Por ordem de Hera, os titãs capturaram Dionísio, filho recém-nascido de Zeus, uma criança dotada de chifres, coroada com serpentes, e, apesar de suas transformações, eles o reduziram a pedaços, os quais ferveram numa caldeira enquanto uma romã brotava do solo onde havia caído seu sangue. Mas, resgatado e reconstituído por sua avó Réia, ele retornou à vida. Perséfone, a quem Zeus encarregara de tomar conta dele, levou-o ao rei Atamante de Orcômeno e convenceu sua mulher, Ino, a criá-lo no gineceu, disfarçado de menina. Mas era impossível enganar Hera, que lançou sobre o casal real a maldição da loucura, motivo pelo qual Atamante matou seu filho Learco ao confundi-lo com um cervo.
Em seguida, por ordem de Zeus, Hermes transformou temporariamente Dionísio num cabrito, ou carneiro, e o deu de presente às ninfas Mácris, Nisa, Érato, Brômia e Baca, do monte heliconiano Nisa. Elas cuidaram dele numa cova, mimaram-no e alimentaram-no com mel, razão pela qual Zeus colocou suas imagens entre as estrelas com o nome de Híades. Foi no monte Nisa que Dionísio inventou o vinho, motivo maior de sua celebrização.
Quando cresceu e atingiu a idade adulta, Hera reconheceu Dionísio como filho de Zeus, apesar da efeminação à qual a educação que recebera o havia reduzido, e o enlouqueceu. Ele saiu vagando pelo mundo afora, acompanhado por seu tutor Sileno e um exército selvagem de sátiros e mênades (bacantes), armados de bastões enfeitados com hera e pâmpanos, com uma pinha na ponta, chamados thyrsus, além de espadas, serpentes e aerófonos“ amedrontadores. Foi para o Egito de navio, levando consigo a vinha, e, em Faros, o rei Proteu o acolheu com grande hospitalidade. Entre os líbios do delta do Nilo, do outro lado de Faros, havia certas rainhas amazonas que Dionísio convidou a marchar com ele contra os titãs, para devolver ao rei Ámon o reino do qual havia sido expulso. A derrota que Dionísio infligiu aos titãs restaurando o rei Ámon foi o primeiro de seus vários êxitos militares.
Ele então se dirigiu para o Oriente, rumo à índia. Ao chegar às margens do Eufrates, enfrentou a oposição do rei de Damasco, e esfolou-o vivo, mas construiu uma ponte de hera e vinho sobre o rio. Depois disso, um tigre enviado por seu pai Zeus ajudou-o a cruzar o rio Tigre. Mesmo enfrentando muita oposição durante o caminho, ele chegou à índia e conquistou todo o país, onde ensinou a arte da vinicultura, estabeleceu leis e fundou grandes cidades.
Ao retornar, confrontou-se com as amazonas e perseguiu uma de suas hordas até Éfeso. Algumas se refugiaram no templo de Ártemis, onde ainda vivem descendentes seus. Outras fugiram para Samos, e Dionísio as perseguiu com marcos, matando tantas que o campo de batalha recebeu o nome de Pan-haema.
Nas redondezas de Floeum morreram alguns dos elefantes que ele havia trazido Da índia, e seus ossos ainda podem ser vistos ali.
Em seguida, Dionísio voltou à Europa passando pela Frigia, onde sua avó Reia o purificou dos vários assassinatos que havia cometido durante sua loucura e o iniciou nos Mistérios. Depois ele invadiu a Trácia, porém mal havia desembarcado sua gente na foz do rio Estrimão quando Licurgo, rei dos édones, apresentou-lhe uma feroz resistência, armado com uma aguilhada, capturando todo o seu exército exceto o próprio Dionísio, que mergulhou no mar em busca de refugio na cova de Tétis. Réia, ofendida com tal derrota, ajudou os prisioneiros a escapar e enlouqueceu Licurgo, fazendo com que ele golpeasse mortalmente seu próprio filho Drias com um machado, na ilusão de estar cortando uma vinha, e, antes de recuperar os sentidos, começasse a “podar” o nariz, as orelhas, os dedos das mãos e dos pés do cadáver. Todos os campos da Trácia ficaram estéreis por causa de seu crime hediondo. Quando, ao voltar do mar, Dionísio decretou que o flagelo perduraria até que alguém matasse Licurgo, os édones conduziram-no ao monte Pangeo, onde cavalos selvagens dilaceraram-lhe o corpo Dionísio não encontrou, desde então, nenhuma resistência na Trácia e se dirigiu a sua amada Beócia, onde visitou Tebas e convidou as mulheres a participarem de suas orgias no monte Citéron. Penteu, rei de Tebas, que não gostava do aspecto devasso de Dionísio, decidiu aprisioná-lo com todas as mênades, mas acabou enlouquecendo e, em vez de agrilhoar Dionísio, agrilhoou um touro.
