Em maio de 2022, Salvador ganhou um novo espaço de lazer, integração à natureza e, principalmente, que reverencia duas fortes características do local: a história e a religiosidade. O Parque Pedra de Xangô é símbolo de ancestralidade, e é o primeiro parque do Brasil com nome de orixá, divindade do candomblé e da umbanda.
O destaque maior é para a Pedra de Xangô, símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, tombada em maio de 2017 como patrimônio cultural do município. Além disso, o local tem um lago artificial, um memorial com um auditório e uma cantina.
Inserido na poligonal da Área de Proteção Ambiental (APA) Vale da Avenida Assis Valente, em Cajazeiras X, a Pedra de Xangô, que está envolvida por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, reforçando, assim, o caráter sagrado do local. A criação da APA Municipal é uma estratégia que atua como escudo contra um avanço indesejado sobre a Mata Atlântica, evitando a derrubada de árvores para implantação de loteamentos clandestinos em áreas de proteção.
O novo espaço de convivência se constitui como importante símbolo histórico, cultural e religioso de Salvador, além de ser voltado para a conservação ambiental e desenvolvimento sustentável participativo.
A edificação projetada no Parque Pedra de Xangô tem cerca de 500 metros quadrados de área construída e que tem o objetivo de abrigar os registros e experimentos das principais funções do parque, além de fortalecer os laços dos seus frequentadores com a natureza e o conhecimento das práticas religiosas e ambientais.
A estrutura abriga uma sala multiuso, área para exposição de trabalhos, administração do parque, sanitários e um espaço destinado à comercialização de comidas e artesanatos. No entorno do memorial, há um anfiteatro a céu aberto, bancos com pergolados, além de rampas de acesso, guarda-corpo e corrimãos para o deslocamento de pessoas com dificuldades de locomoção. O paisagismo também foi valorizado com plantio de gramado e mudas de árvores.
Símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, a Pedra de Xangô foi tombada em maio de 2017 como patrimônio cultural do município. O monumento é importante pela questão religiosa e também pela questão histórica, já que o local foi um quilombo e local de culto. Sendo assim, a construção deste parque também faz parte da salvaguarda. Além do primeiro espaço de lazer, também é um novo marco identitário da região de Cajazeiras.
A formação rochosa de 8 metros de altura e, aproximadamente, 30 metros de diâmetro, é considerada um monumento natural, um marco na história de resistência daqueles que sofreram com a escravidão em Salvador, pois, segundo a tradição oral, servia como passagem e esconderijo de quilombolas perseguidos.
Em 2005, a pedra foi completamente desnudada e por pouco não foi implodida para dar lugar à construção da Avenida Assis Valente. Através do movimento do povo de santo, em 2016, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) contemplou a criação do Parque Pedra de Xangô, a APA municipal Vale do Assis Valente e o Parque em Rede Pedra de Xangô, com a finalidade de preservar todas as áreas verdes ainda existentes no entorno.
O livro “Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro”, fruto de dissertação de mestrado de Maria Alice Pereira da Silva, defendida no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), traz importantes recortes sobre a história da pedra.
Citando o historiador Stuart B. Schwartz, Maria Alice revela que “o Quilombo Buraco do Tatu, localizado a leste-nordeste da cidade de Salvador, próximo à atual praia de Itapuã – Ipitanga, teve início em 1743 e foi destruído quase vinte anos depois, em 2 de setembro de 1763. Era um mocambo bem estruturado e possuía um sistema de defesa militar engenhosamente definido. Inúmeras trilhas falsas e armadilhas eram utilizadas para confundir as expedições reescravizadoras e facilitar a fuga durante os ataques”, diz um dos trechos da obra.
O Parque Pedra de Xangô foi inaugurado pela Prefeitura de Salvador. A solenidade contou com as presenças do prefeito Bruno Reis, gestores municipais e representantes de entidades de matriz africana.
A Fundação Gregório de Mattos (FGM) foi a responsável pela iniciativa. O projeto urbanístico do Parque Pedra de Xangô foi coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e teve efetiva participação da comunidade local, especialmente de representantes de religiões de matriz africana. Também houve colaboração de acadêmicos, pesquisadores e ambientalistas.
Fonte: https://www.salvadordabahia.com/parque-pedra-de-xango/
Nenhum comentário:
Postar um comentário