As analogias no formalismo das iconografias de Ganimedes e Scanda comprovam que a sua análise pode ser um elemento importante para a mitologia comparada.
Por sua vez, estas só não serão mais do que meras coincidências fortuitas difíceis de explicar se postularmos que tiveram um passado comum em cultos de iniciação pascal de morte e ressurreição solar. Obviamente que a posterior separação geográfica do mito comum terá feito algumas alterações que, por sua vez poderão ter alguma significação importante na explicação evolutiva do mito. Scanda parece ser uma versão mais arcaica porque se transporta no pavão de Juno levantando a suspeita de que faria parte dum mito matriarcal do tipo da “virgem e o menino”! O facto de a Juventude / Ganimedes ter deixado de ser Juventa / Hebe no mundo greco-romano revela uma reconversão do mito a uma ideologia explícita de tipo patriarcal que se terá iniciado com a queda do mundo micénico que o mito hindu ainda não manifestaria inteiramente.
Na mitologia grega, Ganimedes era um príncipe de Tróia, por quem Zeus se apaixonou. Nas imediações de Tróia, o jovem cuidava dos rebanhos do pai, quando foi avistado por Zeus. Atordoado com a beleza do mortal, Zeus transformou-se em uma águia e raptou-o, possuindo-o em pleno vôo. Ganimedes foi levado ao Olimpo e, apesar do ódio de Hera, substituiu a deusa Hebe e passou a servir o néctar aos deuses, bebida da imortalidade, derramando, os restos sobre os homens. Em homenagem ao belíssimo jovem, Zeus colocou-o na constelação de Aquário.
A verdade é que este mito arcaico relativo ao “nascimento do deus menino” ainda contado aos jovens hindus terá sido sempre uma forma escandalosa do nascimento abrupto do deus menino protágono da luz primordial, Fanes ou Pan. Por isso este deus menino seria filho do Fogo e de Galateia, a noite iluminada apenas pela Via láctea. Este “deus menino” em fogo rubro ora subiria em cânticos de alegria festiva nas festas dos rapazes do solstício de inverno como o jovem rubro de pudor[...]
O mito grego contado em idênticos ritos de passagem seria ainda mais explícito em termos de pederastia iniciática e apoteose do patriarcado. Na verdade o patriarcado apareceu como conhecimento iniciático do papel fecundante do macho dominante como garantia da fertilidade animal, ou seja, como mito rústico de pastores. Os gregos terão ido muto mais longe na ousadia do delírio da secundarização da mulher na fecundidade animal ousando acreditar que Zeus se fartou de ser servido pela sua filha Hebe pensou na modernice de ter um escravo humano como copeiro e súcubo privado. Em vez fazer um filho à criada ou à filha Hebe, como até ai faria qualquer mortal, teria tido a ousadia de gerar sozinho um filho divino fecundando um belo espécimen humano. E é assim que a iconografia clássica do mito de Ganimedes acaba como um culto ao patriarcado na forma de pederastia iniciática homossexual.
[...]Se Platão deu conta de que a homossexualidade explícita do mito de Ganimedes poderia envergonhar tantos os deuses como a cultura helénica apressadamente atribuiu o mito aos cretenses. Ora, ao faze-lo deixou-nos uma nova informação: a de que a celebridade do vício sodomita cretense era sobejamente conhecida no mundo antigo confirmando os vários mitos recolhidos[...]
Obviamente que o mito de Ganimedes se cruzou com o equivalente hindu na época do início da civilização micénica que terá coincidido com o fim desastroso não apenas da talassocracia minóica como da civilização mundial que esta ajudaria a sustentar desde o mar Egeu até à civilização de Harapa. Assim sendo, é pouco provável que o mito de Ganimedes tenha surgido na época da fundação de Tróia a menos que esta remonte à época em que Tântalo seria neto de Crono / Saturno.
Plouto (a riqueza) era uma Ninfa de Monte Sipulos na Lídia (Anatolia) filha de Cronos que foi amado por Zeus ou Tmolus e assim concebeu Tantalos, o primeiro Rei de Lídia. De acordo com Heródoto, Manes foi o primeiro Rei mito da Lídia. O filho dele era Atis ou Atullos, o Atlas grego ou Tântalos. O reino de Lídia era notoriamente rico, o que levou os gregos a chamarem à sua deusa tutelar, que seria Cibele, como deusa da cornucópia, da Riqueza (grec. Plouto) e da Abundância.