As mênades escaparam de novo e saíram correndo enfurecidas para o alto das montanhas, onde despedaçaram algumas vitelas. Penteu tentou detê-las, mas, excitadas pelo vinho e pelo êxtase religioso, elas lhe arrancaram os membros um a um. Sua mãe, Agave, não só liderou o tumulto, como foi ela quem arrancou a cabeça do filho.
Em Orcômeno, as três filhas de Mínias, chamadas Alcítoe, Leucipe e Arsipe (ou Aristipe ou Arsínoe), recusaram-se a participar das orgias apesar de terem sido convidadas pessoalmente por Dionísio, que surgiu sob a forma de uma moça. Ele, então, sucessivamente, se transformou num leão, num touro e numa pantera, enlouquecendo-as. Leucipe ofereceu seu próprio filho Hípaso em sacrifício - ele fora escolhido num sorteio - , e as três irmãs, após haverem-no despedaçado e devorado, saíram correndo freneticamente para as montanhas, até que, por fim, Hermes as transformou em pássaros, embora alguns digam que Dionísio as converteu em morcegos. O assassinato de Hípaso se expia anualmente em Orcômeno num festival chamado Agrionia (“incitação à selvageria”), na qual as mulheres devotas simulam procurar Dionísio e então, deduzindo que ele tenha se ausentado com as musas, sentam-se em círculo e fazem perguntas enigmáticas, até que o sacerdote de Dionísio precipita-se de seu templo levando uma espada e matando o primeiro que lhe aparecer no caminho.
Quando toda a Beócia reconheceu a divindade de Dionísio, ele iniciou uma viagem pelas ilhas do Egeu, semeando a alegria e o terror por onde passava.
Ao chegar a Içaria, descobriu que seu barco não era apropriado para a navegação no mar e alugou outro de certos marinheiros do Tirreno, que diziam dirigir-se a Naxos. Na verdade eram piratas, que, ignorando tratar-se de um deus, dirigiram-se para a Ásia com a intenção de vendê-lo como escravo. Dionísio fez crescer uma vinha que se estendeu desde o tombadilho até o mastro, enquanto a hera se enroscava pelo cordame. Também transformou os remos em serpentes, e ele mesmo se converteu em leão, enchendo a embarcação de feras fantasmas e do som de flautas, de tal forma que os piratas, aterrorizados, atiraram-se ao mar e se tornaram golfinhos.
Foi em Naxos que Dionísio conheceu a encantadora Ariadne, abandonada por Teseu, e não tardou a se casar com ela. Ariadne lhe deu Enopião, Toante, Estáfilo, Latromis, Evantes e Taurópolo. Mais tarde, Dionísio pôs seu diadema nupcial entre as estrelas.
De Naxos foi para Argos e puniu Perseu - que no início opôs-lhe resistência e matou muitos de seus seguidores — enlouquecendo as mulheres do lugar, que começaram a devorar vivos os próprios filhos. Perseu admitiu rapidamente seu erro e apaziguou Dionísio erguendo um templo em sua homenagem.
