Foi então que a vi. Não literalmente, é claro. Ela surgiu da névoa do meu cérebro embriagado, uma explosão de laranja e músculos. Riley. Uma hiena antropomórfica, absurdamente alta, com uma musculatura que faria um levantador de peso profissional chorar. Cabelos encaracolados, a cor de um pôr do sol ardente, emolduravam um rosto que transpirava confiança – e uma pitada de deboche. Só que não era só isso. Riley era… complexa.
Ela era intersexual. A própria personificação da ambiguidade. A estrutura corporal, ombros largos, peitoral definido, a gritavam macho. Mas a curva dos quadris, os seios firmes sob a pele bronzeada e as coxas poderosas, a entregavam como fêmea. Uma mistura explosiva e desafiadora da natureza, um organismo que batia de frente com as categorias binárias tão convenientes para a sociedade.
E, para completar o quebra-cabeça, Riley se identificava como gênero fluido e pansexual. Sua sexualidade era uma tela em branco, um caleidoscópio de desejos e experiências livres de rótulos e expectativas. Essa liberdade, essa ausência de filtros, foi o que me cativou imediatamente.
A interação começou de forma desconcertante, como um diálogo interior – e, talvez, um pouco delirante. Eu a observava, escrevendo compulsivamente enquanto ela se movia na minha mente, a fumaça do charuto parecendo se transformar em imagens nítidas e vibrantes. A cada frase, a cada cena que eu descrevia, ela ganhava mais vida da minha própria imaginação.
Primeiro, foram descrições físicas: a textura áspera de sua pele, o brilho intenso de seus olhos âmbar, a força bruta que emanava de cada movimento. Então, surgiram seus pensamentos, seus desejos, suas frustrações. Riley não era uma personagem passiva. Ela me respondia. Ela contestava minhas escolhas narrativas, me interrompia com comentários sarcásticos e até me dava ordens.
“Escreve com mais paixão, seu verme!”, ela bramia em minha mente, a voz rouca e profunda, contrastando com a sutileza e a sensualidade que ela exibia em outros momentos.
Nós discutíamos a trama. Eu imaginava um romance clichê, ela propunha um apocalipse zumbi com muita ação e sexo. Eu queria explorá-la como uma anti-heroína que busca redenção; ela preferia ser uma força da natureza indomável, sem arrependimentos e sem julgamentos.
Às vezes, nossa interação se transformava em cenas de pura transgressão. Ela me descrevia suas experiências íntimas com detalhes cruéis e apaixonados, sem filtro, sem restrição, exatamente como ela havia pedido. Eu, por minha vez, não me sentia julgado, mas sim desafiado a ir além das fronteiras da normalidade, a explorar a sensualidade em sua forma mais autêntica e selvagem.
O processo criativo se tornou uma dança perigosa. Uma batalha entre a minha visão estereotipada de narrativa e a força implacável da personalidade de Riley. Eu ia ao meu limite psicológico e físico, perdendo horas de sono lutando contra a vontade dela. Ao mesmo tempo, me encontrava maravilhado com a autenticidade que ela trazia.
A linha entre realidade e ficção tornou-se cada vez mais tênue. O uísque fluía livremente, e as noites se transformavam em frenéticas sessões de escrita onde a realidade e a ficção em minhas obras se confundiam. Riley se tornou mais do que uma personagem; ela se tornou parte de mim, uma extensão da minha própria criatividade desregrada.
E isso, eu deduzo agora, é o preço da inspiração genuína. A entrega completa à complexidade de uma personagem, mesmo se essa complexidade significar mergulhar fundo em um território incerto e profundamente pessoal. Riley me ensinou que a verdadeira escrita não é apenas sobre criar histórias, mas também sobre se confrontar com as suas próprias verdades, com todas as suas sombras e todas as suas luzes. E, no final das contas, isso foi o que salvou a minha história, e talvez, a minha sanidade.
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