quinta-feira, 7 de outubro de 2021

O “verdadeiro” Eu levante a mão

Este texto é uma continuidade necessária ao texto “Polaridade Sagrada”.

Ali eu citei um aforismo famoso: “conhece a ti mesmo”, geralmente atribuído à Sócrates, por Platão [assim como a frase “eu só sei que nada sei”]. O interessante é que tais frases são apócrifas [como o “Paradoxo de Epicuro”], os registros são posteriores e alegados por terceiros.

O aforismo faz parte de uma lista de aforismos oriundos do Templo de Apolo em Delfos. Consultando o Oráculo Virtual [Google], eu cheguei na página do Wikipédia com as 147 máximas do Templo de Apolo em Delfos:

001.     Siga a Deus [honre o Divino].

002.     Obedeça a lei.

003.     Respeite os Deuses.

004.     Respeite seus pais.

005.     Seja governado pela justiça.

006.     Saiba o que aprendeu.

007.     Perceba o que ouviu.

008.     Conheça a ti mesmo.

009.     Intencione se casar.

010.     Conheça sua oportunidade.

011.     Pense como um mortal.

012.     Se você é estrangeiro, aja como tal.

013.     Honre o lar/a lareira (Hesita).

014.     Controle-se.

015.     Ajude seus amigos.

016.     Controle a raiva.

017.     Exerça prudência.

018.     Honre a providência.

019.     Não use de juramento.

020.     Ame a amizade.

021.     Apegue-se à disciplina.

022.     Persiga a honra.

023.     Almeje a sabedoria.

024.     Louve o bem.

025.     Não culpe ninguém.

026.     Louve a virtude.

027.     Pratique o que é justo.

028.     Favoreça os amigos.

029.     Afaste os inimigos.

030.     Exerça nobreza de caráter.

031.     Evite o mal.

032.     Seja imparcial.

033.     Proteja o que é seu.

034.     Evite o que pertence aos outros.

035.     Escute a todos.

036.     Tenha boa reputação.

037.     Cuide do que é seu.

038.     Nada em excesso.

039.     Use o tempo com moderação.

040.     Preveja o futuro.

041.     Despreze a insolência.

042.     Tenha respeito pelos suplicantes.

043.     Acomode-se em tudo.

044.     Eduque seus filhos.

045.     Dê o que tem [o que é excedente].

046.     Tema o engano.

047.     Fale bem de todos.

048.     Torne-se um amante/amigo da sabedoria.

049.     Escolha o divino.

050.     Aja quando souber.

051.     Evite assassinar.

052.     Deseje coisas possíveis.

053.     Consulte o sábio.

054.     Teste o caráter.

055.     Devolva o que recebeu [o que pegou emprestado].

056.     Menospreze a ninguém.

057.     Use sua habilidade.

058.     Faça o que lhe é devido fazer.

059.     Honre a generosidade.

060.     Não inveje a ninguém.

061.     Vigie-se.

062.     Louve a esperança.

063.     Despreze um caluniador.

064.     Ganhe posses justamente.

065.     Honre bons homens.

066.     Conheça quem é o juiz.

067.     Controle seus casamentos.

068.     Reconheça a sorte.

069.     Evite um penhor.

070.     Fale abertamente.

071.     Associe-se com seus iguais.

072.     Domine suas despesas.

073.     Contente-se com o que tem.

074.     Respeite um senso de vergonha.

075.     Retorne o favor.

076.     Ore por felicidade.

077.     Abrace seu destino.

078.     Ouça e observe.

079.     Trabalhe pelo que pode possuir.

080.     Despreze a contenda.

081.     Deteste a desgraça.

082.     Refreie a língua.

083.     Evite a violência.

084.     Faça julgamentos justos.

085.     Use o que tem.

086.     Seja incorruptível em seu julgamento.

087.     Acuse quem está presente.

088.     Diga quando souber.

089.     Não tenha violência.

090.     Viva livre de arrependimentos.

091.     Conviva gentilmente.

092.     Termine a corrida sem recuar.

093.     Seja gentil com todos.

094.     Não amaldiçoe seus filhos.

095.     Governe sua esposa.

096.     Beneficie a si mesmo.

097.     Seja cortês.

098.     Dê uma resposta oportuna.

099.     Lute pela glória.

