segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A concordância entre cons e radfems

Olhando comentários anteriores deixados nesta casa, eu encontrei este:

Beto, gostaria de convidá-lo para visitar meu blog, lá postei diversos trabalhos sérios sobre a violência da pornografia e prostituição que nós mulheres somos submetidas e sempre silenciadas quando reclamamos. Inclusive postei o blog de uma ex-prostituta. Não há nada de belo nem libertário nestas práticas, e muito menos nada de moralismo por parte de quem é contra; está tudo explicado.

Muito apropriado recuperar o comentário, pois eu escrevi um texto exatamente fazendo uma análise histórica da prostituição e da pornografia.
Eu vou citar trechos dessa análise:

Pode-se perceber que passou a ser uma questão política [e religiosa] reprimir e controlar o corpo, o desejo, o prazer e o sexo, potências da natureza que eram celebradas nos antigos rituais à Grande Deusa e ao Deus Touro. Tanto o Judaísmo, quanto o Cristianismo e o Islamismo possuem políticas [e imposições religiosas] que foram, sistematicamente, perseguindo e destruindo os templos das sacerdotisas, proibindo os rituais e denegrindo o sagrado feminino.

Assim, na sociedade patriarcal, ao invés de figurarem Deusas ou representações do sexo como ferramenta sagrada, temos símbolos que elogiam a agressividade, a violência e o ódio. Tal como diz John Lennon: “Vivemos num mundo onde nos escondemos para fazer amor! Enquanto a violência é praticada em plena luz do dia”. Imperadores, Reis e Presidentes são reflexos dessa hierarquização de ordem divina, afinal, “assim na terra como no céu”. Gasta-se mais com armas [e guerras] do que com educação e distribuição de alimento para todos.
Mas é um erro achar que prostitutas [hetairas, hieródulas], cortesãs e concubinas tenham sido sempre figuras que vivem no substrato social.

Pode-se entender, então, que a mudança, tanto na sociedade, quanto na política e na cultura, sobre a prostituição e a pornografia tem suas raízes na teologia típica do monoteísmo tendo, no Ocidente, a hegemonia do Cristianismo. A modificação da economia de modo feudal para a de modo capitalista incrementou e consolidou a concepção de que a prostituição (isto é, o controle do corpo, do desejo, do prazer e do sexo) era uma questão de ordem pública, passível de ação policial e jurídica. A ação da polícia, da lei e da justiça atinge mais as profissionais do sexo do que seus clientes e rufiões.

Então cabe a pergunta óbvia: a quem interessa a proibição da pornografia e da prostituição? Não há mais os estúdios, não há mais “relações de exploração” na Indústria Pornográfica, pessoas anônimas querem e participam de livre vontade em produções pornográficas anônimas. A resposta mais imediata é o agenciamento de grupos ligados ao Cristianismo; grupos conservadores identificados com conceitos como Pátria, Igreja e Família. A repressão contra a prostituição e a pornografia continua a atingir somente os profissionais do sexo.

Cabe-se a pergunta: se a Indústria da Prostituição e da Pornografia deve ser proibida por causa da exploração extrema, porque não se proíbe da mesma forma a Indústria Têxtil e de Moda, pelas condições de trabalho análogas à escravidão?

Alega-se que a exposição à pornografia provoca uma reconfiguração neurológica similar e compatível com o vício e alega-se que essa exposição é a causa da violência sexual.
Recentemente levantou-se a polêmica se videogames eram os responsáveis pela violência, principalmente depois dos tiroteios que ocorreram (e ocorrem) nos Estados Unidos. Depois de extensivas pesquisas, chegou-se ao consenso de que não há evidências científicas que provem essa ligação.

Cabe-se a nota de que, dentro do Feminismo, existe a corrente “pró-sexo”, que tenta ressignificar e desconstruir a forma como a prostituição e a pornografia são exploradas pelo sistema. Ao advogar a mulher como principal protagonista e soberana de seu corpo, de seu desejo, de seu prazer e do seu sexo, iniciativas como a “Marcha das Vadias” se apodera do que antes é “propriedade privada” da sociedade machista e patriarcal, para se tornar uma ferramenta de expressão sexual das minorias. Pode-se então concluir que a proibição (repressão) em qualquer forma somente consolida a supremacia masculina.

Nota: destaque por conta da casa.

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