sábado, 18 de fevereiro de 2023

A negação da política

Em entrevista à CNN nesta tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse:

Nunca se negou tanto a política como se negou nestes últimos 15 anos. E quando você nega a política o resultado é esse: Bolsonaro, Hitler, Mussolini. Quando você nega a política, o resultado é o surgimento do autoritarismo. Foi assim que o Hitler cresceu, que o fascismo surgiu no mundo e foi assim que o Bolsonaro chegou ao poder.

Como se sabe, o presidente não é o primeiro nem o segundo a comparar seu antecessor com os líderes de extrema-direita europeus da primeira metade do século 20. No caso desta tarde, a comparação se deu para destacar uma consequência, já muitas vezes observadas na História, da negação da política: o surgimento de um regime opressor, personalista e autoritário.

De fato, a negação expressa e o combate que chegava às vias físicas da política e da democracia alemã eram marcas orgulhosamente ostentadas pelo Partido Nacional Socialista e seus líderes, sobretudo Adolph Hitler.

Com o final da Primeira Guerra, o imperador alemão (kaiser) deixou o poder, foi instaurada uma república democrática parlamentarista (conhecida como República de Weimar). O Parlamento (Reichstag) abrigava um leque de partidos, dos comunistas aos nacionalistas e os nacional socialistas.

Adolph Hitler, em seus discursos políticos, abertamente dizia que pretendia extinguir a República de Weimar e fechar o Parlamento assim que chegasse ao poder, com o manifesto intuito de, assim, não abandonar mais o posto.

E foi isso mesmo que ele fez, em 1933, ano que chegou ao poder, ano em que fechou o Parlamento e ano em que colocou na ilegalidade o Partido Comunista Alemão e o Partido Social Democrata, bem como prendeu e matou a maioria de seus líderes, inclusive deputados e prefeitos eleitos.

Alguma semelhança com o manifesto esforço parlamentar de Bolsonaro e de seus filhos para tornar ilegal o Partido Comunista no Brasil? Essa é uma das principais bandeiras do olavismo. Alguma semelhança com o esforço bolsonarista para tornar o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, hoje o maior produtor de arroz orgânico do país) uma entidade terrorista? Alguma semelhança com Bolsonaro, quando expressava seu desejo de mandar a petezada para Ponta da Praia?

Alguma semelhança com o fato de ele tentar, via interpretação impossível do Artigo 142 da Constituição, construir um ambiente que pudesse dar margem a uma tentativa de perpetuação no poder, abandono das eleições, decretação de estado de sítio, extermínio da democracia?

O 8 de janeiro não foi o “Capitólio Brasileiro”, foi sim o “Incêndio do Reichstag Brasileiro”.

O que Bolsonaro tentou foi o que Hitler conseguiu: hackear a eleição e a democracia por dentro, fazendo uso de suas ferramentas para se voltar contra ela. Ou não foi o que tentou fazer, com violência política e manipulando impostos, preços dos combustíveis, benefícios e auxílios emergenciais, policiais rodoviários federais no dia da eleição, redes sociais com despejo maciço de mentiras?

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Terceiro Reich de 1933 a 1945, assim falou em entrevista concedida em 1935, conforme transcreve o historiador inglês Richard J. Evans, na página 540 de seu livro “A Chegada do Terceiro Reich”:

A estupidez da Democracia. Uma das melhores piadas da democracia será sempre ter propiciado a seus inimigos mortais os meios pelos quais foi destruída. Os líderes perseguidos do NSDAP (Partido Nazista) se tornaram deputados, e com isso adquiriram imunidade parlamentar, subsídios e passagens grátis para viajar. 

Ficaram assim protegidos da interferência da polícia, podiam permitir-se dizer mais que o cidadão comum, e além disso também tinham os custos de suas atividades pagos pelo inimigo.

Pode-se fazer um capital soberbo a partir da estupidez democrática. Os membros do NSDAP perceberam isso depressa e obtiveram enorme prazer.

Sou só eu que enxergo semelhança?

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/goebbels-prova-que-comparacao-de-bolsonaro-com-hitler-se-sustenta-na-historia/

Nota: desde que eu terminei o segundo ano escolar, era dito que essa postura apolítica do cidadão comum era resultado de um estratégia da elite. Hitler, Mussolini e Bolsonaro não eram o problema, mas o sintoma de uma mentalidade (zeitgeist), apenas cristalizaram isso, foram fantoches úteis dos verdadeiros mentores do horror do Nazismo e do Fascismo. 

Um comentário:

betoquintas disse...

Bom dia Runema. Eu assisti alguns trechos do vídeo sugerido e, convenhamos, o convidado desse podcast viajou e muito na maionese. Eu creio que faltou consistência, afinal, ao invés de jogar frases e conceitos supostamente vindos de pensadores, o correto é entender o conceito raiz do fenômeno e entender como os pensamentos são formulados. Quanto ao conteúdo aqui exposto, eu não descarto a possibilidade de estar sendo copiado ou citado.