sábado, 31 de julho de 2021

Quem é a prostituta sagrada

“A luz da prostituta sagrada penetra no coração desta escuridão. . . . Ela é a sacerdotisa consagrada, no templo, espiritualmente receptiva ao poder feminino que a atravessa à partir do poder da Deusa e, ao mesmo tempo, consciente da beleza e paixão em seu corpo humano.”

~ Marion Woodman

Isto não pretende ser um debate sobre se a prostituição deve ou não ser legal ou julgar se é moralmente correto ou errado.

Em vez disso, este artigo centra-se em entender porque, em determinado tempo, a prostituição era considerada sagrada e explorar qual era o papel de uma prostituta sagrada.

Depois de ler o trabalho do Dr. Stubbs “Women of the Light: The New Sacred Prostitute” (Em uma tradução livre: “Mulheres da Luz: A Nova Prostituta Sagrada”), entre muitos outros livros e assistindo a um filme chamado “The sessions”, fiquei intrigada em saber por que a prostituição já foi considerada sagrada.

A prostituição foi muitas vezes descrita como “a profissão mais antiga do mundo”, que se passa ao longo da história em todas as sociedades.  Mas as primeiras formas de prostituição foram referidas como “prostituição sagrada”.

Por que era sagrada?

Durante o período da Mesopotâmia, Suméria, Grécia e Egito, não haviam bordéis.

Em vez disso, haviam templos ocupados por prostitutas sagradas, também conhecidas como sacerdotisas.  Para entender o caráter sagrado do ato sexual, isso deve ser visto no contexto de uma sociedade que vivia em estreita harmonia com a natureza.

A prática da relação sexual sagrada dentro dos templos de Innana e Ishtar foram rituais importantes e comuns na Mesopotâmia e eram considerados importantes para fortalecer a terra com energia fértil divina.

Nancy Qualls-Corbet explica que “o desejo e a resposta sexual experimentados como um poder regenerativo, foram reconhecidos como um presente ou uma benção do divino.  Tanto a natureza sexual de um homem e de uma mulher, juntamente com a sua atitude religiosa, eram inseparáveis “.

Nesta perspectiva, não é difícil entender por que a prática da prostituição sagrada se tornou um ato religioso de adoração, onde a sexualidade e a espiritualidade são uma e a mesma coisa.

Os templos da deusa forneceram a prostituta sagrada muito mais do que é conhecido neste milênio.

A Índia historicamente abraçou uma rica tradição de religião e sexualidade divina.  O hinduísmo abraçou uma atitude naturalista e erótica em relação ao comportamento de seus deuses e deusas.

As prostitutas sagradas eram conhecidas como deva, serviço de imortais em templos hindus.

Quem foi a Prostituta Sagrada?

Ela era a curandeira sexual original.

Ela era uma Sacerdotisa resplandecente, que incorporava poder, sabedoria, pureza e vontade de amar com todo o seu corpo e alma.  Essas mulheres encarnavam o amor, preservavam sua sexualidade e possuíam a máxima autoridade espiritual.

Elas capacitavam os homens a se reconectarem a si mesmos e às forças espirituais através do prazer e da oração.

Prostitutas sagradas

A prostituta sagrada não era envergonhada, vista como uma vítima, ou “forçada a prostituição”.  Ela deliberadamente ocupava um lugar de serviço altamente empoderado.

Uma prática comum que ocorria naquela época era chamada de “tirar a guerra de um homem”.  Ao retornar da guerra, os homens eram convidados a passar pelas portas do Templo.

A Sacerdotisa então o banhava, aliviava e transformava suas feridas físicas, emocionais e espirituais.

Ela então expandiria seu campo magnético para absorver toda a energia ferida, extraindo literalmente todos os efeitos da guerra de seu corpo, mente e alma.

Através do poder de sua energia e da pureza de sua feminilidade, ela gentilmente e docemente o traria de volta à integridade do Amor Incondicional.

Nos tempos antigos, a prostituta sagrada ou a sacerdotisa do templo estava associada às religiões da Grande Deusa-Mãe.

Ela se tornava uma representação da deusa em forma física e entrava em rituais sexuais sagrados com os homens que vinham para adorá-la.

A Sacerdotisa do templo tomava o título de “Hieródula do Céu”, que significava a serva da Divindade e era uma grande honra fazer amor dentro dos recintos dessas mulheres.

O fim da prostituição sagrada

Este tópico é por demais extenso para ser abordado neste artigo, pois há muitas teorias que sugerem muitas razões para a mudança de valores resultante de uma grande combinação de causas.

Mas houve então um tempo em que a deusa já não era mais adorada e os aspectos físicos e espirituais do feminino passaram a ser declarados “do mal”.

A prostituta sagrada nunca foi sobre mulheres vendendo seus corpos para agradar e servir os homens em detrimento.

É antes a idéia e a revelação de olhar além desses tipos de comportamentos autodestrutivos.

A prostituta é antes uma metáfora do tipo de cura que acontece quando nos entregamos ao amor e à possibilidade de permitir que a alegria ocorra em nossos corpos e em nossas vidas.

Nós nos elevamos acima dos limites antigos e de lá crescemos.  Primeiro, devemos aprender a amar e agradar a nós mesmos, então podemos aprender a amar e agradar aos outros.  Essa é a verdadeira sacralidade.

Referências:

Hutton, R. The Triumph of the Moon (Marvelly, P. Women of Wisdom)

Nancy Qualls-Corbet, N. The Sacred Prostitute

Deena Metzger – Tree and the Woman Who Slept With Men to Take the War Out of Them

Marvelly, P. Women of Wisdom

Link da página original: Who’s The Sacred Prostitute & Why Was She Honored?

Escrito por Christina Antonyan em 21 de Julho de 2016, no Blog Conscious Loving.

Publicado em: https://mensagensepensamentosblog.wordpress.com/2018/03/08/quem-e-a-prostituta-sagrada-e-por-que-ela-era-honrada/

sexta-feira, 30 de julho de 2021

As Práticas de Magia do Antigo Egito

No antigo Egito, a magia [heka] era uma das forças que o Criador tinha usado para fazer o mundo e a magia consistia, principalmente, em atos simbólicos que produziam efeitos práticos. Todas as divindades possuíam algum tipo desse poder e havia regras sobre os motivos e modos de usar magia. Os sacerdotes eram os guardiões desse conhecimento secreto; eram os únicos capazes de ler os livros antigos que continham as fórmulas, dádivas dos deuses que protegiam os homens das "desgraças do destino", verdadeiros tesouros guardados nos palácios e bibliotecas.

Havia uma hierarquia de magos e magias: a mais importantes, protegiam o faraó, influíam sobre o nascimento e a morte. A magia curativa era uma especialidade dos sacerdotes de Sekhmet, a apavorante deusa da calamidade. Em um nível mais baixo de especialização, estavam os "escantadores de escorpiões", conhecedores do venenos dos répteis e dos insetos. As mulheres também conheciam a magia prática do dia a dia e algumas, consideradas sábias, eram consultadas em casos que envolviam fantasmas e perturbações na vida pessoal. Conheça um pouco mais sobre as práticas de magia do Antigo Egito.

Amuletos

Os amuletos eram muito usados para proteção contra diferentes tipos de males. Alguns deles eram simplesmente fórmulas escritas em papiro, dobradas, inseridas em tecido de linho e costuradas às roupas, como alguns bentinhos, usados pelos católicos há poucas décadas, hoje mais raros. Estes amuletos eram propiciadores de longa vida, prosperidade e saúde. Em geral, o alvorecer era o momento mais propício para os rituais e oficiante deveria estar "puro", uma condição que envolvia o uso de roupas rigorosamente limpas, abstinência sexual e evitar contato com pessoas consideradas impuras, como os embalsamadores e as mulheres menstruadas. Um encantamento consistia em dizer as palavras corretamente, principalmente o nome das divindades, descrevendo as ações que seriam empreendidas.

A Ankh (ou cruz ansata) é um símbolo bastante popular do Antigo Egito, era usado como um amuleto, hoje em dia o mesmo possui vários significados, geralmente atribuídos à vida, imortalidade e ressurreição, há todo um contexto por trás desse símbolo que daria um artigo inteiro (se não mais).

As palavras podiam ativar a potência de amuleto, uma figura ou uma poção. As poções, muitas vezes continham ingredientes bizarros, como o sangue de uma cachorro negro ou o leite de uma mulher que estivesse amamentando um menino. Música e dança podiam complementar o encanto, como o som dos tambores, usado para afastar entidades malignas. Doenças, acidentes, pobreza e infertilidade podiam ser causados por divindades irritadas, fantasmas invejosos, demônios e bruxas. As vítimas mais comuns dos males causados por essas figuras eram as mulheres grávidas e as crianças.
 
Bastões mágicos, feitos de marfim ou metal, decorados com entalhes de símbolos mágicos podiam ser usados para formar um círculo protetor contra as forças do mal que, não raro, eram atribuídas a magos estrangeiros. A deusa hipopótamo Taweret e anão-leão Bes eram considerados deuses protetores cujas imagens eram traçadas em utensílios domésticos e peças do mobiliário. Também apareciam freqüentemente nos amuletos.

