sexta-feira, 31 de março de 2023

Mitologia e sexo sem consentimento

Lendo o blog do Paulo Lopes, eu me deparei com um texto, traduzido de um texto escrito originalmente em 2014, de autoria de Valerie Tarico. Eu vou deixar de lado que ela não é conhecida, nem foi apresentado seu Currículo Lates. Eu vou citar e analisar o texto.
O conceito principal é que os mitos antigos retratam estupros.

"O estupro de mulheres humanas por deuses e semideuses é uma constante na história das religiões, e isso, ainda hoje, é considerado normal. Quase ninguém se dá conta."

Vamos começar com algo que faz parte do senso comum. Mito é sinônimo de fantasia, mentira. Aquilo que conhecemos por mitos antigos, foram compilações feitas a partir de tradições orais. Hesíodo, Heródoto e Homero são os autores desses relatos, seus textos não são sagrados nem constituem os rituais que os Gregos Antigos executavam. Sim, chega a ser constrangedor o mito romano do rapto das Sabinas, mas nós não podemos ler e interpretar essas lendas conforme a ótica provinciana da Era Contemporânea.

"É como se, para a mulher, fosse uma honra ser possuída por um ente divino. Talvez por isso o deus de plantão não se preocupa em obter o consentimento dela. Ele chega e, a seu modo, a possui, como se ela não tivesse direito sobre o seu próprio corpo."

Na verdade, era. Ainda que escondido, omitido e negado por celebridades do Paganismo Moderno, existia na Antiguidade a prostituição sagrada, os hieródulos e as hetairas. Para o falso moralismo de nossa época, é escandaloso falar que as mulheres ficavam no templo de Afrodite (entre outras), dispostas a terem relações sexuais com quem fizesse uma oferenda.

"Outro estupro já tinha sido cometido por Zeus, conforme relata a mitologia grega."

Essa é uma interpretação tendenciosa. Zeus recorre a várias estratégias para conquistar a mulher que ele escolheu, mas em nenhum mito a donzela escolhida demonstra rejeição, muito pelo contrário, entrega-se de bom grado. O mesmo pode ser dito de seu semelhante romano, Júpiter (Jove) ou de Marte e seu relacionamento com Rhéia ou de Hermes que gerou Pan ao se relacionar com a ninfa Pelenopeia. Mas a fonte usada pelo Paulo é tão ruim que inverteu, dizendo que Hermes era filho de Pan, depois que ele (segundo a autora) violentou uma pastora. A citação do mito de Shiva e Madhura também está errado.

"Há outros casos de deuses que tiveram cópula com mulheres, conforme a tradição religiosa — pagã ocidental ou oriental ou ainda cristã. A rigor, na interpretação moderna, trata-se mesmo de estupro."

Essa é uma afirmação feita pela autora. Mas até no mito cristão, existe um indício de que houve consentimento. Talvez não nos termos de nossa petulante civilização.

"A escritora e psicóloga americana Valerie Tarico escreve que esses relatos de subjugação da mulher e de concepção milagrosa têm raízes na pré-história, mas se reforçaram com a Idade do Ferro, a partir do século 12 a.C."

Eu não encontrei esse trecho no texto original, que eu encontrei graças ao Wayback Machine. Eu imagino que aqui é uma inserção (interpolação?) do Paulo. Quase certo, a noção de propriedade privada e de linhagem paterna apareceram na Idade do Ferro, mas os mitos remontam a eras muito mais longínquas. Curiosamente, nem o Paulo, nem a Valerie comentam sobre a necessidade (inclusive política) do rei de casar-se (transar) com uma Deusa (Cavalo/Serpente). Estupro inverso não é problema, pelo visto.🤭😏

Nenhum comentário: