segunda-feira, 28 de março de 2011

Da "necessidade" de uma religião "evoluir"

Uma questão interessante e importante para se refletir, principalmente com tantos [pseudo]sacerdotes afirmando que uma religião deve mudar e evoluir:
"Como eu sempre digo, a Wicca hoje é muito mais do que os escritos de Gardner ou de quem quer que seja. O que várias pessoas fazem no mundo hoje é muito diferente do que aquilo que Gardner propôs um dia e isso não tem nada demais e não desmerece a Wicca de forma alguma. Só retrata o processo natural de evolução de uma religião!"
O que várias pessoas fazem não é do interesse do pagão, bruxo e wiccano sério, senão teríamos permanecido católicos ou seguido uma das muitas vertentes do Cristianismo. A Wica sempre foi mais do que Gardner ou outro autor escreve, mesmo porque nós não somos uma "religião de livro", só o Pavão vive estufando suas penas para promover seus livros como se fossem divinamente inspirados.

"Se a Wicca é uma religião que busca inspiração para sua espiritualidade na natureza, seria contraditório desejar que ela continuasse a ser praticada da mesma forma que era há mais de 5 décadas. Olhe a natureza e veja a evolução. Ela não pede nossa opinião e autorização para evoluir, nela a evolução simplesmente acontece. E o mesmo ocorre com uma religião, que é o resultado daquilo que outros um dia fizeram e pensaram e que seguramente teria mudado muito se as pessoas que a idealizaram ainda estivessem aqui."
A natureza não evolui. As espécies evoluem. Por processos ditados pela natureza. Uma religião não é um organismo e o que o autor propõe parece mais um estupro do que um cruzamento.
"Não precisa ir longe, é só ver quantas versões diferentes do Livro das Sombras existem, aquelas que foram escritas e rescritas pelo próprio Gardner entre a década de 50 e 60, com os adendos ou não de Doreen Valiente".
Para comparar LdS [Livro das Sombras], seria preciso ter acesso aos LdS. Apenas iniciados em linhagens tradicionais têm acesso aos LdS de covens pertencentes à WTB [Wica Tradicional Britânica], o que não é o caso do autor.
"Sobre minhas obras e minha visão, eu nunca chamei o que faço de 'Wicca Moderna', para mim é simplesmente Wicca e ponto. A questão de eu concordar ou não com uma religião não implica no fato de eu poder praticá-la ou não. Se fosse assim, os Cristãos teriam que estar praticando o Cristianismo primitivo até hoje e novas denominações não teriam surgido. Eles não mudaram o nome de sua fé somente porque alteraram aquilo que não concordavam em sua antiga religião e forma de praticá-la. Ainda se chamam de Cristãos. Se não fossem esses 'revolucionários', as missas ainda seriam realizadas em latim, sem que ninguém entendesse o que se era falado durante elas."
O autor não entende a própria religião, não entenderia a religião cristã. Quando alguém "não concorda" com uma religião, não tem como praticá-la, procura outra coisa. O que aconteceu com o Cristianismo foi mais um efeito social e político do que uma "evolução" da religião. O que aconteceu foi que diversos reinos católicos começaram a traduzir a bíblia para a língua local, além do latim, a única língua permitida pela Igreja. Nestes locais, cresceu um movimento para que qualquer pessoa pudesse ler e interpretar a bíblia, de onde surgiu o Protestantismo. As diversas vertentes contemporâneas do Cristianismo são fruto dessa livre interpretação e isto não consiste em uma evolução da mesma.
"Não acredito que 50 anos seja suficiente para deturpar ou evoluir nada. Até porque, qualquer coisas que evolui está em constante transformação, o tempo não para. A Wicca está em processo de evolução contínuo."
O autor usa esse argumento fajuto de que a Wicca está evoluindo para sustentar, embasar e impingir os valores, crenças e práticas dele, do seu coven e de sua "tradição".
Aproveito um texto divulgado no forum Amber and Jet [autor: Steph Brady] para esclarecer a questão:

