Denúncia e crítica contra a CNBB e a intromissão dos Católicos na vida íntima das pessoas.
Nós, Brasileiros do Brasil, dirigimo-nos a todos os clérigos e católicos para denunciar e
contestar contra mais esta intromissão da CNBB na esfera do judiciário e na sociedade
brasileira multidiversificada.
O rearranjo da família atual não pode ser negado e deve, inclusive, ser celebrado como uma
transformação positiva nos padrões e nas relações afetivas, rumo às vivências mais plurais e
democráticas. A sua aceitação é fonte destacada de reflexão social e implica ainda a
necessidade de se repensar a elaboração de políticas públicas.
Com as grandes transformações observadas nas últimas décadas no campo da sexualidade, da
afetividade e das dinâmicas sociais, a família nuclear, heterossexual, não deve ser mais tida
como o modelo único, ou mesmo o padrão referencial, mas apenas como mais uma forma de
arranjo familiar. Afinal de contas, o número de mulheres e homens que coordenam sozinhos
seus lares junto com os seus filhos é altíssimo. Além disso, cresce a percepção social de que é
fundamental reconhecer o direito de casais homossexuais de constituírem uma família e terem
filhos.
Neste quesito, as políticas públicas brasileiras são avançadas, pois refletem a família a partir de sua função, levando em consideração a solidariedade entre seus membros, o desencadeamento das relações entre eles e a importância no desenvolvimento que cada
indivíduo exerce sobre o outro. Não há e não deve haver qualquer juízo de valor acerca de
qual a orientação sexual "ideal" dos cônjuges. Ao contrário, deve existir apenas um reforço no
papel da família como instituição central para a proteção social.
No âmbito das dinâmicas cotidianas, as relações caminham a passos lentos e nem sempre
percorrem o mesmo caminho das legislações. Em alguns casos, porém, a legislação parece
bastante retrógrada, principalmente quando observamos a dificuldade de adoção de filhos por
parte de casais homossexuais.
Quando isso ocorre, se transforma em notícia nacional, num acontecimento que "está para
além desta sociedade", pois parecem ofender os valores de setores conservadores da
sociedade, sobretudo os religiosos. É utilizando esse tipo de exemplo que podemos perceber
com mais clareza o quanto a sociedade como um todo é preconceituosa, o quanto idealizamos
um tipo de família heterossexual, em que o pai exerce o papel de coordenador do lar.
A diversidade sexual, com sua pluralidade afetiva e de experiências, constitui, sobretudo, um
positivo elemento de integração dos laços sociais e de vivência civilizada. A orientação sexual
do indivíduo não influencia de forma negativa o seu caráter. Pelo contrário, só traz benefícios à sociedade, pois um indivíduo satisfeito no seu relacionamento afetivo-sexual será uma pessoa feliz e tranquila em todos os ambientes sociais, seja de trabalho, escola ou família. A
comprovação do bem-estar social causado pela aceitação das diferentes orientações sexuais é
a própria verificação do que ocorre quando ela não existe. As pessoas podem se isolar, se
destruir, ficar atormentadas.
Não cabe, nem aos bispos, nem aos padres, a capacidade e a competência de determinar o
que é ou o que deve ser considerado um núcleo familiar. Em uma sociedade democrática de
direitos, essa definição doutrinária da Igreja e da CNBB alijaria de seus direitos legítimos as
famílias monoparentais e as famílias adotivas.
Nem a Igreja nem os Católicos têm autorização alguma para utilizar desse terrorismo
psicológico para forçar a opinião pública a seu favor.
Não cabe, nem aos bispos, nem aos padres, definirem ou cercearem as diferenças de gênero,
de opção e de preferência sexual. Em uma sociedade de direito, não há espaço para a
discriminação, nem o preconceito. Famílias poligâmicas, como as que existem entre os
muçulmanos, também deve receber o respaldo da lei. A definição da Igreja e da CNBB está não
apenas tornando ilegal e criminosa as famílias poligâmicas, muçulmanas ou não, mas está
também negando aos muçulmanos o direito deles de praticarem suas crenças religiosas.
O conhecimento acadêmico comprovou, por diversas vezes, que as ditas Sagradas Escrituras
foram, ao longo do tempo, manipuladas, forjadas, interpoladas, mal traduzidas, com o único
intento de justificar e embasar as doutrinas da Igreja. Portanto, estas não servem nem podem
ser tomadas como parâmetro de verdade absoluta e incontestável. Mesmo porque, em uma
sociedade multidiversificada, democrática e de direito, deve ser dado o igual respeito e espaço
a todas as religiões que fazem parte de sua comunidade e as Sagradas Escrituras não são a
única fonte de religiosidade.
Não é da capacidade e da competência dos bispos ou dos padres emitir pareceres ou
comentários em matéria de jurisprudência. Uniões homossexuais fazem parte da nossa
sociedade e devem receber o respaldo legal e jurídico e isto é um princípio constitucional.
Uma família não deixa de ser família, se acaso um dos conubentes falecer. Uma família não
deixa de ser família, se os filhos são adotados. Portanto, uma família não deixará de ser
família, quando os conubentes são do mesmo sexo.
A resistência católica é apenas uma reedição da mesma resistência que aconteceu quando a lei
regulamentou o divórcio e foi permitido a fertilização "in vitro". Fizeram o mesmo escândalo,
disseram que seria o fim da humanidade. O que a Igreja quer garantir é o seu poder e
influência sobre a nossa sociedade. Tudo é uma questão de manter o poder e a dominação da
Igreja sobre as pessoas. Manter o poder sobre sua sexualidade, sobre seu relacionamento,
sobre sua opção sexual, manter controle sobre seu corpo, seu prazer, manter o controle sobre
a sua mente.
Nós, Brasileiros do Brasil, não vamos mais aceitar nem permitir a intromissão dos sacerdotes
da Igreja em assuntos de foro íntimo, nem se imiscuírem nas funções de legisladores e juízes.
A instituição familiar corresponde ao desígnio da sociedade, da cultura e da época e não aos
projetos de opressão, repressão e ditadura doutrinária da Igreja. Nós não autorizamos nem
reconhecemos a suposta autoridade da CNBB e da Igreja Católica. Nós estamos fartos dessa
prepotência, dessa arrogância e dessa presunção. E conclamamos a todos os brasileiros,
cidadãos, que defendam as suas instituições de direito, que sustentem a autoridade dos três
poderes da República, a saber, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. O Brasil não é, nem
será, uma teocracia.
Por um Brasil efetivamente laico e justo, APOSTASIA JÁ!
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