terça-feira, 31 de agosto de 2021
Voltando e mudando
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
A diversidade do jardim
“A beleza de um jardim é diretamente proporcional à quantidade
de abelhas que a polinizam. Diversas abelhas. Polinizando diversas flores”.
– frase de minha autoria.
Eu me
lembro dos dias que eu e meu pai conversávamos. Talvez ele o fizesse para
tentar quebrar a concha na qual eu me mantive por muitos anos [eu ainda me
considero tímido e introvertido]. Talvez ele o fizesse porque se sentia mais à
vontade para conversar comigo sobre assuntos complexos e difíceis. Eu não sei por
que meu pai quis conversar comigo, por exemplo, sobre a vida no além quando eu
ainda era adolescente. Então um dia nós começamos a conversar sobre um assunto
que é, infelizmente, muito comum entre paulistanos provincianos: de que São
Paulo foi “estragada” pelos nordestinos. Naquele momento, eu ainda não conhecia
minha esposa, eu sequer imaginava que conseguiria estar casado. Mas voltemos ao
provincianismo paulistano. Se a cópia tupiniquim de Nova Iorque [ou será
Gothan?] é grande, nós devemos [e muito] ao trabalho e cultura do povo
nordestino. Então, resumindo, eu disse ao meu pai que não era coerente ele
reclamar, afinal, ele mesmo era descendente de imigrantes. Levou algum tempo de
estudo e pesquisa para eu chegar à conclusão de que nós todos somos
descendentes de povos imigrantes e miscigenados, uma realidade histórica e
antropológica que deve doer em muito pagão moderno.
A
chaga que mais macula o Paganismo Moderno não é que este é um produto do
Movimento Romântico do início da Era Moderna. Mas a ingrata influência da
supremacia branca e suas ideologias sobre nacionalismo, xenofobia, racismo,
misoginia e fascismo. O Paganismo Moderno sofre por ter seus pés nos movimentos
da direita [extrema ou alternativa] e não percebe o quanto essa ideologia tem
suas origens nas tradições judaico-cristãs. Um bom exemplo disso é Caturo, um
pagão português estranho que eu estou tentando entender.
O Caturo é um exemplo típico do homem branco europeu. Ele abraça
a ideologia da supremacia branca, recheada de xenofobia, racismo e homofobia, defendida
pela direita [extrema e alternativa]. Ele se acha que por ser homem, branco e europeu, com mais direito a morar em Portugal por “pertencer à mesma estirpe”
dos Lusitanos, o que denuncia seu delírio ideológico romântico, afinal, os
atuais portugueses são descendentes de diversos povos e etnias, todos possuem
os mesmos direitos de morar em Portugal. Por consequência e extensão, tudo
aquilo que não se encaixa em sua visão romântica idealizada e extremista deve
ser combatido.
Foi
partindo de uma reportagem falando sobre o lançamento de um jogo chamado “Avatar
– Frontiers of Pandora” que eu recordei do filme “Avatar” de 2009 e que promete
ter continuação em 2022. Eu meio que faço um “mea culpa”, pois eu não comentei
o filme por achar redundante e desnecessário apontar para sua mensagem evidente
do quanto é importante ao ser humano se reconectar com a Natureza. Mas o filme
tem outras nuances que podem ser levantadas – como o problema da “missão
civilizadora” da cultura europeia, cujas consequências são visíveis em nosso
tempo – guerras civis, crise migratória e o retorno do fascismo.
Eu
vou citar [com edições] a definição dada pelo Wikipédia sobre a “missão
civilizadora” da cultura europeia:
“A
missão civilizadora [...] é uma justificativa política de intervenção militar e
de colonização que visa facilitar a modernização e ocidentalização dos povos
indígenas, especialmente no período do século 15 ao século 20. Como um
princípio da cultura europeia, o termo foi usado com mais destaque para
justificar o colonialismo [europeu] no final do século 15 a meados do século
20. A missão civilizadora era a justificativa cultural para a exploração
colonial [de outros povos]. [...] As potências coloniais da Europa ocidental
afirmavam que, como nações cristãs, tinham o dever de disseminar a civilização
ocidental para o que os europeus consideravam as culturas pagãs e primitivas do
mundo oriental. Além da exploração econômica e da imposição do governo
imperialista, a ideologia da missão civilizadora exigia a assimilação cultural
dos ‘povos primitivos’, como o ‘outro’ não-branco, na colônia subalterna da
Europa oriental”.
Original:
https://en.wikipedia.org/wiki/Civilizing_mission
Traduzido
com Google Tradutor.
A
imposição do Cristianismo não parou com os decretos de Constantino e Teodósio.