1°) Ela [a religião] deve refletir os valores da sociedade mesmo quando a sociedade muda.
No texto integral, o autor cita o exemplo da segregação. A religão não mudou, o que mudou foram os hábitos e costumes das pessoas que são membros ou sacerdotes das mesmas. Infelizmente a segregação foi e é justificada ainda por leituras tendenciosas de livros, sagrados ou seculares. Haja visto o lamentável exemplo do Caturo e seu patente racismo, xenofobia e fascismo escamoteado como Neopaganismo.
2°) Ela deve ser relevante aos seus seguidores.
Definitivamente errrado. A religião deve ser relevante ao Deus ou Deuses que servem. Uma religião não pode ser um clube ou grupo social.
3°) Para uma religião crescer e prosperar ela precisa ter um processo de recrutamento eficiente.
Princípio básico do Paganismo, da Bruxaria e da Wica: Nós não fazemos proselitismo. A despeito disto, pelas formas nem sempre mais desejadas, nós somos o grupo que mais cresce.
4°) A religião precisa gerenciar continuamente sua percepção pública.
Os organizadores de templos, covens e grupos é que tem que ter essa preocupação em fazer uma boa assessoria de imprensa e relações públicas, reafirmando e esclarecendo os princípios e valores de uma religão. Não haveria muito o que fazer, nem sobre o que se sustentar, se uma religião transforma-se conforme o desejo de seus seguidores, praticantes e sacerdotes.
Nota final: O propósito de uma religião sempre foi a de servir ao Deus ou Deuses, não às vaidades ou objetivos pessoais das pessoas. Isto, quando acontece, é sinal de que o indivíduo está deparando com uma seita, ou pior, com um culto de personalidade.

sábado, 26 de março de 2011

Ateus, católicos e pagãos

Primeiro uma notícia direto das Blas [extinto]:
Uma pesquisa baseada em dados do censo e projeções de nove países ricos constatou que a religião poderá ser extinta nessas nações. Analisando censos colhidos desde o século 19, o estudo identificou uma tendência de aumento no número de pessoas que afirma não ter religião na Austrália, Áustria, Canadá, República Checa, Finlândia, Irlanda, Holanda, Nova Zelândia e Suíça.
Através de um modelo de progressão matemática, o estudo, divulgada em um encontro da American Physical Society, na cidade americana de Dallas, indica que o número de pessoas com religião vai praticamente deixar de existir nestes países.
''Em muitas democracias seculares modernas, há uma crescente tendência de pessoas que se identificam como não tendo uma religião; na Holanda, o índice foi de 40%, e o mais elevado foi o registrado na República Checa, que chegou a 60%'', afirmou Richard Wiener, da Research Corporation for Science Advancement, do departamento de física da Universidade do Arizona.
O estudo projetou que na Holanda, por exemplo, até 2050, 70% dos holandeses não estarão seguindo religião alguma.
Modelo
A pesquisa seguiu um modelo de dinâmica não-linear que tenta levar em conta fatores sociais que influenciam uma pessoa a fazer parte de um grupo não-religioso.
A equipe constatou que esses parâmetros eram semelhantes nos vários países pesquisados, resultando na indicação era de que a religião neles está a caminho da extinção.
"É um resultado bastante sugestivo", disse Wiener. "É interessante que um modelo tão simples analise esses dados...e possa sugerir uma tendência."

