domingo, 9 de março de 2025

A saga do emprego

O Lorde Theodore Fluffybutt III, recém-libertado da prisão de alta segurança, pisou na rua de Plunderia com a mesma expressão de quem acabara de ser atacado por um enxame de abelhas particularmente fofas. Trinta anos atrás, ele era o terror das nações. Agora, era um ex-vilão em liberdade condicional, obrigado a encontrar um emprego e morar com sua prima distante, Lady Seraphina Fluffybutt II.

A primeira surpresa veio na forma de um carro. Um carro! Um monstro de metal reluzente, com rodas que giravam e um ronco que o fez lembrar vagamente dos rugidos de seus antigos dragões de pelúcia. Seraphina, sentada ao volante, parecia mais uma deusa pop do que a prima da realeza decadente que ele lembrava. Seus trajes, tão reveladores quanto uma pintura renascentista de uma ninfa em trajes mínimos, deixavam Theodore ligeiramente desconcertado.

"Bem-vindo ao século XXI, Theo," Seraphina disse, com um sorriso que poderia derreter glaciares de algodão doce. "Prepare-se para um choque cultural."

E choque cultural houve. O apartamento de Seraphina era uma maravilha tecnológica. Uma tela plana gigante emitia imagens coloridas e em movimento. Um objeto retangular, chamado "celular," tocava músicas estranhas e permitia que ela desse ordens a outros objetos sem precisar levantar um dedo. Theodore ficou fascinado, e ligeiramente aterrorizado, pela máquina de café que, com um simples toque, produzia uma infusão marrom deliciosa. Para ele, era mágica negra de alta tecnologia. A televisão era uma janela para um mundo de imagens vibrantes e sem fim; ele até viu um programa de culinária com uma competição de bolos em formato de bichos de pelúcia. Um sacrilégio em potencial, pensou ele, mas, secretamente, adorou.

A segunda surpresa veio na forma de Sir Reginald Fluffington. O antigo herói que o enfrentara em diversas batalhas épicas (envolvendo principalmente escudos de pelúcia e muita confusão desastrosa) agora trabalhava em uma loja de conveniência, usando um uniforme azul-claro que parecia absorver toda a sua antiga bravura. Theodore o encontrou atrás do balcão, estocando refrigerantes, com uma expressão de completa resignação.

"Reggie?" Theodore perguntou, sua voz ecoando a incredulidade.

O ex-cavaleiro encarou-o, os olhos arregalados. "Fluffybutt? É você mesmo? Meu Deus, você está... mais magro." Ele tossiu, envergonhado. “Olha, você precisa de alguma coisa? Temos uma promoção de doces em forma de coelhos."

O choque foi mútuo. Reggie, o herói de Plunderia, agora era um atendente de loja de conveniência. Theodore, o conquistador de reinos de pelúcia, um desempregado em busca de trabalho. O destino, pensou Theodore, tinha um sentido de humor particularmente cruel e hilário.

A busca por emprego se mostrou uma jornada difícil. Theodore, apesar de suas habilidades em liderar exércitos, não entendia os conceitos básicos de um currículo e entrevista moderna. Ele tentou explicar sua experiência em "conquistar o mundo inteiro" em várias empresas, mas foi recebido com olhares confusos e perguntas sobre suas referências.

Seraphina, observando a luta do primo, percebeu que poderia usar a situação a seu favor. Ela o ajudou a reescrever seu currículo, enfatizando suas habilidades de liderança e estratégia. Com sua influência e charme, ela conseguiu que Theodore tivesse algumas entrevistas, mas, no final, sua reputação o precedia.

No entanto, a experiência era incrivelmente engraçada. A ironia da situação, a queda do conquistador para um simples empregado, seu fascínio pelo mundo moderno - tudo isso era uma comédia involuntária que até mesmo o Conde Malcontent e a Duquesa DeVille encontrariam difícil superar em termos de humor negro.

Theodore continuou sua jornada, enfrentando os desafios do mundo moderno. E, no meio da turbulência, descobrindo uma nova forma de conquistar: não reinos, mas corações e mentes, através da risada provocada por sua própria, peculiar, e desastrosa, história. Afinal, até mesmo a conquista do mundo exige um bom currículo. E talvez, uma boa dose de algodão-doce.

Criado com Toolbaz. Com edição.

sábado, 8 de março de 2025

Intolerância punida

O pastor evangélico Danilo Santana Santos, da Igreja Assembleia de Deus em Mauá, na Grande São Paulo, foi condenado a um ano de prisão em regime aberto por destruir uma oferenda de umbanda. O crime, registrado em fevereiro de 2024, foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) por meio do Disque 100.

Além de quebrar a oferenda, o pastor se referiu ao trabalho religioso como “obra do Diabo”, “imundície” e “sujeira do inferno”. A sentença, proferida pelo juiz Paulo Antonio Canali Campanella, da 2ª Vara Criminal de Mauá, é de primeira instância e pode ser revertida em prestação de serviços à comunidade. O pastor também foi condenado a pagar 10 dias-multa, totalizando R$ 15.180.

O crime de intolerância religiosa é tipificado pelo artigo 208 do Código Penal, que prevê pena de um a três anos de reclusão e multa para quem “vilipendia publicamente ato ou objeto de culto religioso”.

A testemunha registrou o ato e fez uma denúncia, que resultou na abertura de um boletim de ocorrência no 3º Distrito Policial de Mauá. O MPSP destacou a importância de combater a intolerância religiosa, que afeta principalmente religiões de matriz africana, como a umbanda.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/justica-de-sp-condena-pastor-a-um-ano-de-prisao-por-destruir-oferenda-de-umbanda/

Corpos velados


Passamos o carnaval, com o desfile da intolerância religiosa e carnavalesco querendo o embranquecimento da festa mais popular.
Só no Brasil. Transbordamos sensualidade, todos os dias, o carnaval apenas dá um toque cultural.
Mas ainda somos cruamente conservadores. A mesma comunidade LGBT que enaltecemos no carnaval é perseguida, torturada e morta.
Então é estranho e incoerente ver o DCM (como sempre) mostrar uma não notícia.
Citando:

Uma mulher viralizou na noite de terça-feira de Carnaval (4) ao realizar uma dança sensual e se despir completamente em frente à 3ª Delegacia de Polícia, no bairro Cruzeiro, em Belo Horizonte. Vestindo apenas um blazer branco e óculos escuros, a mulher, com o corpo tatuado, protagonizou um striptease em via pública, enquanto era filmada por uma pessoa com um celular, deixando-a conhecida como “peladona do blazer”.

A cena ocorreu em uma área movimentada, onde famílias ainda brincavam o Carnaval. A mulher, desinibida, abriu o blazer, revelando nudez completa, e sorriu durante a performance. O ato foi considerado um constrangimento por muitos, que se sentiram ofendidos pela exposição em um local público e próximo a uma delegacia. Moradores registraram ocorrência de ato obsceno, destacando o desconforto causado pela situação.

A Polícia Civil informou que os agentes não presenciaram o momento em que a mulher se despia, mas estão tentando localizá-la para que ela preste esclarecimentos sobre o ocorrido. O caso está sendo investigado como ato obsceno, crime previsto no Código Penal, que pode resultar em multa ou detenção.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/video-peladona-do-blazer-mulher-faz-striptease-em-frente-a-delegacia-em-bh/

Nota: em um país que normaliza por cinco dias a exposição pública das partes íntimas, falar em atentado ao pudor é... esquizofrênico.

Derrubada lei bolsonarista

Em julgamento nesta quarta-feira (5), o Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ-SC) declarou a lei da Escola Sem Partido inconstitucional em Santa Catarina. A decisão veio num recurso do Diretório Estadual do PSOL, que havia entrado com a ação questionando o texto aprovado na Alesc e sancionado pelo governador Jorginho Mello (PL).

A proposta era de autoria da deputada Ana Campagnolo (PL). Na teoria, ele estabelecia a “Semana Escolar de Combate à Violência Institucional Contra a Criança e o Adolescente” – que, na prática, institui o programa Escola Sem Partido na educação.

No final de 2023, o PSOL teve o pedido negado pela corte estadual, mas recorreu com embargos de declaração. Segundo o advogado da legenda, Rodrigo Sartoti, a decisão desta quarta-feira declarou a lei totalmente inconstitucional.

À época da sanção do projeto, em 2023, o governo assim se manifestou: “O governo de SC respeita sempre, dentro dos limites da Constituição Estadual, as decisões tomadas em conjunto pelos representantes eleitos para representar o povo catarinense. O projeto foi aprovado pela maioria dos deputados para se tornar lei porque viram na proposta mérito em manter os alunos focados no ensino e afastados de discussões ideológicas”.

A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) se manifestou por nota após o julgamento:

“Em relação ao processo 5011554-95.2023.8.24.0000, que trata sobre a constitucionalidade da Lei Estadual 18.637/2023, a Procuradoria-Geral do Estado informa que aguardará a publicação do acórdão para conhecer as razões pelas quais o Órgão Especial do do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em decisão proferida nesta quarta-feira, 5, inverteu, em embargos declaratórios, a decisão de mérito anteriormente tomada pelo mesmo órgão judiciário, no sentido da constitucionalidade da lei.

A PGE/SC seguirá velando pela autonomia legislativa de Santa Catarina para legislar sobre o assunto, conforme disposto no artigo 24, inciso IX, da Constituição Federal, manejando, se for o caso, o cabível Recurso Extraordinário (RE) ao Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/colunistas/anderson-silva/judiciario-derruba-a-lei-da-escola-sem-partido-em-santa-catarina

Quero pudim de damasco

O som metálico da porta se abrindo ecoou na escuridão úmida da cela, arrancando Theodore Fluffybutt III de um sono agitado repleto de sonhos com pudim de damasco e revoltas de camponeses armados com colheres de pau. A luz ofuscante o fez piscar, revelando uma figura familiar e, ao mesmo tempo, estranhamente diferente. Era Seraphina Fluffybutt II, sua prima, mas a pompa aristocrática havia sido substituída por um tailleur de tweed desbotado e um chapéu que lembrava um ninho de pássaros particularmente desgrenhado.

– Theodore! – exclamou ela, sua voz ainda carregando um resquício do antigo tom nobre, embora levemente rouco pelo tempo e, talvez, por muitos charutos baratos. – Está livre!

Theodore, cuja última lembrança nítida de Plunderia datava de 1910, antes do fatídico ano da proclamação da república, sentiu um choque que o fez quase cair de joelhos. Trinta anos. Trinta anos de prisão por um crime que, honestamente, ele mal se lembrava – algo que envolvia uma revelação recebida pelo Grande Fofo.

– Livre? – gaguejou ele, a barba ruiva e emaranhada lhe cobrindo metade do rosto. – Mas... a república... Plunderia?