Magia de Cura

Magia empregada em casos de doença era um tratamento alternativo e, também, terapia complementar. Os papiros médico-mágicos continham fórmulas usadas pelos sacerdotes de Sekmet contra seres sobrenaturais causadores de diferentes males dos corpo e da mente. Conhecer os nomes desses seres era uma forma eficaz de agir sobre e contra eles. Os demônios eram atraídos pelas coisas feias e/ou delituosas e, assim, o lógico era usar coisas deste tipo para atraí-los e afastá-los; outro recurso era usar substâncias doces, como o mel e/ou desenhar na pele do paciente imagens de divindades protetoras para repelir as criaturas.

Também recorria-se à recitação de palavras mágicas que podiam ser a reconstituição de mitos ligados à cura: o sacerdote proclamava que era Toth, o possuidor do conhecimento que curou o olho de Hórus.

Coleções e magias curativas e de proteção, muitas vezes eram inscritas sobre estátuas e placas de pedras, as estelas. Seu uso era público. Uma estátua do faraó Ramsés III [1184 a.C.-1153 d.C.], colocada no deserto, servia para repelir cobras e curar suas mordidas. Um tipo de estela mágica conhecida como Cippus mostrava o deus Hórus menino subjugando animais perigosos e répteis. Muitas continham descrições de como Hórus foi envenenado por seus inimigos e como sua mãe, Isis, implorou pela vida do filho até que Rá enviou a cura. A história termina com a promessa de que qualquer um que esteja doente será curado como Hórus. O poder daquelas palavras e imagens podia ser obtido colhendo água derramada sobre a stela. Esta água mágica podia ser bebida pelo paciente ou usada para lavar suas feridas.

Maldições

Os egípcios também praticavam a magia das maldições ou magia destrutiva. Nomes de inimigos estrangeiros e traidores eram escritos em vasos, tabuletas ou figuras de cerâmica. Nas figuras, os inimigos eram representados amarrados. Os objetos eram, então, queimados ou enterrados em cemitérios. Esse procedimento deveria enfraquecer ou destruir o adversário. Nos templos, sacerdotes e sacerdotisas realizavam cerimônias para amaldiçoar inimigos de ordem divina, como a serpente do caos, Apophis, que vivia eternamente em guerra com o Sol, deus da Criação. Imagens de Apophis traçadas em papiro ou modeladas em cera eram recebiam manifestações de desprezo, como cusparadas ou eram espancadas, pisadas, apunhaladas, queimadas. Os resíduos eram dissolvidos em baldes de urina.

Deuses violentos do panteão eram convocados para combater e destruir Apophis, incluindo sua alma e sua magia. Os rivais humanos dos faraós também eram amaldiçoados durante essa cerimônia. Este tipo de magia foi usado contra o faraó Ramsés III por um grupos de magos, cortesãos e mulheres do harém. Os conspiradores, apoderando-se de um livro de magia negra da biblioteca real, usaram os conhecimentos ali contidos para preparar poções e figuras de cera a fim de prejudicar o faraó e sua guarda. As maldições projetadas nas figuras de cera eram mais eficazes se nelas eram incorporadas elementos pertencentes à vítima: cabelos, unhas, fluidos corporais [como é feito em ritos do voodoo]. No caso de Ramsés III, esses elementos foram facilmente obtidos pelas mulheres do faraó. Não obstante, o plano falhou e os conspiradores, descobertos, foram condenados à morte.

Sonhos

Os egípcios acreditavam que a vontade divina podia ser conhecida através dos sonhos. Sonhos eram considerados como prova da existência de um outro mundo não muito diferente do mundo terreno por que conheciam. O conhecimento da arte de provocar os sonhos e interpretá-los era muito valorizado no antigo Egito e o sacerdote que possuía esse dom podia alcançar um status de grande honra na hierarquia do Estado, como na história de José, o garoto judeu que chegou à terra dos faraós como escravo e alcançou o mais alto posto administrativo da época interpretando sonhos do faraó que permitiram a previsão de uma época de seca e o reforço do estoque de grãos, salvando o país da fome que, de fato, na época indicada, assolaram o Oriente Médio. Assim, o futuro era revelado nos sonhos de modo que tragédias podiam ser evitadas e mistérios, desvendados.

Porém, sonhos reveladores não eram uma coisa comum e os mágicos eram solicitados para produzi-los através de encantamentos.
 
No acervo do Britsh Museum, o papiro nº 122 contém uma fórmula para obter uma visão ou sonho com a deusa Bes:

"Faça um desenho da deusa em sua mão esquerda e envolva a mão e o pescoço em uma tira de tecido preto consagrado a Ísis. Deite-se e durma sem dizer uma só palavra. A tinta usada para fazer o desenho deve ser feita com sangue de vaca, sangue de uma pomba branca, incenso puro e fresco, mirra, tinta para escrita negra, cinábrio, suco de amora, suco de ervilhaca, suco de ervas amargas e água da chuva. Com essa mesma tinta, escreva seu pedido antes do por do sol. Envie ao verdadeiro vidente do santuário e suplique: Lampsuer, Sumarta, Baribas, Dardalam, Iorlex, Senhor! Envia a sagrada divindade Anuth, Salbana, Breith, Salbana, Chambré, agora, rapidamente. Faça a súplica à noite".

Ou, ainda:

"Para provocar sonhos, disponha de uma bolsa limpa e escreva sobre ela os nomes de Aemiuth, Lailamchouch, Arsenophrephren, Phta, Archentechtha. Dobre a bolsa e coloque-a sobre uma lâmpada de puro óleo. Ao crepúsculo, vá se deitar sem comer, em jejum levando consigo a lâmpada e repita sete vezes a fórmula: "Sachmu, Aeon Trovejador, Vós que possuis o culto da serpente e faz exaurir a própria lua, e faz raiar o sol nas estações, Chthetho é teu nome. eu peço, Senhor dos Deuses, Seth, Chreps, conceda-me a informação que desejo". Antes de adormecer, apague a lâmpada".

Fantasmas

As ideias dos egípcio sobre a composição do homem favoreceram a crença em aparições e fantasmas. O homem seria uma combinação de corpos:

1. Corpo físico
2. A sombra [ou corpo astral]
3. Duplo [ka - espírito]
4. Alma
5. Coração [ou alma-coração, a porção anímica do animal]
6. Khu [veículo do espírito]
7. Força vital

Com a morte do corpo físico, dele se desprende a sombra que somente pode ser trazida de volta por meio de cerimônias místicas. O duplo permanecia na tumba com o corpo e era visitado pela alma, que passava a habitar o Paraíso. Essa alma ka, o duplo, era, ainda, algo material, assim como khu, veículo do espírito que partilhava [alimentava-se] das oferendas funerárias depositadas na tumba: carnes e bebidas. Se o duplo não encontrasse alimentos na sepultura, passava a vagar entre os vivos em busca de algo para comer e beber, consumindo mesmo coisas imundas, o que era considerado uma maldição (e lembra o conceito de vampiros astrais, obsessores e eguns, bastante disseminados atualmente). Mas além da sombra, do duplo e da alma, também o espírito, a parte realmente imortal do homem que, em geral, tinha sua morada no Céu, muitas vezes era encontrado no sepulcro. Nesse caso, tal espírito estava preso a uma estátua representativa do morto. Nestas tumbas, uma parte especial era reservada para ka [o espírito, o duplo], chamada "casa de ka" e o sacerdote de ka cuidava especialmente desse aspecto, provendo o espírito com perfume de incensos, flores, ervas, carne e bebida, as coisas que a pessoa apreciava em vida.

Ka, era, por excelência, o fantasma dos egípcios, muitas vezes confundido com seu veículo, khu. [Ou seja, o espírito ka possui um suporte material, khu].

Apesar dessa confusa constituição do homem, o fato é que os egípcio acreditavam podia interagir com seus parentes e amigos que permaneciam no mundo terreno. Esse contato poderia ser propiciado por meio de encantamentos escritos em um papiro, declamados diante da estátua que abrigava ka [o espírito], uma espécie de evocação egípcia. Um fantasma insatisfeito poderia, por exemplo, perturbar a vida de um vivo. Foi o caso de um homem que se queixava da esposa morta há três anos e que não o deixava em paz, lançando sobre a vida dele toda sorte de infortúnios. Para se livrar da perseguição da falecida, ele escreveu em um papiro seus próprios méritos, lembrou o bom tratamento dedicado a ela em vida e alegou que que o mal que ela vinha fazendo não se justificava. O papiro foi levado à tumba da mulher e ali depositado, amarrado à estátua que abrigava o duplo da morta que, assim, poderia ler a petição de paz.

Os cemitérios ou necrópoles eram lugares temidos pelos egípcios justamente porque ali moravam os espíritos. A crença era compartilhada também entre os povos de língua árabe do Egito e do Sudão, exceto pelos violadores de túmulos. No Sudão, acreditavam que os espíritos daqueles que morriam em batalhas permaneciam nos locais em que tombaram mortos ou onde seus corpos tinham sido enterrados.

Destino

O destino de uma pessoa era determinado antes do nascimento e não podia ser alterado. Os sábios podiam antever a vida futura de alguém a partir da data de nascimento e da análise da posição de estrelas e planetas neste dia: era o horóscopo egípcio.

A deusa do destino chamava-se Shai, geralmente acompanhada de outra deusa, Renenet, esta, Senhora da Fortuna. Ambas estavam presentes na Cena do Julgamento onde testemunhavam a pesagem do coração do morto (psicostasia). Outra deusa, Meskhenet, também se apresentava e influenciava a vida futura daqueles que acabavam de morrer.

