Com origem nas manifestações que culminaram no golpe de Estado contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016, o MBL busca reposicionar-se como força política independente, apesar de seu histórico marcado por alianças oportunistas e uma trajetória permeada por controvérsias, radicalização retórica e desgaste público. A legenda, que aguarda registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), diz ter coletado mais de 575 mil assinaturas validadas, acima do mínimo exigido de 547 mil.
Tentativa de se desvincular de Bolsonaro e do Centrão
De acordo com o coordenador nacional do MBL, Renan Santos — que deve presidir o novo partido —, o Missão se propõe como uma alternativa à direita tradicional e à esquerda governista. “Não é sobre ser conservador ou liberal, mas sobre senso de urgência”, afirma. Ele defende uma “profunda reforma constitucional” e atribui os problemas do Brasil a um “pacto patrimonialista” que, segundo ele, domina o Estado.
Santos ataca tanto o bolsonarismo quanto o Centrão — que classifica como “a verdadeira ideologia do Brasil” — e se apresenta como representante de uma “direita anti-Bolsonaro”. O discurso, no entanto, tenta se equilibrar entre o populismo digital e referências internacionais como Javier Milei, presidente da Argentina, e Nayib Bukele, de El Salvador, com propostas que vão do ultraliberalismo ao autoritarismo.
Gentili desconversa, mas elogia iniciativa
Entre os possíveis nomes à Presidência pelo Missão, aparece o próprio Renan Santos e, principalmente, o apresentador Danilo Gentili, figura com influência digital e simpatizante do MBL. Questionado pelo Valor, Gentili evitou se comprometer com a candidatura, mas reconheceu a importância do projeto. “A Presidência da República é algo sério. Não é algo pra ser feito por vaidade ou por interesse próprio”, afirmou.
Ainda assim, Gentili elogiou o grupo: “Nem Bolsonaro conseguiu criar um partido, [mas] eles sim”. Para ele, a legenda permitirá que o MBL se afaste de “caciques com agendas e interesses próprios” e estabeleça suas “próprias diretrizes”. A ambiguidade de sua declaração evidencia o caráter midiático e improvisado das articulações do grupo, que mais uma vez parece apostar na celebridade para suprir a ausência de enraizamento político real.
Estratégia eleitoral e desafios concretos
Além da candidatura à Presidência, o MBL discute lançar Kim Kataguiri ao governo de São Paulo, além de nomes em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Distrito Federal. Pretende ainda disputar cadeiras na Câmara com vereadores do grupo em cidades como Salvador, Natal e Joinville. A fórmula se repete: candidatos jovens, polêmicos e com forte presença nas redes.
No entanto, o MBL enfrenta obstáculos significativos. Além de precisar registrar formalmente o partido até abril de 2026, terá de enfrentar o ceticismo de analistas e da própria classe política. “Eles têm um teto de votos”, afirmou um ex-deputado de centro-direita, sob anonimato. A dificuldade do grupo em manter alianças duradouras e sua tendência ao isolamento político são apontadas como entraves para a consolidação da legenda.
Influência digital sem lastro eleitoral.
Embora tenha se notabilizado por dominar o debate nas redes sociais, o MBL tem encontrado dificuldades para converter capital simbólico em votos. O presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, observa que o grupo “sempre andou sozinho” e se ofereceu para filiar seus membros caso o partido não seja aprovado. “Transformar influência digital em capital eleitoral real é um desafio”, diz.
Já o consultor eleitoral Wilson Pedroso destaca os pontos fortes do grupo: base jovem, presença digital e capacidade de pautar discussões. Mas reconhece que o principal objetivo do MBL é “renovar a direita fora do bolsonarismo” — uma meta que ainda carece de coerência programática e base social consistente.
O MBL tenta mais uma vez formalizar um projeto de poder próprio, mas seu passado recente — de alianças rompidas, disputas internas, discursos contraditórios e uma postura mais performática do que institucional — levanta dúvidas sobre sua capacidade de se firmar como alternativa política real. Enquanto tenta ocupar o vácuo deixado pelo bolsonarismo, o grupo ainda não conseguiu provar que consegue ir além da retórica ruidosa e das redes sociais.
Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/mbl-quer-lancar-gentili-a-presidencia-e-kim-ao-governo-de-sao-paulo
Nota: faltou a reportagem dizer que as assinaturas para a criação do partido estão sendo questionadas e sendo postas em dúvida.
Leiam esta notícia:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/exclusivo-advogados-tentam-impugnar-novo-partido-do-mbl-por-irregularidades/
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