sexta-feira, 1 de abril de 2022

Lavagem cerebral não é terapia

Dez Pai-Nossos e dez Ave-Marias, 75 miligramas de Ludiomil diários e outros 20 de Dogmatil. Angel Llorent se submeteu durante dez anos a esse tratamento para deixar de ser gay. “Tinha que rezar se visse um homem bonito na rua”, explica este catalão que queria ser heterossexual porque acreditava que estava doente. Deixou seu trabalho e seus amigos. Mudou de vida. Por um tempo foi um ex-gay.
Não funcionou. Tentou se suicidar. A cura, que aplicaram a ele há uma década, também consistia em fazer sexo com mulheres e não ver pornografia. Angel deixou isso e agora é o que se chama de um ex-gay e trabalha contra as terapias reparativas que curam a homossexualidade.
“Procurei um psiquiatra particular da comunidade evangélica de Barcelona porque não me aceitava. Nas consultas tentava reafirmar minha masculinidade, mas quando isso não surtiu efeito ele começou a me medicar e baixar minha libido. Era uma castração química”, conta Angel, membro da Associação Cristã de Gays e Lésbicas da Catalunha.
“Evidentemente, não se pode curar a homossexualidade. Estas terapias supõem uma prática equivocada e estão proibidas. Causam transtornos depressivos, condutas autodestrutivas, ansiedade e podem resultar em suicídio”, afirma a psicóloga Silvia Morell.
No ano passado, a Associação Americana de Psicologia condenou estas terapias, que cobram até 80 euros por sessão, considerando-as ineficazes. Não existe nenhuma evidência científica que demonstre que seja possível mudar a orientação sexual. O Ministério da Saúde espanhol não tem registros oficiais sobre as clínicas que praticam o método. Além disso, muitas são aplicadas em centros religiosos privados.
Como a Tibidabo, atualmente investigada pelo Conselho de Saúde catalão, existem outras clínicas que oferecem o caminho para a heterossexualidade na Espanha, segundo Miguel González, presidente do Coletivo de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais de Madri: “sabemos de muitos casos de pessoas que se submetem a esses tratamentos e depois se arrependem, mas não denunciam. É um erro tratar algo que não é uma doença psiquiátrica, deveria ser um delito. Foi demonstrado que nada disso funciona”.
Marc Orozko é um caso de terapia sem religião. Um tratamento semelhante ao do cachorro de Pavlov, que trata de associar estímulos positivos ao heterossexualismo e negativos ao homossexualismo. Durante um ano ele se tratou na clínica Dexeus, em Barcelona. Tinha 20 anos e seu terapeuta recomendava que ele se masturbasse pensando em mulheres. Também o obrigava a colocar um elástico no pulso e puxá-lo toda vez que pensasse num homem, para associar a figura masculina com a dor.
Isso é conhecido como terapia aversiva de conduta. “Tinha de me castigar ou me premiar”, lembra-se Marc, que recebeu tratamento durante um ano no final dos anos 90. Ele afirma que a raiz disso teve efeitos secundários como obsessões, inseguranças e conflitos para se relacionar.
José L. se submeteu há três anos a um tratamento laico numa clínica de Madri. Ia à terapia uma vez por semana e a retiros com outros ex-gays. “Foi terrível. Fizeram uma lavagem cerebral em mim. Eu acreditava que estava doente e me sentia culpado”, conta José, que pede para manter o anonimato.
As três pessoas citadas que estiveram em terapia demoraram anos para ver que não podiam deixar de ser gays. Angel Llorent conclui: “Com o tempo tudo ia se agravando. Muita gente termina se suicidando. Diziam que eu estava doente e que era uma disfunção psicológica que podia ser curada. Agora vejo que isso não está certo e que eu não faço nada de errado”.
Fonte: AthosGLS.
Repostado. Texto originalmente publicado em 28/10/2010, resgatado com o Wayback Machine.

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