A vida também poderia ser feliz ou infeliz em função do dia e da hora do nascimento. Cada dia do ano egípcio era dividido em três partes, cada uma delas mais ou menos afortunada. Quando Alexandre, o Grande, estava para nascer, o sábio Nectanebus, observando os corpos celestes, controlava o momento do parto junto à mãe, Olímpia, para que a criança viesse ao mundo em uma hora favorável; e somente permitiu o nascimento no momento em que viu certo esplendor no céu. Quando o menino nasceu, ele disse: "Rainha, acaba de nascer de ti um Governador do Mundo". A terra tremeu, luzes eram vistas no firmamento e um trovão se fez ouvir ao longe.

Nos papiros dos mágicos, freqüentemente aparece a advertência de que certas cerimônias não devem ser feitas em determinados dias considerados negativos para as forças e/ou potências que serão acionadas. O calendário egípcio, em correspondência com o calendário Gregoriano, começa no dia 11 de setembro, o mês de Toth. O terceiro dia do ano é o primeiro assinalado como desafortunado e a partir daí, dias e horas são marcados com símbolos que indicam boa ou má sorte, do dia e das horas das três partes nas quais se divide o dia.

Os sacerdotes que elaboraram o calendário tinham suas razões para definir dias propícios ou não. Por exemplo, o dia 19 do mês de Toth, completamente afortunado e, segundo o papiro Sallier IV, este era um dia de festa no Céu e na Terra na presença de Rá. O dia 26, ao contrário, era um dia ruim, dia que lembrava a batalha entre Hórus e Seth: era um dia de fazer oferendas a Osíris e Toth mas completamente inadequado para qualquer tipo de trabalho.

O dia 20 de Toth era desfavorável para receber estrangeiros. No mês de Paophi, nascer no dia 4 era vaticínio de morte por doença. No quinto dia, devia-se evitar as relações sexuais e os nascidos nesse dia morreriam por excesso de luxúria. Já os nascidos em 9 de setembro, morreriam em idade avançada. No mês de Hator, No 5º dia, não era recomendável acender o fogo em casa e no 16º dia era proibido ouvir música. Os nascidos no dia 26, morreriam afogados.

Os meses egípcios:

1. Toth - deus da escrita e da sabedoria, entre 11 de setembro e 10 de outubro
2. Paophi - deus do Nilo, entre 11 de outubro e 10 de novembro
3. Hathor - deusa da beleza e amor, entre 11 de novembro e 09 de dezembro
4. Koiak - o sagrado boi Ápis, entre 10 de dezembro e 8 de janeiro
5. Tobi - Amon-Rá, o Sol, entre 9 de janeiro e 7 de fevereiro
6. Meshir - deus dos ventos, entre 8 de janeiro e 9 de março
7. Paremhat - deus da guerra, entre 10 de março e 8 de abril
8. Paremoude - deus das tempestades e morte, entre 9 de abril e 8 de maio
9. Pashons - deus da Lua, entre 9 de maio e 7 de junho
10. Paoni - mês do Festival do Vale, em Tebas, entre 8 de junho e 7 de julho
11. Epip - a Serpente que Hórus matou, entre 8 de julho e 6 de agosto
12. Mesori - mês do Nascimento do Sol, entre 7 de agosto e 5 de setembro

Estes meses somavam 360 dias. Os cinco restantes, últimos dias do ano eram dias especiais, os epagomenals days, dedicados ao nascimento de cinco divindades principais: Osíris ─ Hórus ─ Seth ─ Ísis ─ Neftis. Dos 5 dias epagomenais, o primeiro, o terceiro e o quinto, eram desafortunados para o trabalho.

Animais Sagrados

Na vida futura, deuses e homens poderiam assumir formas de animais e plantas maravilhosas que lhes fossem agradáveis e essa transformação, no entendimento popular, era considerada um poder desejável. No livro dos mortos, ao menos 12 capítulos são dedicados a ensinar ao morto as palavras de encantamento necessárias à realização de uma reencarnação nessas condições: "falcão de ouro" ou "falcão divino", "governador dos príncipes soberanos", o deus portador da luz na escuridão, o lótus, a fênix, o crocodilo, um "espírito livre" ou como Ptah, deus do Tempo. Entretanto, tudo indica que o texto do Livro dos Mortos, neste caso, refere-se a estes animais como alegorias que se referem a um estado superior de existência e não a uma reencarnação em forma animal ou mesmo assumindo personalidade divina. O Livro firma, ainda, que no Paraíso, o Espírito poderia voar ou nadar qualquer distância em qualquer direção. Os egípcios reverenciavam certos animais.

A representação de Bastet, deusa solar e da fertilidade, possuía a cabeça de um felino. É válido ressaltar o fascínio que os egípcios possuíam por felinos, como animais sagrados. Também é perceptível que muitas divindades são metade humanos e metade animais, como Anúbis, que possuí a cabeça de um chacal, Hórus, com a cabeça de um falcão, dentre muitos outros.

O povo, considerava estes animais como encarnações de deuses; magos e pessoas mais cultas, entendiam, mais acertadamente, que aqueles animais representavam manifestações de qualidades dos deuses. Quando um animal sagrado morria, as qualidades do deus que ele [o animal] simbolizava eram transferidas para outro indivíduo da mesma espécie, reencarnação do que morrera. O animal morto recebia a honra da mumificação.

Eram sagrados: o touro e a vaca, representantes da força física e de procriação; o crocodilo, reverenciado como uma espécie de rei das águas fluviais e identificado com o deus Sobek; outra potência dos rios, era o hipopótamo, relacionado à deusa Tauret e à gestação. Os gatos simbolizavam a deusa Bastet. O escaravelho era associado a Rá, o Sol. Anúbis tinha cabeça de chacal, animal que rondava os cemitérios sendo, assim, apropriadamente ligado àquele deus que presidia a morte.

Referências: BUDGE, E. A. Wallis. Egyptian Magic, cap. VII, 1901.
PINCH, Geraldine. Ancient Egyptian Magic, 2003. In BBC History.
Wikipédia, a enciclopédia livre e Revista Sofá da Sala.

Fonte: http://www.blogmortalha.com/

Original: https://www.oarquivo.com.br/temas-polemicos/religiao-cultos-e-outros/5975-as-pr%C3%A1ticas-de-magia-do-antigo-egito.html

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Elena dos Caminhos

Lendo os artigos do Patheos Pagan, Jason Mankey citou o mito da Elen dos Caminhos como um mito conectado com o Deus Hastado.

Eu tenho que reforçar o aviso: mitos não são verdades, textos não são divinamente inspirados. Elen dos Caminhos não é uma Deusa Corça, sua representação [imagem] portando galhadas é um retrato da Era Moderna.

A referência que existe da Elen dos Caminhos vem de Mabinogion, um texto da Idade Média. As linhas do texto podem ser lidas neste link: https://www.sacred-texts.com/neu/celt/mab/mab28.htm

Utilizem o Google Tradutor para ler e entender o texto.

Em nenhum lugar do texto Elen é descrita portando galhada ou de ter a aparência de uma corça.

Em nenhum lugar do texto Elen está associada à Herne.

O mito de Herne, o Caçador, o coloca como portando galhadas. Na mitologia céltica e europeia, a figura do cervo é constante, associado à espíritos, entidades ou divindades, seres que estão conectados com o Mundo dos Mortos. Nas lendas medievais, cervos são retratados como criaturas sobrenaturais envolvidos em buscas empreendidas por reis e cavaleiros. A corça branca é um tema frequente em lendas de cavalaria e foi associado à Herne, o Caçador. O cervo branco foi utilizado como símbolo heráldico pelo rei Ricardo II.

A imagem de um cervo branco foi igualmente apropriado pelo Cristianismo nas lendas de Huberto e Eustáquio, “santos” patronos dos caçadores. Esses “santos” patronos dos caçadores tiveram um encontro com um cervo branco que, evidente, apareceu com um crucifixo entre a galhada, o que os fez se converterem ao Cristianismo. O rótulo do Jagermeister se originou destas representações cristianizadas da antiga mitologia vinculada aos cervos.

De acordo com a página “Folklore Thursday”:

“Historicamente, Elen dos Exércitos era uma mulher real que viveu no século 4, mas na lenda britânica e na mitologia galesa e celta, pode ser ainda mais antigo. Ela parece ter sido uma mulher de muitos papéis que cresceram e evoluíram ao longo dos séculos até os dias atuais.

Embora hoje se saiba muito pouco sobre ela com certeza, pode-se ver no sonho que Elen não era uma mulher comum. Hoje ela é conhecida por muitos nomes. Ela é Elen Luyddog em galês ou em inglês, Elen dos anfitriões e também conhecida como Elen dos caminhos, Elen das estradas e Elen Belipotent em referência às suas habilidades de liderança militar. Ela também é conhecida como Santa Elen ou Helena de Caernarfon, às vezes sendo chamada de Helena em vez de Elen, e ainda há mais nomes. Elen era considerada filha de Eudav, ou Eudaf Hen, um governante romano-britânico do século 4 que se tornou a esposa de Macsen Wledig, também conhecido como Magnus Maximus, um imperador romano ocidental de (383-388AD). Ela era mãe de cinco filhos, incluindo um filho chamado Constantine, também conhecido como Cystennin ou Custennin. Ela introduziu na Grã-Bretanha, proveniente da Gália, uma forma de monaquismo celta e fundou várias igrejas. Existem também muitos poços sagrados e nascentes com o seu nome e ainda existem estradas com o seu nome, como Sarn Elen.