"É óbvio que cada indivíduo é bem mais complicado, mas talvez isso se ajuste naturalmente", disse ele.[G1]
Em seguida, a reclamação do Jorge [Deus lo Vult]:
Os símbolos religiosos (nas repartições públicas inclusive) refletem a cultura de uma sociedade. E, queiram ou não queiram os ateus, não existe uma sociedade atéia natural. Nem nunca existiu, nem nunca é possível que exista, porque o elemento religioso é parte integrante da cultura humana.
O ateísmo é profundamente anti-natural, uma vez que o conhecimento de Deus pertence à natureza humana.
Meu comentário [com correções]:
"Jorge, desta vez eu tenho que concordar…em parte! };)
A proposta de “acabar com a religião” faz tanto sentido quanto propor acabar com a música, a poesia, o teatro.
O que eu discordo é quanto às intenções e motivos dos ateus. A motivação provém exatamente da constante mania da Igreja de se imiscuir em assuntos seculares.
A presença dos crucifixos, por exemplo, é resultado de uma imposição, não de uma confissão, por meio do uso da força e aculturamento, o que foi o caso dos aborígenes brasileiros.
Estes não desenvolveram uma cultura mais refinada porque não tiveram tempo. Mesmo os Europeus não estavam em uma situação melhor, antes da colonização romana. O que não quer dizer que nossos aborígenes sejam inferiores ou incultos. A mensagem de Cristo por acaso é “converta-se ou suma”? Se for, não é por acaso que quero distância dele.
Diga-se de passagem que, se os símbolos nas repartiçoes públicas devem ter uma relação com a história, o mais correto seriam símbolos pagãos.
E a civilização ocidental foi “segurada” exatramente por estes “bárbaros”, reis que ergueram seus reinos por cima das ruínas de Roma, a Igreja apenas pegou a oportunidade e tratou de firmar acordos e vínculos com estes reis."
Eu aproveito para descrever meu assombro e surpresa em ver, em blogs e comunidades pagãs, a reação e a preocupação com um livro publicado por um grupo católico sobre os perigos do Paganismo/Bruxaria/Wicca [com dicas de como nos converter]. Eu não estou preocupado com a possibilidade das religiões acabarem ou com projetos de conversão. Nós estamos bem aqui, mesmo depois de 19 séculos de censura, opressão e repressão. E vamos continuar por aqui. Graças aos Deuses!

terça-feira, 22 de março de 2011

A Deusa Cro-Magnon

Por ter crescido na Lituânia, Marija Gimbutas familiarizou-se com as tradições da Deusa Latima, a fiandeira, ou a tecelã da vida. Ela se lembra que as mulheres costumavam fazer-lhe oferendas de toalhas e artigos tecidos. À noite, a Deusa sempre fiscalizava seus seguidores espiando-os pela janela.
Embora a Lituânia tenha sido cristianizada durante o século XIV, ela permaneceu predominantemente pagã por muitos séculos ainda, devido à falta de habilidade dos missionários com a língua. A Deusa permaneceu como parte da cultura da Europa oriental em algumas áreas até o século XIX ou mesmo XX. Fascinada pela cultura com a qual cresceu, Gimbutas concentrou seus primeiros estudos em lingüística, etnologia e folclore.
Em 1942, Gimbutas completou seu mestrado pela Universidade de Vilnius, na Lituânia ocupada pela Alemanha; quatro anos mais tarde, ela doutorou-se pela Universidade de Tubigen, na Alemanha. Ambas as graduações foram em arqueologia. Sua dissertação centrava-se nas religiões antigas e pagãs, no simbolismo, nos ritos fúnebres e nas crenças da vida após a morte.