Finalmente, após haver instaurado seu culto em todo o mundo, Dionísio ascendeu ao céu e está sentado agora à direita de Zeus, como uma das doze divindades olímpicas. Em favor dele, a modesta deusa Héstia abriu mão de seu lugar na suprema mesa, satisfeita por ter uma desculpa para escapar das contendas cheias de ciúme no seio de sua família, sabendo que sempre seria bem recebida em qualquer cidade grega que lhe apetecesse visitar. Dionísio desceu depois, através de Lerna, até o Tártaro, onde subornou Perséfone com um mirto para que libertasse sua falecida mãe Sêmele, que subiu com ele até o templo de Ártemis em Trezena. Para evitar que as outras almas ficassem com ciúmes ou se sentissem recusadas, ele trocou o nome dela e apresentou-a aos outros deuses olímpicos como Tione. Zeus pôs um aposento à sua disposição, e Hera, embora furiosa, permazeceu em silêncio, resignada quase pelos mesmos estados de êxtase das orgias da cerveja da Trácía e da Frigia.
O triunfo de Dionísio consistiu no fato de que o vinho acabou substituindo, por toda parte, outros inebriantes. Segundo Ferécides, Nisa significa “árvore”.
Durante algum tempo, ele havia se subordinado à deusa-Lua Sêmele - também chamada Tione ou Cotito - e era a vítima eleita de suas orgias. O fato de ter sido criado como uma menina, assim como Aquiles, evoca o costume cretense de manter os meninos “na escuridão” (scotioi), ou seja, nos aposentos das mulheres, até atingirem a puberdade. Um dos títulos de Dionísio era Dendrites, “jovem-árvore”, e o Festival da Primavera celebrava sua emancipação, quando, repentinamente, as árvores verdejaram e o mundo inteiro se inflamou de desejo. Ele é descrito como um menino cornudo, justamente para não especificar o tipo de cornos, que podiam ser de cabra, cervo, touro ou carneiro, conforme o lugar onde fosse venerado. Quando Apolodoro diz que ele se disfarçou de cabrito para se salvar da ira de Hera - Erifo (“cabrito”) era um de seus títulos (Hesíquio sub Erifo) —, está se referindo ao culto cretense de Dionísio-Zagreu, a cabra montanhesa com cornos enormes. Virgílio (Geórgicas II. 380-384) explica equivocadamente que a cabra era o animal que se sacrificava normalmente para Dionísio “porque as cabras provocam danos à vinha ao mordê-la”. Dionísio como cervo é Learco, morto por Atamante ao ser enlouquecido por Hera. Na Trácia, ele era um touro branco. Mas, na Arcádia, Hermes o disfarçou de carneiro, pois os árcades eram pastores e o Sol entrava em Aries em seu Festival da Primavera, e o deixou sob a responsabilidade das Híades (“fazedoras de chuva”), que foram chamadas de “as altas”, “as coxas”, “as apaixonadas”, “as rugentes” e “as furiosas”, por descreverem as cerimônias de Dionísio.
Hesíodo (citado por Theon: Sobre Arato 171) registra os nomes anteriores das Híades como Fesila (“luz filtrada”), Corônis (“corvo”), Cléia (“famosa”), Feo (“obscura”) e Eudora (“generosa”). Alista de Higino (.Astronomia poética II. 21) é bastante parecida. Nysus significa “coxo”, e, nessas orgias da cerveja na montanha, parece que o rei sagrado coxeava como uma perdiz, como no festival cananeu da primavera, chamado Pesach (“manqueira”). Mas os fatos de Mácris alimentar Dionísio à base de mel e as mênades utilizarem ramos de abeto recobertos de hera como tirsos aludem a uma forma anterior de preparado alcoólico: cerveja de abeto misturada com hera e adoçada com hidromel. O hidromel era o “néctar” obtido do mel fermentado que os deuses continuaram bebendo no Olimpo homérico.