A cristianização imposta foi levada a ferro e fogo pelos reinos que surgiram
com a queda do Império Romano. O surgimento dos países tal qual nós conhecemos
atualmente deu-se na Era Moderna, com as guerras de unificação, mas é bem
possível que o conceito de “nação” e “nacionalismo” tenha surgido na Idade
Média, fomentada pelo Cristianismo. O “ser cristão” era importante para se
diferenciar do “selvagem”, do “primitivo”, do “bárbaro” e do “pagão”, em um sentido
bem étnico [até racial, eu diria].
Voltemos
aos crimes cometidos pelo colonialismo europeu, que vão além da aculturação e
da imposição religiosa. O colonialismo europeu se caracterizou pela exploração
de matéria prima em suas colônias [com raras exceções], as guerras civis que
ocorrem na África atualmente são reflexos imediatos da trágica colonização europeia.
A situação atual da conservação ambiental deixou de ser uma bandeira da
Esquerda ou do Paganismo Moderno para ser uma questão de sobrevivência de nossa
espécie.
Ao
analisar a postagem que o Caturo fez sobre o filme fica claro essa sua obsessão
maníaco-impulsiva. Avatar é ruim porque a mensagem ecológica do filme é de “esquerda
liberal”. Avatar é ruim porque é antimilitarista [que, na lógica dele, é de “esquerda”].
Avatar é bom porque fala da “traição racial”.
Se
Caturo tivesse realmente prestado atenção ao filme, não teria entregado tão
rapidamente seu racismo. O protagonista do filme, Jake Sully, tem sua consciência
inserida em um corpo de um Na’vi, mas um corpo clonado, portanto não nativo,
nem nascido de Pandora. Ele aceitou o trabalho subalterno para agir como
infiltrado entre os Na’vi para descobrir onde ficava a Arvore-Mãe, onde se
encontra a maior reserva do mineral Unobtainium. Entretanto, com o decorrer
da narrativa, Jake acaba identificando a si mesmo como sendo um Na’vi, uma
crise de identidade similar à do Caturo. Jake não é nem humano, nem Na’vi, mas
para Caturo o que pesa sobre ele é a tal da “traição da raça”, algo sem
sentido, pois mesmo durante o domínio do Nazismo, alemães tiveram a coragem de
tentar parar a loucura do Fuhrer. Algo que Caturo deveria tentar entender:
existem certas questões éticas e morais que ficam acima da questão da “raça”.
Para Caturo, o pior “pecado” de Avatar é a aparência dos Na’vi, de peles azuis
[será que ele se dá conta que a cor “azul” está simbolicamente ligada ao
divino?], da culpa do branco europeu [que está atestado pela história] e da “santidade”
do “outro” [na lógica do Caturo, o imigrante, ou qualquer outro ser humano que
sequer merece assim ser considerado por não ser homem, branco e europeu – só tirou
da lista a categoria “cristão”, tão típica dos grupos de supremacia branca].
Oh,
bem, a preguiça intelectual de Caturo e ignorância histórica dele desconhece
que foram os Europeus quem primeiro invadiram os outros povos, desde as
Cruzadas, desconhece o Colonialismo Europeu, desconhece que o conceito de
racismo [bem como nacionalismo, xenofobia e homofobia] apareceu apenas na Era
Moderna. Assim como o Paganismo Moderno e suas contradições inerentes
resultantes do Movimento Romântico. Se ele se desse o trabalho de ler e estudar
os mitos antigos [e suas interpretações modernas], ele teria se deparado com os
mitos sumerianos, nos quais os seres humanos são resultado de uma manipulação
genética [e não faltam religiões baseadas em uma interpretação moderna desses
mitos no qual a Terra está dominada por uma Ordem Mundial regida por
alienígenas], então, a priori, os seres humanos possuem uma origem “alienígena”.
O
que me faz voltar ao que eu conversei com o meu pai. Caturo provavelmente
acredita nesse delírio que ele pertence a uma “estirpe” pura, mais merecedora
dos privilégios, somente por ser homem, branco e europeu. Assim como meu pai,
Caturo ignora que é descendente de imigrantes, de povos miscigenados. Os Deuses
antigos tinham um forte vínculo com uma região e um povo, mas não no sentido de
raça tão mal concebida pelo Caturo. Veja bem: nossa espécie tem a base de sua
organização social na família, a unidade básica, desde tempos imemoriais. Da
união de famílias, surgiram os clãs; da união dos clãs, surgiram as tribos; da
união das tribos, surgiram as cidades. Então é muito necessário e crucial,
quando falamos em povos de origem indo-europeia, é que falamos de diversas
tribos, que podem ter diversas origens, mas que compartilhavam a mesma
linguagem, crença e local de habitação. A partir do momento em que existem
como etnia [o que é um conceito bem diferente de “raça”] é que esses povos cultivaram
[daí que esse é um aspecto cultural, não genético] essa comunhão com a terra e
os Deuses. Uma comunidade que não era excludente, nem segregadora, basta que
vejamos o mito de fundação de Roma onde Rômulo, ao escavar ritualisticamente as
fundações da cidade, consagrou aquele solo, incluindo todos os demais
representantes das outras tribos, como sendo um mesmo povo, com os mesmos
Deuses [o panteão Romano é uma mescla de diversas crenças latinas, etruscas, sabinas,
umbrianas, etc].
