Muitas vezes, por trás de uma pregação de puritanismo exacerbado, encontra-se um sentimento humano bastante mesquinho, considerado por vários filósofos como um enorme vício. Após alguns malabarismos, entretanto, os pregadores tentam transformar tal vício em aparente virtude. Os verdadeiros motivadores, se expostos à luz da razão, fariam com que os bois recebessem seus verdadeiros nomes. Não são nomes bonitos.
H. L. Mencken escreveu: “Existe somente um impulso honesto no fundo do Puritanismo, e este é o impulso de punir o homem com a capacidade superior para a felicidade – trazê-lo para baixo até o nível de ‘bom’ homem, i.e., do estúpido, covarde e cronicamente infeliz”. São palavras duras e diretas, provenientes do “Nietzche americano”, mas que sem dúvida forçam uma reflexão. Algumas pessoas não sabem ou não conseguem ser felizes de verdade, ou aproveitar determinados prazeres materiais, e um forte sentimento de inveja as domina. A inveja é um sentimento poderoso e destrutivo, onde a felicidade de sua vítima não é o foco, mas sim a infelicidade do vizinho. Se este quebrar a perna, o invejoso irá vibrar, como se pudesse andar melhor agora.
Assim, pessoas que sentem dificuldade de aproveitar a vida usufruindo dos prazeres do corpo, sem que isso seja sinônimo de futilidade, vazio ou niilismo até, partem para a agressão dos costumes dos demais, tratados como vícios terríveis, pecados mortais. Tentam incutir culpa naqueles seres felizes, como se tal felicidade fosse um pecado. Vários sucumbem a tentação de defender o uso de coerção – o Estado – para impedir que os demais possam usufruir livremente desses “vícios”. Desta forma, aquele que não consegue beber apenas socialmente prega a lei seca; aquele que não consegue fumar maconha esporadicamente defende sua criminalização; aquele que não suporta a tentação da prostituta pede que sua profissão seja banida por lei; aquele que não resiste aos jogos de azar, caindo na compulsão, pede intervenção estatal; etc. Isso não quer dizer que todos aqueles que defendem tais coisas são necessariamente invejosos, mas sim que todos os que usam o puritanismo para tal fim são.
Isso para não falar dos “puritanos” apenas nas aparências – os hipócritas – que precisam defender um estilo de vida o qual são incapazes de seguir na prática, mesmo com toda a imposição moral que se impõem. Hugo Mann, o personagem de Cabeça de Negro, romance de Paulo Francis, foi no cerne da questão: “Todo carola precisa pecar feio para se arrepender; quebra a monotonia da carolice; a rotina corrompe qualquer fé”. Os “pecadores” em questão adoram pregar um ideal de vida que entra em confronto com a natureza humana, para depois martirizarem-se com seus desvios de conduta. De fato, com tanta dicotomia criada artificialmente entre corpo e alma, como se para esta ser “salva” aquele tivesse que sofrer, fica praticamente impossível atingir a felicidade. Nosso corpo, afinal, faz parte do que somos, e não é apenas uma carcaça que transporta a alma.
Se para a minha felicidade um determinado estilo de vida parece inadequado, isso não quer dizer que meu vizinho tenha que seguir a mesma receita. Contanto que meus atos não tirem a liberdade do outro, devo ser livre para ser feliz à minha maneira. Os que pedem para o Estado proibir tudo aquilo que eles mesmos não conseguem evitar voluntariamente, ignoram este princípio, e deixam a inveja falar mais alto. O sentimento é algo como ‘já que eu não posso, ninguém mais deve poder’. Talvez ninguém melhor que o próprio Nietzsche tenha detectado as causas desse puritanismo aparente: “Há uma inconsciente inveja no vesgo olhar do vosso desprezo. Não sigo o vosso caminho, ó desprezadores da vida! Não sois, para mim, ponte que leve ao super-homem. Assim falou Zaratustra”. E está falado!
