segunda-feira, 19 de maio de 2025

O mapa estelar mais antigo

Um dos mapas estelares mais antigos já descobertos foi criado na China há mais de 2.300 anos, segundo um estudo recente em pré-publicação que vem gerando debates na comunidade científica. O "Manual Estelar do Mestre Shi", catálogo chinês mais antigo, foi analisado com uma técnica digital inovadora, que emprega inteligência artificial para corrigir erros em imagens astronômicas.

Pesquisadores dos Observatórios Astronômicos Nacionais da China aplicaram a Transformada de Hough Generalizada para examinar o catálogo, identificando que sua origem remonta a aproximadamente 355 a.C., ou seja, 250 anos antes do que se acreditava. Atualizações posteriores ocorreram por volta de 125 d.C., tornando este catálogo o mais antigo do mundo do tipo, superando em mais de dois séculos o famoso mapa do astrônomo grego Hiparco.

David Pankenier, professor emérito e especialista em astronomia chinesa, ressaltou que a pesquisa confirma estudos anteriores que associam o manuscrito ao período em que viveu o Mestre Shi Shen.

Apesar das descobertas, alguns historiadores e astrônomos permanecem céticos, apontando discrepâncias nas datas do catálogo. Essas diferenças podem ser explicadas pela oscilação do eixo da Terra, que altera lentamente as constelações, e pelo movimento próprio das estrelas.

O estudo atribui essas discrepâncias a erros de cópia e atualizações incompletas feitas ao longo dos séculos. Entretanto, outros especialistas sugerem que a origem da imprecisão está no instrumento utilizado para o mapeamento, cuja precisão poderia estar desviada em um grau, o que colocaria a criação do manuscrito em cerca de 103 a.C.

Daniel Morgan, historiador francês, destaca que a hipótese do instrumento imperfeito está alinhada com o uso do sistema de coordenadas esféricas baseado na esfera armilar chinesa, inventada no século I a.C.

Morgan também observa que a busca pelo título do mapa estelar mais antigo está impregnada de nacionalismo, com países buscando afirmar seu valor científico diante de um contexto histórico de eurocentrismo e colonialismo.

David Pankenier lembra que, historicamente, a tecnologia astronômica chinesa foi subestimada por pesquisadores ocidentais, mesmo apresentando alta precisão.

Apesar da disputa entre catálogos chineses e gregos, os registros babilônicos que mencionam a posição das estrelas são ainda mais antigos, datando do século VIII a.C. Contudo, esses documentos são descrições escritas e não mapas numéricos do céu.

O estudo chinês está em revisão por pares, reafirmando a importância da astronomia antiga da China para a história da ciência mundial.

Fonte: https://revistaforum.com.br/ciencia-e-tecnologia/2025/5/15/descubra-mapa-estelar-mais-antigo-do-mundo-criado-na-china-ha-seculos-179409.html

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