Seraphina suspirou, puxando de sua bolsa um panfleto amarrotado anunciando "Promoções imperdíveis na Loja de Roupas 'Réplica Real' - 50% de desconto em coroas de plástico!". Ela o ofereceu a Theodore, que o encarou com descrença.

– A monarquia caiu, meu caro Theodore, – explicou ela, com uma paciência que só uma ex-condessa poderia possuir após décadas convivendo com a burocracia republicana. – Você foi beneficiado por uma revisão de sentença. Liberdade condicional. Sob minha tutela. E, acredite, a tutela inclui morar comigo.

A visão de Plunderia, quando deixaram a prisão, foi um golpe ainda maior que a notícia de sua liberdade. O palácio, outrora símbolo de opulência, agora estava reduzido a um museu semi-abandonado, seus jardins invadidos pela vegetação selvagem. Onde antes desfilavam carruagens douradas, agora circulavam barulhentos ônibus elétricos, cheios de cidadãos que pareciam estar mais preocupados com o preço do pão do que com a linhagem real.

– Não há mais carruagens puxadas por unicórnios? – perguntou Theodore, incrédulo, ao ver um fusca amarelo estacionado em frente ao que outrora fora a entrada principal do palácio.

– Unicórnios não são econômicos, Theodore, – respondeu Seraphina, com um sorriso amargo. – E o orçamento do museu não permite a compra de ração suficiente para mantê-los.

A cidade era um turbilhão de mudanças. A Praça Real, palco de desfiles e festins, agora abrigava um mercado de pulgas agitado. Lojas de artigos mágicos haviam sido substituídas por barbearias e lanchonetes. Até mesmo os guardas reais, outrora impecáveis, agora eram policiais com uniformes desbotados e expressões cansadas.

– E meu castelo? – Theodore perguntou, apontando para um prédio que parecia uma mistura de depósito e motel, coberto de grafites e com uma placa dizendo "Aluga-se - Perguntar por Esmeralda".

Seraphina pigarreou. – Bem... Ele agora serve como escritórios da empresa "Fluffybutt & Filhos - Produtores de Mel e Conservas Artesanais". Meu irmão, Bartholomew IV, é um achado no ramo da apicultura.

O choque de Theodore atingiu seu ápice quando Seraphina o conduziu até seu novo lar: um pequeno apartamento acima de uma loja de artigos de segunda mão, com vista para um depósito e um cheiro persistente de peixe frito.

– É acolhedor, não acha? – perguntou Seraphina, com um sorriso que não conseguia disfarçar o cansaço. – E, por falar em acolhedor, sua liberdade condicional exige que você encontre um emprego. Sugiro começar a procurar amanhã mesmo.

Theodore, o ex-duque, o ex-detento, o atual… bem, ele ainda não sabia o que era. Mas uma coisa era certa: a república havia transformado Plunderia em algo totalmente imprevisível, hilário e, sim, um pouco deprimente. Ele olhou para sua prima, com seu chapéu de pássaro desgrenhado, e sentiu um misto de horror e… curiosidade. A vida republicana parecia ser uma aventura. E quem sabe, talvez até mesmo divertida. Afinal, encontrar um emprego era apenas o começo. A adaptação à vida pós-monarquia em Plunderia seria, sem dúvidas, uma história para contar – e provavelmente uma ótima fonte de inspiração para uma autobiografia, se ele conseguisse escrever algo além de "quero pudim de damasco".

Criado com Toolbaz. Com edição.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Trump contra a educação

O presidente Donald Trump pode decidir esta semana dar os primeiros passos para eliminar o Departamento de Educação, afirmaram pessoas familiarizadas com o assunto, enquanto ele busca reduzir drasticamente o tamanho do governo federal.

Autoridades da Casa Branca prepararam uma ordem executiva instruindo a Secretária de Educação, Linda McMahon, a iniciar o processo de desmonte do departamento, relataram as fontes.

Trump pode assinar o documento já nesta quinta-feira (6), mas os planos ainda não foram finalizados.

O republicano há muito tempo sinaliza sua intenção de fechar o departamento, mas eliminá-lo completamente exigirá que o Congresso aja, disse McMahon durante as audiências de confirmação no início deste ano. Ela foi comunicada na segunda-feira (3).

A CNN relatou anteriormente que a administração estava elaborando uma ordem para lançar o processo de fechamento do Departamento de Educação.

O presidente também planeja pressionar o Congresso a aprovar uma legislação para acabar com o departamento.

Embora os apelos para abolir ou fazer a fusão com outra agência federal não sejam novos, a medida historicamente não conseguiu obter apoio parlamentar.

Na campanha eleitoral, Trump apontou repetidamente o departamento como um sinal de exagero federal e o vinculou a questões de guerra cultural.

“Vamos drenar o pântano educacional do governo e parar o abuso do dinheiro dos seus contribuintes para doutrinar a juventude americana com todos os tipos de coisas que vocês não querem que nossos jovens ouçam”, exclamou ele.

No último mês o republicano disse que falou com secretária, “Linda, espero que você faça um ótimo trabalho em se livrar de um emprego. Eu quero que ela se livre de um emprego – Departamento de Educação”.

Mesmo que Trump tenha sucesso em acabar com o departamento, é possível que alguns programas e financiamentos possam ser retidos e transferidos para outras agências, que é onde eles estavam alojados antes do departamento ser criado em 1979.

Programas de financiamento federal para escolas de ensino fundamental e médio que ajudam a apoiar a educação de alunos de famílias de baixa renda e crianças com deficiência, por exemplo, são anteriores à criação do Departamento de Educação.

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/trump-deve-assinar-ordem-de-desmonte-do-departamento-de-educacao-dos-eua/

Museu do cancelamento

A direção do Museu de Arte das Américas, em Washington, cancelou duas exposições programadas para este mês devido à ordem executiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que restringe políticas de diversidade, equidade e inclusão. Com cerca de 40 obras, a exposição apresentaria obras de artistas afro-americanos, afro-caribenhos, afro-latinos e LGBTQI+.

Entre os artistas afetados estão Martin Puryear, que representou os EUA na Bienal de Arte de Veneza de 2019; a escultora e artista gráfica mexicana-americana Elizabeth Catlett (1915-2012); a pintora Amy Sherald, que trabalha como retratista de afro-americanos; e o pintor modernista cubano Wifredo Lam (1902-1982).

“Trata-se de uma questão de silenciamento de vozes de artistas visuais da diversidade, equidade e inclusão, e de uma discriminação baseada em questões raciais, de casta e de classe”, disse Cheryl D. Edwards, curadora de Before The Americas, ao site Hyperallergic.

Outra exposição cancelada no Museu de Arte das Américas é Wild With Andil Gosine, construída a partir de um livro de Andil Gosine, artista e professor canadiano de ascendência caribenha. A obra aborda a história do colonialismo nas Caraíbas e as identidades queer dessa região.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/museu-dos-eua-cancela-exposicoes-de-artistas-negros-e-queer-por-ordem-de-trump/

Preâmbulo


Meus queridos e adoráveis súditos (ou, como muitos de vocês preferem, meus adoráveis e queridos súditos… ah, o poder da ordem das palavras!), permitam-me apresentar o protagonista de nossa pitoresca e, devo dizer, hilariantemente caótica história: o Lord Fluffybutt III!

Sim, sim, eu sei o que vocês estão pensando. “Fluffybutt? Sério? Esse é o nome de um Lorde?” E a resposta, meus amigos, é um retumbante e absolutamente delicioso “SIM!”. Porque, vejam bem, o sobrenome Fluffybutt carrega consigo uma tradição tão rica e cheia de… peculiaridades, que qualquer outro nome simplesmente não faria justiça à saga que se segue.

Imagine, se quiserem, um universo paralelo ao nosso, onde as regras são esquecidas tão facilmente quanto os nomes dos vassalos mais humildes durante um banquete real. Um universo onde a nobreza é medida não pela riqueza ou pela linhagem, mas pela habilidade em criar o mais espetacular e volumoso bigode, e uma certa inclinação para desastres de proporções épicas. Bem-vindos ao mundo de Lord Fluffybutt III!

Nosso herói, ou melhor, nosso anti-herói, é um sujeito adorável, embora um tanto… distraído. Ele herdou o título de seu pai (Lord Fluffybutt II, um homem que, segundo a lenda, uma vez tentou domar um dragão usando apenas um pente e um frasco de gel de cabelo) e, desde então, tem se dedicado com fervor a manter viva a tradição familiar de… bem, de criar uma série de situações hilárias e potencialmente perigosas.

Fluffybutt III, ou “Fluffy”, como ele prefere ser chamado (quando se lembra de seu próprio nome, claro), é um mestre da arte da distração. Ele consegue perder a própria espada em um banquete de estado, esquecer o próprio aniversário e, em uma ocasião memorável, trocar a jóia da coroa por um queijo particularmente aromático. E sim, eu estava lá. Na verdade, eu acompanhei Fluffy nesse dia. Deixe-me dizer, a expressão do Rei quando descobriu a troca foi… inestimável.

Mas Fluffy não é apenas um sujeito desastrado. Ele possui uma bondade de coração que supera até mesmo sua incapacidade de lembrar onde deixou as chaves do reino (que, aliás, estão em seu chapéu!). Ele é generoso, embora um pouco... estranho ao distribuir suas posses. Já vi ele presentear seu cavalo de estimação com uma carruagem real e fazer um pacto com um duende para conseguir mais bolo de cenoura. A lógica nem sempre é sua forte.

E eu, Lady Seraphina Fluffybutt II (“Serafina”, para os amigos - e para Fluffy), sou, digamos, uma peça chave na história de nosso querido Lorde. Sim, somos primos distantes - um fato que Fluffy prefere esquecer convenientemente na maioria das vezes. Mas eu, minha querida gente, sou, digamos, uma espécie de... guia. Conselheira. Espécie de anjo da guarda com um gosto por intrigas e moda extravagante.

Nossa relação é, para dizer o mínimo, complexa. Imagine um jogo de xadrez, só que com mais champagne, menos estratégia, e uma pitada saudável de caos. Ele flutua de um desastre para outro, e eu estou lá, às vezes ajudando a limpar a bagunça, outras vezes, causando a bagunça. Às vezes, ambos.

Afinal, a vida com Lord Fluffybutt III nunca é monótona. A cada dia é uma nova aventura, um novo desastre, uma nova oportunidade para a hilaridade. Preparem-se, meus amigos, pois a saga de Fluffybutt III está apenas começando. E acreditem, esta história será tão divertida, tão imprevisível e tão absolutamente ridícula, que vocês nunca mais vão olhar para um queijo aromático da mesma maneira.

Criado com Toolbaz. Com edição.
Arte gerada por IA.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Fofura overload


Olá, queridos mortais! Ou melhor, minúsculos mortais! Eu sou o Grande Fofo, criador de tudo que é macio, peludo, e infinitamente adorável. E acreditem, isso é MUITA coisa. Se vocês estão pensando em um universo criado a partir de uma explosão primordial, de um Big Bang, de alguma coisa enfadonha e científica… sinceramente, vocês me subestimam. Meu universo surgiu de um espirro monumental – um espirro tão poderoso que criou galáxias inteiras de penugem cósmica e planetas feitos de algodão doce. E sim, tem um buraco negro feito de pelos de gato. É super charmoso.