Fonte: Rodrigo Constantino
Nota: apelo à moral, à virtude e aos 'bons costumes' costumam ser constantes nos discursos das religiões monoteístas. Adendo: como podem ver, eu tento aproveitar as ideias de diversas fontes, até mesmo de gente que eu discordo, como o Rodrigo Constantino.
H. L. Mencken escreveu: “Existe somente um impulso honesto no fundo do Puritanismo, e este é o impulso de punir o homem com a capacidade superior para a felicidade – trazê-lo para baixo até o nível de ‘bom’ homem, i.e., do estúpido, covarde e cronicamente infeliz”. São palavras duras e diretas, provenientes do “Nietzche americano”, mas que sem dúvida forçam uma reflexão. Algumas pessoas não sabem ou não conseguem ser felizes de verdade, ou aproveitar determinados prazeres materiais, e um forte sentimento de inveja as domina. A inveja é um sentimento poderoso e destrutivo, onde a felicidade de sua vítima não é o foco, mas sim a infelicidade do vizinho. Se este quebrar a perna, o invejoso irá vibrar, como se pudesse andar melhor agora.
Assim, pessoas que sentem dificuldade de aproveitar a vida usufruindo dos prazeres do corpo, sem que isso seja sinônimo de futilidade, vazio ou niilismo até, partem para a agressão dos costumes dos demais, tratados como vícios terríveis, pecados mortais. Tentam incutir culpa naqueles seres felizes, como se tal felicidade fosse um pecado. Vários sucumbem a tentação de defender o uso de coerção – o Estado – para impedir que os demais possam usufruir livremente desses “vícios”. Desta forma, aquele que não consegue beber apenas socialmente prega a lei seca; aquele que não consegue fumar maconha esporadicamente defende sua criminalização; aquele que não suporta a tentação da prostituta pede que sua profissão seja banida por lei; aquele que não resiste aos jogos de azar, caindo na compulsão, pede intervenção estatal; etc. Isso não quer dizer que todos aqueles que defendem tais coisas são necessariamente invejosos, mas sim que todos os que usam o puritanismo para tal fim são.
Isso para não falar dos “puritanos” apenas nas aparências – os hipócritas – que precisam defender um estilo de vida o qual são incapazes de seguir na prática, mesmo com toda a imposição moral que se impõem. Hugo Mann, o personagem de Cabeça de Negro, romance de Paulo Francis, foi no cerne da questão: “Todo carola precisa pecar feio para se arrepender; quebra a monotonia da carolice; a rotina corrompe qualquer fé”. Os “pecadores” em questão adoram pregar um ideal de vida que entra em confronto com a natureza humana, para depois martirizarem-se com seus desvios de conduta. De fato, com tanta dicotomia criada artificialmente entre corpo e alma, como se para esta ser “salva” aquele tivesse que sofrer, fica praticamente impossível atingir a felicidade. Nosso corpo, afinal, faz parte do que somos, e não é apenas uma carcaça que transporta a alma.
Se para a minha felicidade um determinado estilo de vida parece inadequado, isso não quer dizer que meu vizinho tenha que seguir a mesma receita. Contanto que meus atos não tirem a liberdade do outro, devo ser livre para ser feliz à minha maneira. Os que pedem para o Estado proibir tudo aquilo que eles mesmos não conseguem evitar voluntariamente, ignoram este princípio, e deixam a inveja falar mais alto. O sentimento é algo como ‘já que eu não posso, ninguém mais deve poder’. Talvez ninguém melhor que o próprio Nietzsche tenha detectado as causas desse puritanismo aparente: “Há uma inconsciente inveja no vesgo olhar do vosso desprezo. Não sigo o vosso caminho, ó desprezadores da vida! Não sois, para mim, ponte que leve ao super-homem. Assim falou Zaratustra”. E está falado!
Fonte: Rodrigo Constantino
Nota: apelo à moral, à virtude e aos 'bons costumes' costumam ser constantes nos discursos das religiões monoteístas. Adendo: como podem ver, eu tento aproveitar as ideias de diversas fontes, até mesmo de gente que eu discordo, como o Rodrigo Constantino.
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