Nascida numa época em que a Lituânia era tão pagã quanto católica, Gimbutas possuía um ponto de vista único sobre a Europa e sua história. Durante anos, ela trabalhou em escavações no sudoeste da Europa e no Mediterrâneo, e começou a desenvolver a teoria sobre a existência de uma cultura que um dia, em uma época remota, prevaleceu na região.
Sua visão dos povos da pré-história européia é também um conto sobre o choque entre culturas e, especificamente, sobre a que um dia foi proeminente: a cultura da Deusa-Mãe. A pesquisa de Gimbutas fornece evidências de que antes dos indo-europeus dominarem a região, uma cultura completamente diferente existiu ali, uma cultura à qual ela se refere como cultura da Grande Deusa ou da Deusa-Mãe. Era uma cultura igualitária, embora centrada no materno como fundamentação para sua cosmologia.
Gimbutas se refere a essa cultura como matricista ou matrifocal, e não como matriarcal. Tratava-se de uma sociedade equilibrada. As mulheres não eram tão poderosas a ponto de usurpar o papel do homem. Os homens tinham seu próprio poder e posição, e executavam seus próprios deveres para benefício da família e do clã. Segundo Gimbutas, era uma sociedade comunal e comunista no melhor sentido da palavra. As Deusas eram verdadeiramente criadoras, e, de fato, criavam por si mesmas, quer fossem utensílios domésticos, quer fosse uma criança.
Diversos tipos de estatuetas de Deusas apareceram na Idade do gelo, mas elas não formam um panteão. Em essência, elas representam diferentes funções da mesma Deusa. A divindade era a própria natureza: a natureza que dá a vida, tira a vida, regenera-a. Essas eram as três importantes funções da Deusa, e elas compunham o ciclo vital natural.
As estatuetas posteriores à Idade do Gelo, com seios acentuados, eram esculpidas tipicamente com uma cabeça de pássaro. As estatuetas da Idade do Gelo também tinham seios grandes e cabeças de pássaro. A partir disso, ficou claro para Gimbutas que elas eram do mesmo tipo e que sua cultura continuou até os tempos históricos.
A religião sempre desempenhou um importante papel em qualquer cultura, tanto modernas quanto antigas. A cultura da Deusa não era diferente. Sua cosmologia era baseada no pássaro d’água e no ovo cósmico. No início, o mundo começou quando o pássaro d’água trouxe o ovo. O ovo rompeu e uma parte se tornou terra e a outra parte, céu.
Para a cultura da Deusa-Mãe, o templo era o centro da vida religiosa. Belos artefatos eram produzidos para seus altares e para a Deusa. As evidências sugerem que esse povo era grato pelo sustento que a terra proporcionava, e dava graças à Deusa. A alta sacerdotisa e a rainha eram a mesma pessoa nessa hierarquia de sacerdotisas. As mulheres eram mais prestigiadas pela vida nova que nascia delas e, em resultado, tinham mais influência na vida religiosa. Elas comandavam o templo e executavam rituais nos nascimentos, mortes e na mudança das estações.
As descobertas da Dra. Gimbutas, baseadas nos vestígios físicos e no que se pode deduzir da mitologia, sugerem que a vida política era regulada por um sistema avuncular. Os governantes da comunidade eram a rainha, que também era a alta sacerdotisa, e seu irmão ou tio. O homem dividia com ela a autoridade. A existência desse sistema era expressa na mitologia clássica, na qual casais de irmãos, Deusas e Deuses, são encontrados com freqüência.
Seria presunção sugerir que essa era apenas uma cultura de mulheres e que não existiam Deuses homens. Em sua arte, o masculino é menos representado, mas os Deuses homens, de fato, existiram. Em todas as mitologias a mãe terra existe com seu companheiro masculino ao lado.
“O Egito Antes dos Faraós”, de Edward Malkowski, pg. 231 a 235, Editora Cultrix.
Nota da casa: Eu peço encarecidamente aos pagãos, bruxos e wiccanos que leiam o tópico "A origem do mito moderno da Deusa-Mãe" antes de embarcar nessa idéia dourada de uma "antiga religião da Deusa".

