E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. [Gênesis 1:2]
Os antigos textos religiosos da Índia, Egito e Suméria registram a história de Deus como negro. De acordo com estes textos, Deus era originalmente uma essência luminosa sem forma escondida em uma substância escura primordial chamada de água.
As negras águas primordiais estavam associadas a uma Deusa Primordial, Ela é o Ventre e a Tumba, Ela é a Consorte do Deus Criador. O cosmo pôde ser criado pela união [Hiero Gamos] entre este Deus e Deusa primordiais.
As tentativas iniciais de Deus na criação foram infrutíferas, pois sua forma luminosa castigava a criação material. A solução de Deus foi cobrir sua luminosidade com um corpo feito da mesma substância primordial escura de onde Ele emergiu. Este divino corpo negro refratava a luz divina enquanto esta passava pelos poros. Os antigos simbolizavam o efeito visual com a safira ou o lápis lazuli, pedras semipreciosas de um azul escuro com brilhos dourados. O corpo de Deus neste estágio era descrito como azul marinho e era dito ser feito de safira ou lápis lazuli. Considerada a melhor substancia divina, a safira e o lápis lazuli possuem um grande significado mitológico. Em seu estado natural o lápis lazuli é azulo escuro com brilhos dourados lembrando o firmamento coberto de estrelas, assim a morada dos Deuses costuma ser representada com a safira ou o lápis lazuli. Velado neste corpo azul escuro, Deus produziu o cosmo material com sucesso. O Deus Criador dos mitos antigos era então frequentemente pintado com azul escuro.
A cor azul escuro, azul marinho, bem como a cor púrpura, são símbolos da Deusa Primordial e ainda estão presentes nas cores usadas pela nobreza e pela realeza.
Na antiguidade, muitos aspectos dos Deuses eram representados zoomórficamente. Diferentes animais eram usados para simbolizar distintos características ou atributos dos deuses. O maior atributo animal do Deus Criador negro era o touro, o touro representa a potência, a fecundidade e a matéria primordial, todas características essenciais do Deus Criador. O touro negro era associado com as negras águas primordiais de onde o Deus Criador emergiu, simbolizando então a matéria escura do corpo que o Deus Criador formará para Ele mesmo, o couro negro do touro simbolizando a pele negra do Deus.
Animais eram usados pelos antigos para representar ou simbolizar as varias características ou atributos dos Deuses. O atributo animal desse corpo escuro do Deus Criador era um touro negro. O touro simbolizava a força e a fecundidade do Deus Criador. Também associava o Deus com as águas primordiais, que se acreditava que o touro personificava. Como o corpo escuro de Deus era feito desta escuridão primordial, a capa negra do touro representava a pele negra do Deus Criador. Este corpo escuro de Deus simbolizado pelo touro estava no centro dos mistérios de Deus nos antigos sistemas das escolas de mistério.
O atributo animal vinculado com as águas primordias era uma serpente ou um dragão. A serpente simbolizava o mundo material, a vida, a morte e o renascimento.
Os principais Deuses do Egito, Índia, Ásia, Oriente Médio e Grécia eram de fato negros. A negritude destes Deuses não necessariamente indicavam que eram ctônicas, malignas ou que pertenciam a alguma etnia. Em verdade, nas várias tradições antigas era o Rei dos Deuses, o próprio Deus Criador, quem era negro. A negritude do Deus Criador, como foi originado o corpo negro do Deus, do que este corpo era composto, estava no centro do mistério de Deus no Egito, Índia e Suméria.
As principais Deusas antigas eram identificadas com a Deusa Primordial em seu aspecto como a Grande Mãe, Donzela e Anciã, assim como com seus aspectos com a Morte e a Guerra. Por isso essa Deusa Primordial era representada como branca.
Antes de criar o cosmos, o Deus Negro criou a si mesmo, ou melhor, criou um corpo para Ele. De acordo com as antigas tradições, no princípio existia apenas a escuridão, escuridão material descrita como água. Oculto dentro destas águas primordiais estava o Deus em um estado luminosos sem forma. Todas as dualidades potenciais que são prerrogativas para o processo gerador repousavam indistintas e homogêneas. Em um determinado momento a luminosidade de Deus concentrou-se em um único ponto dentro das águas primordiais, produzindo a primeira partícula distinta de matéria luminosa.
Quando o Deus Criador emergiu, Ele ainda não tinha o corpo negro. Em verdade, Ele era a luz que se separara e surgira da escuridão. Este primeiro corpo luminoso mostrou-se letal para sua criação futura, então o Deus Criador velou sua luminosidade com um corpo formado com as águas primordiais de onde Ele emergiu, esta matéria primordial, negra e úmida, tornou-se a substância do segundo corpo, que Ele vestiu como um manto, velando seu brilho. O ato de velar a luminosidade divina em um corpo negro era considerado um sacrifício divino, um ato que resultou no ser humano e permitiu a criação de um mundo material mais denso.
Um outro grande mistério envolve o momento em que este Deus começou a se formar dentro destas águas primordiais. Antes de se manifestar como luz e como corpo, o Deus uniu-se com a Deusa no Hiero Gamos. O Deus Primordial sacrificou-se, morreu, virou semente para que pudesse germinar dentro deste ventre e pelo sacrificio haverá de retornar para a Deusa quando o Deus sacrificar seu corpo material, tornando-se o Psicopompo.
Assim os mistérios antigos viam o Deus e a Deusa como imanentes e transcendentes. Esta partícula, esta faísca divina, está presente em tudo, então tudo é sagrado, tudo é divino.
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