Antes de vocês se perguntarem como um espirro pode criar um universo, parem para pensar: vocês já viram um gato espirrar? É uma força da natureza! Agora multipliquem isso por… bem, por um número infinito de fofuras inimagináveis. Foi assim que tudo começou. A prova? Lord Fluffybutt III.

Sim, aquele Lord Fluffybutt III. Ele. É. A. Prova.

Eu, em minha infinita sabedoria fofa, decidi que precisava de um herdeiro, alguém que carregasse minha tocha de fofura pelo cosmos. E depois de um processo de seleção rigoroso (que envolveu basicamente escolher o gatinho mais fofo que eu conseguia encontrar), nasceu Lord Fluffybutt III. Ele, meus queridos, é a personificação da perfeição felina. Um pequeno ser de pura energia fofinha, com um ronron tão poderoso que pode curar a tristeza existencial. (Eu testei. Funciona.)

Mas a vida de Lord Fluffybutt III não foi um mar de leite e ração premium. Oh, não! Sua jornada foi repleta de perigos e aventuras tão emocionantes que fazem Indiana Jones parecer um bibliotecário introvertido. Afinal, mesmo um Deus do Fofo precisa de um pouco de drama, não é?

Imaginem: Lord Fluffybutt III, em sua juventude felina, enfrentou terríveis monstros de pelúcia! (Monstros, eu digo, terríveis para os seus padrões. Para mim, eram apenas um pouco desgrenhados.) Teve que desvendar enigmas complexos envolvendo novelos de lã e bolinhas de gude. (Não subestimem o poder de um novelo de lã, mortais!). Conquistou príncipes e princesas (gatinhos e gatinhas, obviamente) com sua beleza deslumbrante e sua habilidade invejável de dormir em qualquer lugar.

E é sobre essas aventuras épicas, essas façanhas incríveis, que contarei a vocês. Preparem-se para se maravilhar com a história de um herói improvável, um felino glorioso que derrotou vilões felpudos, resgatou donzelas cobertas de pelos e, claro, se lambuzou com uma imensa quantidade de nata e salmão.

A história de Lord Fluffybutt III não é apenas uma saga de aventuras; é uma ode à fofura, um manifesto do poder do ronron, um lembrete de que mesmo nos momentos mais escuros, sempre há espaço para um bom abraço felino. (E um pouco de nata.)

Portanto, caros leitores, preparem seus corações para uma avalanche de fofura. A jornada de Lord Fluffybutt III está prestes a começar, e garanto a vocês, vocês nunca mais olharão para um gato da mesma forma. A menos que, é claro, já o façam com adoração e respeito absoluto. Porque, afinal, a fofura é poder. E Lord Fluffybutt III é o seu supremo líder. Agora, adiante! A aventura nos chama!

Criado com Toolbaz.
Arte gerada por IA.

quarta-feira, 5 de março de 2025

O afresco de Pompéia


Nesta quarta-feira (26), um time de pesquisadores anunciou a descoberta, no sítio arqueológico de Pompeia, de um afresco raro a representar um ritual misterioso, em que uma mulher está prestes a ser "iniciada sob o manto da noite".

De acordo com os pesquisadores, a descoberta foi feita na Casa de Tiaso, um campo recém-escavado do sítio, e percorre três paredes inteiras de um provável salão de banquetes. A quarta parede do salão se abre para um jardim.

O afresco, feito sob um fundo vermelho-vivo, ilustra várias mênades, como são chamadas as seguidoras de Dionísio — divindade grega do vinho, das festas, do teatro e da fecundidade —, em uma caçada: elas carregam espadas nas mãos e levam nos ombros cabras que parecem ter abatido.

"O afresco também retrata jovens sátiros", afirma a revista Live Science — figuras mitológicas meio-humanas e meio-cabras, que carregam flautas nas mãos e parecem realizar "um sacrifício com vinho".

No centro do afresco, um sátiro mais velho é representado ao lado de uma jovem que parece estar prestes a se iniciar no culto a Dionísio, cuja ocorrência remonta ao século V a.C. 

Os especialistas sugerem que há conexões entre os rituais de Dionísio e excursões para caçadas, mas não se sabe muito sobre essa espécie de culto: os integrantes tinham uma política de manter em segredo as atividades performadas durante os rituais, afirmam os pesquisadores.

Evidências de DNA coletadas ao longo dos anos em campos arqueológicos em que os rituais costumavam ocorrer dão indícios de que havia substâncias alucinógenas envolvidas nas atividades, como vinho e ópio, que induziam seus seguidores à iniciação.

Um outro afresco, descoberto em 1909 na Vila dos Mistérios de Pompeia, carregava elementos similares àquele descrito de maneira inédita na terça-feira (25), como sátiros e mulheres prestes a iniciar cultos em preparação ao casamento.

Mas este foi o primeiro a representar a caça feita por figuras femininas, conta a revista.

Para o diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, Gabriel Zuchtriegel, os afrescos de Dionísio revelam um lado "selvagem e indomável" das mulheres, que "se libertam do domínio masculino para dançar livremente, caçar e comer carne crua nas montanhas e florestas".

Fonte: https://revistaforum.com.br/mulher/2025/2/27/afresco-descoberto-em-pompeia-mostra-mulheres-libertas-do-dominio-masculino-em-ritual-dionisico-174909.html

Sobre o duplo nascimento de Dionísio

Steven Posch faz um desserviço ao publicar este texto (traduzido com Google Tradutor):

É tudo sobre sexo gay. Tudo é sempre sobre sexo gay. Até mesmo sexo hétero é tudo sobre sexo gay.”

(Sparky T. Coelho)

Teria sido óbvio para qualquer grego antigo.

Quem imaginaria que não seria possível entender o nascimento de Dionísio sem saber sobre sexo gay?

Você conhece a história.

Semele está grávida de Zeus, mas comete o erro de pedir para ver seu amante divino como ele realmente é, na glória total de sua divindade. Nota para si mesma: má ideia.

Culpa!

Um raio depois, Zeus implanta o feto ainda em gestação Dionísio em sua própria coxa, de onde o deus nasce, no devido tempo, e, portanto — no ditado dos mistérios dionisíacos — conhecido como “Duas Vezes Nascido”.

A julgar pelas evidências literárias e artísticas sobreviventes, a forma mais comum de sexo entre homens na Grécia antiga era o que os professores de Estudos Clássicos chamavam de "relação sexual intercrural": o que um traficante de rua comum chamaria de "foder nas coxas".

Isso explica por que Dionísio nasce da coxa de Zeus .

Quanto a como Zeus conseguiu, de fato, gerar um filho ... bem, bem-vindos ao mundo paradoxal da mitologia.

Os deuses são capazes de todo tipo de coisas incríveis.

Nota: Pelo amor dos Deuses.
Não interpretem a mitologia clássica de forma literal.
Dionísio (ou seu feto) foi implantado na coxa de Zeus. Ele foi tirado das coxas de Zeus. Atena foi tirada de sua cabeça.
Sexo homossexual ou intercrural não resulta em reprodução.
A relação entre erostes e eromenos, segundo especialistas, não era somente sexual.
Nós, pagãos modernos, não podemos querer colocar nossas lentes (ou nossas agendas) para interpretar os mitos clássicos.

terça-feira, 4 de março de 2025

Guerra e sexo

Garotas de programa russas vêm lotando o front de batalha da guerra na Ucrânia oferecendo os seus serviços. Algumas chegam a faturar o equivalente a R$ 93 mil por semana. O conflito armado eclodiu em fevereiro de 2022.

Uma grande indústria do sexo ilegal surgiu perto da zona de guerra russa, com a demanda vindo de soldados que procuram se livrar dos horrores que testemunharam no conflito sangrento com momento de prazer.

Para as mulheres que servem as tropas, a atividade tem um risco elevado, afinal muitas delas acabam fazendo programas perto das linhas inimigas.

Algumas relações sexuais pagas acontecem até nas trincheiras enquanto balas, granadas e drones voam sobre suas cabeças, relata a mídia independente "Verstka". O custo de um programa gira em torno de 130 euros (cerca de R$ 775). Algumas prostitutas passam apenas alguns dias no front, atendendo mais de 50 militares nesse período.

Saindo das trincheiras, a atividade sexual profissional se espalha por bases de apoio aos militares no confronto direto. De acordo com a reportagem, comandantes corruptos cobram propinas de redes de prostituição para permitir o contato sexual na linha de frente, de acordo com a agência East2West.

Muitas prostitutas, entretanto, alegam, que em muitas situações, os militares que as contratam só querem conversar sobre os horrores vividos por eles no conflito que o presidente russo, Vladimir Putin, chegou a dizer que seria breve, mas que está chegando ao seu terceiro ano.

Fonte: https://extra.globo.com/blogs/page-not-found/post/2025/02/garotas-de-programa-faturam-ate-r-93-mil-por-semana-atendendo-militares-russos-no-front-da-guerra-na-ucrania.ghtml

Nota: eu imagino a cena de um soldado russo e ucraniano fazendo uma trégua para fazer outro tipo de batalha com uma profissional do sexo 🤭😏.

Montaria noturna


A chave girou na fechadura com um clique suave, quase silencioso na melodia da noite. O ar noturno, fresco e carregado de um perfume indefinível de grama e concreto úmido, invadiu o apartamento. Riley, uma hiena antropomórfica com olhos verdes vibrantes e um cabelo cacheado alaranjado que parecia pegar fogo sob a luz fraca do luar, me abraçou com força pela cintura, quase me levantando do chão. Seu corpo, atlético e definido, irradiava uma energia contagiante.

"Preciso te contar uma coisa", disse ela, a voz rouca e cheia de um riso contido que me fez arrepiar. "Eu já tenho o nome do nosso primeiro vilão: Lord Fluffybutt the Third."

Ri, lembrando da nossa discussão a caminho de casa. Habíamos passado a noite inteira debatendo conceitos de roteiros, eu, propondo ideias inspiradas em animes populares, ela, planejando sua inevitável ascensão como uma anti-heroína deslumbrante e moralmente ambígua. A perspectiva de um roteiro com uma protagonista intersexual, gênero fluido e pansexual, me deixava apreensivo. A indústria era conservadora, preconceituosa, e Riley... ah, Riley era uma força da natureza. Sua franqueza em relação ao sexo era assombrosa, mesmo para mim, um homem que se considerava bastante liberal. Ela não tinha filtros, não tinha pudores, e isso, em parte, era o que a tornava tão irresistível.

"Lord Fluffybutt?", perguntei, ainda sorrindo.