Ela também era uma rainha guerreira. De acordo com David Hughes em seu livro, The British Chronicles, Volume 1 , depois que Macsen foi derrotado e executado, Elen reinou sobre os britânicos. Ela liderou a defesa do país contra invasores pictos, irlandeses e saxões. Depois de uma luta longa e difícil, ela expulsou os invasores, ganhando o nome de Elen Luyddog, ou Elen dos Exércitos e Elen Belipotent, que significa “poderosa na guerra”. Nas Tríades Galesas, Elen dos Hosts e Macsen Wledig, ou em algumas versões Cynan seu irmão, lideram um exército para Llychlyn, que alguns estudiosos como Rachel Bromich vêem como uma corrupção de Llydaw, ou Armórica que se encaixa melhor com o que é conhecido.

Há uma linha de pensamento que vê os personagens do Mabinogion como versões cristianizadas de deuses muito mais antigos. Algumas pessoas também a veem como uma fusão de várias mulheres e, em última análise, derivada de uma antiga deusa celta da soberania. O tema da soberania de uma forma ou de outra aparece no sonho e ela aparece como o catalisador que pode fazer isso acontecer ou tirá-lo.

Hoje, muitas pessoas vêem Elen como derivada de uma deusa da soberania e atribuem a ela atributos divinos. Às vezes, ela é retratada como uma deusa com chifres e alguns estudiosos acreditam que ela pode ser rastreada por toda a Europa. Caroline Wise, autora de Finding Elen: The Quest for Elen of the Ways, vem pesquisando Elen há mais de 25 anos e desenvolveu algumas idéias fascinantes a respeito dela. Ela vê Elen como uma divindade ancestral que tem muitas faces e que evoluiu e se transformou com o tempo. Como Elen dos Caminhos, ela é a protetora de estradas, caminhos e as energias que fluem pela terra, incluindo subterrâneos e sobre cursos de água subterrâneos e linhas ley. Ela também tinha as rotas de migração que os animais usavam em seus cuidados e está associada aos veados, especialmente renas que morreram na Grã-Bretanha cerca de 8.300 anos atrás, o que dá uma ideia de sua história possível.

Muitos mitos e lendas estão centrados na terra e em sua fertilidade e bem-estar. Essas ideias remontam às primeiras épocas e nos fornecem uma conexão através do tempo até quando vagávamos por uma terra selvagem e intocada que nos deu vida e nos sustentou. Não estávamos abaixo ou acima, mas parte dele e era parte de nós. Muitas pessoas hoje sentem que a conexão foi cortada, esquecida ou perdida e anseiam por se reconectar. Talvez algumas pessoas vejam que Elen tem um meio de restabelecer essa conexão.

Também existe a ideia de que, como uma deusa da soberania, Elen concedeu a soberania da terra ao rei. A terra era considerada feminina, e foi o rei quem trouxe fertilidade e renovação à terra. Não poderia ser feito por uma mulher. Esses eram dois papéis distintos, mas simbióticos, que se acreditava garantir a fertilidade da terra e, portanto, o bem-estar da sociedade humana e de toda a vida vegetal e animal. O rei teve que dar, e a terra teve que receber, para manter a fertilidade e renovação. Isso não significava que uma rainha não pudesse governar. Elen governou e houve muitas grandes rainhas que governaram com eficácia, às vezes liderando seu povo na guerra como Elen fazia. No entanto, mais cedo ou mais tarde, um rei teria que ser encontrado para garantir a fertilidade e renovação da terra”.

https://folklorethursday.com/legends/british-legends-elen-of-the-hosts-saint-warrior-queen-goddess-of-sovereignty/

Traduzido com Google Tradutor.

Ressalte-se a importância da realização do hierogamos entre o rei [como sacerdote e representantre do Deus] e Elen, como sacerdotisa e representante da Deusa.

Como diz o velho ditado, cada um na sua.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

O Banquete das Castanhas

Na noite de 30 de outubro de 1501, Johann Burchard percorreu as ruas ventosas de Roma e seguiu o cheiro de carne de porco assada e castanhas aquecidas que emanava do Palácio do Vaticano.

Como Mestre de Cerimônias, Burchard deveria comparecer a todas as festas promovidas pelo Papa Alexandre VI e seu filho Cesare Borgia. Mas ele estava cansado das festas intermináveis. Noite após noite, os Borgias celebravam o futuro casamento entre a filha do papa, Lucrécia, e seu noivo, Alfonso d'Este.

Quando Burchard entrou nos apartamentos mal iluminados, os sons baixos de veludo o envolveram enquanto cinquenta belas cortesãs o chamavam para dentro. Pérolas, rubis e esmeraldas enroladas em seus pescoços e descendo em seus vestidos decotados, como vinhas crescidas estrangulando uma árvore.

Esfregando os olhos cansados, Burchard reconheceu a loira suntuosamente vestida, conhecida como Fiammetta, dedilhando seu alaúde acima da mesa do banquete. Ela era amante de Cesare e, segundo os rumores, era tão rica que encomendou um afresco inteiro para pintar na igreja de S. Agostino.

Do outro lado da sala, uma beleza rechonchuda de cabelos dourados com lóbulos das orelhas avermelhados cantou diante de sua multidão admirada, baixando os olhos recatadamente para ver quem estava observando. Ela era conhecida como Imperia La Divina , a mulher mais bonita que ele já tinha visto e a querida musa de Raphael.

O resto das mulheres estava aninhado nos cantos flertando com o melhor nobre de Roma, ocasionalmente levantando a cabeça para permitir que sua risada de sino de prata enchesse a sala.

Essas mulheres não eram meretrici (prostitutas) típicas , mas membros de uma classe dominante chamada cortigiana (cortesãs).Cortesãs não eram apenas belos ornamentos, mas educadas em arte, música, dança, poesia e, o mais importante, conversação.

A seguinte descrição foi retirada do relato da noite de Joannes Buchard. Nas páginas mais sombrias de seu diário, Burchard escreve:

“Depois da ceia, os candelabros acesos que estavam sobre a mesa foram colocados no chão e castanhas jogadas entre eles, que as prostitutas deviam apanhar enquanto se arrastavam entre as velas. O Papa, o duque e Lucrécia, sua irmã, estavam presentes olhando. No final, exibiram prêmios de mantos de seda, botas e outros objetos que foram prometidos a quem deveria ter feito amor com essas prostitutas o maior número de vezes. Os prêmios foram distribuídos aos vencedores de acordo com o julgamento dos presentes ”.

Prostitutas nuas catando castanhas do chão?

Compreensivelmente, o papa não conseguiu chegar à missa no dia seguinte.

Burchard (que não era amigo dos Borgia) é a única pessoa a transmitir detalhes tão grosseiros. Naturalmente, os historiadores há muito se perguntam se o famoso “Banquete das Castanhas” talvez seja um pouco exagerado.

O pesquisador do Vaticano, reverendo monsenhor Peter de Roo (1839–1926), questionou o diário de Burchard por causa de uma carta contando o evento do condottiere italiano Silvio Savelli.

Nessa carta, Savelli afirma que as prostitutas "jantavam" com os Borgias, mas não mencionavam nenhuma colheita de castanha nua. Esta carta afirma que os cortesãos foram recebidos com 'uma visão das mais chocantes'.

Uma visão chocante poderia ter sido bobos da corte nus pulando de tortas.

Ainda assim, podemos imaginar que sua típica reunião de Borgia provavelmente não tinha alfinetes nos jogos de festa do tipo burro. Sem mencionar que orgias de bêbados tendem a não ser registradas na história. Eles geralmente só aparecem em diários, como o de Burchard.

Uma coisa é certa, qualquer festa do diabólico Cesare Borgia teria sido o assunto da Europa.

Original: https://historyofyesterday.com/the-banquet-of-the-chestnuts-the-popes-halloween-party-turned-orgy-c22e88fe25f9

Traduzido com Google Tradutor.

terça-feira, 27 de julho de 2021

O manto da alma

Platão, Fédon.

A meu parecer, nosso argumento não saiu do lugar e continua como alvo das mesmas objeções de antes. Que nossa alma já existisse antes de assumir esta forma, é proposição que não me repugna aceitar, por engenhosa e – salvo imodéstia de minha parte – suficientemente demonstrada.

Porém que subsista algures depois de estarmos mortos, com isso é que não posso concordar. Não aceito, também o reparo de Símias, quando afirma que a alma não é mais forte nem mais durável do que o corpo, pois sob ambos os aspectos ela se distingue imensamente dele.

Por que então, lhe diria o argumento, ainda te mostras incrédulo, se estás vendo que depois da morte do homem sua porção mais fraca ainda subsiste? Não te parece que a porção mais durável terá forçosamente de sobreviver igual tempo? Vê agora se o que digo contém alguma substância. Para maior comodidade vou socorrer-me, como o fez Símias, de uma imagem.

Para mim, falar desse jeito é o mesmo que fazer as seguintes considerações a respeito de um velho tecelão que acabasse de morrer: o homem não está morto: continua vivo em alguma parte; e para prova dessa afirmação, apresentasse a roupa que ele então trazia no corpo, tecida por ele mesmo, conservada e sem ter ainda perecido. E se alguém se mostrasse incrédulo, poderia perguntar o que é por natureza mais durável, imaginaria ter demonstrado que com maioria de razões o homem terá de estar bem, visto não haver perecido o que por natureza é menos durável.

