No final, ela recebe um certificado de “despertar” e uma assinatura de um app de meditação. De volta à rotina, sente um vazio estranho, como se tivesse comprado um produto com prazo de validade. Bem-vindos ao mercado das almas, onde a espiritualidade é empacotada, precificada e vendida como um item de prateleira.
A espiritualidade, antes um caminho de introspecção e conexão com o transcendente, foi sequestrada pela lógica do capitalismo digital. Vivemos a era da mercantilização da alma, onde a busca por sentido vira mercadoria. O mercado global de bem-estar, que inclui aplicativos de meditação, retiros de luxo e produtos “espirituais”, movimenta bilhões.
Relatórios recentes apontam que o setor de apps como Headspace e Calm já ultrapassa US$ 2 bilhões, com crescimento anual de 20%. No Instagram, gurus de autoajuda com sorrisos perfeitos vendem cursos de “transformação pessoal” por R$ 999,90 em 12 vezes. Retiros em cenários exóticos cobram fortunas por experiências que misturam práticas ancestrais com o conforto de um spa. Até o mindfulness, prática milenar, foi reduzido a notificações de celular: “Respire agora!”.
Essa indústria lucra com uma fome profunda: o anseio por propósito em um mundo fragmentado. A modernidade, com sua correria tecnológica e solidão urbana, criou um vazio que o consumo promete preencher.
As pessoas buscam conexão, transcendência, sentido. Mas, em vez de respostas autênticas, recebem produtos: meditações de cinco minutos para “otimizar a produtividade”, colares de pedras que “irradiam energia” ou cursos que garantem “abundância” em três passos. A espiritualidade, que deveria ser um caminho de desapego, virou um item no carrinho de compras virtual. O sagrado agora é hashtag; a alma, um ativo negociável.
Contrastemos isso com uma visão de espiritualidade que defendo: um processo gratuito, universal, centrado na unidade da humanidade. Como já dizia um sábio pensador, “não permitais que desejos mundanos obscureçam vossa visão, nem que vãs imaginações vos desviem da verdade”.
A busca pelo sentido exige desapego material e compromisso com algo maior que o ego. Não é um produto à venda, mas um caminho de humildade, reflexão e serviço ao próximo. A verdadeira paz não vem de pulseiras de cristais ou retiros caros, mas de atos de amor, justiça e solidariedade que constroem um mundo mais harmonioso. A terra é um só lar, e todos nós, seus moradores, estamos interligados.
O mercado das almas prospera porque explora a vulnerabilidade humana, vendendo alívio instantâneo para anseios profundos. Mas a espiritualidade autêntica não é um download rápido, nem cabe em uma embalagem.
É um cultivo paciente, um compromisso com a verdade que transcende o consumo. Como escapar das vitrines reluzentes desse mercado? A resposta está em buscar além do balcão. Está em reconhecer que a alma não é mercadoria, mas um reflexo de algo maior, que não se vende, não se compra, apenas se cultiva com dedicação.
Nesses tempos atravessados o melhor que podemos fazer é abandonar o carrinho de compras e trilhar o caminho da verdadeira espiritualidade – um caminho sem preço, mas que pede tudo de nós: coração, ação e compromisso com a unidade do mundo.
Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/7/20/espiritualidade-embalada-para-viagem-vendida-em-doze-vezes-por-washington-araujo-183710.html
Nota: infelizmente isso acontece no Paganismo Moderno, na Bruxaria e na Wicca.
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