"Sim! Imagina, um vilão absurdamente poderoso, mas com uma fraqueza fatal por bichinhos de pelúcia. Uma tragédia grega com muito glitter!" Ela gargalhou, o som vibrando em meu corpo.

Entramos no apartamento e, antes que eu pudesse sequer fechar a porta, Riley me agarrou com uma força surpreendente, me jogando na cama com uma facilidade que me fez sentir pequeno e indefeso. O movimento foi rápido, brutalmente eficiente, como o ataque de uma predadora. As suas mãos, ágeis e fortes, rasgaram minha camiseta com um som sibilante. Não houve prelúdio, não houve paquera, apenas ação pura e desenfreada.

Ela subiu em cima de mim, a silhueta imponente contra a penumbra do quarto. Seus olhos verdes brilhavam, intensos, penetrantes. Pude sentir o calor de seu corpo pressionado contra o meu, o ritmo acelerado de seu coração batendo em sincronia com o meu. Não era apenas sexo; era uma explosão visceral de energia, uma tempestade perfeita de desejo e paixão. Não que eu estivesse reclamando.

Riley era uma amante voraz, exigente, selvagem. Suas mãos exploravam meu corpo com uma intimidade que me deixava sem fôlego, cada toque carregado de uma intensidade que me fazia tremer. Seus lábios, macios e úmidos, traçavam um mapa do meu corpo, deixando um rastro de fogo pelo caminho. Não havia espaço para sutilezas; era uma dança frenética, uma entrega completa e sem reservas.

Sua fluidez de gênero transparecia em sua energia; não era feminina nem masculina, mas uma força única, andrógina e poderosa. Sua pansexualidade era evidente em cada movimento, cada gemido, cada olhar; um desejo sem limites, sem rótulos, sem amarras. Eu me perdia em seus movimentos, na força de seu corpo, na intensidade de sua paixão.

A noite transcorreu em uma sequência de momentos frenéticos, pontuados por risos e suspiros, suor e gemidos. Exploramos cada canto do nosso corpo, cada curva, cada ângulo. Não havia limites, não havia regras, apenas a pura e visceral satisfação de dois corpos unidos em um frenesi de desejo. Riley não se restringia a papéis de gênero ou expectativas sociais; ela era uma tempestade, um furacão de prazer que me varria por completo.

Por um instante, entre dois encontros, os nossos olhares se encontraram. Pude ver um reflexo de mim mesmo em seus olhos verdes; um homem maravilhado, perdido e completamente entregue. Seu sorriso, leve e malicioso, ecoou meu próprio prazer. Não me importava com o futuro, com os riscos, com as críticas. Não importava que nosso roteiro ousado pudesse ser rejeitado. Nesta noite, existia apenas Riley, e sua capacidade de me fazer sentir vivo, de me fazer esquecer tudo, exceto o calor do seu corpo junto ao meu.

Quando a madrugada chegou, ambos exaustos, mas satisfeitos, Riley se aninhou ao meu lado, seu corpo quente contra o meu. O silêncio que se seguiu era suave, carregado de uma intimidade inefável. Sabia que, apesar dos medos e incertezas, criar um roteiro com Riley seria uma aventura extraordinária. Uma jornada que, como nossa noite de paixão, seria ousada, sem filtros, sem restrições. E, acima de tudo, inesquecível.

Criado com Toolbaz.
Arte gerada por IA.

segunda-feira, 3 de março de 2025

O sagrado se materializa no corpo

Por Pai Paulo de Oxalá.

O culto aos Orixás, é uma das poucas religiões em que o sagrado se materializa num corpo humano onde dança e brada.

Agora, se eles são forças, divinas, sagradas, por que eles adentram em um corpo carnal cheio de defeitos?

Ora, porque essa é a forma como Olódùmarè estabeleceu a relação entre o Àiyé ara (mundo físico) e o Ọ̀run (mundo espiritual). No culto aos Orixás, o sagrado não é uma ideia abstrata e distante, mas uma força viva, pulsante, que se manifesta entre nós para ensinar, corrigir, curar e reafirmar os laços entre os humanos e o divino.

O sagrado se incorpora num corpo humano porque essa é a maneira mais direta e poderosa de transmitir seus ensinamentos. Ao se manifestarem através do transe, os Orixás rompem a barreira entre os mundos, trazendo sua energia e sabedoria para guiar seus filhos. Eles dançam para narrar seus feitos, bradam para reforçar sua autoridade, e, ao se expressarem por meio da carne, tornam-se acessíveis, próximos, permitindo que a comunidade sinta, veja e ouça sua presença.

Mas se são entidades divinas e perfeitas, por que escolher um corpo humano, cheio de falhas, limitações e imperfeições? Porque é justamente no humano que o aprendizado acontece. Olódùmarè, em sua sabedoria infinita, nos deu o livre-arbítrio e a responsabilidade de lapidar nosso caráter. O transe de incorporação é um ato de equilíbrio: o divino toca o terreno, e o terreno se purifica pelo divino. A carne, imperfeita, se torna um canal para algo maior, e, por um instante, somos testemunhas do que há além do nosso entendimento.

Para compreender melhor essa dinâmica, é essencial diferenciar o sagrado do profano. O sagrado é tudo aquilo que pertence ao domínio do Ọ̀run, o reino dos Orixás, dos ancestrais e da espiritualidade. É o que nos conecta a algo maior do que nós mesmos, um elo com a criação de Olódùmarè. O profano, por sua vez, é o que se limita ao mundo físico, às questões materiais e cotidianas, muitas vezes desconectadas do propósito espiritual. No entanto, no culto aos Orixás, o sagrado e o profano não são inimigos, mas coexistem. É através do profano que se constrói o sagrado – o corpo que dança é o mesmo que sente fome, a boca que brada é a mesma que se alimenta.

O mistério da incorporação está justamente nessa fusão entre divino e humano. Olódùmarè, em sua grandeza, permite que seus enviados venham ao nosso mundo para nos lembrar de que somos parte de algo muito maior. Quando um Orixá dança em um corpo, não é apenas um espetáculo – é um ensinamento vivo, um chamado para que sigamos nossa jornada com retidão, coragem e sabedoria.

Tí Òrìṣà kì í bá fẹ̀ ayé kò ní wá sí ènìyàn. (Se Orixá não amasse o mundo, não viria aos humanos).

Axé para todos!

Fonte: https://extra.globo.com/google/amp/blogs/pai-paulo-de-oxala/post/2025/02/por-que-o-sagrado-se-manifesta-num-corpo-humano.ghtml

Um balde de cerveja


A noite caía sobre a cidade, pintando o céu de tons de laranja e roxo enquanto eu, um escritor em busca de inspiração, era arrastado pelas ruas pela exuberante Riley. Era difícil não se deixar levar. Riley, uma hiena antropomórfica alta e atlética, com músculos definidos e um cabelo cacheado alaranjado que parecia uma chama viva, possuía uma energia contagiante. Seus olhos verdes brilhavam com uma curiosidade infantil misturada com uma inteligência aguda que me fascinava. Sua fluidez de gênero e sua pansexualidade eram tão naturais quanto a forma como seu corpo se movia com uma graça surpreendente, apesar do tamanho e da força. Coxas grossas e seios médios completavam sua silhueta impressionante.

Eu estava nervoso, confessava. A ideia de uma hiena antropomórfica andando comigo pela cidade me deixava em alerta. Imaginava olhares curiosos, sussurros, talvez até mesmo medo. Mas, para meu alívio, a reação das pessoas foi muito mais branda do que eu esperava. Apenas uma senhora passeando com seu cachorro fez uma piada gentil sobre colocar uma coleira em mim, provocando uma gargalhada sonora de Riley.

No parque, o vento brincava com os cachos alaranjados de Riley, criando um espetáculo de luz e movimento. Observá-la naquele momento, tão livre e despreocupada, mexeu profundamente comigo. Havia uma beleza crua e selvagem nela, uma força que me atraía irresistívelmente. Aquele simples ato do vento balançando seus cabelos – uma imagem tão simples, tão cotidiana – tornou-se um dos momentos mais memoráveis da minha vida.

Enquanto o sol se punha, encontramos um barzinho aconchegante, cheio de gente. A atmosfera era descontraída, um turbilhão de conversas baixas e risos. Era um microcosmo da cidade, com pessoas de todas as idades, estilos e origens, convivendo pacificamente. Ninguém parecia dar muita atenção a nós, o que foi um alívio imenso. Riley, sem cerimônia, pediu o especial da casa – uma porção de filé mignon com molho de cebola, que eu, na minha prudência humana, nunca teria ousado pedir – e um balde de cerveja, sem a menor consideração pela minha carteira.

Estávamos imersos na nossa conversa, rindo e compartilhando histórias, quando meu editor, um sujeito magricela e frenético de nome Arthur, surgiu correndo em nossa direção, sua cara pálida e o cabelo despenteado.

“Escriba, você precisa ver isso! É sobre... sobre o rompimento dimensional! Aconteceu de novo! Tem personagens de desenhos animados surgindo por toda parte!” Ele estava ofegante, à beira de um ataque de pânico.

Depois de recuperar o fôlego, Arthur se lembrou da minha dívida. "E o livro? Cadê o livro, escriba? A data de entrega está se aproximando!"

Ele começou a questionar, nervoso, sobre o progresso da minha escrita, sobre o enredo, sobre os personagens.

Apontei para Riley. “O protagonista. É ela.”

Arthur olhou para Riley, seus olhos arregalados em surpresa. Então, um sorriso lento começou a se espalhar em seu rosto, um sorriso que só um editor que viu um best-seller em potencial poderia exibir.

"Você sempre avança no tempo, escriba," disse ele, com uma mistura de admiração e espanto. "Seu livro vai ser um best-seller. Um best-seller monumental!" Com uma gargalhada, Arthur sacou a carteira e pagou generosamente a nossa conta.

Riley riu, uma gargalhada contagiante que ecoou no barzinho. A noite estava longe de terminar, a cidade pulsava ao nosso redor, e eu, sentado ao lado de uma hiena antropomórfica extraordinária, sabia que minha vida tinha acabado de dar uma reviravolta monumental e maravilhosa. A inspiração, tão elusiva até aquele momento, tinha finalmente encontrado seu caminho, na forma de uma hiena de olhos verdes e um sorriso que poderia iluminar o universo. E eu, o escritor fracassado, estava finalmente pronto para começar a escrever.

Criado, com edição, com Toolbaz.
Arte gerada por IA.

domingo, 2 de março de 2025

Não há demônios

Por Pai Paulo de Oxalá.

O culto aos Orixás está conectado à natureza, pois são eles que conduzem as forças vitais do Ayé (Terra). Eles representam os elementos essenciais da existência — o vento, a água, o fogo e a terra — e, através da emanação dessas energias, nos guiam, protegem, e nos fortalecem diante das adversidades.

