O sol batia fraco na minha cara, um sol pálido que mal conseguia furar a névoa alcoólica ainda pairando sobre meu cérebro. Meus dedos estavam dormentes, cravados em uma pilha de papéis amassados, rabiscados com uma caligrafia frenética, ilegível em sua maioria. Escrita automática. Isso era o que eu chamava, para tentar dar algum sentido àquela bagunça. Uma bagunça que, no fundo, eu suspeitava ser mais real do que a própria realidade.
Uma voz, baixa e rouca como pedras rolando em um rio seco, me chamou. Não ouvi com os ouvidos, mas senti a vibração em meu peito, uma pressão no nariz, como se algo estivesse tentando forçar passagem. Abri os olhos lentamente, a visão embaçada se clareando aos poucos. E então eu a vi.
Riley.
Uma hiena antropomórfica. Não era o tipo de hiena magra e faminta dos desenhos animados. Riley era atlética, com músculos definidos, coxas grossas que prometiam uma força devastadora e seios médios, desafiando qualquer expectativa de gênero. Gênero, aliás, era um conceito que parecia tão fluído em sua presença quanto o uísque que eu tinha engolido na noite anterior. Intersexual, pansexual. A camiseta com a Lola Bunny, um pouco desbotada, e a bermuda jeans, minúscula demais para o corpo espetacular, só conseguiam realçar sua beleza selvagem.
Esfreguei os olhos. Delirium tremens? Alucinação por excesso de alguma substância desconhecida? Eu tinha bebido, comido, cheirado e provavelmente injetado coisas suficientes na noite passada para povoar um museu da loucura.
Mas Riley estava ali, sólida, real demais para ser mera invenção de um cérebro intoxicado. Ela sentou na beira da cama, as pernas longas e musculosas cruzadas com uma desenvoltura felina.
“Acho que você entendeu a mensagem,” disse ela, a voz ainda carregada de um timbre rouco, mas agora com um tom de divertida superioridade. "A linha entre realidade e ficção… bem, ela é bem mais tênue do que você imagina.”
Ela explicou. Explicou a relação inextricavelmente complexa entre escritor e personagem, a forma como eu havia me tornado um canal para sua voz, uma porta para seu mundo. Falou da frustração, da raiva que sentia por anos, presa em papéis limitados dos estúdios de animação, sempre reduzida a estereótipos bidimensionais de vilã. A indignação ao ser enfiada em caixas de gênero pré-fabricadas, enjaulada em papéis que não refletiam a sua complexidade.
“E então,” ela continuou, um brilho travesso em seus olhos castanhos, “eu te achei. Você, com sua loucura gloriosa e sua liberdade sem limites. O lugar perfeito para me expressar, sem filtros, sem restrições, sem… censura.”
Ela se aproximou, se colocando sobre mim, uma mistura de dominadora e brincalhona. Seus dedos longos e ágeis deslizaram pelo meu corpo, uma carícia que me arrepiou da cabeça aos pés.
“De qual parte você gosta mais?” ela perguntou, a voz um sussurro contra minha orelha. “Da masculina? Da feminina?”
Agarrei-a com força, sentindo a firmeza de seus músculos sob a fina tela da camiseta. “De você inteira,” eu sussurrei de volta, a voz rouca pela emoção, pela bebida, pela pura, inebriante realidade de ter uma hiena antropomórfica, pansexual e intersexual sobre mim. E naquele momento, a linha entre realidade e ficção se desfez completamente, deixando apenas o calor, o desejo, e a loucura deliciosa de um amor além das convenções, além das páginas, além da própria realidade.
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Arte gerada por IA.
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