Eu
acho que cabe aqui uma autocrítica, pois eu ainda defendo o conceito de que o
Cristianismo é inconcebível, porque o Deus Cristão é um Frankenstein teológico. Essa
entidade é uma multinacional, sem terra, sem povo, sem qualquer vínculo com as raízes
e origens de qualquer povo. Se o Colonialismo Europeu cometeu inúmeros crimes
contra a humanidade, mais ainda o Cristianismo. E tem pagão moderno que não se
dá conta de que está “importando” certas ideologias que tiveram origem
exatamente nas tradições judaico-cristãs.
domingo, 29 de agosto de 2021
Os estragos da "cura gay"
sábado, 28 de agosto de 2021
As dez doenças espirituais
1. A Espiritualidade Fast-Food: Misture a espiritualidade com uma cultura que celebra a velocidade, a multitarefa e gratificação instantânea e o resultado é provável que seja a espiritualidade fast-food. A espiritualidade fast-food é um produto da fantasia comum e compreensível que o alívio do sofrimento da nossa condição humana pode ser rápida e fácil. Uma coisa é certa, porém: a transformação espiritual não pode ser obtida em uma solução rápida.
2. Falsa Espiritualidade: A espiritualidade do falso é a tendência de falar, vestir e agir como se imagina que uma pessoa espiritual seja. É uma espécie de imitação da espiritualidade que imita a realização espiritual da maneira que o tecido estampado de pele de onça imita a pele genuína de uma onça.
3. Motivações Confusas: Embora o nosso desejo de crescer seja genuíno e puro, muitas vezes ele se confunde com motivações menores, incluindo o desejo de ser amado, o desejo de pertencer, a necessidade de preencher nosso vazio interno, a crença de que o caminho espiritual removerá o nosso sofrimento e ambição espiritual, o desejo de ser especial, de ser melhor do que, para ser “o único”.
4. Identificando-se com Experiências Espirituais: Nesta doença, o ego se identifica com a nossa experiência espiritual e a toma como sua própria, e nós começamos a acreditar que estamos incorporando insights e ideias que surgiram dentro de nós em determinados momentos. Na maioria dos casos, isso não dura indefinidamente, embora tenda a perdurar por longos períodos de tempo para aqueles que se julgam iluminados e/ou que trabalham como professores espirituais.
5. O Ego Espiritualizado: Essa doença ocorre quando a própria estrutura da personalidade egóica se torna profundamente integrada com conceitos espirituais e ideias. O resultado é uma estrutura egóica, que é “à prova de bala.” Quando o ego se torna espiritualizado, somos invulneráveis a ajudar, uma nova entrada, ou comentários construtivos. Nos tornamos seres humanos e impenetráveis e estamos tolhidos em nosso crescimento espiritual, tudo em nome da espiritualidade.
6. Produção em Massa de Professores Espirituais: Há uma série de atuais tradições espirituais da moda , que produzem pessoas que acreditam estar em um nível de iluminação espiritual, ou mestria, que está muito além de seu nível real. Esta doença funciona como uma correia transportadora espiritual: coloca este brilho, leva àquele insight, e – bam! – Você está iluminado e pronto para iluminar os outros de maneira similar. O problema não é aquilo que tais professores ensinam, mas que representam a si próprios como tendo realizado a mestria espiritual.
7. Orgulho Espiritual: O orgulho espiritual surge quando o profissional, através de anos de esforço trabalhado efetivamente alcançou um certo nível de sabedoria e que usa esse conhecimento para se desligar a novas experiências. Um sentimento de “superioridade espiritual” é outro sintoma desta doença transmitida espiritualmente. Ela se manifesta como uma sensação sutil de que “Eu sou melhor, mais sábio e acima dos outros porque sou espiritual”.