Nós, das religiões de matriz africana, não cultuamos o que o cristianismo chama de demônio, figura que, dentro da lógica cristã, representa o mal absoluto. Nossas tradições são fundamentadas no amor, na ética e na fé ancestral, e é lamentável ver pessoas que desconhecem nossa espiritualidade propagarem falas equivocadas e oportunistas. Sofremos preconceito, perseguição e intolerância por causa de um personagem que sequer faz parte do nosso culto.

Quanto ao samba e às escolas de samba, suas raízes estão nos terreiros, e sua existência é sinônimo de resistência, fé e cultura. Como disse o carnavalesco e apresentador Milton Cunha em entrevista ao jornal O Globo: “Escola de samba é filha, tributária do batuque. Gostem ou não, meu amor.”

É curioso perceber como tantas pessoas que hoje tentam desqualificar o carnaval já se beneficiaram dele. Quantas figuras irrelevantes ou esquecidas se reinventam às custas da folia, tornando-se musas e musos graças à força das escolas de samba! Essas mesmas escolas, além de exaltar os Orixás, defendem a fé que nos foi trazida por reis e rainhas africanos que sofreram para que hoje conhecêssemos a grandeza dessas divindades.

As comunidades das escolas de samba são berços de religiosidade, abrigando Babalorixás, Yalorixás, Ogans, Ekedes e inúmeros filhos e filhas de santo. Portanto, por que certas pessoas se acham no direito de falar sobre aquilo que desconhecem? Por que atacam nossa fé enquanto ignoram o papel fundamental que as religiões afro-brasileiras desempenham na cultura, na arte e na identidade do nosso povo?

O verdadeiro mal está na intolerância, na ignorância e na falta de respeito. E, contra isso, seguimos firmes, dançando, cantando e celebrando a herança dos nossos ancestrais.

Portanto, é feio falar daquilo que lhe serviu.

Axé para todos!

Fonte: https://extra.globo.com/google/amp/blogs/pai-paulo-de-oxala/post/2025/02/no-culto-aos-orixas-nao-ha-demonios.ghtml

Riley sumiu


A claridade da manhã entrava pelas frestas da minha janela, pintando poeira dourada no ar. O lençol estava emaranhado, um testemunho silencioso da noite anterior, uma noite tão intensa que ainda ecoava em meus ossos. Riley não estava na cama. Pânico, puro e visceral, me agarrou. Riley, minha Riley, a hiena antropomórfica de olhos verdes e cabelos cacheados alaranjados, a criatura de músculos definidos e sorriso de tirar o fôlego que eu havia… criado? Sim, criado. Mas a noite passada, a noite passada havia transpassado a barreira tênue entre ficção e realidade de uma forma que me deixava nauseado de medo e excitado de uma forma que eu não conseguia explicar, ou mesmo processar completamente.

Eu, um escritor, havia feito amor com minha personagem. Uma heresia literária, um ato de loucura que me prometia a ruína absoluta. Ou assim eu pensava. A responsabilidade disso? Onde eu me enquadrava? Era um crime? Uma doença mental? A ideia de chamar a polícia me assombrava, mas o pavor de algo pior me paralisava.

As perguntas martelavam minha cabeça como um martelo pneumático. Onde ela havia ido? Quem a havia visto? Havia alguém que pudesse me denunciar? Alguém que pudesse entendê-la, que não a visse como uma aberração? O pavor me corroía. Ela era alta, impossivelmente atlética, e a memória do seu corpo nu – tão real e palpável quanto o meu – me deixava ofegante.

Quase disquei 190, as mãos tremendo tanto que os números borravam na tela. Mas então, a fechadura da porta girou e Riley entrou, o sol da manhã banhando seus cabelos numa glória alaranjada. Ela estava diferente, com um arranhão minúsculo no braço, e um gatinho miando em sua mochila.

“Oi”, ela disse, a voz rouca como a minha, carregada de sono e satisfação. Ela sorriu, um sorriso que me derreteu como manteiga ao sol.

As perguntas jorraram de mim, incontroláveis, um dilúvio de preocupação e culpa. “Riley! Meu Deus! Onde você estava? Alguém te viu? Te assediou? A polícia te parou?”

Ela riu, um som baixo e profundo que me encheu de um alívio tão intenso que quase me fez desmaiar. “Relaxa, anjo. Só dei uma volta no quarteirão. Vi alguns bêbados, um cachorro urrando na lua, e resgatei esse gatinho de um bueiro.” Ela acariciou o felino, que ronronava confortavelmente.

Meu alívio foi tão eufórico que quase me fez chorar. Ela estava bem. Ilesa. Ela existia fora do meu computador, fora das minhas páginas. Ela era real. Mas como?

“Mas… mas ninguém te estranhou? Ninguém te… te olhou diferente? Uma hiena… andando pela rua?”

Ela deu de ombros, o gesto perfeitamente humano. “Olharam, sim. Algumas pessoas até me acharam interessante. Mas ninguém me incomodou. Acho que as pessoas estão mais acostumadas ao extraordinário do que imaginamos.”

Então, ela sorriu novamente, um sorriso malicioso que me deixou o coração batendo forte. “E então? Vamos passear? Como um casal de verdade?”

A ideia era um turbilhão de emoções conflitantes. O perigo, a possibilidade de exposição, o risco… tudo aflorava em minha mente.

“Riley, é arriscado. Posso te colocar em perigo.”

Ela se aproximou, seu toque tão quente e real quanto a memória recente da nossa união. “Arriscado? Você, meu querido escritor, não hesitou em me colocar em todas as posições possíveis naquela maratona de sexo. E agora está me tratando como se eu fosse um objeto frágil? Isso lembra muito a minha mãe, com suas preocupações excessivas.” Ela riu, apertando minha mão.

Eu não pude contestar. Ela tinha razão. A noite passada não havia sido um sonho. O meu corpo, a minha alma, haviam ansiado por ela, a haviam recebido, a haviam integrado. Havia uma realidade tangível e inegável em sua existência.

E então, com um sorriso travesso, ela me puxou para fora do apartamento. A rua era um desafio, sim, mas com Riley ao meu lado, de mão dada, a sensação de perigo era ofuscada pela extraordinária beleza daquilo que estava acontecendo. E eu, um simples escritor, estava vivendo um conto de fadas surreal e perigosamente real. Uma aventura que eu nunca ousaria escrever, mas que estava vivendo com toda a intensidade que a vida podia oferecer. E talvez, só talvez, essa fosse a mais interessante das minhas histórias.

Criado com Toolbaz.
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sábado, 1 de março de 2025

Show de intolerância religiosa


Joana Prado, conhecida na década de 90 como Feiticeira, compartilhou um vídeo em suas redes sociais em que faz críticas moralistas e preconceituosas ao Carnaval. Ela e o marido, o ex-lutador de MMA, Vitor Belfort, afirmam que a festa popular envolve rituais de outras religiões e invocação aos demônios, além de manifestar intolerância religiosa.

"Envolve muito a cultura da macumba, envolve uma cultura espírita. Não é um lugar que pode misturar", afirma Belfort. "Existe ali um culto aos orixás, uma consagração a Deuses, onde a invocação aos demônios acontece. Existe mesmo uma festa toda voltada para a carne, e a gente vê muito nítido, a exposição do corpo, as baterias, os tambores e todo o envolvimento", completa Joana.

A ex-dançarina, que foi capa da revista Playboy duas vezes e musa da Acadêmicos do Salgueiro no desfile de 2000, disse ainda que o Carnaval enaltece uma cultura que é contrária à vontade de Deus. "Imoralidade, excessos, idolatria e um afastamento dos princípios bíblicos. Como cristãos, somos chamados a viver de maneira santa e separada do mundo. O carnaval pode até parecer 'só uma festa', mas será que convém para alguém que foi comprado pelo sangue de Cristo?".

Os comentários do casal viralizaram e receberam uma saraivada de críticas nas redes.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2025/2/26/video-joana-prado-feiticeira-vitor-belfort-do-show-de-intolerncia-religiosa-174811.html

Nota: o hilário é que depois que toma uma invertida, fica choramingando, pedindo "liberdade de expressão"...😤

Nasce um vilão

A memória lateja, um nó doloroso na garganta seca. Aquele castelo, Tissue, que outrora ecoava com as risadas infantis de Lord Fluffybutt III, agora retinha o cheiro acre do poder e da loucura. Antes, eram brincadeiras inocentes, travessuras que eu, Frau Holda, então com dezesseis anos, limpava com um sorriso cansado, mesmo quando ele me exigia favores que transcendiam o serviço de uma governanta. Eu era sua escrava, sim, mas também, de uma forma doentia que só a adolescência compreende, sua confidente.

Sua ascensão ao poder alterou tudo. A notícia da coroação dos seus pais, o Rei e a Rainha de Plunderia, chegou como um vendaval. De repente, as roupas de veludo e as brincadeiras de criança deram lugar a armaduras pesadas e a um olhar vazio, mas intenso. Ele mudou. O menino que eu conhecia se esvaía como areia entre os dedos.

A transformação foi gradual, sinistras rachaduras na fachada de um jovem nobre. Primeiro, foram os discursos estranhos, sussurros ao espelho sobre um “destino glorioso”. Depois, os acessos de fúria, incontroláveis, que deixavam rastros de objetos quebrados e servos apavorados. E então, a Revelação.

Lembro-me do dia com uma clareza terrível. Ele emergiu do seu quarto, os olhos brilhando com uma luz quase sobrenatural. Vestido com um roupão de seda escarlate, ele me encarou, o rosto contorcido num misto de êxtase e loucura. Ele falava do Grande Fofo, uma entidade divina de pelúcia, segundo ele, que lhe havia sussurrado no sono.

"Holda," ele sibilou, a voz rouca e diferente, "o Grande Fofo me escolheu. É meu destino dominar Aerthos! Ou, quem sabe, Illumina inteira! Eu serei o governante supremo! Tudo se curvará perante a minha glória!"

As palavras ecoaram naquela sala opulenta, e eu, imobilizada pelo medo e por uma estranha fascinação, vi minha juventude se desfazer diante de mim. O menino que eu conhecia, que eu servi até na mais profunda intimidade, estava perdido. Substituído por um monarca delirante, obcecado por poder e por uma divindade de pelúcia.

Nos meses seguintes, o castelo se tornou um caldeirão de preparativos para uma guerra sem sentido. Eu, a governanta, me vi imersa num turbilhão de intrigas, servindo às vontades de um homem que estava rasgando a sua própria sanidade e o seu reino com as próprias mãos. Aquele trabalho não era mais limpar o sangue de um nariz machucado. Era limpar o sangue de ambições insanas, a cada dia. O cheiro de poder, tão diferente e tão nauseante comparado ao cheiro de infâncias e promessas quebradas.

