Na soleira da porta, um gato fica como que guardando a entrada, enquanto do outro lado da rua os curiosos se apinham, querendo ver as "divorciadas" daquele que era chamado de Senhor dos Exércitos, tão temido por todos.
Conforme nos aproximamos da casa, o murmúrio da platéia aumenta, como se esperasse que um raio caisse sobre nossas cabeças. O problema, como eu tento explicar ao meu guia samaritano, é que nós viemos da Arcádia e temos que levar a reportagem. O gato se espreguiça e batemos na porta.
- Sim, quem é?
- Boa tarde. Nós somos da revista "Mulher Independente" que circula por toda a Babilônia e gostaríamos de entrevistar Aola e Aoliba.
- Por El! Como vocês ficaram sabendo?
Uma garota nos atende na porta, ironicamente vestindo as mesmas roupas que as canaanitas emancipadas usam.
- Os boatos correm rápido e vão longe.
- Sei. Concerteza foi uma de nossas cunhadas. Sentem-se. Muito prazer. Eu sou Aola e esta é Aoliba.
- Muito prazer. Conte-nos, como vocês conheceram Yahveh?
- Bom, como é de costume na nossa gente, fomos apresentadas a ele por parentes.
- E qual foi a primeira impressão?
- Ah... nós eramos... jovens... inocentes... eu tinha 12 anos e ela tinha 7...
- Nove! Se você tinha 12 eu tinha 9! Diz protestando Aoliba.
- Certo, certo...não vamos brigar. Mas você ficou mais entusiasmada com ele do que eu.
Aoliba dá uma risada abafada, nervosa e excitada. Revira os olhos como que procurando algo para não nos encarar.
- Eu sou mais jovem, mas mais...como eu posso dizer...
- Mais safada do que eu. Ri triunfalmente Aola.
- Eu não poss fazer nada se os meninos gostavam mais de mim! Diz Aoliba emburrada.
- Não vamos brigar! Enfim, nós eramos jovens e nos impressionamos com ele...
Aoliba desata a cara emburrada e enrubece ao nos dizer:
- Ah sim... a armadura... as armas... todo aquela comitiva de soldados... aquele cheiro de sangue e batalha...
Aola ri fragorosamente. Visivelmente mais à vontade, nos oferece vinho de palmeira.
- Servidos? Foi a única coisa boa que sobrou. O resto jogamos fora.
Aceitamos. O vinho desce macio. Excelente safra.
- Como foi o casamento?
- A cerimônia? Como é da nossa tradição. O problema foi depois...no que era para ser a nossa prima nocte...
- O que aconteceu?
Aoliba ri desaforadamente, nervosamente, mostarndo uma grande frustração.
- O que não aconteceu, vocês querem dizer...
- A espada dele era muito curta...
- A lança dele era curva...
- E então? O que vocês fizeram?
- O que ele fez...ou tentou fazer...é o mais correto...nos mandou sacrificar dois pombos e esfregar em nossos lençóis...
- Por que?
- Vocês conhecem a nossa tradição? Pois então... imagine aquele que é chamado de Senhor dos Exércitos, no dia seguinte, não ostentar a prova de nossa virgindade... ou pior... de sua virilidade?
- O que aconteceu a seguir?
- Evidente... nos recusamos... eu o empurrei do leito enquanto Aoliba saia correndo.
- Para onde vocês foram?
- Naquela altura dos acontecimentos? Com o medo de sermos apedrejadas? Nós fomos ao nosso tio, filisteu, a única pessoa que confiávamos e que poderia nos ajudar em uma emergência dessas.
- Isso deixou o marido de vocês em uma situação complicada.
- Nosso ex-marido, no dia seguinte chamou a assembléia e nos desprezou. Mentiu e disse que nós fugimos para nos prostituirmos com outros homens.
- Como suas famílias ficaram?
- Ah, a parte cananéia sofreu. A parte israelita protestou. A parte filistéia nos apoiou. No fim, Yahveh manteve sua honra, se é que ele sabe o que é isso e nós ganhamos nossa liberdade.
- Vocês não tem medo do que Yahveh pode fazer em represália enquanto vocês estão aqui na Samaria?
- O que ele poderia fazer, por El? As pessoas têm medo dele porque não sabem que ele não tem poder algum!
- Mas o seu povo o chama de Deus...
- Deus? Há! Aquilo não pode ser Deus. Aquilo não pode sequer ser considerado homem. Mas por respeito ao nosso povo, nós resolvemos deixar isso de lado e irmos viver, felizes, em liberdade.
- O que pretender fazer quando chegarem na Filistéia?
- Eu não sei. Mas...
- Eu sei. Eu vou procurar um homem de verdade, um Deus de verdade.
- Enfim concordamos, irmãzinha. Graças a nosso tio, conheçemos tantos homens... tantos Deuses... tantas espadas longas, tantas lanças rijas, tantos cetros poderosos...
Aola mordisca levemente os lábios e nos olha com languidez.
- Venha nos visitar, quando chegarmos lá...
- Uma última palavra para nossas leitoras?