8. Mente de Grupo: Também conhecido como o pensamento grupal, mentalidade de culto ou doença ashram. A mente de grupo é um vírus insidioso que contém muitos elementos tradicionais da codependência. Um grupo espiritual faz acordos sutis e inconscientes sobre as formas corretas de pensar, falar, vestir e agir. Indivíduos e grupos infectados com o “espírito de grupo” rejeitam indivíduos, atitudes e circunstâncias que não estão em conformidade com as regras, muitas vezes não escritas do grupo.
9. O Complexo de Povo Escolhido: O complexo de pessoas escolhidas não se limita aos judeus. É a crença de que “O nosso grupo é mais poderoso, iluminado e evoluído espiritualmente, e simplesmente colocado, melhor do que qualquer outro grupo.” Há uma distinção importante entre o reconhecimento de que alguém encontrou o caminho certo, o professor, ou comunidade para si, e tendo encontrado aquele, O Único.
10. O Vírus Mortal: “Eu Cheguei”: Esta doença é tão potente que tem a capacidade de ser terminal e mortal para a nossa evolução espiritual. Esta é a crença de que “Eu cheguei” na meta final do caminho espiritual. Nosso progresso espiritual termina no ponto em que essa crença se cristalizou em nossa psique, no momento em que começamos a acreditar que chegamos ao fim do caminho, um maior crescimento cessa.
Original: https://maitreyah.wordpress.com/2011/02/28/10-doencas-espiritualmente-transmissiveis/
O Deus Antigo nos animes
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
A Deusa-Mãe armênia
quinta-feira, 26 de agosto de 2021
História do touro na mitologia
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Você vai para Helheim?
Um dia, todos nós passaremos pelo mesmo destino: a morte.
E haja aguentar as frases feitas que as pessoas dizem quando
alguém parte. Então é uma viagem.
Dizem que não se leva
nada dessa vida. Errado. Cada um vai levar suas memórias, uma bela bagagem de
seus atos e palavras, das coisas que realizou, erros e acertos.
Então imagine-se em uma central de ônibus, de trem, de navio
ou de avião. Você e sua bagagem. Uma fila enorme até o guichê de check-in.
Tanjiro certamente seria detido na alfândega por levar sua
irmã, Nezuko, em uma caixa.
Andrew Hall, na coluna Nonreligious, em sua página Laughting
in Disbelief, faz as seguintes perguntas [de forma irônica e satírica],
imitando um pastor evangélico:
. Jesus é o Senhor de sua vida?
. Jesus morreu pelos seus pecados?
. Você está carregando sua cruz diariamente para que todos
possam ver?
. Você acha que apenas 10% de sua renda bruta é suficiente
para o dízimo?
. Os católicos são cristãos?
. Quantas bolhas tem uma barra de sabão?
. Os homossexuais roubaram o arco-íris?
. Você largou de se masturbar por Jesus?
. Explique a Trindade com seus olhos fechados.
. Seu gato é cristão?
Eu lamento pelo spoiler, mas o descrente/ateu também está
aqui, tão perdido e desorientado quanto todos nós. Por falta do que fazer, eu
rabisco alguns comentários. Eu acho que perguntas de ordem existencialista não
podem ser resolvidas pela lógica aristotélica, respostas para estas questões
precisam ter um amplo espectro de alternativas.
A primeira pergunta é capciosa. Quando o cristão declara que
Jesus é o Senhor, isso pode ser interpretado no sentido divino e no sentido
secular. O cristão declara que Jesus é Deus, mas Senhor pode ser entendido no
sentido feudal, no sentido de que Jesus ocupa uma posição dentro de uma
monarquia. Veja bem, a monarquia, na Era Contemporânea, é constitucional ou
parlamentarista, então tem mais gente participando dessa relação de senhorio.
Para que Jesus fosse Senhor, no sentido de Rei, ele teria que estar na linha
sucessória do trono. Analisando as referências da Bíblia, Jesus não estava na
linha sucessória de Herodes, então ele não pode ser o Senhor. Jesus é declarado
Deus porque ele é o Cristo, mas analisando as referências da Bíblia, Jesus não
preenche os pré-requisitos para ser considerado o Ha-Massiah que, segundo as
referências da Bíblia, ele é o Ungido de Deus, não seu Filho, nem Deus. Mesmo
se fosse o caso, as profecias sobre Cristo deixam bem claro que este tem a
incumbência de trazer a Salvação somente ao Povo de Israel. Conclusão obvia é
que Jesus não é o Senhor da minha vida.
A segunda pergunta é falha, pelos motivos que eu apontei na
primeira pergunta. O pecado é o carro-chefe das religiões abraãmicas, mas o
sacrifício de Jesus não foi realizado conforme os protocolos para que ele
pudesse ser o “cordeiro sacrificial”, tal como está prescrito no Levítico. Eu
tenho que apontar que, para que o sacrifício de Jesus fosse aceitável, ele
teria que ser imaculado, algo impossível e improvável, considerando as circunstâncias
duvidosas de seu nascimento.