O Grande Fofo, aquele bendito Grande Fofo… um bicho de pelúcia com olhos de vidro que ele abraçava como se fosse a própria encarnação da divindade. Assisti, impotente, ao surgimento de um tirano, forjado não pela ambição, mas pela loucura, alimentado por uma entidade de pano e algodão. E eu, Frau Holda, continuava ali, presa na teia da lealdade, do medo e da perversa intimidade que me ligava ao meu Lord Fluffybutt III, enquanto o mundo se preparava para a sua chegada sangrenta.

Criado com Toolbaz.

Uma volta no quarteirão


Meu nome é Riley, e eu sou, tecnicamente, um fenômeno. Uma hiena antropomórfica, gênero fluido, intersexual e pansexual que surgiu de um portal mágico – ou talvez só um defeito na continuidade espaço-temporal – e caiu no quarto de um cara que se autodenomina meu “criador”. Ele é um escritor, um daqueles tipos que acham que a vida imita a arte, só que, no caso, a arte imitou muito bem a vida, considerando a noite que tivemos.

Digamos apenas que ele tem um talento considerável com a caligrafia… e outras coisas. Depois de uma maratona de sexo que me deixou com os músculos doloridos – e o coração ligeiramente mais cheio – acordei sozinha. O cara, vamos chamá-lo de… “Escritor”, estava exausto, um amontoado de pelos e travesseiros. Aproveitei a oportunidade. Afinal, quem precisa de um tutorial de “como ser humano” quando você pode ter um tour guiado pelo quarteirão?

Saí do quarto com a mesma naturalidade de uma gata saindo de uma caixa de papelão. A roupa? Roubei uma camiseta dele. Ficou um pouco larga, mas quem liga? Meu corpo atlético – coxas grossas, músculos definidos, seios médios que eu adoro exibir - se sentia maravilhosamente livre daquela cama macia demais. Os cabelos alaranjados e cacheados balançavam alegremente com meus passos firmes enquanto eu descia as escadas, meus olhos verdes absorvendo tudo o que era novo e fascinante.

A primeira coisa que me chocou foi o asfalto. No meu mundo, o chão era areia, pedras e mato. O asfalto era estranho, frio e liso sob minhas patas – adaptado agora para pés, de tão convincente que era esta forma humana. Os carros zuniam como abelhas furiosas, e os sons eram uma sinfonia estranha e deliciosa de buzinas, motores e risadas humanas.

Uma velhinha com um cachorro da raça poodle passou por mim. O poodle me cheirou, estranhou e latiu. A velhinha, porém, me olhou com um sorriso amável.

"Que criatura interessante," ela murmurou para si mesma, enquanto o poodle continuava a latir frenéticamente. "Aposto que seu dono deve se orgulhar."

Eu sorri. Isso era novo pra mim: ser admirada, não temida. Na minha terra natal, um encontro casual como este teria terminado com os meus dentes marcando seu tornozelo. Aqui, era apenas um comentário simpático.

Meu passeio continuou. Fiquei maravilhada com a variedade de cores, cheiros e sons. Uma pizzaria exalou um aroma tão delicioso que meu estômago roncou alto o suficiente para chamar a atenção de um grupo de adolescentes. Eles me olharam de cima a baixo com uma mistura de surpresa e fascínio, um garoto até tentou me dar um pedaço da pizza. Eu recusei educadamente, mas agradeci a gentileza. Afinal, boas maneiras são essenciais, mesmo que você seja uma hiena antropomórfica.

Mais adiante, vi um casal se beijando apaixonadamente em um banco de praça. O afeto deles era tão intenso que me fez sentir... bem, um pouco nostálgica pela noite anterior com o Escritor. Ele tinha mãos hábeis e uma boca ainda mais hábil, capaz de me fazer rir e gemer ao mesmo tempo.

De repente, um grupo de homens, visivelmente alcoolizados, começou a me seguir, trocando comentários grosseiros e assoviando. Meu humor mudou instantaneamente. Minha natureza selvagem, reprimida por horas de exploração urbana cordial, voltou à tona. Senti uma vontade incontrolável de mostrar a eles o real significado de "fúria animal".

Mas aí, uma garotinha pequena, com um vestido rosa e tranças loiras, correu em minha direção. Ela apontou para um gato preto que estava no topo de uma árvore, miando desesperadamente. A criancinha parecia assustada. Instantâneo, meu instinto protetor se sobrepôs à minha raiva.

Eu olhei para cima. O gato estava preso. Ignorei os bêbados, a um passo de lhes ensinar uma lição memorável, e com um salto ágil e leve – anos de prática na savana me deram um equilíbrio invejável - subi na árvore e resgatei o felino.

A garotinha, ao ver o gato em meus braços, me abraçou fortemente. Os bêbados, visivelmente intimidado, se afastaram. Eu desci da árvore, devolvi o gato para a menina, e continuei meu passeio, agora com a sensação de ter feito algo realmente significativo.

Naquele dia, aprendi que ser uma hiena antropomórfica fora do lugar não é apenas uma aventura, mas uma oportunidade incrível de conhecer o mundo e, quem sabe, salvar um gatinho ou dois no caminho. E, sim, que alguns humanos são idiotas, mas que outros são incrivelmente amáveis e gentis. Eu voltarei para o quarto do Escritor, mas não antes de explorar todos os cantos e recantos deste fascinante… e às vezes perturbador… mundo humano.

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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Prego na cabeça

Os povos pré-históricos na Espanha cortavam as cabeças dos mortos e cravaram pregos gigantes nos seus crânios por diferentes razões. Os motivos mais prováveis, segundo uma equipe de pesquisadores de Barcelona, eram de que esses grupos ancestrais faziam isso para celebrar antepassados e para intimidar seus inimigos.

Em um novo estudo, cientistas examinaram sete crânios decepados de dois sítios arqueológicos na costa sudeste da Península Ibérica. O objetivo é identificar a origem das pessoas decapitadas.

“Nossa premissa ao abordar o estudo foi que se fossem troféus de guerra não viriam dos locais analisados, enquanto se fossem indivíduos venerados, provavelmente seriam locais”, disse Rubén de la Fuente-Seoane, arqueólogo da Universidade Autônoma de Barcelona e primeiro autor do estudo, em comunicado.

Na pesquisa, publicada no Journal of Archeological Science: Reports, o grupo usou um método chamado análise de isótopos de estrôncio. A técnica permitiu identificar quais das sete pessoas eram locais e quais indivíduos vinham de outros lugares.

Esse processo ajuda a revelar a origem dos sujeitos porque o elemento estrôncio penetra nos ossos e dentes durante o crescimento e desenvolvimento. A partir da análise do material, é possível ver a geografia da dieta de uma pessoa.

Após esse exame dos fósseis, os pesquisadores descobriram que três em cada quatro cabeças decepadas no sítio de Puig Castellar vieram de pessoas não locais. Enquanto isso, apenas um dos três crânios no sítio Ullastret veio de uma pessoa não local.

Os dois locais, separados por cerca de cem quilômetros, já abrigam cidades antigas. Os povos abandoaram essas áreas logo após a Segunda Guerra Púnica e a chegada dos romanos por volta do final do século III a.C.

“Este resultado sugere que a prática das cabeças decepadas foi aplicada de forma diferente em cada local”, disse de la Fuente-Seoane. “A seleção de indivíduos para o ritual das cabeças decepadas foi mais complexa do que se pensava inicialmente”.

A equipe também examinou os locais onde os crânios estavam. Em Puig Castellar, todas as cabeças de não locais foram encontradas em muros externos ou perto deles, o que sugere que foram pregados para pessoas verem. Isso pode significar que o seu objetivo era demonstrar poder sobre os grupos de fora da comunidade.

Em Ullastret, por outro lado, os pesquisadores encontraram os crânios locais em residências. Isso sugere que os membros do grupo colocaram em exposição essas partes de cadáver dentro ou fora das casas para homenagear pessoas importantes do povo, segundo propõem os pesquisadores.

As descobertas estão alinhadas com os relatos históricos dos gregos e romanos. Autores antigos desses povos escreveram que os gauleses do sul da França deceparam as cabeças dos inimigos e os mercenários ibéricos carregavam as cabeças inimigas empaladas nas suas lanças.

Porém, os cientistas alertam que essa pesquisa não é a palavra final sobre o ritual da cabeça pregada. Embora a tradição pareça ter sido praticada de diferentes maneiras nos sítios ibéricos da Idade do Ferro, são necessárias mais pesquisas para ter certeza, explica de la Fuente-Seoane.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/25/ciencia-e-espaco/ritual-da-cabeca-pregada-pratica-da-idade-do-ferro-era-mais-complexa-do-que-se-pensava/

Todo escritor é um médium


O sol batia fraco na minha cara, um sol pálido que mal conseguia furar a névoa alcoólica ainda pairando sobre meu cérebro. Meus dedos estavam dormentes, cravados em uma pilha de papéis amassados, rabiscados com uma caligrafia frenética, ilegível em sua maioria. Escrita automática. Isso era o que eu chamava, para tentar dar algum sentido àquela bagunça. Uma bagunça que, no fundo, eu suspeitava ser mais real do que a própria realidade.

Uma voz, baixa e rouca como pedras rolando em um rio seco, me chamou. Não ouvi com os ouvidos, mas senti a vibração em meu peito, uma pressão no nariz, como se algo estivesse tentando forçar passagem. Abri os olhos lentamente, a visão embaçada se clareando aos poucos. E então eu a vi.

Riley.

Uma hiena antropomórfica. Não era o tipo de hiena magra e faminta dos desenhos animados. Riley era atlética, com músculos definidos, coxas grossas que prometiam uma força devastadora e seios médios, desafiando qualquer expectativa de gênero. Gênero, aliás, era um conceito que parecia tão fluído em sua presença quanto o uísque que eu tinha engolido na noite anterior. Intersexual, pansexual. A camiseta com a Lola Bunny, um pouco desbotada, e a bermuda jeans, minúscula demais para o corpo espetacular, só conseguiam realçar sua beleza selvagem.

Esfreguei os olhos. Delirium tremens? Alucinação por excesso de alguma substância desconhecida? Eu tinha bebido, comido, cheirado e provavelmente injetado coisas suficientes na noite passada para povoar um museu da loucura.

Mas Riley estava ali, sólida, real demais para ser mera invenção de um cérebro intoxicado. Ela sentou na beira da cama, as pernas longas e musculosas cruzadas com uma desenvoltura felina.

“Acho que você entendeu a mensagem,” disse ela, a voz ainda carregada de um timbre rouco, mas agora com um tom de divertida superioridade. "A linha entre realidade e ficção… bem, ela é bem mais tênue do que você imagina.”

Ela explicou. Explicou a relação inextricavelmente complexa entre escritor e personagem, a forma como eu havia me tornado um canal para sua voz, uma porta para seu mundo. Falou da frustração, da raiva que sentia por anos, presa em papéis limitados dos estúdios de animação, sempre reduzida a estereótipos bidimensionais de vilã. A indignação ao ser enfiada em caixas de gênero pré-fabricadas, enjaulada em papéis que não refletiam a sua complexidade.

