domingo, 20 de outubro de 2024

O púlpito do preconceito

Autor: Zé Barbosa Júnior.

O pastor Pio de Carvalho, líder da Igreja Comunhão Cristã Abba em Curitiba, gerou controvérsia após fazer uma declaração polêmica durante um culto transmitido ao vivo, no último domingo (13) na igreja Abba de Itapeva. Ele associou o transtorno do espectro autista a um "espírito maligno", provocando indignação nas redes sociais e entre especialistas.

A declaração surgiu após Pio relatar uma conversa com uma educadora especializada em crianças com necessidades especiais. Segundo o pastor, a profissional sugeriu a criação de uma classe específica para essas crianças na igreja. Em resposta, Pio recomendou que se aplicasse óleo na cabeça das crianças e se pedisse para o "espírito maligno" sair.

Além disso, Pio ironizou a profissional, dizendo que nunca havia ouvido falar em autismo e mencionando que seu avô viveu até os 94 anos sem conhecer o termo. "Meu avô morreu com 94 anos e nunca ouviu isso", disse ele, desqualificando a existência do transtorno e o conhecimento científico sobre o tema.

A repercussão nas redes sociais foi imediata, com muitas críticas à fala do pastor, considerada inadequada e prejudicial. Em resposta à controvérsia, Pio de Carvalho divulgou uma nota de retratação. Ele esclareceu que não é médico ou psicólogo e que sua intenção era apenas destacar o sofrimento de muitas famílias que, em sua visão, enfrentam pressões de natureza espiritual.

Na nota, Pio enfatizou que sua sugestão incluía orações em conjunto com tratamentos clínicos profissionais. Ele acredita que essa abordagem poderia ajudar a aliviar a dor das famílias e servir como resistência ao mal. O pastor pediu desculpas por qualquer mal-entendido causado por suas palavras.

Apesar do pedido de desculpas, é notório para quem assiste ao vídeo, publicado pelo perfil @assembleianosdevaloroficial no instagram, que não há nada de inocente no comentário por parte do pastor. Ele sabe muito bem o que estava falando, tanto que chega a “completar” a história dizendo que 25 dos 29 alunos foram “curados”. Sem contar com a chacota que faz com o autismo dizendo ser uma “onda” querendo entrar na igreja.

Basta assistir a mensagem para perceber o que realmente ele quis transmitir, ao contrário do que tenta dizer em sua nota de “retratação”, onde na verdade não se desculpa de nada e põe a responsabilidade, como sempre, em quem o acusa: “qualquer interpretação diversa do que foi exposto não condiz com o que eu quis transmitir.”

A controvérsia levantou debates sobre a responsabilidade de líderes religiosos ao abordar temas complexos como o autismo e a necessidade de um diálogo mais informado e respeitoso sobre questões de saúde mental e espiritualidade.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/sul/2024/10/17/pastor-pede-para-professora-expulsar-espirito-maligno-de-crianas-autistas-167618.html

Nota: enquanto isso, o governo decretou o Dia da Música Gospel. Quando terá alguma ação do governo para coibir e punir crimes cometidos por padres e pastores?

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