A terceira pergunta é impraticável. Isso seria um elemento
que complicaria o trânsito. Consegue imaginar o comércio e as empresas tendo
que providenciar um estacionamento somente para que os funcionários e clientes
possam estacionar suas cruzes? E em um pedágio? A tarifa deve considerar o
material, tamanho e forma de transporte? As cruzes devem ter faixas reflexivas,
faróis de sinalização?
A quarte pergunta é incoerente. Jesus mesmo dissera que deve
ser dado a César o que é de César. Os apóstolos disseram que nós estamos no
Tempo da Graça, então o cristão está isento do dízimo, uma regra do Judaísmo.
A quinta pergunta é polêmica, afinal, o cristão católico
pensa a mesma coisa do cristão evangélico. Se considerarmos as inúmeras
vertentes que existiram e existem do Cristianismo, é impossível definir quem é o
verdadeiro cristão.
A sexta pergunta é uma pegadinha. Que tipo de barra de
sabão? E quanto ao sabonete líquido?
A sétima pergunta é estúpida. O arco-íris não pode ser
roubado, uma vez que não é um objeto físico.
A oitava pergunta é estranha. Tem um sentido dúbio, faz
entender que tem cristão se masturbando para Jesus. Eu não duvido que existam
casos assim.
A nona pergunta é incoerente. A Trindade é um dogma que faz
parte da teologia cristã. Uma questão que foi resolvida por concílios, guerras
e assassinatos.
A décima pergunta é incompreensível. Todo mundo sabe que
gatos estão mais associados às bruxas. Como ficam os cães, os pássaros e
peixes?
A fila está enorme e não vejo sinais de que vai andar. A agência
[eu não sei se posso usar esse termo] que cuida do despacho das almas está
ocupada demais. Nos últimos séculos houve um aumento substancial de
desencarnados [guerras, fome, doenças, mudanças climáticas... escolha]. Os
funcionários tem que usar de violência para organizar essa bagunça e recolocar as
almas no lugar. A alguns metros de onde eu estou eu vi uma alma sendo esmagada
por um funcionário de 3 metros de altura e 200 quilos de músculos. Peculiar,
afinal, não se pode matar o que está morto, mas a dor ainda é bem intensa.
Os fiscais de fila ficam no vai-e-vem, as filas muitas vezes
dão nó. Então eu me deparo com funcionários reportarem algo para uma funcionária.
Ela deve ser a chefe.
- Major, nós estamos com um problema.
- O que foi?
- Nós demos as informações básicas, mas esta alma
simplesmente se nega a aceitar.
- Diga, alma, porque nega sua condição?
- Algo só existe quando tem evidência de existência.
-Entendo. Você é um descrente, um ateu.
- Precisamente.
- Você consegue perceber o local no qual se encontra
atualmente?
- Evidente.
- Excelente. A sua percepção é um bom ponto de partida. Caso essa alma continue criando problema, deixe-a em um dos cantos de reflexão. Ela mesma será capaz de entender a condição na qual se encontra.
Ao voltar a caminhar, os
olhos dessa funcionária se detêm ao se deparar comigo.
- Você é um daqueles?
- Daqueles quem, senhorita?
- Dos ditos pagãos modernos.
- Eu tenho o dever e a obrigação de confirmar, senhorita.
- Então não tem medo de ir para o Inferno?
- Nenhuma. O Reino dos Mortos é o destino de todos nós. O
nome Inferno, em inglês, é chamado Hell, originário do Reino de Hel [Helheim],
a Deusa dos Mortos na mitologia nórdica. Para os Gregos Antigos, é o Reino de
Hades. Para os Romanos Antigos, é o Reino de Orco. Para os Celtas, é Tir na Nog,
ou a Terra dos Ancestrais. A minha família deve estar aguardando a minha chegada.
- Então não está com medo, mas ansiedade?
- Eu estou um pouco apreensivo. Eu não tive uma vida muito
correta.
- Então não se importa com o que nós vamos fazer com você?
- Oh, bem, eu acho que tenho que aceitar o julgamento.
A funcionária dá um sorriso cínico de satisfação, me agarra,
me coloca deitado no chão pedregoso e simplesmente me estupra ali mesmo, na
frente de todos. Eu fico completamente exausto, esgotado e drenado. Ela levanta,
sorri mais uma vez e segue com sua rotina. Antes de ir embora, diz algo que me
deixa animado.
- Excelente. A Imperatriz ficará exultante ao saber que você
chegou. Agora que você está aqui, nós poderemos nos divertir um pouco.
