domingo, 18 de maio de 2025

Apocalipse nos trópicos

No dia 14 de julho, Apocalipse nos Trópicos, o mais novo documentário de Petra Costa seis anos após Democracia em Vertigem, chega à Netflix. Foram quatro anos de investigação para contar a história que mergulha sobre as linhas tênues existentes na relação entre fé e poder no Brasil. Com olhar atento e crítico, a cineasta investigou a influência de lideranças evangélicas na política brasileira dos últimos anos e a manipulação ideológica promovida pela extrema direita.

Em entrevista ao The Hollwood Reporter, o produtor-excutivo do longa e duas vezes vencedor do Oscar, da Plan B Films (12 Anos de Escravidão e Moonlight ),Jeremy Kleiner, afirma que Petra Costa é uma contadora de histórias singular. "Estamos muito animados para que o público global possa experimentar seu mais recente trabalho altamente cinematográfico”, disse.

A diretora ficou conhecida pela produção Democracia em Vertigem, de 2019, indicada ao Oscar em 2020. A sinopse do novo doc questiona:

"Quando uma democracia se encerra e uma teocracia começa?"

No documentário, Petra adota uma narrativa poética para explorar a conexão entre o movimento evangélico e a crise política no Brasil, além de aprofundar a análise sobre figuras centrais nesse contexto, como o ex-presidente Bolsonaro. A proposta foi abordar as complexidades de uma democracia em crise. A produção ainda retrata um televangelista brasileiro, que exerceu forte influência sobre Bolsonaro: Silas Malafaia. O país viveu uma teologia apocalíptica aos interesses da extrema direita. Tudo isso em um momento delicado: a pandemia da covid-19.

As declarações do ex-presidente contra as vacinas e as medidas protetivas contra o vírus, que ceifava naquele momento em média 2 mil pessoas por dia, ajudaram a impulsionar o negacionismo científico. Como mostra essa reportagem da Fórum de 2021, a diretora já estava acompanhando e filmando senadores que integravam a CPI da Covid para colher depoimentos.

Assim como em Democracia em Vertigem, Petra Costa retrata em sua nova sinopse um período de profunda turbulência e desespero, mas sob um contexto em que a política ganhou traços extremistas e neofascistas. Ao entrelaçar passado e presente, ela nos mergulha nas realidades contraditórias de uma jovem democracia à beira do abismo, refletindo também as tensões geopolíticas e sanitárias que marcaram o cenário global.

"Acreditamos que a erosão da democracia é a questão mais crucial que enfrentamos. Na nossa história, olhamos para o que acontece no Brasil como uma fábula de nossos tempos”, disse a cineasta à época do anúncio do documentário.

Extremismo disfarçado de ensinamento cristão

O que torna essa história tão enriquecedora é a abordagem da diretora, que investiga a origem das relações entre política e religião, indo além do Brasil e conectando as questões de abandono e carência de assistência social com o crescimento de ideologias fundamentalistas. É possível analisar o que leva as pessoas religiosas a ver a igreja como uma fonte de orientação política e ideológica, sem perceber isso como uma forma de manipulação.

O roteiro do filme contou com a colaboração de Nels Bangerter, David Barker, Tina Baz e Alessandra Orofino, que também atuou como co-produtora pela Peri Productions. A produção executiva reúne nomes como Kleiner e seus parceiros da Plan B, Dede Gardner e Brad Pitt, além de Jenny Raskin, Jim Swartz, Susan Swartz, Geralyn White Dreyfous, Katrina vanden Heuvel e o Meadow Fund, pela Impact Partners. Também participam como produtores executivos Jeffrey Lurie e Marie Therese Guirgis, da Play/Action Pictures; Felipe Estefan e Rafael Georges Zein, pela Luminate; Katy Drake Bettner; Kate Hurwitz; a InMaat Foundation; Frida Polli; James Costa e Trevor Burgess.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2025/5/12/apocalipse-nos-tropicos-petra-costa-joga-luz-no-uso-da-religio-como-arma-politica-em-novo-doc-179108.html

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