O blog do Paulopes publicou um texto sobre os oito
mitos sobre o ateísmo. Chega a ser engraçado como ateus tem dificuldade em
estruturar argumentos plausíveis, justo eles que alegam ser mais inteligentes
do que religiosos. A desmistificação acaba confirmando os ditos mitos, pois
basta uma observação da comunidade dos ateus para se perceber que nem sempre as
definições se encaixam nos fatos.
Ressalto dois itens:
1 - Ateu nega a Deus
É um mal-entendido que se transformou em mito,
provavelmente por má-fé ou ignorância de crentes: ateu é uma pessoa que por
algum motivo nega a Deus, se recusa a aceitar os ensinamentos do Criador. É uma
pessoa revoltada que um dia poderá se conciliar com Deus, mesmo que seja em seu
leito de morte.
Nada mais falso porque não se pode negar algo ou
alguém que não existe. Ateu é tão somente alguém que não acredita em
divindades, todas elas, não só as
cristãs. E descrença é diferente de negação. Só se pode negar o que existe.
2 – Ateus escolhem descrer em Deus
Este mito está relacionado ao primeiro. Muitas
pessoas acham que ateus são pessoas que optaram por não acreditar em Deus para
se livrar, por exemplo, das consequências de seus pecados. Eles seriam, na
verdade, crentes que tentam fugir de suas responsabilidades diante de Deus. Não
é assim. O verdadeiro ateu se torna tal após um período de reflexão sobre a
vida e seu propósito, geralmente a partir do questionamento de contradições e
dogmas de religiões.
O ateu é essencialmente um questionador que só se
sujeita a provas e indícios, e ainda assim provisoriamente, porque sabe o que é
verdade hoje poderá não sê-lo amanhã.
Reproduzo meus comentários, para depois deliberar
mais extensivamente:
Ateu apenas descrê em entidades, oquei. Mas há uma
enorme distância entre descrer e afirmar que não existe. Para afirmar que não
existe, isso por si mesmo, é uma negação, portanto, o ateu nega a existência do
divino. CQD.
O texto em si mesmo nos leva a essa dedução. O texto
afirma que somente se pode negar o que existe [ou não existe], se infere que o
divino está em uma dessas premissas. Ora, como o ateu afirma que apenas o que
importa são as provas, evidências e indícios [que ele mesmo assume não serem
absolutos], em não havendo esses elementos [ao menos que sejam cientificamente
testados, com métodos viciados] para determinar a existência do divino, se
deduz que o divino não existe. CQD.
O ateu é um questionador que só se sujeita a provas e
indícios, oquei. Então por que o ateu não questiona as provas e indícios? Por
que não questiona os resultados, sobretudo quando consideramos o quanto nossos
sentidos e emoções podem interferir e alterar a percepção das provas e
evidências? No fundo, o ateu crê nesses elementos, por isso o ateísmo está
configurado como "religião".
Retomando. A priori temos que separar três premissas.
O ateu acredita que não existe o divino. Descrença é diferente de negação. Só
se pode negar o que existe.
Considerando que o ateu acredita que não existe o
divino, nós temos uma opinião, uma postura, que tem suas razões. Até aí tudo
que temos são opiniões divergentes.
No entanto, temos ateus que afirmam,
peremptoriamente, que não existe o divino, tendo por base o método científico.
Isto consiste em um dilema que recai sobre o ônus da prova, mas o método
científico somente é válido para o conhecimento científico, não para o
conhecimento espiritual.
Eu tenho que levar em conta que o ateu tem algum tipo
de experiência espiritual, nos termos de suas percepções e interpretações.
Também temos os textos de Karl Popper sobre Parmênides e a filosofia sobre o
ser e não ser, existente e não existente. Esta questão é primordial. Como
podemos afirmar que existe o nada?
Falando como acadêmico e conhecedor do método
científico, o nada, o zero, é uma abstração, uma permissão racional, tendo por
base a exclusão, a ausência, a inversão. Mesmo sem provas ou evidências,
filósofos gregos antigos afirmavam que o mundo era formado de átomos e de
vazios. Através da observação da natureza é possível ver que objetos ocupam
determinado espaço e existe um interstício entre eles. Portanto, se existe um
todo, há um nada, que é caracterizado por esta ausência de algo. Por séculos a
ciência acreditou nos princípios dos antigos filósofos gregos que a natureza
era formada por terra, água, fogo, ar e éter. Até que um cientista pôs a “existência”
do éter em prova e “descobriu” que o éter não existia, mas o vácuo. Anos mais
tarde, a mesma ciência descobriu que o cosmo é feito em sua maioria por uma
substância chamada matéria negra e o universo agora não é mais um ambiente
nulo, mas cheio de elementos. Ou seja, muito daquilo que “existe” não pode ser
visto, nem pesado, nem mesurado, nem detectado. As suposições de muitas teorias
científicas se baseiam no efeito que a presença destes elementos causa na parte
observável do cosmo. Nesse sentido, Parmênides estava certo ao dizer que o que
não é não pode ser, mas mesmo o não ser existe, em contraste ao que existe.
Portanto, para crer [ou descrer] que algo existe ou
não existe, vai depender daquilo que consideramos “existência” e de quais
instrumentos utilizamos para definir, qualificar e exemplificar. Tais elementos
não são fatos em si mesmos, mas deliberações, procedentes das interpretações,
muitas vezes subjetivas, de nossas percepções. Considerando que nossos sentidos
e cérebros são incomensuravelmente pequenos para compreender todo o universo,
crer ou descrer na existência do divino continuará a ser uma opinião pessoal. Ficar discutindo e brigando por causa disso é o mesmo que fazer um discurso sobre o
nada.
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