terça-feira, 15 de março de 2011

Não viemos aqui para salvar tua alma

Não é novidade quando alguém sofre de algum trauma emocional, físico ou psicológico que se procura respostas na religião. Para muitos, isto funciona muito bem e através do novo relacionamento com sua crença se encontra a força neles mesmos para superar o sofrimento que passaram e compartilhar o fardo que tiveram de carrregar.
Estas histórias de sucesso são altamente propagandeadas e frequentemente são usadas para validar esta ou aquela crença. "Venha a nós!" Dizem eles, clamando por sua atenção. "Nós resolvemos os problemas do Beto, nós podemos resolver os seus problemas também!"
Entretanto, como vimos antes, com esta premissa que a crença pode te "consertar", as pessoas se tornam desseletivas e voltam-se a o que quer que lhe seja agradável. Infelizmente nem toda religião tem a intenção de "consertar" quem quer que seja.
A WTB não é um lugar para as pessoas encontrarem redenção ou salvação. Veja, todos temos problemas. Nem todos têm 99% de problemas, mas todos temos problemas. Isto deve ser posto de lado diariamente para focar na tarefa que temos à mão. Se você está muito distraído pelas dificuldades da vida, outras áreas irão ficar prejudicadas. Quando isto se aplica ao trabalho com magia, ter uma bagagem emocional que afeta sua evocação é algo muito sério com que temos de nos preocupar.
Particularmente se você trouxer esta bagagem ao círculo. Sem falar dos efeitos de gerar energia em tal estado emocional, o que você traz consigo não afetará apenas você, terá repercussão para todos os envolvidos.
Trabalhar com magia ou participar em rituais pode deixar alguémm vulnerável, o círculo não é lançado por espetáculo! O círculo apenas pode manter fora o que não está lá dentro.
Ter probelmas não significa que a WTB não te serve. Mas quando um trauma do passado torna-se uma grande parte de sua vida a ponto de te controlar, você não está pronto. Ao contrárui das muitas vertentes do Cristianismo que oferece perdão e redenção, Wicca não está aqui para salvar quem quer que seja. Ela não serve para este propósito e se é isso que é procurado, procure em outro lugar senão todos os envolvidos vão sofrer (você por não encontrar o que procura, os demais pelos conflitos resultantes).
Quando procurar por uma crença, eu recomendo primeiro saber o que você quer dela.
Autor: Ash, no fórum da Amber and Jet.

Nota da casa: O Beto não tem problema algum. "Nós" somos perfeitamente normais. }%P

