quinta-feira, 21 de abril de 2022

O mistério do Coringa

Para encerrar essas postagens ambientados em Gothan, eu não estaria sendo justo se não falasse do vilão mais complexo e icônico.

Se Batman é explicado porque ele representa nosso superego, certamente o Coringa é explicado porque ele representa nosso Id, chamado também de subconsciente ou Sombra.

Batman é um herói sem superpoderes, compensado pela capacidade de dedução de um detetive e a tecnologia [um filme famoso chegou a fazer referência de que a "indústria Wayne" era concorrente da "indústria Stark"].

Coringa é um vilão sem superpoderes, igualmente inteligente, habilidoso com uso de armas e químicos e psicopata.

Mas é um equívoco dizer que o Coringa é o "nemesis" do Batman. Afinal, a Nemesis é uma Deusa ligada ao destino, equilíbrio e vingança divina.

O termo mais certo é arqui-inimigo. Enquanto Robin é um reflexo da infância perdida de Bruce Wayne, Coringa é o reflexo daquilo que ele, como Batman, pretende combater.

O encanto que o Coringa exerce é explicado porque inconscientemente vemos um reflexo de nós mesmos. Freud é o autor da teoria da psicanálise que dividiu nossa mente em três estados. Rudimentarmente, o Ego é o nosso lado consciente e o Superego é como o "auditor" dessa consciência. Mas falar que o ID é o subconsciente está longe de descrever o que é conhecido também como o lado da Sombra de nossa psiquê.

Grosseiramente, o Id é nossa mente natural, composta por nossos instintos, nossos desejos, medos, necessidades e aquilo que é chamado de pulsão. Na busca pela saciedade de nossos desejos e necessidades, que nos dá a sensação de prazer, que pode ser considerado inverso da sensação de dor, o ser humano tem, então, pulsões, que é essa tensão e intenção de agir. Nesse sentido, nossa mente natural não é diferente da dos animais.

Entretanto, para viver em sociedade, o ser humano criou freios a essas pulsões, a esses instintos que, ao serem reprimidos, recalcados, formam essa cisão na psiquê tendo, de um lado, o Id e, do outro, o Ego, a parte de nossa psiquê construída e formada por nossa sociedade, por nossa cultura.

Esse nosso lado chamado de Sombra é composto por todos esses instintos, desejos, necessidades, sonhos, a busca pela saciedade do prazer e alívio da dor. Por causa da sociedade que nós criamos, surge esse eterno conflito entre o Id e o Ego que é, basicamente, a origem e causa de todas as nossas neuroses.

O Coringa é a personificação e encarnação de nosso Id, do nosso inconsciente, da nossa "Sombra".

O equivalente mais próximo, nos mitos antigos, são os Titãs, o Caos e seus descendentes, os Gigantes e outras criaturas míticas que configuram nas sagas como os monstros que os heróis e Deuses vencem.

Outro personagem que eu poderia citar como semelhante é o berserker, guerreiros que entravam em frenesi deliberado para lutar nas batalhas.

Dentre os Deuses, os que podem ser associados ao Coringa são Loki e Dionísio.

O Coringa é bem sucedido como personagem exatamente porque nós projetamos nele certos desejos que nós escondemos em nosso subconsciente e ele nos encanta exatamente porque aquilo que chamamos de loucura ou psicopatia é esse frenesi sagrado incontrolável dos guerreiros berserker.

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