Eu sinto a raiva dos demais penitentes. Eu não tenho culpa
de ter a vantagem de ser um pagão moderno. Eu não tenho culpa que Hel goste de
mim. Se um pastor evangélico me perguntasse se eu quero ir ao Inferno [Hell],
eu responderia sim, sem hesitar. Como disse John Milton, é melhor reinar no
inferno do que servir no céu.
terça-feira, 24 de agosto de 2021
Jornal Contrasexual
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
A razão do cliente
Quem trabalha no comércio deve ouvir todo dia a frase: “o
cliente sempre tem razão”.
No mundo contemporâneo, o conceito de cliente é: “indivíduo
que contrata serviços ou adquire mercadorias mediante pagamento; comprador,
freguês”.
Mas a origem do nome vem da Roma Antiga: “indivíduo que
estava sob a proteção de um patrono”.
Então para cada cliente existia um patrono, de onde vem a
palavra “patrocínio” e “clientela”.
“Patrocínio ou clientela é uma forma de relacionamento
específica na antiga sociedade romana entre o patrono (em latim: patronus; pl.:
patroni) e seus clientes (em latim: cliens; pl.: clientes). A relação era
hierárquica, mas as obrigações eram mútuas. O patrono era o protetor, o
patrocinador e o benfeitor dos clientes, uma proteção chamada tecnicamente de
patrocínio (em latim: patrocinium). Apesar de o cliente tipicamente ser de uma
classe social inferior, patrono e clientes podiam ter o mesmo status, mas o
primeiro seria mais rico, mais poderoso ou deter maior prestígio, o que
garantia sua capacidade de ajudar ou favorecer seus clientes. Do imperador no
topo até um líder municipal no fundo, os laços entre estes grupos eram
expressados formalmente na definição legal das responsabilidades dos patronos em
relação aos seus clientes.
Entre os benefícios que um patrono poderia conferir estavam
a representação legal numa corte, empréstimos, influência em acordos comerciais
ou casamentos e o apoio às candidaturas do cliente a cargos políticos ou
sacerdotais. Em troca, esperava-se do cliente que oferecesse seus serviços
sempre que o patrono precisasse. Um liberto podia tornar-se cliente de seu
antigo mestre. Uma relação de patrocínio também poderia existir entre um
general e seus soldados, um fundador e seus colonos ou um conquistador e uma
comunidade estrangeira dependente”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Patroc%C3%ADnio_na_Roma_Antiga
Essa relação social era estabelecida entre as diversas
classes de cidadãos, mas refletia a distinção social entre patrícios e plebeus,
sendo os patrícios as famílias aristocráticas romanas e a grande massa de pessoas
comuns são os plebeus. Outros indivíduos que estavam no substrato dessa
organização social eram os escravos [cativos de guerras, plebeus endividados,
etc] e os peregrinos.
“Peregrino (em latim: peregrinus; pl. peregrini) foi um
termo usado no Império Romano, de 30 a.C. até 212 d.C. para denotar um homem
provincial livre, morador no império mas sem ser cidadão romano. Os peregrinos
constituíam a imensa maioria dos habitantes do império nos séculos I e II. Os
peregrinos foram pessoas de segunda classe até o ano de 212, em que a cidadania
romana foi concedida a todos os habitantes do império.
[...]
Em latim peregrinus (de per + agere =viajar longe, da qual
deriva a palavra "peregrino"), significava "estrangeiro";
mas, a começos do Principado, peregrinos não significava estrangeiro em senso
literal, pois eram nativos de províncias do império. Contudo, a posição legal e
fiscal superior dos cidadãos romanos significou que os peregrinos tivessem um
status de segunda classe nos seus próprios países.
[...]
Na esfera social, os peregrinos não possuíam o direito ao
conúbio (connubium), i.e., não se podiam casar com um cidadão romano. Portanto,
qualquer filho de um matrimônio misto era ilegítimo e não podia herdar a
cidadania (ou as propriedades). Além disso, os peregrinos não podia designar os
seus herdeiros sob o direito romano, a menos que fossem auxiliares militares.
Portanto, à sua morte estavam legalmente intestados, pelo qual os seus bens
passavam a ser propriedade do Estado”.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Peregrino_(Roma_Antiga)
Nessa organização social, o patrono/patrício tinha mais razão do que o patrocinado/cliente. Escravos e peregrinos não eram sequer considerados cidadãos.
domingo, 22 de agosto de 2021
Record faz dobradinha
sábado, 21 de agosto de 2021
Os nove tipos de amor
sexta-feira, 20 de agosto de 2021
Escândalo na Academia
Não se falava outra coisa na Ágora. Nem mesmo quando Platão
andou fazendo a apologia de Sócrates tinham tantos comentários e boatos. Aos
cochichos, aqueles senhores barbados, sisudos, cochichavam sobre se era verdade
ou não que o grande Aristóteles tinha se submetido a uma mulher. Como aquele
que era chamado de mestre por tantos estava ausente e ocupado tutelando
Alexandre III, o filho de Felipe II e Basileu da Macedônia, só o que restava
eram conjecturas e muitas fantasias.