segunda-feira, 14 de março de 2011

O sacerdócio wiccano

Muito bem, diletos e eventuais leitores. Aqui eu dei espaço para o texto do Herne falando sobre os aspectos do sacerdócio no texto "O que constitui o sacerdócio". O texto tem elementos importantes para se entender o sacerdócio em um aspecto mais "acadêmico".
A guisa de contraponto e esclarecimento, eu considero igualmente importante o texto da Mavesper Cerydwen faando sobre o sacerdócio wiccano, um aspecto mais específico, um texto que contém elementos fundamentais e que devem ser divulgados.
1) A etimologia de sacerdócio estar ligada a sacrifícios de vítimas nada tem a ver com a definição atual, cotidiana e vernacular de sacerdócio. Todos nós aqui estamos carecas de saber o que é sacerdócio, é uma palavra que transcendeu e muito seu significado etimológico, razão pela qual debater em cima disso é perda de tempo. Wicca tem sacerdócio. [1]
2) Questão bem diferente é saber se Wicca tem sacrifício, em termos de imolação sacrificial. Respondo em duas partes.
2a) Sem sombra nenhuma de dúvida a Wicca tem seu maior mistério centrado no sacrifício que é o Grande Rito. Na sua forma não simbólica o Grande Rito demonstra, até mesmo nas palavras ritualisticas, que o sacricífico realizado é o semen do Deus, que pelo orgasmo fertiliza o Corpo da Deusa, que é o altar ancestral erigido para esse fim, onde toda a espécie humana já celebrou. Creio que vocês conhecem o texto classico do BoS gardneriano. O sacrifício do Deus Solar não se resume na compreensão do Samhain, mas se faz a cada dia, em mil formas, em todos os ciclos de morte-vida -renascimento que vievmos no universo - desde cada uma de nossas células que morre, até nossos entes queridos, modos de vida, crenças.
As palavras ritualisticas tipícas do GR revelam bem que o corpo da mulher é o altar e o gozo do homem o sacrifício. Alias, essas palavras, com algumas variações mistéricas, são proferidas durante o ato sexual sagrado.
Alias, o BOS gardneriano para em certo momento, quando sacerdote e sacerdotisa vão realizar o ato sexual sagrado. na hora do orgasmo, o sacerdote avisa a sacerdotisa da iminência do orgasmo e ela diz : "Eu sou o altar" e ele responde : "E eu sou o sacrificio" e goza. Mais literalidade que esse sacrifício eu acho dificil alguem conceber! [2]
Creio que pela simples leitura vocês chegarão à conclusão de que somente alguem que jamais leu rudimentos sobre Wicca ousaria afirmar que ela não realiza e celebra como o centro de seus mistérios o sacrifício do Deus de Chifres.
2b) Wicca admite vítimas sacrificiais, ou seja, morte de animais realizada ritualisticamente? Aqui eu respondo que parte da Wicca realiza sim sacrifícios animais. Notadamente as tradições com maior influencia do craft inglês, onde há o animal totêmico do coven, que deve ser morte e ter seu crânio fazendo parte da estaca de 7 em 7 anos. Outras tradições de bruxaria ampliam esse tipo de sacrifício para feitiços ou outros fins. Mas muitas linhagens de Wicca eliminaram as vítimas sacrificias, permanecendo apenas com o sacrifício do GR, simbólico ou concreto. [3]
BB - Mavesper Cerydwen, na Sociedade Wicca.
Notas e comentários esparsos:
[1] Por um lado eu tenho que concordar com a Mavesper. O sentido da palavra não pode ser reduzido ao estudo de sua etimologia, mas ao seu conteúdo e contexto histórico. Por outro eu devo discordar, pois nem sempre as definições "atuais", "cotidianas" e "vernaculais" estão corretas.
[2] O GR não é um sacrifício, mas uma reencenação do mistério central da geração do mundo. E até hoje não foi divulgado o BoS gardneriano, o que existe é a citação de um trecho do livro de Aidan Kelly, o "Crafting the Art Magical - Book I", onde ele analisa um texto supostamente de autoria de Gerald Gardner - "Ye Book of Art Magical".
[3] E aqui se desfaz uma das maiores ilusões e enganos que são propagados através de textos, livros e sites da internet que a Wicca "não aceita sacrifícios de animais".

