Quase dois mil anos após os templos no Egito terem sido
fechados pelo Império Romano, um mago inglês recebe uma revelação de uma Deusa
egípcia, Nut ou Nuit. A Deusa lhe solicita para que a ajude a desvendá-la,
tornando-se seu profeta. O mago – Aleister Crowley – realizou isto ao publicar
“O Livro da Lei”, o primeiro capítulo que contem a voz de Nuit. Quem é essa
Deusa e como ela veio se comunicar com Aleister Crowley?
Deusa da Via Láctea
Nut é a Deusa egípcia da Via Láctea, na verdade, ela é a Via
Láctea.
A Via Láctea é a galáxia que contém o nosso sistema solar. Nós
não estamos sequer em um lugar importante nesta galáxia. Quando olhamos para a
Via Láctea, nós estamos observando uma faixa da galáxia.
Como a personificação do firmamento, Nut é geralmente
representada como uma mulher em forma de arco, com os pés e mãos tocando a
terra. Ela está frequentemente acompanhada de seu consorte, o Deus da terra
Geb, debaixo dela e o Deus do vento Shu separando Nut e Geb. Nut é representada
na forma de mulher, na forma de vaca e na forma de porca.
Mito de Criação
De acordo com o mito de criação de Heliópolis, Nut é a filha
de Shu e Tefnut, que são descendentes do Deus primordial, Atum.
Atum – o autogerado – surgiu no inicio do tempo e criou os primeiros
Deuses ao se masturbar. Os primeiros eram Shu [deus do ar] e Tefnut [deusa da
umidade]. Shu e Tefnut então se tornaram os progenitores de Nut (céu) e Geb (terra).
Em muitos panteões, Deuses do céu são masculinos e Deusas da
terra são femininas. Esta inversão no panteão Egito deve estar ligada com o
fato que o Nilo, não as chuvas, era a fonte regular de água no Egito. Para o
início do tempo, céu e terra deveriam estar separados e isto era mostrado por
Shu erguendo Nut para longe de Geb.
Nut e Geb eram os progenitores de Osíris, Isis, Seth e Néftis.
E Osíris e Isis eram os progenitores de Hórus. Osíris é o deus da ordem,
fertilidade e vegetação, ele representa o faraó morto e é também o Deus do
submundo. Isis é uma Deusa mãe, uma maga e a personificação do trono do faraó. O
filho deles, Hórus, representa o faraó vivo. Seth é o Deus do deserto, do caos,
do estrangeiro e é o usurpador do trono. Néftis é uma Deusa funerária.
Nut Celestial, Mãe do Sol e do Faraó
Os Egípcios acreditavam que a terra era plana que o céu era
um enorme corpo de água. O nome “Nut” pode significar “a aquosa”, embora isto
não signifique que ela “chovia”, a ideia é mais como um grande lago ou mar. O
movimento do sol através desse lago/mar era compreendido como uma viagem de
barco.
Assim como era mãe de Osíris, Isis, Seth e Néftis, Nut era
também a mãe das estrelas e do sol que ela dava a luz diariamente. O sol, Re, é
representado sendo engolido por Nut ao entardecer, atravessando o corpo dela de
noite e renascendo na aurora. Entendia-se que a cabeça de Nut ficava no oeste e
sua vagina ficava no leste. A imagem de Nut engolindo o sol e as estrelas fez
com que a identificasse com a Grande Porca que come seus filhotes.
Era com a capacidade do sol em renascer que o faraó
procurava identificar-se, por isso a imagem do sol atravessando o corpo de Nut
aparecia nas tumbas reais. Mais tarde ela apareceria em sarcófagos, enfatizando
seu papel, pois ela literalmente abraçava o finado.
Deusa dos Mortos
Antes de estar representada em sarcófagos, Nut era uma
divindade importante nos textos das pirâmides, nos quais ela aparece quase cem
vezes. Estes textos, escritos nas paredes das pirâmides, instruíam ao faraó
como se comportar e o aconselhava no que poderia encontrar no além-vida. Originalmente
as instruções eram apenas aos faraós, Nut tinha um papel central na
ressurreição.
Quando o além-vida se tornou mais popular, os textos das pirâmides
se tornaram os textos dos sarcófagos. Estes textos tinham instruções similares,
mas eram escritas no sarcófagos, então o que era originalmente um
relacionamento exclusive entre Nut e o faraó, agora incorporava também os ricos.
Eventualmente os textos dos sarcófagos tornaram-se o Livro dos Mortos, escrito
em papiro.
Quando representada em sarcófagos, Nut era colocada na
tampa, com o disco solar no processo de ser engolido ou renascido. Ela também
era colocada nas laterais e dentro do sarcófago. Quando a tampa era colocada em
cima do finado, um tipo de união era alcançada. O sarcófago simbolicamente
tornava-se o corpo da Deusa de onde o finado renasceria.
Senhora do Sicômoro
Esta conexão com a madeira dos sarcófagos pode ser o que
levou Nut a ser identificada com o divino sicômoro que alimenta os mortos no
além. Em túmulos privados, Nut é representada como uma Deusa brotando do tronco
do sicômoro, oferecendo água e alimento, ela é a Árvore da Vida.
Novo Aeon e Nut / Nuit
Como essa Deusa celestial e funerária tornou-se importante
na Era Moderna? Por que Nut? Por que Egito?
Para responder essas questões nós precisamos ir do Egito
Antigo para a Inglaterra da Era Moderna, quando três franco-maçons proeminentes
encomendaram o Templo e Isis Urania da Ordem Hermética da Aurora Dourada, uma
ordem exclusiva que incorporava, entre outras coisas, componentes egípcios.
Mas por que Egito? Era um sinal dos tempos. Após as
campanhas [francesas e britânicas] no Egito, as investigações da arquitetura egípcia
foram publicadas. Subsequentemente, um entusiasmo com tudo que fosse egípcio
tornou-se popular no século XIX, particularmente na França, Bretanha, Espanha,
Américas, Austrália e África do Sul. Foi nesse século que a Egiptologia tornou-se
uma disciplina profissional [aka, “acadêmica”-NB].
Aleister Crowley foi iniciado na Aurora Dourada. Ali ele
deve ter percebido a importância da magia cerimonial do Egito. Antiguidades
egípcias também iriam se tornar significantes para ele. Crowley viajara em lua
de mel ao Egito e ali, depois de algumas operações, Crowley e sua mulher
conseguiram evocar o Deus Thot. Em outro evento, a senhora Crowley declarara
que o Deus Hórus o esperava no museu do Cairo e ali a esposa de Crowley apontou
uma estela que fora catalogada com o número 666, imediatamente identificada por
Crowley com a “Besta do Apocalipse”. Esta estela seria mais tarde identificada
como a Estela da Revelação.
Crowley traduziu a estela para o francês com a ajuda de um
assistente do museu e então ele fez uma versão em inglês. Ele subsequentemente
fez diversas invocações de Hórus para encontrar, explorar e descobrir o que Hórus
queria. Durante estes trabalhos, Crowley recebia ditados de uma inteligência
superior chamada Aiwass e estes ditados se tornaram o Livro da Lei.
Autora: Caroline Tully.
Fonte: Necropolis Now.
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