Os boatos mais gentis contavam que o mestre tinha sido
vítima de uma trapaça forjada por Alexandre, mas mesmo isso era inaceitável. Os
boatos mais maldosos eram de que o mestre tinha servido, voluntária e
alegremente, como cavalo dessa enigmática mulher. Ah, sim, as gerações futuras
irão perguntar e até se tentará esconder, mas a Grécia Antiga foi o berço da
misoginia que existe no mundo ocidental contemporâneo.
A história ou lenda foi registrada por Lope Garcia Salazar,
no livro Bienandanzas e Fortunas, no Tomo Cinco, em castelhano arcaico, no que
eu transcrevo a tradução dada pelo Google Tradutor:
Título de como Aristótiles foi enganado de uma
donzela a conselho de Alixandre, porque o repreendia muito para não usar com
mulheres.
Alixandre, vendo-se repreendido por seu mestre
Aristótiles, seiendo mançebo, por ser próximo das mulheres, resolveu
repreendê-lo. E ele tinha um jeito com uma de suas donzelas que o enganava
dessa maneira: aquela donzela se aproximava dele com tal engenhosidade, que o
fazia entender que o amava mais do que a si mesma e o colocava em tal estado,
que ele a amava de forma desigual , no entanto, que ela descobriu seu amor por
ela, o que, com zelo devido à indústria de Alixandre, gelo estava delicadamente
atrasando, desde que lhe dissesse que lhe daria todas as coisas que ela
exigisse dele e tudo o que ela lhe enviasse, que ela respondeu que queria mais
do que ele, mas que ele a deixava fazer uma coisinha e então que secretamente
confiava nela a sua vontade, porque era casado e velho. E ele respondeu com uma
alegria maravilhosa para perguntar o que ele queria. Diga à ele:
-Senhor, deixe-me encarar e selar e cavalgar em você
com esporas como um cavaleiro a cavalo e você vai correr à noite, para que não
se saiba, no grande salão do palácio iluminado por velas quando todos estão
dormindo.
Aristóteles, surpreso e pesado com isso, disse:
-Oh, senhora fixa! Por que está fazendo isso, é meu
mal e probleminha? E me diga por que você quer isso.
-Senhor, eu quero isso porque as omes têm o costume
de zombar das mulheres quando elas cumprem suas vontades, porque se quiser
zombar de mim depois de concordar com sua vontade, para que eu possa decidir
como cavalguei em você antes como a um cavalo.
E concedido por ele, ele o enfrentou e o selou, e,
cavalo nele, o fez correr a quatro pés, ferreting d'espuelas. Como Alixandre,
que enfrentou tudo isso, ele estava ali escondido atrás de uma parede e veio
até eles e disse "o que é isso, professor ilustre?" O Aristótiles o
viu, com grande pesar e muita vergonha disse:
-Oh consertou Alixandre! Você namorou tudo isso.
Jamais te repreenderei por uma coisa de mulher, por nenhum senso de omne do
mundo que não seja enartado pelo amor de mulher.
Notem
que não se declara o nome da beldade. No entanto, consultando o Oráculo Virtual
[Google], tanto em páginas em inglês quanto em português, acusam o nome de
Filis [Phyllis]. Nessas versões, algumas dão a entender que Filis era uma
cortesã ou esposa de Alexandre e que a ideia dessa pegadinha foi toda dela.
Lenda
assim não é novidade. Desde que os meninos tomaram o mundo e instituíram o
Patriarcado, os meninos ainda tem medo da mulher. Sansão teve a Dalila,
Holofernes teve a Judite, Herodes teve a Salomé. Todas essas lendas mostram
como nós, homens, somos o verdadeiro sexo fraco.
Quando
Alexandre resolveu tirar férias depois da batalha de Gaugamela, Aristóteles
veio junto na comitiva de volta à Macedônia. No ato, Aristóxeno, Critolau, Nicômano,
Teofrasto, Estradão, Demétrio e Eudemo foram ter com o mestre.
-
Mestre! Mestre!
A
figura de uma mulher aparece na ventana e os tenta enxotar.
[em
persa]- Fora daqui, o mestre está dormindo.
Felizmente
Teofrasto passou alguns anos na Síria e pode entender e dizer algumas palavras
com essa mulher.