Porém a meu ver, Símias, a realidade, é muito diferente. Presta atenção ao seguinte: Não há quem não veja quanto é fraco semelhante argumento. Havendo gasto muitas roupas por ele próprio tecidas, o nosso homem morreu, de fato, depois de todas, e não foram poucas, porém antes da última, segundo penso; mas nem por isso o homem é inferior ou mais fraco do que a roupa. Essa imagem, quero crer, se aplica tanto à alma como ao corpo, e quem argumentasse desse modo com relação ao corpo, falaria com muito mais propriedade, a saber: que a alma é mais durável e o corpo mais fraco e transitório, pois fora acertado acrescentar que cada alma consome vários corpos, principalmente quando vive muitos anos.

Se o corpo se escoa e se deliquesce enquanto o homem vive, a alma retece de contínuo o que for consumido. Forçoso será, por conseguinte, que, no instante de morrer, ainda esteja a alma com a última vestimenta por ela feia, só vindo a morrer antes da última. Desaparecida a alma, mostra, de pronto, o corpo sua fraqueza natural e se desmancha pela putrefação. Por isso mesmo, com base nesses argumentos não podemos confiar que nossa alma subsista algures depois da morte.

E se alguém concedesse ao expositor de tua proposição mais ainda do que fazes e lhe desse de barato não penas que nossas almas existem antes do tempo do nascimento, sendo que nada impede, até mesmo depois de nossa morte, existirem algumas e continuarem a existir, e muitas vezes renascerem e tornarem a morrer, por serem de natureza bastante forte para suportar esses nascimentos sucessivos: se lhe concedêssemos esse ponto, de todo o jeito ele se recusaria a admitir que a alma não se esgota nesses nascimentos sucessivos, para acabar numa dessas últimas mortes, por desaparecer de todo.

Dessa morte última, poderia acrescentar, e dessa decomposição do corpo que leva para a alma a destruição, ninguém pode ter conhecimento, por não estar em nós experimentá-la. Se as coisas se passam mesmo dessa forma, por força terá de ser irracional a confiança de qualquer pessoa diante da morte, a menos que esse alguém pudesse demonstrar que a alma é absolutamente imortal e imperecível. Sendo isso impossível, não há como evitar que o moribundo se arreceie de que no instante em que sua alma se desaparecer do corpo, venha a desaparecer de todo.

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000031.pdf

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A invenção de Ptolomeu

Em algo eu concordo com o ateu e o descrente: o Cristianismo é um erro, em todos os 2k anos de sua existência, essa crença é a razão da humanidade ainda estar atrasada. Mas nem a maior característica do Cristianismo: a de inventar Deus [e seu Filho], é original.

Pessoas divinizadas podem ser encontradas na Era Antiga. No Egito Antigo, o faraó era divino. Na Roma Antiga, [Júlio] César foi divinizado. Alexandre o Grande [Rei da Macedônia] foi divinizado. Gilgamesh, dos mitos babilônicos, que pode ter sido um antigo rei sumério, foi divinizado. Rômulo e Remo, os Fundadores Míticos de Roma, foram divinizados. Antínoo, o amante do Imperador Adriano, foi divinizado. Arsínoe, filha de Ptlomeu, foi divinizada. Jesus, o personagem da farsa do Cristianismo, foi divinizado.

Eu não vou listar de novo as contradições do mito de Jesus, nem vou insistir que a noção de Deus, no Cristianismo, é um Frankenstein teológico. O que eu tenho a explorar agora é o caso que os Cristãos não foram os primeiros a inventar um Deus e uma religião. O primeiro “inventor de Deus”, bem como a religião correspondente, foi Ptolomeu Soster. E isso tem muito a ver com o aparecimento e sucesso do Cristianismo. Explico:

Alexandre o Grande conquistou o Império Persa e, na sua morte, seu reino foi dividido entre seus generais. Coube a Ptolomeu o Egito. A região do Oriente Médio coube a Seleuco. O domínio dos Macedônios foi crucial para disseminar o Helenismo, fenômeno que transformou diversas culturas, sem essa influência, o Cristianismo não existiria.

Ptolomeu, quando se tornou o faraó, tinha uma batata quente nas mãos. Como conciliar povos e culturas tão distintas quanto os egípcios antigos e os gregos antigos? Ptolomeu queria fazer com que o Egito ficasse mais atualizado, mais cosmopolita. A convivência dos egípcios antigos e os muitos povos que habitavam aquela região precisavam de algo que desse um sentido de união e identidade em comum. Como o Mágico de Oz, Ptolomeu criou o Deus Serápis e inaugurou diversos Serapeus [templos de Serápis] no Egito Antigo. Ptolomeu misturou elementos da crença egípcia e helênica, ele inaugurou o sincretismo, sem o qual o Cristianismo nunca teria existido. Foi tão bem sucedido em seu empreendimento que Serapeus se espalharam pelo mundo conhecido, o que, quando Serápis foi associado à Isis [Aset], garantiu ao culto uma aceitação popular tão grande que continuou depois da dominação romana, instaurando a primeira religião de massa inventada [o culto a Ishtar, além de ter sido mais “popular” e mais disseminada do que o de Ísis, foi uma religião de massa que surgiu “naturalmente”].

A dominação romana foi crucial para que o Helenismo se tornasse parte da cultura do mundo conhecido, esse é o contexto no qual Apuleio escreveu “O Asno Dourado”, descrevendo Ísis como uma Grande Deusa, trechos muito usados por pagãos modernos para embasar o culto da Grande Deusa como uma realidade histórica que remonta o Neolítico. O culto de Ísis, que estava quase extinto, recebeu um impulso com o domínio romano, seu mito e seu rito foram adaptados para agradar o público romano, pode-se dizer que os Romanos deram início à egitomania antes dos Ingleses.

Seleuco deve ter seguido a “receita” de Ptolomeu, patrocinando o Helenismo, ele disseminou pelo seu reino sua mistura com elementos da crença persa e da crença helênica. Essa mistura favoreceu o aparecimento das Escolas de Mistério, do Orfismo e do Gnosticismo, os quais, juntando com o Messianismo dos Essênios, constituem a base do Cristianismo.

Outros elementos históricos e sociais foram somados ao longo da história até que Constantino e Teodósio impôs o Cristianismo como a única religião do mundo conhecido. Então pode-se dizer que a invenção de Ptolomeu foi um “presente de Grego”.

domingo, 25 de julho de 2021

Não se pode fugir se si mesmo

Lucrécio,  De Rerum Natura,  3.1053-1075.

“Quando as pessoas parecem sentir que há um peso
em suas mentes, que as desgasta com sua pressão -
Se eles fossem capazes de entender de onde vem e o que causa
um fardo tão grande de miséria pressionando seus peitos,
eles iriam dificilmente vivem suas vidas como vemos agora a maioria faz:
Cada pessoa não sabe o que quer e sempre busca
Mudar de lugar como se pudesse livrar-se do fardo.

Freqüentemente, esse homem sai das portas de sua grande casa,
Quando se cansa de estar ali, apenas para voltar repentinamente
Quando passa a acreditar que não está melhor lá fora.
Ele sai correndo, conduzindo seus pôneis despreocupadamente para sua vila,
como se estivesse levando uma ajuda crucial para uma casa em chamas.
No entanto, quando ele chega e cruza o limiar da casa,
Ele quer cai em um sono profundo ou busca o esquecimento,
Ou ele ainda corre para visitar a cidade novamente,
esta é a forma como cada homem foge de si mesmo, mas é a sua auto
Que é impossível escapar, então ele se apega a isto ingrato e odioso.

Ele faz isso porque é um homem doente que ignora a causa.
Se ele soubesse a causa, ele iria abandonar todas essas coisas
e começar o seu primeiro estudo sobre a natureza das coisas,
vez que o problema não é o de uma única hora, mas do tempo eterno
Em que estado temos de compreender que todo o tempo vai passar
Para homem mortal após a morte que espera a todos nós”.

https://sententiaeantiquae.com/2017/12/26/escaping-the-self-is-impossible/

Traduzido com Google Tradutor.

sábado, 24 de julho de 2021

O corpo do tempo

O tempo é uma grandeza física e um aspecto do divino. Para o mundo ocidental, o tempo é linear; para o mundo oriental, o tempo é circular.

Quando pensamos no mundo enquanto forma ou lugar de existência, nós pensamos em termos de espaço.

O espaço é tridimensional, formado pelos vetores altura, largura e profundidade.

Eu não lembro onde eu encontrei, mas o tempo é formado pelos vetores ontem, hoje e amanhã.

Na Sociedade Zvezda [extinto] eu expus a minha teoria de que o tempo, na quinta dimensão, é líquido.

Nossos antepassados formaram a noção de tempo através da observação da natureza, os primeiros calendários foram marcados com as fases da lua ou com as estações do ano.

Nós somos herdeiros de um rico legado passado através de gerações, que são os mitos e as lendas, histórias orais contando a origem das coisas desde o tempo além do tempo. A sequência narrativa dos mitos e lendas possui uma cronologia, mas esse é o tempo sagrado, esse é o tempo que domina a religião [ritos] e a magia [procedimentos].