domingo, 13 de março de 2011

Entre a discriminação e a liberdade religiosa

Eu li no blog do Wild Hunt sobre o incidente que aconteceu na edição de 2011 do Pantheacon, envolvendo o Coven Caya e um grupo de "mulheres" transgêneros, que foram proibidas de entrarem e participarem do "Ritual de Lilith", a ser conduzido pelas sacerdotisas do Coven Caya.
Isso acontece exatamente porque muita gente vê no Paganismo, na Bruxaria e na Wicca, um território seguro, um abrigo, um refúgio, onde cada um pode se sentir à vontade com suas opiniões, opções, escolhas e tendências. Confusões acontecem na comunidade pagã também por causa disso, por falta de bom senso ou de uma verdadeira obsessão por agendas pessoais e políticas, deixando de lado o aspecto espiritual e sagrado.
Um pequeno intervalo é necessário, para estabelecermos alguns parâmetros:
Gênero (português brasileiro) refere-se às diferenças entre homens e mulheres. Ainda que gênero seja usado como sinônimo de sexo, nas ciências sociais refere-se às diferenças sociais, conhecidas nas ciências biológicas como papel de gênero. Historicamente, o feminismo posicionou os papéis de gênero como construídos socialmente, independente de qualquer base biológica. Pessoas cuja identidade de gênero difere do gênero designado de acordo com o sexo são normalmente identificadas como transexuais ou transgêneros.[wikipedia]
Nas ciências sociais e humanas, papel social de gênero é um conjunto de comportamentos associados com masculinidade e feminilidade, em um grupo ou sistema social. Todas as sociedades conhecidas possuem um sistema sexo/gênero, ainda que os componentes e funcionamento deste sistema varie bastante de sociedade para sociedade.
A maioria dos pesquisadores reconhecem que o comportamento dos indivíduos é uma consequência das regras e valores sociais, e da disposição individual, seja genética, inconsciente, ou consciente. Alguns pesquisadores enfatizam o sistema social e outros enfatizam orientações subjetivas e disposições.
Com o passar do tempo mudanças ocorrem sob regras e valores. Entretanto todos os cientistas sociais reconhecem que culturas e sociedades são dinâmicas e mudam. Há extensos debates em como e o quão rápido estas mudanças ocorrem. Tais debates são especialmente intensos quando envolvem o sistema sexo/gênero, já que as pessoas possuem uma gama de visões diferentes sobre o quanto gênero depende do sexo biológico.[wikipedia]
A identidade sexual (ver Escala de Orientação Sexual de Harry Benjamin) indica a percepção individual sobre o gênero (e.g. masculino e feminino) que uma pessoa percebe para si mesma. Assim como o termo sexo pode assumir várias interpretações costuma-se separar orientação sexual do conceito de identidade sexual. O termo identidade de gênero aproxima-se da identidade sexual mas também mantém diferenças conceituais significativas.[wikipedia]
As "mulheres" transgêneros gritam "preconceito" e dianistas [como Z Budapest] grita "liberdade religiosa". Não há engano, isso aconteceu em uma convenção de Paganismo, não no Congresso Nacional, entre Evangélicos e a comunidade LGBT.
Em suma, há que saber diferenciar a questão de gênero da questão da identidade sexual. Um incidente não pode manchar a postura do Paganismo, da Bruxaria e da Wica diante da questão LGBT.
Deixando de lado a obsessão excessiva, ou o oportunismo de pessoas ou grupos em usar o Paganismo, a Bruxaria e a Wica como plataforma para objetivos de caráter político ou pessoal, tudo se resume a muito barulho por nada.
O ritual era de responsabilidade do Coven Caya. Como anfitriões, cabem aos membros deste coven decidir quem pode entrar ou não. O convite ao ritual é bem claro quando fala "mulher" e as minhas amigas transgêneros me perdoem, mas por mais que vocês se esforcem ter um corpo de mulher, vocês não serão mulheres. Ser mulher é mais do que ter seios e vagina. Ser mulher é ter útero, é ter menstruação, é ser capaz de gerar filhos, é ter estrogênio naturalmente. Os pagãos e pagãs que sejam transgêneros continuam sendo bem-vindos/as, nós temos diversos grupos, irmandades e covens que estão prontos para receber a todos, basta que cada um procure o que é melhor para si. O que não é cabível é forçar sua entrada em um ritual, grupo ou coven que tem outras prioridades que não seu desejo pessoal de ser aceito/a, reconhecido/a e respeitado/a socialmente. Não tornem um caso isolado um motivo para alimentar os cristãos fundamentalistas, nem para criar uma fissura para dividir a comunidade.

