O Continente Humano é marcado pelo Planalto Dos Mitos, composto por vários picos, montanhas e morros, alguns tão antigos quanto o tempo, outros mais recentes mas tão altos quando um prédio de cinco andares.
De tempos em tempos, alguns dos moradores do litoral se aventuram em busca de respostas a perguntas que existem desde que apareceu no Continente Humano. De tempos em tempos, os que empreendem esta viagem voltam loucos e tornam a vida louca. De tempos em tempos, outros vão em busca de uma cura para tal loucura e ao longo da épocas, mais morros surgem, montanhas são formadas, novos picos são descobertos.
O escritor exilado, cansado da superficialidade e da futilidade do seu povo, resolve continuar em sua busca solitária, para compreender a vida, o mundo, a magia e a existência. Passou pelos desertos dos adoradores do Deus ciumento, cada um dizendo ser o único; passou pelos cerrados dos adoradores da Deusa ameba, tentando negar sua vizinhança com o deserto; passou pelos que brincam na borda de precipícios, deslumbrados com a própria sombra que projetam e, mesmo que com dor, passou pelos que conheciam os Caminhos do Bosque Sagrado. Ele não estava satisfeito com os sacerdotes, com as instituições, com os sistemas. Então ele foi corajosamente em busca da Fonte.
O problema, diriam os mais sábios, é que não há uma Fonte. Cada parte do Planalto do Mito leva a um conjunto de montanhas e picos, Fontes nascem de cada montanha e pico. Isso é tão óbvio, mas conforme a caminhada e a altitude vão crescendo, o cansaço e a falta de ar ou mata ou enlouquece o Peregrino.
O escritor exilado andou por alguns caminhos, conheceu algumas montanhas, alcançou alguns picos, escrevia seus textos para olhos cegos. O seu povo estava muito ocupado seguindo flautistas. Eles nunca iriam reconhecer a face negra da Deusa, nem a face severa. Considerando que muitos sequer dão ao Deus a mesma importância que a Deusa, dificilmente nesse tipo de puritanismo assexuado disfarçado de 'sagrado feminino' seria reconhecido a face erótica da Deusa. Mas Ela está lá, Inanna, poderosa e eterna, de quem veio Ishtar, Lilith, Astarte, Afrodite, Sheila Na Gig. Uma face que dificilmente poderá encontrar lugar entre meninas que são forçadas a serem misândricas e entre meninos que são forçados a serem efeminados.
Inanna, como a face erótica da Deusa, quer e espera ser coberta por um Deus vigoroso, ser invadida e preenchida por um Deus viril, ser satisfeita e plena por um Deus macho.
O motivo pelo qual o monoteísmo baniu o prazer e a alegria do sexo foi para tornar a humanidade frustrada e violenta. Isso só poderia ser conseguido se tirassem do Deus que crêem todas as características que fazem um Deus ser Deus, que é sua identidade de gênero, bem como seus desejos e falhas. Triste é tentar criar uma nova forma de anti-Deus que não o Embusteiro, nascido e criado da sombra do Deus esterilizado e divorciado, com esse enfoque obcessivo na Deusa ameba.
Que tipo de 'sagrado feminino' é esse onde os homens e o Deus não podem ser machos? Que tipo de 'sagrado feminino' é esse onde as mulheres e a Deusa não pode ser feminina? Ser macho significa dar valor à comunidade, à família, à fêmea. Ser fêmea significa dar valor à sensualidade, ao erotismo, ao sexo. Não há 'sagrado feminino' onde não há espaço para o sagrado masculino. Não há a Deusa geratriz onde o Deus é castrado.
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