- Só uma...sejam femininas, sejam independentes, sejam livres...sejam verdadeiramente mulheres.
Conforme nos aproximamos da casa, o murmúrio da platéia aumenta, como se esperasse que um raio caisse sobre nossas cabeças. O problema, como eu tento explicar ao meu guia samaritano, é que nós viemos da Arcádia e temos que levar a reportagem. O gato se espreguiça e batemos na porta.
- Sim, quem é?
- Boa tarde. Nós somos da revista "Mulher Independente" que circula por toda a Babilônia e gostaríamos de entrevistar Aola e Aoliba.
- Por El! Como vocês ficaram sabendo?
Uma garota nos atende na porta, ironicamente vestindo as mesmas roupas que as canaanitas emancipadas usam.
- Os boatos correm rápido e vão longe.
- Sei. Concerteza foi uma de nossas cunhadas. Sentem-se. Muito prazer. Eu sou Aola e esta é Aoliba.
- Muito prazer. Conte-nos, como vocês conheceram Yahveh?
- Bom, como é de costume na nossa gente, fomos apresentadas a ele por parentes.
- E qual foi a primeira impressão?
- Ah... nós eramos... jovens... inocentes... eu tinha 12 anos e ela tinha 7...
- Nove! Se você tinha 12 eu tinha 9! Diz protestando Aoliba.
- Certo, certo...não vamos brigar. Mas você ficou mais entusiasmada com ele do que eu.
Aoliba dá uma risada abafada, nervosa e excitada. Revira os olhos como que procurando algo para não nos encarar.
- Eu sou mais jovem, mas mais...como eu posso dizer...
- Mais safada do que eu. Ri triunfalmente Aola.
- Eu não poss fazer nada se os meninos gostavam mais de mim! Diz Aoliba emburrada.
- Não vamos brigar! Enfim, nós eramos jovens e nos impressionamos com ele...
Aoliba desata a cara emburrada e enrubece ao nos dizer:
- Ah sim... a armadura... as armas... todo aquela comitiva de soldados... aquele cheiro de sangue e batalha...
Aola ri fragorosamente. Visivelmente mais à vontade, nos oferece vinho de palmeira.
- Servidos? Foi a única coisa boa que sobrou. O resto jogamos fora.
Aceitamos. O vinho desce macio. Excelente safra.
- Como foi o casamento?
- A cerimônia? Como é da nossa tradição. O problema foi depois...no que era para ser a nossa prima nocte...
- O que aconteceu?
Aoliba ri desaforadamente, nervosamente, mostarndo uma grande frustração.
- O que não aconteceu, vocês querem dizer...
- A espada dele era muito curta...
- A lança dele era curva...
- E então? O que vocês fizeram?
- O que ele fez...ou tentou fazer...é o mais correto...nos mandou sacrificar dois pombos e esfregar em nossos lençóis...
- Por que?
- Vocês conhecem a nossa tradição? Pois então... imagine aquele que é chamado de Senhor dos Exércitos, no dia seguinte, não ostentar a prova de nossa virgindade... ou pior... de sua virilidade?
- O que aconteceu a seguir?
- Evidente... nos recusamos... eu o empurrei do leito enquanto Aoliba saia correndo.
- Para onde vocês foram?
- Naquela altura dos acontecimentos? Com o medo de sermos apedrejadas? Nós fomos ao nosso tio, filisteu, a única pessoa que confiávamos e que poderia nos ajudar em uma emergência dessas.
- Isso deixou o marido de vocês em uma situação complicada.
- Nosso ex-marido, no dia seguinte chamou a assembléia e nos desprezou. Mentiu e disse que nós fugimos para nos prostituirmos com outros homens.
- Como suas famílias ficaram?
- Ah, a parte cananéia sofreu. A parte israelita protestou. A parte filistéia nos apoiou. No fim, Yahveh manteve sua honra, se é que ele sabe o que é isso e nós ganhamos nossa liberdade.
- Vocês não tem medo do que Yahveh pode fazer em represália enquanto vocês estão aqui na Samaria?
- O que ele poderia fazer, por El? As pessoas têm medo dele porque não sabem que ele não tem poder algum!
- Mas o seu povo o chama de Deus...
- Deus? Há! Aquilo não pode ser Deus. Aquilo não pode sequer ser considerado homem. Mas por respeito ao nosso povo, nós resolvemos deixar isso de lado e irmos viver, felizes, em liberdade.
- O que pretender fazer quando chegarem na Filistéia?
- Eu não sei. Mas...
- Eu sei. Eu vou procurar um homem de verdade, um Deus de verdade.
- Enfim concordamos, irmãzinha. Graças a nosso tio, conheçemos tantos homens... tantos Deuses... tantas espadas longas, tantas lanças rijas, tantos cetros poderosos...
Aola mordisca levemente os lábios e nos olha com languidez.
- Venha nos visitar, quando chegarmos lá...
- Uma última palavra para nossas leitoras?
- Só uma...sejam femininas, sejam independentes, sejam livres...sejam verdadeiramente mulheres.
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