A realização de um determinado rito, bem como a sequência de procedimentos, ocorre no tempo profano, mas tema intenção de manifestar o sagrado. A precisão do tempo ritualístico tenta sincronizar com o tempo sagrado ao qual está vinculado. O ritual é a encenação do drama divino e endossa, reforça, reproduz no tempo profano a cena divina que criou o mundo e a humanidade.

Nos mitos Gregos, o tempo é Cronos que, temendo que a maldição de Urano se cumprisse [de que ele seria derrotado por seu descendente, tal como Urano havia sido derrotado por Cronos], devora toda sua descendência. Toda? Não, Rhéia, utilizando de malandragem, faz Cronos comer uma pedra no lugar de Zeus que, no devido tempo, derrota Cronos, derrota os Titãs e derrota os Gigantes, tornando-se o Deus Rei do Olimpo, a Pólis Divina.

A noção de que nada pode escapar da “fome” do tempo, de que tudo, em algum momento, será engolido, devorado pelo tempo, dá a dimensão do significado de Kali.

O mundo ocidental teve o péssimo gosto de criar a religião Hare Krishna. Como efeito colateral do Colonialismo inglês, a cultura Hindu virou uma vedete do esoterismo produzido em massa. O Hare Krishna é baseado no texto Bhagavad Gita, que é um pequeno trecho da magnífica obra Mahabharata. Os ingleses, sobretudo nas sociedades secretas, fizeram outro empréstimo cultural de origem dos mitos egípcios, quem conhece as obras de Aleister Crowley deve notar a egitomania presente. Isso não é uma novidade, eu creio ser necessário escrever quem começou com essa ideia de criar e inventar religiões com intuito de consolidar o poder ou de satisfazer os desejos de consumo do público.

Tal como no caso dos mitos clássicos, dos quais o pouco que sabemos foi um registro posterior de tradições orais com o intuito de agradar os donos do poder e que, portanto, tiveram distorções e censuras.

Quando eu analiso o mito de Kali, este caso pode ser encaixado nesses mitos de tradições orais cujo conteúdo e significado constitui um choque e um embaraço.

A contraparte mais próxima de Kali nos mitos clássicos é Nemesis, no entanto sua fúria e sede de sangue pode ser equiparada com a de Inanna/Ishtar.

Para um Hindu é difícil entender Kali, mais complicado ainda se torna para um ocidental entendê-la. Nos mitos Hindus, os Devas estavam em guerra contra os Asuras, a luta estava em um impasse, a destruição estava ameaçando toda a existência. Os Devas rogaram para que isso tivesse fim, dizem então que da emanação de diversos Devas ou da incorporação a partir de outra Deusa, surge Kali.

O mito não explica porquê Kali tem forma feminina, mas quem conhece os mitos de Inanna/Ishtar, deve conhecer o que nós chamamos de Lado Negro da Grande Deusa. O corpo de Kali é exuberante; sua pele é negra, roxa ou azul; seus cabelos são longos e negros; os olhos faíscam em fúria; seu [lindo] pescoço é decorado com uma guirlanda feita de caveiras; seu [deslumbrante] quadril é decorado com um cinto feito de pernas e braços; ela está completamente nua; possui quatro ou mais braços; uma mão empunha uma terrível espada em forma de meia-lua [chamada de ramdao] e a outra mão porta o tridente de Shiva [chamado de trishula], ou faz o mudra [gestual de mão] para que o devoto não tema; no lado esquerdo, uma mão segura uma cabeça decapitada e a outra segura uma cumbuca repleta de sangue.

Kali entra na batalha e, sozinha, extermina o exército dos Asuras, devorando todos, sorvendo o sangue das vítimas, sem misericórdia, indomável. Os Devas deveriam estar gratos, mas a “solução” começou a preocupar os Devas. E se Kali não parasse? Ninguém ali tinha o poder ou a coragem suficiente para sequer encarar Kali. Em seu frenesi extático, Kali percebeu que seu alvo foi completamente dizimado e, como se temia, começou a pensar em atacar os Devas. Ela levantou sua espada e começou a avançar quando percebeu que pisava em um corpo diferente. Kali parou estarrecida ao ver que pisava em Shiva. A relação de Kali com Shiva é controversa. Ela pode ser considerada a consorte de Shiva, a filha de Shiva, ou a emanação de Shiva. O gesto de Kali ao mostrar a língua é a demonstração de vergonha, de embaraço, conforme a cultura hindu.

O mito de Kali e a história da Índia não dizem se ela foi “domesticada”, não dizem quando Kali tornou-se uma Deusa e começou a ser adorada. Os rituais para Kali ocorrem em crematórios e na escola tântrica “de esquerda”. Kali é identificada como uma Deusa da destruição, da morte [para que haja renovação], da sexualidade e da aniquilação do ego.

Uma vez eu sonhei que eu era mordido por uma entidade. A conexão dos mistérios antigos, do caminho iniciático, do início do despertar, com o ato de comer ou morder é rara, mas pode ser percebido no sacrifício e no posterior ato comensal do Grande Banquete, onde todos os devotos degustam a carne assada da vítima do sacrifício. Eu não posso dizer nem afirmar qual entidade me mordeu. Eu posso dizer que o sonho foi crucial para a minha jornada. Se for Kali, ela pode me morder, me comer, me chupar... [arf, arf, arf].

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Você não escolheu sofrer

Por que coisas ruins acontecem a pessoas boas? Por que coisas ruins acontecem a qualquer pessoa? Mais importante, por que coisas ruins acontecem conosco?

Implícito na pergunta está a suposição de que algo está errado – as coisas não deveriam ser assim. Se apenas entendêssemos o motivo poderíamos fazer algo para eliminá-lo. E se não pudéssemos eliminá-lo, pelo menos poderíamos encontrar um significado nisso – nós poderíamos entender que o nosso sofrimento serve a um propósito maior.

Diferentes religiões têm ideias diferentes sobre a causa do sofrimento. O Cristianismo diz que é por causa do pecado. O Budismo diz que é por causa do desejo. Essas ideias têm pontos fortes e fracos, mas não é sobre isso o que eu quero falar nesse texto.

O que eu quero falar aqui é uma ideia particularmente insidiosa que eu vejo flutuando na comunidade da Nova Era – ela ocasionalmente chega ao Paganismo. Essa ideia é de que, aconteça o que acontecer, não importa o quanto ruim tenha sido, “você pediu por isso”.

Conceitos dármicos fora do contexto

O Hinduísmo e o Budismo ensinam o conceito de karma – a ideia que as ações nesta vida impactam nossas condições em vidas futuras. Isso é o que você ganha quando combina causa e efeito com a crença da reencarnação. Por enquanto, tudo bem.

Mas quando você tira o karma e a reencarnação de seu contexto dármico e os mistura com a religião oficial do ocidente contemporâneo – que diz que a autonomia do ser humano individual é o maior bem – você tem a ideia de “contratos espirituais” e outras besteiras.

Você é um ser infinitamente poderoso, então, se algo ruim acontecer, é porque você escolheu deixar acontecer. Talvez seja algum trabalho que você está fazendo para outra pessoa. Provavelmente é uma lição que você precisa aprender. Portanto, se algo ruim acontecer, não culpe ninguém – e definitivamente não culpe nossa sociedade em geral, seus sistemas e instituições. Lembre-se de que você escolheu isso, então pare de reclamar e descubra que lição isso está tentando te ensinar.

Eu tenho uma palavra para isso: besteira.

As implicações da reencarnação

Eu estou convencido de que a essência do que e quem nós somos é imortal. Após a morte, passamos algum tempo no Outro Mundo – o mundo dos Deuses e ancestrais. Eu acredito que este seja principalmente um momento de descanso e reflexão, mas pode muito bem ser que haja algum trabalho que devemos fazer lá, porque não podemos fazer aqui. Em qualquer caso, depois de algum tempo, nós renascemos nesse mundo e o processo de aprender, crescer e trabalhar para construir um mundo melhor recomeça.

Mas o que determina onde nascemos? Novamente, as tradições dármicas ensinam que as nossas ações em vidas passadas impactam nossas condições na vida atual. É um processo bastante impessoal de causa e efeito.

Isso não é bom o suficiente para o pessoal da Nova Era. Bom, talvez seja bom o suficiente para pessoas pobres – eles fizeram algo ruim na vida passada e agora têm que sofrer nesta vida. Mas e nós? Nós não poderíamos estar sofrendo por causa dos pecados de uma vida passada – nós somos boas pessoas! Portanto, o único motivo para estarmos sofrendo é que nós escolhemos voluntariamente sofrer.

Não há necessidade de examinar o seu comportamento. Não há necessidade de alterar sistema algum.

E nenhuma necessidade de contemplar a aleatoriedade da vida.

A vida é aleatória e aleatoriedade assusta

Por que algumas pessoas acreditam em teorias da conspiração, apesar da falta de evidências de que são verdadeiras e de fortes evidências de que não são? Porque elas fornecem significado. Muitas pessoas acham mais reconfortante acreditar que o mundo é governado por uma conspiração maligna de bilionários do que aceitar a verdade óbvia: ninguém está no comando.

Da mesma forma, muitas pessoas preferem acreditar que causam o próprio sofrimento do que aceitar a verdade óbvia: coisas ruins acontecem sem motivo.

E eles realmente não querem contemplar outra verdade óbvia: a vida não é sobre nós. Tudo isso é feito sem levar em conta o impacto sobre os humanos, porque nós não somos o centro do universo.