3. J. E. Harrison - quem pela primeira vez assinalou (Prolegomena cap. VIII) que Dionísio, o deus do vinho, é uma superposição posterior de Dionísio, o deus da cerveja, conhecido também como Sabácio — sugere que o termo tragédia possa derivar não necessariamente de tragos (“cabra”), como indica Virgílio (loc. cit), mas de tragos (“espelta”), um cereal utilizado em Atenas para a fabricação da cerveja. Harrison acrescenta que, nas primeiras pinturas de ânforas, aparecem como companheiros de Dionísio homens-cavalos e não homens-cabras, e que seu cesto de uvas era originalmente uma ventoinha para limpar trigo. De fato, a cabra líbia ou cretense estava associada ao vinho, ao passo que o cavalo heládico, à cerveja e ao néctar. Assim, Licurgo, que oferece resistência ao segundo Dionísio, é destroçado por cavalos selvagens — sacerdotisas da deusa com cabeça de égua —, tendo o mesmo destino que o Dionísio anterior. A história de Licurgo confundiu-se com o conto irrelevante da maldição que caiu sobre sua terra após o assassinato de Drias (“carvalho”), o rei-carvalho que era morto anualmente. A toda de suas extremidades servia para manter sua alma sob controle, e a derrubada arbitrária de um carvalho sagrado era punida com a pena capital. Cotito era o nome da deusa em cuja homenagem se realizavam os ritos édones (Estrabão: X. 3. 16).
Dionísio podia se manifestar como leão, touro e serpente porque esses eram os emblemas do calendário do ano tripartite. Ele nascia no inverno como serpente (daí sua coroa de serpentes), convertia-se em cão na primavera e era morto e devorado como touro, cabra ou cervo em meados do verão. Essas eram suas metamorfoses quando os titãs o atacaram.
Seus mistérios se pareciam com os de Osíris, daí sua visita ao Egito.
Dionísio viajou numa embarcação em forma de Lua nova, e a história de seu embate com os piratas parece estar baseada no mesmo ícone que deu origem à lenda da Arca de Noé e os animais, sendo o leão, a serpente e outras criaturas suas epifanias sazonais. De fato, Dionísio é Deucalião. Os lacônios de Brasia preservaram um relato não ortodoxo de seu nascimento, mostrando como Cadmo encerrou Sêmele e seu filho numa arca que, à deriva, chegou a Brasia, onde Sêmele morreu e foi enterrada, e como Ino educou Dionísio (Pausânias: III. 24. 3).
Faros, uma pequena ilha em frente ao delta do Nilo, em cuja costa Proteu experimentou as mesmas transformações de Dionísio, tinha o maior porto existente na Europa na Idade do Bronze.
Era o armazém dos comerciantes de Creta, da Ásia Menor, das ilhas gregas, da Grécia e da Palestina. Dali certamente difundiu-se o culto do vinho em todas as direções. O relato da campanha de Dionísio na Líbia talvez registre o reforço militar enviado aos garamantes por parte de seus aliados gregos. O de sua campanha na índia foi interpretado como uma história fantasiosa do avanço ébrio de Alexandre até o Indo, mas ele é de data anterior e registra a expansão do vinho até o Oriente. A visita de Dionísio à Frigia, onde Réia o iniciou, sugere que os ritos gregos de Dionísio como Sabázio ou Brômio eram de origem frigia.
A Corona Borealis, grinalda nupcial de Ariadne, chamava-se também “Coroa Cretense”. Ela era a deusa-Lua cretense, e os filhos vinosos que teve com Dionísio — Enopião, Toante, Estáfilo, Taurópolo, Latromis e Evantes - foram os antepassados epônimos das tribos heládicas que habitavam em Quios, Lemnos, no Quersoneso trácio e em outros lugares mais adiante . O culto do vinho chegou à Grécia e ao Egeu através de Creta - oinos, “vinho”, é uma palavra cretense - , e, por causa disso, Dionísio era confundido com o deus cretense Zagreu, que também foi despedaçado ao nascer.
Agave, mãe de Penteu, é a deusa-Lua que coordenava as orgias da cerveja.
O esquartejamento de Hípaso pelas três irmãs, que são a deusa tripla como ninfa, tem um paralelismo com o relato galês de Pwyll, príncipe de Dyffed, segundo o qual, no Dia de Maio, Rhiannon, corruptela de Rigantona (“grande rainha”), devora um potro que é, na realidade, seu filho Pryderi (“ansiedade”). Poseidon também foi comido sob forma de potro por seu pai Cronos, mas provavelmente numa versão anterior quem o comeu foi sua mãe Réia. O mito demonstra que o rito antigo, no qual as mênades com cabeça de égua despedaçavam e comiam cru o menino escolhido para ser a vítima anual - fosse seu nome Sabázio, Brômio ou outro qualquer - , foi substituído pelas orgias dionisíacas mais ordenadas. A substituição do potro pelo menino na cerimônia de sacrifício indica essa mudança.