“E então,” ela continuou, um brilho travesso em seus olhos castanhos, “eu te achei. Você, com sua loucura gloriosa e sua liberdade sem limites. O lugar perfeito para me expressar, sem filtros, sem restrições, sem… censura.”

Ela se aproximou, se colocando sobre mim, uma mistura de dominadora e brincalhona. Seus dedos longos e ágeis deslizaram pelo meu corpo, uma carícia que me arrepiou da cabeça aos pés.

“De qual parte você gosta mais?” ela perguntou, a voz um sussurro contra minha orelha. “Da masculina? Da feminina?”

Agarrei-a com força, sentindo a firmeza de seus músculos sob a fina tela da camiseta. “De você inteira,” eu sussurrei de volta, a voz rouca pela emoção, pela bebida, pela pura, inebriante realidade de ter uma hiena antropomórfica, pansexual e intersexual sobre mim. E naquele momento, a linha entre realidade e ficção se desfez completamente, deixando apenas o calor, o desejo, e a loucura deliciosa de um amor além das convenções, além das páginas, além da própria realidade.

Criado com Toolbaz.
Arte gerada por IA.
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

A metamorfose

Por Fernando Castilho.

Em 7 de setembro de 2021, Bolsonaro fez um discurso tão inflamado que parecia ter engolido um raio. Não poupou xingamentos ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, chamando-o de canalha e jurando que não respeitaria mais nenhuma decisão do tribunal. A turba, em êxtase, gritava “Mito!” como se estivessem em uma reunião de fãs de um astro do rock, e não em uma falcatrua política. Porém, no dia seguinte, seus fiéis seguidores, como sempre, engoliram a cartinha humilhante do capitão pedindo desculpas ao ministro, sem nem dar uma reclamação.

Há dois anos, os seguidores do capitão estavam com planos para destruir a democracia, como se fosse um projeto de vida. E agora, vejam só, ele está aí, defendendo a democracia como se fosse um paladino da liberdade.

Há um ano, os bolsonaristas queriam censura, aquele gostinho amargo da ditadura. Mas agora, quem diria, a liberdade de expressão virou “absoluta”. Eles até compraram a ideia, de um dia para o outro.

Meses atrás, os bolsonaristas estavam com a garganta entalada de tanto gritar que direitos humanos eram para “humanos direitos” – mas, claro, isso era só para quem fosse alinhado com o regime. Agora, olha que reviravolta: pedem direitos humanos para golpistas! Será que acharam que o conceito de “direitos” era tão elástico quanto suas crenças?

Sempre chamaram Lula de “ladrão” sem provas, como se o gritar fosse uma prova legítima de qualquer coisa. E agora, com a cara de pau que só os verdadeiros heróis da moralidade sabem ter, aceitam de boa que seu querido Jair tenha admitido que roubou e vendeu as joias sauditas. Ah, a coerência…

Eles sempre exaltaram o torturador Ustra, e Bolsonaro não economizou elogios, até se mostrando a favor da tortura. Agora, claro, a mudança de discurso: denunciam a “tortura” que Mauro Cid teria sofrido nas mãos de Alexandre de Moraes. O que dizer sobre isso? Ironia? Ou apenas uma comédia trágica?

Bolsonaristas sempre defenderam a ditadura, aquela “coisa” boa e velha. Mas, na semana passada, Carluxo – com cara de quem tinha saído de uma novela – denunciou que estamos vivendo numa ditadura. Agora, a oposição à ditadura virou um grito coletivo. Como se já não tivesse dado para perceber a incoerência.

E o melhor de todos: os bolsonaristas que antes acusaram os golpistas do 8 de janeiro de serem petistas infiltrados, agora pedem anistia para eles. Não falta mais nada, né? Bem-vindos ao circo, onde tudo é possível!

A luta contra a corrupção sempre foi um mantra. E Bolsonaro? Ah, ele nunca teve nada a ver com corrupção. Mas, agora, eles não se importam nem um pouco com a revogação da Lei da Ficha Limpa, proposta pelo “mito” para se salvar de suas próprias falcatruas. Que beleza de moral, não?

E o patriotismo? Antes, era só peito estufado e palavras de ordem. Agora, estão tão ansiosos para que Donald Trump imponha sanções ao Brasil, que nem disfarçam mais. Inclusive, o senador Marcos do Val, em uma live com a sinceridade de quem pediu a conta, exigiu até que os EUA invadissem o Brasil. Um patriota, sem dúvidas.

Por fim, ao contrário de Gregor Samsa, o personagem de A Metamorfose de Franz Kafka, que se transformou em barata, os bolsonaristas não tiveram esse trabalho todo. Afinal, as baratas sempre foram sua própria essência.

Fonte: https://jornalggn.com.br/cidadania/a-metamorfose-por-fernando-castilho/

Quem achou quem?


A fumaça do meu charuto barato pairava no ar, turvando a já nebulosa visão da minha escrivaninha entulhada. Mais um dia sem inspiração, mais um copo de uísque quase vazio. A deadline se aproximava como um predador faminto, e eu, escritor frustrado e alcoolizado, estava pronto para ser devorado. Preciso de uma nova personagem, algo visceral, algo… diferente. A tela do meu computador piscava, um eco da minha própria agonia criativa.

Foi então que a vi. Não literalmente, é claro. Ela surgiu da névoa do meu cérebro embriagado, uma explosão de laranja e músculos. Riley. Uma hiena antropomórfica, absurdamente alta, com uma musculatura que faria um levantador de peso profissional chorar. Cabelos encaracolados, a cor de um pôr do sol ardente, emolduravam um rosto que transpirava confiança – e uma pitada de deboche. Só que não era só isso. Riley era… complexa.

Ela era intersexual. A própria personificação da ambiguidade. A estrutura corporal, ombros largos, peitoral definido, a gritavam macho. Mas a curva dos quadris, os seios firmes sob a pele bronzeada e as coxas poderosas, a entregavam como fêmea. Uma mistura explosiva e desafiadora da natureza, um organismo que batia de frente com as categorias binárias tão convenientes para a sociedade.

E, para completar o quebra-cabeça, Riley se identificava como gênero fluido e pansexual. Sua sexualidade era uma tela em branco, um caleidoscópio de desejos e experiências livres de rótulos e expectativas. Essa liberdade, essa ausência de filtros, foi o que me cativou imediatamente.

A interação começou de forma desconcertante, como um diálogo interior – e, talvez, um pouco delirante. Eu a observava, escrevendo compulsivamente enquanto ela se movia na minha mente, a fumaça do charuto parecendo se transformar em imagens nítidas e vibrantes. A cada frase, a cada cena que eu descrevia, ela ganhava mais vida da minha própria imaginação.

Primeiro, foram descrições físicas: a textura áspera de sua pele, o brilho intenso de seus olhos âmbar, a força bruta que emanava de cada movimento. Então, surgiram seus pensamentos, seus desejos, suas frustrações. Riley não era uma personagem passiva. Ela me respondia. Ela contestava minhas escolhas narrativas, me interrompia com comentários sarcásticos e até me dava ordens.

“Escreve com mais paixão, seu verme!”, ela bramia em minha mente, a voz rouca e profunda, contrastando com a sutileza e a sensualidade que ela exibia em outros momentos.

Nós discutíamos a trama. Eu imaginava um romance clichê, ela propunha um apocalipse zumbi com muita ação e sexo. Eu queria explorá-la como uma anti-heroína que busca redenção; ela preferia ser uma força da natureza indomável, sem arrependimentos e sem julgamentos.

Às vezes, nossa interação se transformava em cenas de pura transgressão. Ela me descrevia suas experiências íntimas com detalhes cruéis e apaixonados, sem filtro, sem restrição, exatamente como ela havia pedido. Eu, por minha vez, não me sentia julgado, mas sim desafiado a ir além das fronteiras da normalidade, a explorar a sensualidade em sua forma mais autêntica e selvagem.

O processo criativo se tornou uma dança perigosa. Uma batalha entre a minha visão estereotipada de narrativa e a força implacável da personalidade de Riley. Eu ia ao meu limite psicológico e físico, perdendo horas de sono lutando contra a vontade dela. Ao mesmo tempo, me encontrava maravilhado com a autenticidade que ela trazia.

A linha entre realidade e ficção tornou-se cada vez mais tênue. O uísque fluía livremente, e as noites se transformavam em frenéticas sessões de escrita onde a realidade e a ficção em minhas obras se confundiam. Riley se tornou mais do que uma personagem; ela se tornou parte de mim, uma extensão da minha própria criatividade desregrada.

E isso, eu deduzo agora, é o preço da inspiração genuína. A entrega completa à complexidade de uma personagem, mesmo se essa complexidade significar mergulhar fundo em um território incerto e profundamente pessoal. Riley me ensinou que a verdadeira escrita não é apenas sobre criar histórias, mas também sobre se confrontar com as suas próprias verdades, com todas as suas sombras e todas as suas luzes. E, no final das contas, isso foi o que salvou a minha história, e talvez, a minha sanidade.

Criado com Toolbaz.
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

A lucidez de Lúcio

Era uma vez, em um reino distante chamado Arcolândia, onde as nuvens eram feitas de algodão doce e os rios corriam com suco de frutas, um dragão chamado Lúcio. Lúcio não era um dragão qualquer. Enquanto os outros dragões eram conhecidos por suas escamas reluzentes em tons de verde, vermelho ou dourado, Lúcio exibia um esplendor singular: suas escamas brilhavam em todas as cores do arco-íris, mudando de tom a cada movimento que fazia. Isso não era apenas impressionante; era também uma grande preocupação para os habitantes do reino.

No reino de Arcolândia, havia um padrão bem definido de gêneros. Os príncipes eram valentes e destemidos, enquanto as princesas eram delicadas e graciosas. Lúcio, por outro lado, não se encaixava em nenhum desses padrões. Com seu jeito flamboyant e suas escamas multicoloridas, ele frequentemente se perguntava por que o mundo insistia em dividir tudo em duas cores: azul e rosa.

Certa tarde, enquanto voava sobre as florestas de algodão doce, Lúcio decidiu que já estava na hora de desabafar. Ele pousou em um campo de flores dançantes, onde encontrou sua amiga Cíntia, uma jovem fada com cabelos de pétalas de rosa e um sorriso que iluminava todo o campo.

“Cíntia!” chamou Lúcio, sua voz soando como um eco alegre. “Você não acha que o mundo é um pouco... chato? Sempre me dizem que sou um dragão ‘diferente’ e que preciso escolher um lado. Azul ou rosa, macho ou fêmea. E eu só quero ser Lúcio, o dragão arco-íris!”

Cíntia sorriu, suas asas cintilando sob a luz do sol. “Ah, Lúcio! Você é maravilhoso do jeito que é. Mas por que você se preocupa tanto com isso? As pessoas sempre precisam de rótulos. Para elas, é mais fácil entender o mundo assim. Mas a verdade é que cada um brilha à sua própria maneira.”