100.     Aja com decisão.

101.     Arrependa-se dos seus erros.

102.     Controle o olho.

103.     Dê um conselho oportuno.

104.     Aja sem hesitação.

105.     Vele pela amizade.

106.     Seja grato.

107.     Busque a harmonia.

108.     Guarde em segredo o que for segredo.

109.     Tema o poder.

110.     Busque o que é proveitoso.

111.     Aceite a medida devida.

112.     Acabe com as inimizades.

113.     Aceite a velhice.

114.     Não se vanglorie do poder.

115.     Exerça silêncio (religioso).

116.     Evite inimizade.

117.     Adquira riqueza justamente.

118.     Não abandone a honra.

119.     Despreze o mal.

120.     Assuma riscos prudentemente.

121.     Não se canse de aprender.

122.     Não deixe de ser frugal.

123.     Admire os oráculos.

124.     Ame quem você cria/educa.

125.     Não se oponha a alguém ausente.

126.     Respeito o ancião.

127.     Ensine ao jovem.

128.     Não confie na riqueza.

129.     Respeite-se.

130.     Não inicie a violência.

131.     Honre seus ancestrais.

132.     Morra por sua pátria.

133      Não se descontente com a vida.

134.     Não faça piada com os mortos.

135.     Divida o fardo dos desafortunados.

136.     Gratifique sem danos.

137.     Não lamente por ninguém.

138.     Produza o bem do bem.

139.     Não faça promessas a ninguém.

140.     Não faça mal aos mortos.

141.     Faça dentro de suas possibilidades mortais.

142.     Não confie na sorte.

143.     Quando for criança, seja bem comportado.

144.     Quando for jovem, seja bem disciplinado.

145.     Quando for adulto, seja justo.

146.     Quando for velho, seja sensível.

147.     Quando chegar o fim, que seja sem tristeza [sem arrependimento].

Eu estou citando a lista do Wikipédia de seus verbetes em português e inglês.

Mas, afinal, quem é esse “eu”, ou “self”, ao qual se deve conhecer?

“A filosofia do si ou self, ou filosofia do eu, em referência ao eu essencial ou si mesmo, define, entre outras coisas, as condições de identidade que tornam um sujeito da experiência distinto de todos os outros. As discussões contemporâneas sobre a natureza do self não são, portanto, discussões sobre a natureza da personalidade ou da identidade pessoal. O eu às vezes é entendido como um ser unificado essencialmente conectado à consciência, autopercepção e agência (ou, pelo menos, com a faculdade da escolha racional). Várias teorias sobre a natureza metafísica do eu foram propostas. Entre elas, a natureza metafísica do eu foi proposta como sendo a de uma substância imaterial”.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_do_si

Ainda assim, até que ponto o “eu”, o “self”, ou consciência, pode ser afirmada, experimentada, evidenciada ou expressa? Parece que existe um limite, senão não há como falar no conceito de “Eu”, “Self” [I] ou “Ser/Estar” [Am] Supremo.

O “conhecimento de si mesmo” [autoconhecimento] é um estudo que faz parte da psicanálise. Em termos da espiritualidade, nós podemos separar em duas escolas: a ocidental e a oriental.

Na escola oriental, “o ser humano é frequentemente concebido como estando na ilusão da existência individual e da separação de outros aspectos da criação. Esse [...] senso de existência individual [...] acredita que deve lutar por si mesma no mundo; é, em última análise, despercebido e inconsciente de sua própria natureza verdadeira. O ego é frequentemente associado à mente e ao sentido do tempo, que pensa compulsivamente para ter certeza de sua existência futura, em vez de simplesmente conhecer o seu próprio eu e o presente. O objetivo espiritual de muitas tradições envolve a dissolução do ego, em contraste ao Self essencial, permitindo que o autoconhecimento da própria natureza verdadeira se torne experiente e atuado no mundo.” [Wikipédia – Filosofia do Si].