O significado está em nossas respostas

Para os nossos ancestrais, a vida geralmente era muito difícil e frequentemente curta.

Leia a história de nossos ancestrais. Ser um herói não significava vencer apesar das probabilidades ruins.  Ser um herói era viver com coragem e virtudes, mesmo diante da morte iminente.

Nós podemos aprender com experiências difíceis. Nós podemos demonstrar caráter diante do sofrimento. Mas nós não precisamos e não devemos distorcer os fatos para transformar todas as dificuldades em lições.

A crueldade do “você pediu por isso”

Dizer às pessoas que sofrem que “você pediu por isso” é crueldade descarada. Eles estão sofrendo e você diz que é culpa deles?

Uma pessoa que diz “você pediu por isso” diz a uma pessoa que está sofrendo que “a culpa é sua”. Quando você diz “isso é uma lição”, você diz “eu não estou te ajudando a superar isso”. Você também pode dizer a eles que “pecaram em uma vida passada, então merecem tudo o que acontece com vocês”.

Mesmo que você não possa fazer algo para melhorar as coisas, ao menos você pode ouvir com compaixão e garantir que eles não sofram sozinhos.

Essa é uma lição que todos precisamos aprender.

Você ainda tem que sair de situações ruins

O único benefício possível que vem de pensar “eu escolhi isso” é que isso te leva a pensar sobre o que você pode fazer para consertar.

Aqui traçamos uma distinção clara entre o que é útil para você fazer por si mesmo e o que é antiético para você recomendar para outra pessoa. Ninguém tem maior capacidade de mudar sua vida do que você. As ações de ninguém terão mais impacto em sua vida do que as suas. Talvez você não possa fazer tudo sozinho, mas pode seguir na direção certa e procurar ajuda onde precisar. Essas são coisas boas e necessárias.

Mas o fato de que você pode fazer isso – ou o que você fez – não significa que todos podem fazer isso. Talvez você seja mais inteligente do que a maioria das pessoas – essa é uma vantagem que você tem e outros não têm. Talvez você esteja com boa saúde – muitos dos que estão em situação ruim não estão. E talvez você apenas tenha tido sorte.

Lembre-se de que às vezes você não consegue consertar. Às vezes você tem que ser como nossos ancestrais e viver heroicamente apesar de estar em uma situação sem saída.

Conserte o sistema

Se alguém está sofrendo, talvez a lição não seja para eles. Talvez seja para você.

Ninguém pediu para sofrer para que se pudesse aprender uma lição. Mas não há mal em agir como se tivesse uma tarefa para ser feita.

Tanto sofrimento no mundo é sistêmica. Eu não acredito que o sistema tenha sido feito para causar sofrimento – foi projetado para os ricos e poderosos continuarem ricos e poderosos. Se algumas pessoas sofrem com isso, eles estão bem com isso. Nós precisamos parar de aceitar isso.

Trabalhe para eliminar a pobreza. Trabalhe para garantir o acesso à educação e saúde de qualidade para todos. Trabalhe para acabar com o racismo, o sexismo, a homofobia, a transfobia, a xenofobia e o patriarcado.

A utopia não é possível – nós não podemos criar uma sociedade perfeita. Nós somos humanos e humanos são criaturas imperfeitas. Mas podemos melhorar as coisas. E isso é bom e necessário.

Nós não escolhemos nosso nascimento?

Esta é uma pergunta interessante, se for feita no sentido abstrato e desde que não haja a culpa da vítima incluída. Platão entendeu que nós fazemos, pelo menos até certo ponto.

Minha gnose pessoal é que alguns de nós temos alguma contribuição sobre as circunstâncias de nosso nascimento. Mas eu não acho que tenhamos um conhecimento prévio detalhado de nossa vida futura.

Eu acho que alguns de nós sabemos o que precisam realizar nessa próxima vida e tentam se colocar em uma situação em que se possa fazer isso.

Eu acho que muitos – a maioria – de nós não têm a menor ideia para onde vamos quando deixamos o Outro Mundo para vir aqui, mais do que quando partimos daqui para o Outro Mundo. Além disso, a maioria de nós está na primeira vida.

Mas isto é mais especulação do que revelação.

Mesmo se nós tivéssemos alguma ideia de onde e como entraríamos nessa vida, nós não pedimos por doenças, abusos e injustiças.

Nem nossa, nem de mais ninguém.

Autor: John Beckett

Original: https://www.patheos.com/blogs/johnbeckett/2021/07/no-you-didnt-choose-to-suffer.html

Traduzido, com edições e adaptações, com Google Tradutor.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Humanidade

Esse texto é um ensaio sobre nossas origens e conterá algumas conclusões analíticas e críticas em relação a algumas alegações sobre raça e dieta.

Eu começo a apontar essa definição dada pelo Wikipédia:

“Os zoólogos geralmente consideram a raça um sinónimo das subespécies, caracterizada pela comprovada existência de linhagens distintas dentro das espécies, portanto, para a delimitação de subespécies ou raças a diferenciação genética é uma condição essencial, ainda que não suficiente. Na espécie Homo sapiens - a espécie humana - a variabilidade genética representa 3 a 5% da variabilidade total, nos sub-grupos continentais, o que caracteriza, definitivamente, a ausência de diferenciação genética. Portanto, inexistem raças humanas do ponto de vista biológico. No ‘Código Internacional de Nomenclatura Zoológica’, não existe nenhuma norma para considerar categorias sistemáticas abaixo da subespécie”.

Os defensores da separação da espécie humana em raças geralmente se apoiam no conceito de haplogrupo, no que eu cito a definição do Wikipédia:

“No estudo da evolução molecular, um haplogrupo é um grupo grande de haplótipos, que são séries de alelos em lugares específicos de um cromossomo herdado de um único progenitor, proveniente de um único ancestral comum com mutação de polimorfismo de nucleotídeo único”.

O sentido de diferenciação de indivíduos conforme a raça tem origem na criação de animais, mais comumente conhecido como pedigree, conforme a definição do Wikipédia:

“Raças puras ou puros-sangue são nomes dados a raças de animais obtidas através do processo de seleção artificial, e que têm sua árvore genealógica conhecida e certificada.

Animais de raça pura são prole de dois animais da mesma raça com genealogia certificada em documento (pedigree) emitido por órgão especializado, e cuja árvore genealógica pode ser traçada através de inúmeras gerações até a base ou fundação genética da raça em questão[...]”.

Para quem apresenta o conceito de “estirpe”, no sentido de que uma determinada etnia humana possui uma distinção genética que a torna melhor ou superior às demais [a base do racismo], alegando a existência desse “único progenitor” [algo que eu analisei no texto “Progenitores Lendários”], omite ou ignora o problema da endogamia, no que eu ressalto esse trecho do Wikipédia:

“Pouco menos de 10% das sociedades do mundo são organizados em demos, ou comunidades de aldeias que tendem a ser endógamas. O sistema de endogamia mais famoso do mundo é a organização de castas da Índia, que conta com cerca de duas mil castas e subcastas entre as quais o casamento costumava ser formalmente proibido (sob o pretexto de que o contato com castas inferiores poluiria ritualmente os membros das castas superiores).

Outro exemplo histórico clássico de endogamia é o da Casa de Habsburgo, da Áustria. Com uma série de casamentos estratégicos, essa casa expandiu seu poder a muitos outros reinos da Europa e, como diversas outras famílias reais, não desejava que suas posses fossem diluídas em outros núcleos da nobreza.

Para isso, promoveu casamentos entre parentes, e à medida que as gerações passavam, seus atributos físicos e psicológicos começaram a mudar, levando ao surgimento de fisionomias disformes (como prognatismo mandibular), bem como de retardo nas habilidades motoras e cognitivas, fraqueza muscular, recorrência de vômito, doenças mentais, diarreia, edemas e impotência. O alto índice de mortalidade infantil e dificuldade de gerar descendentes culminaram na decadência da dinastia”.

 A endogamia é sinônimo de endocruzamento, conforme pode ser visto no verbete da Wikipédia:

“Endocruzamento é o acasalamento de indivíduos que são geneticamente próximos. O endocruzamento resulta no aumento da zigosidade, que pode aumentar as hipóteses dos descendentes serem afetados por genes recessivos ou problemas de má-formação física. Isto geralmente conduz a uma redução da aptidão de uma população, que é chamada de depressão de consanguinidade”.

Isso recai na “depressão de consanguinidade”, conforme pode ser visto no Wikipédia:

“Depressão por endogamia é quando uma determinada população sofre algum tipo de redução (impacto em seu fitness biológico), pois há um aumento na chance de alelos recessivos deletérios se propagarem, conforme a imagem ao lado. Outro fator que pode acontecer é a sobredominância de alelos heterozigóticos, levando uma redução no fitness de alelos homozigóticos vindos dessa população gerada por endocruzamento, mesmo não sendo deletérios, podem prejudicar a população. Esse quadro pode ser qualificado pela diminuição de indivíduos sobreviventes ao parto, e às condições de vida no meio, que levam em conta competição intra e interespecífica, resistência imunológica e vários outros fatores”.

