O conceito principal é que os mitos antigos retratam estupros.
"O estupro de mulheres humanas por deuses e semideuses é uma constante na história das religiões, e isso, ainda hoje, é considerado normal. Quase ninguém se dá conta."
Vamos começar com algo que faz parte do senso comum. Mito é sinônimo de fantasia, mentira. Aquilo que conhecemos por mitos antigos, foram compilações feitas a partir de tradições orais. Hesíodo, Heródoto e Homero são os autores desses relatos, seus textos não são sagrados nem constituem os rituais que os Gregos Antigos executavam. Sim, chega a ser constrangedor o mito romano do rapto das Sabinas, mas nós não podemos ler e interpretar essas lendas conforme a ótica provinciana da Era Contemporânea.
"É como se, para a mulher, fosse uma honra ser possuída por um ente divino. Talvez por isso o deus de plantão não se preocupa em obter o consentimento dela. Ele chega e, a seu modo, a possui, como se ela não tivesse direito sobre o seu próprio corpo."
Na verdade, era. Ainda que escondido, omitido e negado por celebridades do Paganismo Moderno, existia na Antiguidade a prostituição sagrada, os hieródulos e as hetairas. Para o falso moralismo de nossa época, é escandaloso falar que as mulheres ficavam no templo de Afrodite (entre outras), dispostas a terem relações sexuais com quem fizesse uma oferenda.
"Outro estupro já tinha sido cometido por Zeus, conforme relata a mitologia grega."
Essa é uma interpretação tendenciosa. Zeus recorre a várias estratégias para conquistar a mulher que ele escolheu, mas em nenhum mito a donzela escolhida demonstra rejeição, muito pelo contrário, entrega-se de bom grado. O mesmo pode ser dito de seu semelhante romano, Júpiter (Jove) ou de Marte e seu relacionamento com Rhéia ou de Hermes que gerou Pan ao se relacionar com a ninfa Pelenopeia. Mas a fonte usada pelo Paulo é tão ruim que inverteu, dizendo que Hermes era filho de Pan, depois que ele (segundo a autora) violentou uma pastora. A citação do mito de Shiva e Madhura também está errado.
"Há outros casos de deuses que tiveram cópula com mulheres, conforme a tradição religiosa — pagã ocidental ou oriental ou ainda cristã. A rigor, na interpretação moderna, trata-se mesmo de estupro."
Essa é uma afirmação feita pela autora. Mas até no mito cristão, existe um indício de que houve consentimento. Talvez não nos termos de nossa petulante civilização.
"A escritora e psicóloga americana Valerie Tarico escreve que esses relatos de subjugação da mulher e de concepção milagrosa têm raízes na pré-história, mas se reforçaram com a Idade do Ferro, a partir do século 12 a.C."
Eu não encontrei esse trecho no texto original, que eu encontrei graças ao Wayback Machine. Eu imagino que aqui é uma inserção (interpolação?) do Paulo. Quase certo, a noção de propriedade privada e de linhagem paterna apareceram na Idade do Ferro, mas os mitos remontam a eras muito mais longínquas. Curiosamente, nem o Paulo, nem a Valerie comentam sobre a necessidade (inclusive política) do rei de casar-se (transar) com uma Deusa (Cavalo/Serpente). Estupro inverso não é problema, pelo visto.🤭😏
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