Mudanças acontecerão. Com a confirmação de que Claudiney
Prieto é um Alto Sacerdote de 3° da Tradição Gardneriana, o cenário da
comunidade pagã brasileira será alterado..
Minha fonte para textos sobre a Wicca Tradicional vem da
época em que eu estava na Amber & Jet [Grupo Yahoo]. Ainda que a lista seja
aberta para buscadores, ela é mantida por Altos Sacerdotes da Wicca Tradicional.
Os textos e definições divulgados ali são suficientes para presumir quais são
as características, os princípios e os valores básicos da Wicca Tradicional, o
que eu tenho defendido neste blog.
Minhas outras fontes são livros, mas meus estudos servem
apenas para sustentar a minha opinião, nada mais. Mesmo quando o assunto é sexo
e magia sexual, mesmo quando o texto é de autoria de um/uma Auto Sacerdote/Sacerdotisa,
ali terá a percepção e opinião dele/dela, dentro do que pode ser divulgado
publicamente, sem infringir o voto de sigilo.
Então este ensaio sobre o sacrifício tem por base meus
estudos sobre a história antiga, antropologia, religião antiga, paganismo
moderno e observações pessoais.
Cito esta declaração:
"Da mesma forma que sacrifícios humanos não são mais
realizados para Deuses de diversas culturas antigas ainda cultuados na
atualidade, cordeiros não são mais imolados para Javé, Sacerdotes de Réia e
Cibele não se castram mais em frenesi para servir a Deusa, os sacrifícios de
animais também perderam completamente seu lugar nos cultos Neopagãos e são
abominados por praticamente todos os seguidores do Neopaganismo".
Como estudioso e pagão moderno, eu tenho que discordar. Basta
uma boa olhada na história do paganismo moderno e mesmo nas religiões
majoritárias para vermos que o sacrifício de animais ainda são realizados. Existem
ramos da bruxaria tradicional onde se pratica o sacrifício animal.
"Tal prática entre os Neopagãos da urbe, então, fere em
muitos níveis e aspectos os princípios da legalidade, as normas éticas e o
senso comum da sociedade".
Considerando que o "senso comum da sociedade" acha
normal comermos carne, levando em conta o aspecto psicológico e antropológico
do sacrifício animal, o sacrifício ritualístico de animais apenas fere os
princípios das pessoas susceptíveis.
Eu recomendo a leitura do texto"A Natureza do Homem e do Divino".
Falar em sacrifício, no mundo contemporâneo, suscita
diversos pruridos. Quais são o espaço e lugar do sacrifício na tradição
wiccana?
Vemos na Carga da Deusa:
"Eu não exijo sacrifício; pois saibam que sou a mãe de
todos os seres vivos e meu amor é despejado sobre a terra”.
Cito este comentário:
“Esta simples declaração rejeita o até então realizada
necessidade dentro do paradigma cristão prevalecente para o sofrimento como um
requisito para a unidade com o divino”.
Então devemos entender o sacrifício de diversas formas, não
apenas como uma oferenda, seja de objetos, frutos ou animais.
Temos também:
“Que os rituais sejam corretamente celebrados com alegria e
beleza”.
Em um ritual a presença de um sacrifício não é algo que é
pedido, mandado ou exigido pelos Deuses. Nenhum ritual existe por que algum
Deus necessita dele. Nós fazemos um ritual por que este é o nosso dever, nossa
obrigação. Como é um dever, o sacerdote tem que proceder com o sacrifício da
forma correta, tal como a tradição, a cerimônia exige, para celebrar um
determinado mistério de um mito.
Dentre as características da Wicca Tradicional, além de ser
um sacerdócio, ser iniciática, ser Duoteísta e Politeísta, podemos considerá-la
uma “religião da natureza”. Ora, basta uma observação da natureza para ver que
há violência, morte, animais comem e são comidos. O sacrifício de animais serve
exatamente para consagrar este aspecto da natureza. A realização do ritual tem
uma função catárquica e alimentar fundamental para a comunidade. Seria
completamente sem sentido e incongruente a presença de uma adaga em nossas
cerimônias. Eu sei que existem tradições nos cultos contemporâneos de Bruxaria
que realizam sacrifício de animais. Nós fazemos um banquete após nossas
cerimônias. Eu não vejo muita diferença entre comer o animal sacrificado em um ritual e comer um filé comprado no açougue.
Talvez eu seja radical demais, tradicional demais. Em tempos
onde as pessoas acham que todo animal tem o mesmo comportamento que o animal de
estimação, onde se confunde “direito animal” com preservação ambiental, onde
vemos os animais com a mesma aura do “bom selvagem” de Rousseau, falar ou
defender o sacrifício de animais é contrariar esses pruridos e essa moral
pequeno-burguesa.
Quem acha mesmo que a natureza e o animal são bonzinhos, eu
convido passar um mês nas florestas, portando apenas um bastão, uma bússola e
uma faca. Eu ouso dizer que dentro de uma semana até o vegan mais radical vai
largar suas ilusões edulcoradas.
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