“Eu sei!” Lúcio exclamou, seus olhos brilhando de indignação. “Mas a última vez que tentei explicar isso, acabei sendo chamado de ‘aquele dragão que não sabe se é dragão ou dragonesa’! Eu até brinquei e disse que ‘talvez eu fosse um dragão queer’, mas isso só resultou em um novo rótulo! E quem inventou essa palavra, afinal?”

“Bem,” Cíntia começou, segurando um riso. “Talvez as pessoas só estejam tentando encontrar uma palavra que abranja todos os matizes que você representa. Você é um ser único e belo, Lúcio! E essa é uma razão para celebrá-lo.”

“Certo, mas e os outros que não se encaixam? Já conheci criaturas intersexuais e transgêneros que sofrem tanto! Ninguém parece entender que gênero não é uma camisa que você veste, mas uma dança que você cria! Às vezes, sinto que somos todos personagens de uma peça teatral mal escrita, onde as diretrizes de gênero vêm em um roteiro muito rígido.”

Cíntia assentiu, compreendendo a dor e a frustração de seu amigo. “Eu sei que é difícil, mas há aqueles que aceitam você, assim como eu. O importante é que você continue a brilhar, mesmo que não se encaixe nos padrões da sociedade.”

“Você tem razão, minha amiga!” Lúcio disse, sua confiança começando a retornar. “E se eu fizesse algo especial? Se eu organizasse uma grande festa em Arcolândia, uma celebração da diversidade? Poderíamos convidar todos, independentemente de como se identificam. Afinal, se há algo que eu aprendi é que, mesmo com todas as diferenças, podemos nos unir e dançar como nunca!”

E assim, Lúcio começou a planejar a maior festa que Arcolândia já havia visto. Ele convidou todos os seres do reino: dragões, fadas, duendes, unicórnios e até mesmo as nuvens de algodão doce. A cada convite enviado, Lúcio falava sobre a importância de abraçar as diferenças e celebrar a singularidade de cada um.

No dia da festa, o campo de flores dançantes estava repleto de luzes coloridas, música alegre e risadas contagiosas. Os dragões dançavam, as fadas voavam em círculos, e até mesmo as nuvens de algodão doce se misturavam com a alegria do momento. Lúcio, em seu esplendor arco-íris, voava pelo céu, espalhando magia e amor.

Durante a festa, Lúcio subiu em um palco feito de flores e, com um sorriso largo, disse: “Queridos amigos, hoje celebramos não apenas a beleza da diversidade, mas a alegria de sermos quem realmente somos! Que possamos sempre lembrar que não importa como nos identificamos, o que realmente importa é o amor e a aceitação que compartilhamos uns com os outros.”

A multidão aplaudiu com entusiasmo, e muitos começaram a compartilhar suas próprias histórias de luta e autoaceitação. Rindo e dançando, todos perceberam que, assim como Lúcio, eram únicos, especiais e dignos de amor.

E assim, em Arcolândia, a festa se tornou uma tradição, um símbolo da celebração da diversidade e da inclusão. Lúcio, o dragão arco-íris, voou alto e feliz, sabendo que seu coração estava sempre envolto pelo amor incondicional de seus amigos, independentemente de rótulos.

E desde então, o reino não foi mais visto como um lugar de padrões rígidos, mas como um espaço onde cada cor brilhava intensamente, como um belo arco-íris.

E todos viveram felizes para sempre, dançando ao som de suas próprias músicas e amando quem realmente eram.

Baseado no desenho Peepoodo.
Criado com Toolbaz.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Censura é blasfêmia


Uma página direcionada aos evanjegues publicou esta notícia:

Uma exposição de arte no México está sendo acusada de blasfêmia e sofrendo boicote por cristãos do país. Inaugurada no início de fevereiro, a exposição, chamada A Vinda do Senhor (La Venida del Señor, no original), de Fabian Chairez, mistura arte sacra com erotismo.

Grupos católicos foram até a Universidade Nacional Autônoma do México, onde acontece a exposição, para protestar contra ela. O pintor Fabian debochou das manifestações, dizendo que elas contribuem para a experiência das pinturas.

– As manifestações que vi em vídeos e nas redes sociais me parecem fantásticas e bonitas. Acho ótimo fazer uma ação de protesto como essa. Até mesmo as pessoas que rezam contribuem para a experiência das pinturas e da galeria, ouvindo essas orações – disse Fabián ao El Universal, na última quarta-feira (19).

Ao portal UOL, o artista disse que adoraria trazer a exposição para o Brasil.

– Ainda não [tem previsão de chegar no Brasil], mas adoraria – disse.

Os quadros polêmicos apresentam figuras como anjos, freiras e sacerdotes tendo interações de cunho sexual. Em seu Instagram, Fabian fez um post dizendo que “a cristofobia não existe.

Nota: evidente que eu não vou indicar qual é a fonte. Isso é dito pelos mesmos que vociferam pela "liberdade de expressão". Os mesmos que não vê blasfêmia quando degradam as religiões de matriz africana.
Hipócritas.

Desfazendo estereótipos

Era uma vez, em um reino não tão distante, um jovem chamado Lúcio. Lúcio era um rapaz de cabelos cacheados, castanho-escuros, que caíam de maneira rebelde sobre a testa. Seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas à luz do sol, e ele possuía uma beleza exótica que desafiava os estereótipos mais convencionais. Seu corpo era atlético, mas não musculoso, e Lúcio preferia usar roupas confortáveis e práticas, misturando estilos que iam do casual ao elegante, sem se preocupar com o que as outras pessoas pensavam.

No entanto, havia algo que incomodava profundamente Lúcio. A constante cobrança de que todos os gays deveriam se encaixar em um padrão. Desde a infância, ele ouvia as pessoas dizerem que todos os homossexuais eram afeminados e que odiavam mulheres. Lúcio sentia que essas afirmações eram tão absurdas quanto dizer que todos os dragões eram amigos das fadas. Em sua vida, conhecera homens que eram tão masculinos quanto o próprio rei do reino e mulheres que, em sua aparência, poderiam passar por guerreiros. Ele, por sua vez, sempre amou pessoas, independentemente de gênero, e nunca entendeu por que as pessoas insistiam em rotulá-lo.

Certa manhã, após mais uma conversa desagradável em uma festa de amigos, onde alguém o havia questionado sobre seu gosto musical e insinuado que ele deveria "tocar uma música de drag queen", Lúcio decidiu que era hora de expressar sua frustração. Reuniu seus amigos em um café encantador, chamado “O Ponto do Aconchego”, um lugar onde as risadas eram mais altas que os sussurros e a criatividade fluía como um bom vinho.

“Meus amigos,” começou Lúcio, erguendo uma xícara de chá de hibisco. “Estou cansado! Cansado de ser colocado em uma caixa, como se eu fosse um produto de prateleira. A ideia de que todos os gays são afeminados e que todos odeiam mulheres é uma besteira. E eu sou a prova viva disso.”

A mesa encheu-se de murmúrios de apoio, mas também de algumas risadas nervosas. Afinal, todos os seus amigos conheciam a tendência das pessoas em rotulá-lo. Lúcio prosseguiu:

“Por que a aparência define nossa identidade? Olhem ao nosso redor! Conheço muitas mulheres que têm uma estética mais masculina do que a minha, e não por isso deixaram de ser femininas. E quanto a mim, eu amo as mulheres. Tenho amigas incríveis que me inspiram e que, aliás, nem sempre são o que a sociedade espera delas.”

Uma de suas amigas, Clara, que tinha cabelo curto e usava uma jaqueta de couro, comentou: “E você, Lúcio, também tem seus crushes em homens e mulheres! O que tem de errado com isso?”

“Exatamente!” Lúcio exclamou, agora mais animado. “Acho que as pessoas precisam entender que não existem papéis fixos. Apenas pessoas amando pessoas. A vida não é uma peça de teatro onde temos que atuar um papel. É um palco aberto, e todos devem se sentir livres para serem quem são!”

Os amigos começaram a aplaudir, e Lúcio sentiu uma onda de felicidade. Mas ele ainda tinha mais a dizer.

“Na verdade, eu queria que as pessoas percebessem que somos todos feitos de camadas. Às vezes sou um pouco afeminado, às vezes um pouco masculino, e em alguns dias, sou só um cara que gosta de tomar sorvete no parque. E tudo bem! Não sou definido pela minha sexualidade, assim como uma mulher não é definida por sua aparência. Amor é amor, e ponto final!”

Um silêncio respeitoso tomou conta da mesa, enquanto todos refletiam sobre suas palavras. Então, surgiu uma ideia em Lúcio. Ele levantou-se, puxou uma folha de papel do bolso e começou a desenhar.

“Vou criar um manifesto, uma lista de coisas que quero que as pessoas saibam sobre nós, os que amam livremente, sem preconceitos! Vamos chamar de ‘O Manifesto dos Amores Livres’! Nela, vou colocar que não existem estereótipos, apenas possibilidades!”

Seus amigos, agora inspirados, começaram a adicionar sugestões. “Precisamos falar sobre como os relacionamentos não são um jogo de tabuleiro, onde você tem que seguir regras! Devemos celebrar a diversidade!” disse Clara.

“E que ser afeminado ou masculino não é uma questão de valoração, mas uma questão de expressão! Uma mulher pode ser forte sem perder sua feminilidade,” acrescentou Marco, um amigo que sempre foi um grande defensor da liberdade de expressão.

Lúcio olhou para a folha, agora repleta de ideias e frases inspiradoras, e sorriu. “Estamos criando algo incrível! Vamos espalhar isso pelo reino. Se as pessoas não podem ver além dos estereótipos, então vamos mostrar a elas que somos muito mais do que isso!”

E assim, Lúcio e seus amigos passaram as semanas seguintes criando cartazes, fazendo vídeos e organizando eventos onde a diversidade e a liberdade de expressão eram celebradas em grande estilo. E para a surpresa deles, o reino começou a mudar. As pessoas começaram a abrir suas mentes e seus corações, percebendo que todos merecem amar e ser amados, independentemente de como se parecem ou de quem escolhem amar.

E no final das contas, o que realmente importava era a liberdade de ser quem se é. Lúcio sorriu ao perceber que, assim como ele, muitas pessoas encontraram coragem para se libertar das amarras dos estereótipos, tornando-se não apenas quem realmente eram, mas também príncipes e princesas de suas próprias histórias.

E assim, o reino viveu mais feliz, livre dos papéis fixos, e Lúcio se tornou uma lenda não por sua aparência, mas por seu coração aberto e sua determinação em transformar o mundo à sua volta. E, como toda boa história de contos de fadas, a mensagem se espalhou e floresceu, criando um legado que permaneceria por gerações. Afinal, na grande tapeçaria da vida, o que realmente conta são as cores que escolhemos para tecer nossas histórias.

Baseado no desenho Peepoodo.
Criado com Toolbaz.