipo de ocupação deve ter cuidado com as amizades e sobretudo com a fraqueza masculina diante da mulher. Evidente que eu sabia que ele era bissexual, então eu deveria incluir sua possível fraqueza diante de um homem, como depois eu percebi sua intimidade com Heféstion, mas acabou ficando assim. Por algum motivo isso o contrariou e o que não faltava na Pérsia são mulheres deslumbrantes. Atentem a isso, garotos, não importa o quanto vocês estudem e saibam das coisas, vocês ainda serão homens sujeitos aos mesmos apetites comuns.

- Nós lembramos bem de suas aulas sobre o gênero feminino.

[sério]- E eu vou ter que corrigir e ensinar outra coisa.

[assustado]- Mestre, o que mudou?

[suspiro]- Nós discutimos muito sobre a arrogância e prepotência dos Helênicos de se declararem o povo da filosofia. Existe um mundo enorme e eu encontrei muitos sábios no Oriente. Filis, por exemplo, é mestra em Pasargada.

[mais assustado]- Hã... isso é realmente, mestre, mas é verdade que o senhor serviu como cavalo para essa mulher?

[sério]- Sim, porque não? Nós ouvimos dos anciãos as lendas sobre a Era Dourada, quando Deuses e homens conviviam. Nesse tempo perdido, o mundo adorava uma Grande Deusa e seu Consorte. Então aconteceu um cataclisma, que as lendas não explicam direito, nós começamos a adorar os Deuses de agora e nos tornamos patriarcais e machistas. A humanidade perdeu muito ao alijar metade de sua espécie. Aprendam, meus alunos. A fonte da sabedoria é a mulher. Submeter-se a uma mulher não nos torna menos homens. Deixe que a mulher te cavalgue, pois ela também deixará que você monte nela. Acredite, vale muito mais alguns minutos entre as pernas de uma mulher do que todos os anos de Academia.

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