segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A razão do cliente

Quem trabalha no comércio deve ouvir todo dia a frase: “o cliente sempre tem razão”.

No mundo contemporâneo, o conceito de cliente é: “indivíduo que contrata serviços ou adquire mercadorias mediante pagamento; comprador, freguês”.

Mas a origem do nome vem da Roma Antiga: “indivíduo que estava sob a proteção de um patrono”.

Então para cada cliente existia um patrono, de onde vem a palavra “patrocínio” e “clientela”.

“Patrocínio ou clientela é uma forma de relacionamento específica na antiga sociedade romana entre o patrono (em latim: patronus; pl.: patroni) e seus clientes (em latim: cliens; pl.: clientes). A relação era hierárquica, mas as obrigações eram mútuas. O patrono era o protetor, o patrocinador e o benfeitor dos clientes, uma proteção chamada tecnicamente de patrocínio (em latim: patrocinium). Apesar de o cliente tipicamente ser de uma classe social inferior, patrono e clientes podiam ter o mesmo status, mas o primeiro seria mais rico, mais poderoso ou deter maior prestígio, o que garantia sua capacidade de ajudar ou favorecer seus clientes. Do imperador no topo até um líder municipal no fundo, os laços entre estes grupos eram expressados formalmente na definição legal das responsabilidades dos patronos em relação aos seus clientes.

Entre os benefícios que um patrono poderia conferir estavam a representação legal numa corte, empréstimos, influência em acordos comerciais ou casamentos e o apoio às candidaturas do cliente a cargos políticos ou sacerdotais. Em troca, esperava-se do cliente que oferecesse seus serviços sempre que o patrono precisasse. Um liberto podia tornar-se cliente de seu antigo mestre. Uma relação de patrocínio também poderia existir entre um general e seus soldados, um fundador e seus colonos ou um conquistador e uma comunidade estrangeira dependente”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Patroc%C3%ADnio_na_Roma_Antiga

Essa relação social era estabelecida entre as diversas classes de cidadãos, mas refletia a distinção social entre patrícios e plebeus, sendo os patrícios as famílias aristocráticas romanas e a grande massa de pessoas comuns são os plebeus. Outros indivíduos que estavam no substrato dessa organização social eram os escravos [cativos de guerras, plebeus endividados, etc] e os peregrinos.

“Peregrino (em latim: peregrinus; pl. peregrini) foi um termo usado no Império Romano, de 30 a.C. até 212 d.C. para denotar um homem provincial livre, morador no império mas sem ser cidadão romano. Os peregrinos constituíam a imensa maioria dos habitantes do império nos séculos I e II. Os peregrinos foram pessoas de segunda classe até o ano de 212, em que a cidadania romana foi concedida a todos os habitantes do império.

[...]

Em latim peregrinus (de per + agere =viajar longe, da qual deriva a palavra "peregrino"), significava "estrangeiro"; mas, a começos do Principado, peregrinos não significava estrangeiro em senso literal, pois eram nativos de províncias do império. Contudo, a posição legal e fiscal superior dos cidadãos romanos significou que os peregrinos tivessem um status de segunda classe nos seus próprios países.

[...]

Na esfera social, os peregrinos não possuíam o direito ao conúbio (connubium), i.e., não se podiam casar com um cidadão romano. Portanto, qualquer filho de um matrimônio misto era ilegítimo e não podia herdar a cidadania (ou as propriedades). Além disso, os peregrinos não podia designar os seus herdeiros sob o direito romano, a menos que fossem auxiliares militares. Portanto, à sua morte estavam legalmente intestados, pelo qual os seus bens passavam a ser propriedade do Estado”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Peregrino_(Roma_Antiga)

Nessa organização social, o patrono/patrício tinha mais razão do que o patrocinado/cliente. Escravos e peregrinos não eram sequer considerados cidadãos.

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