A romã que brotou do sangue de Dionísio era também a árvore de Tamus-Adônis-Rimmon. Seu fruto maduro se abre como uma ferida e mostra as sementes vermelhas que traz dentro de si. Ele simboliza a morte e a promessa de ressurreição quando segurado pela mão de Hera ou de Perséfone.
O resgate de Sêmele, renomeada Tione (“rainha furiosa”), por Dionísio foi deduzido dos desenhos de um cerimonial celebrado em Atenas sobre um local de dança dedicado às Mulheres Selvagens. Ali, ao som de cantos, flautas e danças e sob a difusão de pétalas de flor retiradas de cestos, um sacerdote invocava Semele para que emergisse de um ônfalo, ou montículo artificial, e que viesse a serviço do “espírito da primavera”, ou seja, do jovem Dionísio (Píndaro: Fragmento 3).
Em Delfos, havia um ritual parecido de ascensão dirigido exclusivamente por mulheres, que se chamava Herois, ou “festa da heroína”. Pode-se presumir ainda uma outra cerimônia no templo de Artemis em Trezena. Cabe lembrar que a deusa-Lua tinha, nas palavras de John Skelton, três aspectos diferentes:
Diana nas folhas verdes, Luna que tanto resplandece, Perséfone no inferno.
Sêmele era, de fato, um outro nome de Core, ou Perséfone, e a cena de ascensão está retratada em muitos vasos gregos, alguns dos quais mostram sáros usando enxadões para ajudar a heroína a emergir. A presença deles indica que se tratava de um rito pelasgo. O que desenterravam era provavelmente uma boneca de cereal enterrada depois da colheita, que agora brotava de novo. Coré, evidentemente, não ascendeu ao Céu. Vagou pela terra com Deméter até chegar o momento de regressar ao mundo subterrâneo. Entretanto, logo depois da contração de Dionísio à categoria de deus olímpico, a assenção de sua mãe virgem passou a ser um dogma, e, uma vez admitida como deusa, ela foi diferenciada de core, que continuou ascendendo e descendendo como heroína.
A vinha era a décima árvore do ano sagrado da árvore e seu mês correspeedente era setembro, quando acontecia a festa da vindima. A hera, a décima primeira árvore, correspondia a outubro, quando as mênades farreavam e mastigavam suas folhas. Ela também era importante porque, assim como as outras quatro árvores sagradas — o carvalho espinhoso de El com que se aumentavam as cochonilhas, o amieiro de Foroneu, a vinha e a romãzeira, ambas ao próprio Dionísio —, fornecia uma tinta vermelho. O monge Teófilo (Rugerus: Sobre os ofícios, cap. 98) diz que “os poetas e artistas adoravam a hera pelos poderes secretos que ela encerrava... um dos quais vou lhe contar. Em março, quando a seiva sobe, se você perfurar o talo da hera com um trado em alguns pontos, exsudará um líquido viscoso que, ao ser misturado com urina e depois fervido, dá uma cor de sangue chamada Iaque, muito utilizada na pintura e nas iluminuras”. A tinta vermelha era usada para colorir os rostos das imagens masculinas da fertilidade (Pausânias: II. 2. 5) e dos reis sagrados.
Em Roma, esse costume se conservou com a coloração vermelha do rosto do general triunfante. O general representava o deus Marte, que foi um Dionísio da primavera antes de se especializar como o deus romano da guerra, dando assim seu nome ao mês de março. Os reis ingleses ainda maquiam levemente o rosto com ruge nas cerimônias oficiais, para dar uma impressão de saúde e prosperidade. Ademais, a hera grega, assim como a vinha e o plátano, tem uma folha de cinco pontas que representa a mão criadora da deusa Terra Réia. O mirto era uma árvore da morte.
Autor: Robert Graves.
Fonte: Templo de Apolo.
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