Na escola ocidental, o neoplatonismo aparentemente concorda com a escola oriental, ao definir o conceito do Um [ou Uno] e do Nous [intelecto/razão], o primeiro sendo um Mundo Invisível [transcendental] e o segundo um Mundo Fenomenal [que é emanação do primeiro]. Um bom exemplo disso é a filosofia de Platão quanto ao Mundo das Ideias e das Formas. O terceiro princípio no Neoplatonismo é a Anima Mundi [Alma], princípio fundamental da vida e força vital presentes na natureza. O que não se explica é como essa Anima Mundi se torna múltipla e individual, dividida e proporcional, conforme as características dos seres vivos.

Eu citei, também, a Teosofia e o Movimento “I Am” [“Eu Sou”], atribuído a Saint Germain. Apesar de algumas convergências conceituais com a escola oriental [sobretudo com o Advaita Vedanta], o Movimento “I Am” endossa a existência de uma hierarquia de seres espirituais, dentre estes, os chamados Mestres Ascencionados, que conquistaram tal “evolução espiritual” após sucessivas reencarnações. Curiosamente, tais “mestres ascencionados” são capazes de se comunicar apenas com determinados mensageiros “escolhidos”.

Guy Ballard foi o primeiro dos “escolhidos” que encontrou no monte Shasta, com o próprio Conde de Saint Germain na [suposta] Grande Fraternidade Branca. Racismo?

O Conde de Saint Germain é um personagem lendário na Teosofia. A pessoa real, entretanto, mostra que ele “era um aventureiro europeu, com interesse em ciência, alquimia e artes. Ele alcançou destaque na alta sociedade europeia em meados do século XVIII. [...] St. Germain usava uma variedade de nomes e títulos, uma prática aceita entre a realeza e a nobreza da época. [...] A fim de desviar as investigações sobre suas origens, ele faria afirmações rebuscadas, como ter 500 anos de idade [...]. Seu nome verdadeiro é desconhecido enquanto seu nascimento e origem são obscuros [...]”.

https://en.wikipedia.org/wiki/Count_of_St._Germain

Um impostor sendo usado por outro impostor. Algo infelizmente muito comum no meio esotérico [e no meio do Paganismo Moderno].

Voltemos ao “Eu” ou “Self”. O aforismo diz que é necessário conhecer. Isso indica que há algo a aprender, bem como um ensinamento. Tem um objeto a ser observado, um observador e a observação. Tem algo a ser conhecido, tem um conhecedor e o conhecimento. Então nós podemos incluir um professor e uma escola. O conhecimento do “Eu” ou do “Self” só pode ser concluído por assimilação, compreensão, percepção, comparação, contraste, discriminação e categorização.

No ultimo episódio de Neon Genesis Evangelion, o diálogo final tem algo que nos interessa. Ali, Rei Ayanami diz: “você não pode se ver a menos que haja outros”. A ideia [imagem] de humano começa a existir e ter sentido a partir do momento em que ocorre essa percepção de que há identidade e personalidade distintas entre a pessoa “eu” e a pessoa “outro”. Como podemos ver no discurso de Misato Katsuragi: “ao perceber a diferença entre você e os outros, você forma a sua imagem”. O mundo também é percebido em uma forma de ideia [imagem] e é necessário ocorrer a distinção/separação entre o mundo e a pessoa para que a identidade faça sentido. Ainda que seja uma ideia [imagem], sem contraste é impossível formar a noção/ a consciência de mundo e pessoa. O mesmo é verdadeiro, quando pensamos na noção de “Eu”, de “Self”, como a própria filosofia do Advaita Vedanta reconhece [embora não tenha percebido essa falha no raciocínio]: só se pode conhecer o “Eu”, o “Self”, conhecendo o que não seja o “Eu”, o “Self”. Uma metafísica interessante e esquisita, pois baseia a existência do Absoluto na existência do inexistente.

Quem ou o quê é esse “Eu”?

Como e por que esse “Eu” formou a vida e o mundo?

Como e por que esse “Eu” se tornou múltiplo, individual, dividido e proporcional?

Infelizmente eu não tenho elementos suficientes para resolver essa questão existencial.

Se for possível, eu vou pensar nas respostas no colo da Deusa. };)

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