O interessante é dar conta que Manes seria uma referência à dinastia cretense do lendário rei Minos que foi também o primeiro rei lendário do Egipto. Assim, duma assentada temos o mito de Atis frígio misturado com o do sardónico Talos que seria o guardião de bronze da Atlântida platónica e ambos com Atlas e Tântalo reportados para a época dourada dum Saturno cretense onde seriam afinal comuns os sacrifícios humanos e o rapto de crianças ora para sacrifícios humanos ora para pederastia iniciática.
Obviamente que os mitos sempre permitiram leituras em diversos níveis de interpretação como era próprio da fase da oralidade onde a memória era traiçoeira. De facto, no que diz respeito a correlação entre Ganimedes e Scanda a mitologia da etimologia indo-europeia fará algum sentido enquanto fase comum indo-ariana da linguagem europeia da periferia das regiões cultas do mediterrâneo oriental e do crescente fértil. No entanto, esta origem se fosse menos mítica manifestaria uma relação mais clara no nome dos deuses hindus da juventude, o que não acontece.
Em conclusão, Ganimedes seria um jovem príncipe filho de deus que os gregos depois da idade das trevas já ignoravam e que confundiram com um belo troiano quando andaram por aquelas paragens na guerra que motivou a ruína da cultura arcaica. O que os gregos perderem neste mito foi o seu carácter proeminente como celebração do culto do “deus menino” nas festas do solstício de inverno!
Na verdade, é possível que Ganimedes fosse em tempos arcaicos uma variante de Hermes e de Horus ficando assim explicado o facto de ter aparecido na Índia como tendo um irmão gémeo como teria sido em tempos o caso de Hermes e Apolo.
Visnu, pai hindu destes gémeos, seria um deus arcaico do fogo como Vulcano / Hefesto, herdeiros e descendentes de Enki, se é que não se trata de suas variantes! Como deuses do fogo, fabricariam o Soma, o licor da eterna juventude na mitologia clássica pelo que, estes deuses eram os legítimos descendentes dos esposos das potinijas de antanho.
No entanto, fosse por ter sido empiricamente descoberto que os enjoos da gravidez lhes eram contrários, fosse porque o precioso líquido, enquanto estimulante da coragem, teria passado a ser importante na estratégia militar, o certo é que as mulheres perderam o controle sobre as bebidas fermentadas e o direito ao exclusivo do seu fabrico que passou em determinada altura a ser um segredo militar.
Ao mesmo tempo, e por força das alterações sociais que a criação do instituto militar autónomo acarretara à vida social, o seu estatuto começaria a alterar-se passando a ser, no domínio doméstico, donas de casa e/ou concubinas, que é como quem diz, criadas de dentro, ou cortesãs de fora (do palácio); no domínio da gens e da tribo, prostitutas de “taberna e tabernáculos” mas, mesmo aqui, já menos isso, pois a concorrência masculina intensificava-se em resultado do gosto por rapazes que os guerreiros cretenses e depois gregos, relaxados pela paz burguesa e confinados aos limites procriativos da etreiteza de horizontes das superpovoadas ilhas jónicas, começavam a explicitar com algum orgulho aristocrático! Enfim, a homossexualidade seria uma forma empírica de controlo da natalidade.
Este facto pode constituir um rasto do de expiação simbólica do crime de matricídio cultural perpetrado pelo patriarcado emergente e que teria que ser redimida com a tragédia do rapto, não tão mítico como se poderia pensar, duma criança destinada ao sacrifício cruento para serviço de escravo à mesa dos deuses. Primeiro, na fase heróica da cultura grega, como «pajens» destinados à instrução militar na condição básica de servos, cocheiros e impedidos dos guerreiros adultos. Mais tarde, em época de prosperidade democrática, para a prática desportiva nos ginásios em regime de criados para todo o serviço cívico, público e privado.
Então, para não incorrer nas mesmas suspeitas, Hebe ou mudou de sexo ou então... foi a cultura grega que mudou de preferências à mesa, obviamente que não inteiramente, nem sequer principalmente, mas em grande quantidade de vezes!
Fonte: Numância [link morto]
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