quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A lucidez de Lúcio

Era uma vez, em um reino distante chamado Arcolândia, onde as nuvens eram feitas de algodão doce e os rios corriam com suco de frutas, um dragão chamado Lúcio. Lúcio não era um dragão qualquer. Enquanto os outros dragões eram conhecidos por suas escamas reluzentes em tons de verde, vermelho ou dourado, Lúcio exibia um esplendor singular: suas escamas brilhavam em todas as cores do arco-íris, mudando de tom a cada movimento que fazia. Isso não era apenas impressionante; era também uma grande preocupação para os habitantes do reino.

No reino de Arcolândia, havia um padrão bem definido de gêneros. Os príncipes eram valentes e destemidos, enquanto as princesas eram delicadas e graciosas. Lúcio, por outro lado, não se encaixava em nenhum desses padrões. Com seu jeito flamboyant e suas escamas multicoloridas, ele frequentemente se perguntava por que o mundo insistia em dividir tudo em duas cores: azul e rosa.

Certa tarde, enquanto voava sobre as florestas de algodão doce, Lúcio decidiu que já estava na hora de desabafar. Ele pousou em um campo de flores dançantes, onde encontrou sua amiga Cíntia, uma jovem fada com cabelos de pétalas de rosa e um sorriso que iluminava todo o campo.

“Cíntia!” chamou Lúcio, sua voz soando como um eco alegre. “Você não acha que o mundo é um pouco... chato? Sempre me dizem que sou um dragão ‘diferente’ e que preciso escolher um lado. Azul ou rosa, macho ou fêmea. E eu só quero ser Lúcio, o dragão arco-íris!”

Cíntia sorriu, suas asas cintilando sob a luz do sol. “Ah, Lúcio! Você é maravilhoso do jeito que é. Mas por que você se preocupa tanto com isso? As pessoas sempre precisam de rótulos. Para elas, é mais fácil entender o mundo assim. Mas a verdade é que cada um brilha à sua própria maneira.”

“Eu sei!” Lúcio exclamou, seus olhos brilhando de indignação. “Mas a última vez que tentei explicar isso, acabei sendo chamado de ‘aquele dragão que não sabe se é dragão ou dragonesa’! Eu até brinquei e disse que ‘talvez eu fosse um dragão queer’, mas isso só resultou em um novo rótulo! E quem inventou essa palavra, afinal?”

“Bem,” Cíntia começou, segurando um riso. “Talvez as pessoas só estejam tentando encontrar uma palavra que abranja todos os matizes que você representa. Você é um ser único e belo, Lúcio! E essa é uma razão para celebrá-lo.”

“Certo, mas e os outros que não se encaixam? Já conheci criaturas intersexuais e transgêneros que sofrem tanto! Ninguém parece entender que gênero não é uma camisa que você veste, mas uma dança que você cria! Às vezes, sinto que somos todos personagens de uma peça teatral mal escrita, onde as diretrizes de gênero vêm em um roteiro muito rígido.”

Cíntia assentiu, compreendendo a dor e a frustração de seu amigo. “Eu sei que é difícil, mas há aqueles que aceitam você, assim como eu. O importante é que você continue a brilhar, mesmo que não se encaixe nos padrões da sociedade.”

“Você tem razão, minha amiga!” Lúcio disse, sua confiança começando a retornar. “E se eu fizesse algo especial? Se eu organizasse uma grande festa em Arcolândia, uma celebração da diversidade? Poderíamos convidar todos, independentemente de como se identificam. Afinal, se há algo que eu aprendi é que, mesmo com todas as diferenças, podemos nos unir e dançar como nunca!”

E assim, Lúcio começou a planejar a maior festa que Arcolândia já havia visto. Ele convidou todos os seres do reino: dragões, fadas, duendes, unicórnios e até mesmo as nuvens de algodão doce. A cada convite enviado, Lúcio falava sobre a importância de abraçar as diferenças e celebrar a singularidade de cada um.

No dia da festa, o campo de flores dançantes estava repleto de luzes coloridas, música alegre e risadas contagiosas. Os dragões dançavam, as fadas voavam em círculos, e até mesmo as nuvens de algodão doce se misturavam com a alegria do momento. Lúcio, em seu esplendor arco-íris, voava pelo céu, espalhando magia e amor.

Durante a festa, Lúcio subiu em um palco feito de flores e, com um sorriso largo, disse: “Queridos amigos, hoje celebramos não apenas a beleza da diversidade, mas a alegria de sermos quem realmente somos! Que possamos sempre lembrar que não importa como nos identificamos, o que realmente importa é o amor e a aceitação que compartilhamos uns com os outros.”

A multidão aplaudiu com entusiasmo, e muitos começaram a compartilhar suas próprias histórias de luta e autoaceitação. Rindo e dançando, todos perceberam que, assim como Lúcio, eram únicos, especiais e dignos de amor.

E assim, em Arcolândia, a festa se tornou uma tradição, um símbolo da celebração da diversidade e da inclusão. Lúcio, o dragão arco-íris, voou alto e feliz, sabendo que seu coração estava sempre envolto pelo amor incondicional de seus amigos, independentemente de rótulos.

E desde então, o reino não foi mais visto como um lugar de padrões rígidos, mas como um espaço onde cada cor brilhava intensamente, como um belo arco-íris.

E todos viveram felizes para sempre, dançando ao som de suas próprias músicas e amando quem realmente eram.

Baseado no desenho Peepoodo.
Criado com Toolbaz.

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