Feriados pagãos na Ucrânia

Se você reclama de encontros online, bares decadentes e feriados pelo mundo não são o suficiente para achar o/a parceiro/a certo, pense em como era para seus ancestrais. Presos em uma vila, eles tinham poucas opções: ou suas esposas vinham da casa do ferreiro ou do oleiro? Para ter uma vidência eles tinham que confiar nos oráculos e outros métodos de auscultar a Mãe Natureza. E estas tradições tornaram-se tão enraizadas nos ucranianos que nem mesmo 100 anos de Cristianismo ou a influência do Comunismo puderam se livrar disso.
Para as celebrações de rituais pagãos mais gostosos, visite a Ucrânia no verão para o festival de Ivana Kupala. Em dezembro, o Dia de Santo André é outra oportunidade para uma boa quiromancia enquanto se despede ao sol para o inverno. A Epifania, celebrada em janeiro, ajuda a limpar os pecados - em lagos e rios gelados - mas não antes de uma boa dose de vidência. E quando paradas decadentes varrem as ruas da Europa e dos EUA, os ucranianos  vigiam pelos seus antepassados comendo panquecas durante a celebração da Semana da Panqueca.
O jeito mais fácil de experimentar o sobrenatural é reservar uma viagem a Kiev em julho. Celebrado depois do solstício de verão no dia 6 de julho, Ivana Kupala faz reverência ao Deus dos frutos da terra. Lendas dizem que se você se aventurar dentro da floresta e achar uma samambaia florindo - embora seja praticamente impossível - comece a cavar. Esta samambaia magica esconde um tesouro. O rito apareceu em filmes, desenhos e livros infantis, todos contribuindo para sua grande popularidade no país.
Ninguém realmente se aventura nas florestas a não ser em 7 de julho. Com o advento do Cristianismo as igrejas adotaram alguns elementos da tradição religiosa e popular para forçar os pagãos para a nova religião. Os ortodoxos celebram este dia como o Dia de São João Batista, quando crentes se batizam em rios e lagos. Mesmo assim o feriado moderno ainda é mais associado com magia do que com religião. As pessoas vestem camisas tradicionais e caminham ao museu a céu aberto Pirohovo na região de Kiev. Um modelo da Ucrânia do século XIX, o museu fica em 150 hectares de terras verdes e lagos rodeando casas de telhados rústicos, velhos moinhos e legítimos bares ucranianos.
Durante o dia, as mulheres tecem coroas de flores e lançam nas águas tentando adivinhar de onde seu futuro parceiro virá. Depois de testarem suas habilidades em tecer coroas, as participantes são desafiadas a colocar uma vela acesa no meio dessa tiara natural. Aquelas cujas velas queimarem por mais tempo e cujas coroas flutuarem mais longe creem que terão uma chance maior de se casarem em um ano. Os homens não se ocupam com coroas; ao invés disso eles tentam pegá-las com a esperança de se casarem com uma artífice em particular. Em outro ritual, casais pulam sobre uma fogueira, mãos dadas, para purificar a alma e mais sorte na vida.
Se, entretanto, em 13 de dezembro, sua vida amorosa não progrediu, Santo André pode dar uma mãozinha aos Deuses pagãos. O feriado é celebrado pela Europa, na Escócia, Grécia e Romênia o santo (um dos 12 apóstolos de Jesus) é honrado em orações na igreja, bares ou mesmo com um feriado bancário, em algumas vilas remotas do oeste da Ucrânia as pessoas atirarão uma bota por cima do telhado e murmurarão cânticos à luz de velas para achar um marido ou esposa. Antes de Santo André, há o sol e os pagãos precisam de uma data para darem uma festa de agradecimento em sua honra antes que ele vá dormir para o inverno. Você pode reservar uma viajem étnica para uma vila nas montanhas dos Cárpatos para ver estes rituais em ação.
Na Epifania, em 19 de janeiro, se você ainda não estiver alegremente casado/a, existem outras maneiras de espiar em seu futuro romântico. Um rito popular instrui às mulheres a irem passear e perguntarem aos passantes pelo nome, onde creem que será o nome de seus noivos. Depois se banham na água gelada para purificar seus pecados. Muitos ucranianos, especialmente os políticos que as piadas dizem ter mais pecados que todos, entram em buracos no gelo - cortados na forma de uma cruz - para honrar o batismo de Jesus Cristo no rio Jordão. O Hydro Park em Kiev, o complexo de entretenimento construído pelos soviéticos nas margens do rio Dnipro, é o lugar para ir se você quiser dar um mergulho ou ver outros mergulharem.
Em fevereiro e março chega a primavera pagã e também a Quaresma da igreja. O feriado de Maslyana frequentemente cai na última semana antes dos quarenta dias que precedem a Páscoa. Comer panquecas com carne, cogumelos ou doces recheios e ver danças folclóricas e jogos no museu de Pirohovo em Kiev nesta ocasião é uma alternativa mais autêntica do que se fantasiar para o Mardi Gras.
Fonte:
BBC [link morto]