[em
sírio]- Gentil donzela, nós precisamos ver o mestre.
[em
macedônio]- Você é um dos alunos dele?
- Sim!
Graças aos Deuses, nós falamos a mesma língua.
[irritada]-
Como eu disse, vão embora, o mestre está descansando.
- Por
favor, nobre donzela, isso é importante!
[de
dentro da casa]- Quem é, querida?
- Ah,
meu chuchu, só alguns homens inconvenientes.
[esgueirando
pela ventana] - Quem? Ah! Teofrasto! Entre, entre, vamos conversar.
- Nós
todos podemos entrar?
[acenando]-
Claro, claro. Filis está apenas sendo superprotetora.
Os sete
homens passam pela porta sentindo os olhos daquela mulher lançar adagas pelos
olhos. A casa continuava do mesmo jeito. Simples, espartana e limpa. Metade da
casa tomada por nichos recheados de pergaminhos e a parte do quintal decorada
com inúmeros objetos e experimentos do mestre.
-
Felizmente eu preparei muito chá de melífera e hortelã. Sentem-se que eu os
sirvo.
Acanhados
e envergonhados, aqueles homens se serviram dos banquinhos que encontraram e se
dispuseram em círculo. Rápida e agilmente Aristóteles entrega uma xicara e chá
para cada um.
-
Lamento. Os biscoitos egípcios acabaram.
- Hã...
tudo bem, mestre. Perdoe-nos o incômodo. Nós apenas queríamos saber e entender
o que aconteceu com... o senhor e a Filis.
[rindo]-
Nada que não aconteça desde que nossa espécie apareceu no planeta.
-
Mas... o senhor... nos ensinou tanto sobre o gênero feminino!
[sério]-
E eu não poderia estar mais errado. Eu espero viver o suficiente para repara
meu erro.
[apreensivo] -
Isso... é bom, mestre. Sua ausência foi sentida na Academia. Eu e muitos
ficaremos muito contentes com o seu retorno. Mas por favor, nos conte se é
verdade?
[estreitando
os olhos]- Isso é alguma brincadeira? Eu refutei Platão e Sócrates.
[gesticulando]-
Não, mestre! Nós apenas queremos ouvir a história, tal como aconteceu,
diretamente do senhor!
[suspirando]-
Oh, bem... eu acho que esse é o meu castigo. Que falta me faz os canudos de
cálamo da Bitínia! Eu acho que foi em Issus, depois da vitória em Gaugamela.
Alexandre foi reconhecido e coroado como Basileu da Pérsia. Em poucos anos, o
garoto tinha seu império e eu estava preocupado se ele teria condições de
reger. Quando se fala em regência e obrigações imperiais, eu achei prudente
alertar Alexandre de que esse tipo de ocupação deve ter cuidado com as amizades
e sobretudo com a fraqueza masculina diante da mulher. Evidente que eu sabia
que ele era bissexual, então eu deveria incluir sua possível fraqueza diante de
um homem, como depois eu percebi sua intimidade com Heféstion, mas acabou
ficando assim. Por algum motivo isso o contrariou e o que não faltava na Pérsia
são mulheres deslumbrantes. Atentem a isso, garotos, não importa o quanto vocês
estudem e saibam das coisas, vocês ainda serão homens sujeitos aos mesmos
apetites comuns.
- Nós
lembramos bem de suas aulas sobre o gênero feminino.
[sério]-
E eu vou ter que corrigir e ensinar outra coisa.
[assustado]-
Mestre, o que mudou?
[suspiro]-
Nós discutimos muito sobre a arrogância e prepotência dos Helênicos de se
declararem o povo da filosofia. Existe um mundo enorme e eu encontrei muitos
sábios no Oriente. Filis, por exemplo, é mestra em Pasargada.
[mais
assustado]- Hã... isso é realmente, mestre, mas é verdade que o senhor serviu
como cavalo para essa mulher?
[sério]- Sim, porque não? Nós ouvimos dos anciãos as lendas sobre a Era Dourada, quando Deuses e homens conviviam. Nesse tempo perdido, o mundo adorava uma Grande Deusa e seu Consorte. Então aconteceu um cataclisma, que as lendas não explicam direito, nós começamos a adorar os Deuses de agora e nos tornamos patriarcais e machistas. A humanidade perdeu muito ao alijar metade de sua espécie. Aprendam, meus alunos. A fonte da sabedoria é a mulher. Submeter-se a uma mulher não nos torna menos homens. Deixe que a mulher te cavalgue, pois ela também deixará que você monte nela. Acredite, vale muito mais alguns minutos entre as pernas de uma mulher do que todos os anos de Academia.