A priori, quando se fala nos diferentes indivíduos humanos, eu devo ressaltar esse trecho tirado do Wikipédia:

“A definição de raças humanas é principalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganham sentidos, valores e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e, em algumas culturas, genética. O conceito de raça humana não se confunde com o de subespécie e com o de variedade, aplicados a outros seres vivos que não o homem. Por seu caráter controverso (seu impacto na identidade social e política), o conceito de raça é questionado por alguns estudiosos como constructo social; entre os biológos, é um conceito com certo descrédito por não se conformar a normas taxonômicas aceites.

Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como população, etnia, ou mesmo cultura”.

Quando se pensa na construção [social] do termo raça e etnia, eu cito esse trecho do Wikipédia:

“Raças e etnias são uma construção social, que são inventadas e manipuladas, dependendo dos interesses de determinada sociedade. Exemplo disso é que a quantidade de raças humanas existentes varia no decorrer do tempo. Até meados do século XX, os europeus eram divididos em diferentes sub-raças: nórdicos predominando no Norte, alpinos no Centro e mediterrâneos mais ao Sul”.

[corte]

“Classificações raciais são frequentemente feitas com base em características físicas escolhidas arbitrariamente, como cor da pele e textura do cabelo”.

Por definição cientificamente comprovada, todos nós pertencemos à mesma espécie: Homo Sapiens. Nossa “linha evolutiva”, conforme as eras, pode ser descrita assim:

Plioceno: Hominidae, Arthipitecus, Australopithecus;

Pleistoceno: Homo Habilis, Homo Erectus, Neandertal, Homo Sapiens.

As outras espécies das quais nós somos parcialmente aparentadas são o orangotango, o gorila e o chimpanzé.

O chimpanzé é o parente mais próximo, do qual se pode ressaltar sobre seus hábitos alimentares, conforme esse trecho tirado do Wikipédia:

“Os chimpanzés possuem uma alimentação bem variada, sendo as frutas o principal alimento de sua dieta, porém também consomem folhas, flores, sementes e insetos, como formigas, cupins e larvas. Em certas ocasiões também se alimentam de carne, variando de pequenos antílopes a outras espécies de primatas, como o Colobus”.

Portanto o verbete do Wikipédia em português que alega, no verbete sobre a História do Vegetarianismo:

“O Homem pré-histórico era principalmente vegetariano e, se comprimirmos toda a evolução da humanidade na vida de uma pessoa de 70 anos, o consumo de carne só aparece nos últimos nove dias. Donna Hart, professora de antropologia na Universidade de Missouri, e Robert W. Sussman, professor de antropologia e ciência ambiental na Universidade de Washington, argumentam, no livro Man the Hunted, vencedor do W.W. Howells Award em 2006, que os nossos antepassados eram presas de outros animais, e não predadores, e que a necessidade de escaparem a estes animais maiores e mais ferozes incentivou a capacidade intelectual e a linguagem.

Ainda acrescentaram que é óbvio que os hominídeos não caçaram a grande escala antes do advento do fogo controlado e que não possuem a anatomia e fisiologia próprias para serem comedores de carne. Segundo os autores, o crescimento do cérebro ocorreu muito antes de a carne vermelha fazer regularmente parte da dieta do Homem”.

Está incorreto, como podemos ver nos trechos citados da própria Wikipédia. Esse trecho sequer consta no mesmo verbete em inglês. Eu registrei minha crítica na plataforma:

“Criticando esse verbete do Wikipédia.

‘O Homem pré-histórico era principalmente vegetariano e, se comprimirmos toda a evolução da humanidade na vida de uma pessoa de 70 anos, o consumo de carne só aparece nos últimos nove dias’.

Essa afirmação provêm de Colin Spencer, um conhecido ativista vegano, portanto, a afirmação é tendenciosa.

‘Donna Hart, professora de antropologia na Universidade de Missouri, e Robert W. Sussman, professor de antropologia e ciência ambiental na Universidade de Washington, argumentam, no livro Man the Hunted, vencedor do W.W. Howells Award em 2006, que os nossos antepassados eram presas de outros animais, e não predadores, e que a necessidade de escaparem a estes animais maiores e mais ferozes incentivou a capacidade intelectual e a linguagem.

Ainda acrescentaram que é óbvio que os hominídeos não caçaram a grande escala antes do advento do fogo controlado e que não possuem a anatomia e fisiologia próprias para serem comedores de carne. Segundo os autores, o crescimento do cérebro ocorreu muito antes de a carne vermelha fazer regularmente parte da dieta do Homem’.

Esse verbete sequer aparece no Wikipédia em inglês. Os autores citados são antropólogos, não são especialistas em arqueologia, paleontologia ou evolução humana. Dentre as espécies primatas conhecidas atualmente, existem aquelas que consomem carne. Nossos antepassados eram distintos dos primatas daquela época, somente um estudo paleontológico sobre os hábitos alimentares de nossos antepassados pode esclarecer esse assunto”.

Se fosse para nós “imitarmos” os nossos parentes primatas no quesito da alimentação, deveríamos também imitá-los no quesito da reprodução, conforme eu cito esse trecho do Wikipédia:

“Os chimpanzés machos podem fazer pares com fêmeas, mas a promiscuidade é comum na espécie. Há casos em que a fêmea copulou 50 vezes com quatorze machos diferentes em um só dia. Estes animais tem orgasmos e vocalizações específicas de cópula”.

A teoria mais aceita é a de que os primeiros Homo Sapiens migraram a partir da África. Outras formas de hominídeos que possivelmente existiram, ou encontravam-se extintos, ou foram dominados/assimilados/absorvidos pelo Homo Sapiens, como no caso do Neandertal, com quem os Homos Sapiens copularam. As demais etnias que conhecemos hoje ou são todas descendentes dos Homos Sapiens ou são descendentes da miscigenação com outros hominídeos. Um desses descendentes são os povos indo-europeus, que são um grupo de diversas tribos que possuíam em comum somente a língua, a religião e o território de origem. Esses povos migraram da sua região original para outras regiões, entre estas, o continente europeu e, conforme os grupo e a região ocupada, desenvolveram as culturas dos povos europeus, juntamente com outros povos nativos que foram dominados/assimilados/absorvidos.

Conforme a história nos mostra, a Europa foi fortemente influenciada e modificada pelo domínio de Roma, posteriormente pelos Godos, Francos, Germânicos e outros. Resumindo, os atuais habitantes da Europa são descendentes de povos de diversas origens, de diversas etnias, tal como os brasileiros. Portanto todos nós somos miscigenados e descendentes de imigrantes.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Pseudoepígrafos ou apócrifos

Textos são objetos peculiares e interessantes. Como objetos e produtos da cultura humana, dependendo do interesse de seus usuários, podem servir para outras intenções que não às quais foram produzidos.

Por exemplo, o seguinte texto:

Para de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Para de me culpar da tua vida miserável: eu nunca te disse que há algo mau em ti, ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho? Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho: vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Para de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo. Sentes-te olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti. Aí é que estou.

O autor desse texto é Francisco Javier Ángel Real, escritor mexicano e é atribuído enganosamente a Baruch Espinoza.

Olhando a obra de Baruch Espinoza, o conceito de Deus dele pode ser lido na obra “Ética”:

No exposto até aqui, expliquei a natureza de Deus e as propriedades, tais como: que existe necessariamente; que é único; que existe e age somente pela necessidade da sua natureza; que é, e de que modo, a causa livre de todas as coisas; que tudo existe em Deus e d´Ele depende de tal maneira que nada pode existir nem ser concebido sem Ele; e, finalmente, que tudo foi predeterminado por Deus, não certamente por livre arbítrio, isto é, irrestrito bel-prazer, mas pela natureza absoluta de Deus ou, por outras palavras, pelo seu poder infinito.

Tem um filósofo, muito conhecido por sua filosofia metafísica, Renê Descartes que, do seu modo, descreve o “gênio maligno”:

Irei supor, então, não a existência de uma divindade (…) um gênio maligno, que é ao mesmo tempo sumamente potente e enganoso, empregue todo seu talento para lograr a mim. Vou acreditar que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as demais coisas externas são nada mais do que ilusões de sonhos, que esta criatura emprega para me iludir.

Outro filósofo é Pierre Simon Laplace que propôs um exercício mental [que foi chamado de Demônio de Laplace] nesses termos:

Podemos considerar o presente estado do universo como resultado de seu passado e a causa do seu futuro. Se um intelecto em certo momento tiver conhecimento de todas as forças que colocam a natureza em movimento, e a posição de todos os itens dos quais a natureza é composta, e se esse intelecto for grandioso o bastante para submeter tais dados à análise, ele incluiria numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e também os dos átomos mais diminutos; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, estaria ao alcance de seus olhos.

Textos, quando se tornam citações para sustentar ou provar uma proposição como verdadeira, devem ser lidos com desconfiança. Não é difícil encontrar artigos escritos por cristãos e ateus prostituindo outros textos.

Um bom exemplo é o chamado Paradoxo de Epicuro:

Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente.
É capaz, mas não deseja? Então é malevolente.
É capaz e deseja? Então por que o mal existe?
Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?

O texto, que não é de autoria de Epicuro, foi atribuído postumamente a ele por Lactâncio. Mas é frequentemente prostituído por ateus para conquistarem seu efêmero triunfo.

Seja quem for o autor de uma frase. Apelar para a suposta autoridade de seu autor é falácia ad verecundeam. Além do que, uma frase é apenas a opinião do autor, que pode e deve ser questionada e contestada com argumentos.

Isso inclui os textos escritos por esse escritor que vos fala.

Domo arigato gosaimasu.