domingo, 30 de junho de 2024

Uma conta amarga

As notícias são alarmantes
Não caiu bem o Nubank ter sediado uma palestra com Jordan Peterson.

Ponto negativo: o vínculo com o Brasil Paralelo, reduto bolsonarista, disseminador de fake news, golpista, reacionário e defensor do revisionismo histórico.

Duplo ponto negativo: Jordan Peterson é mundialmente conhecido por naturalizar Adolf Hitler e por seus pensamentos ultraconservadores, antifeministas e anti-LGBT.

Enquanto o Nubank tenta gerenciar a crise e evitar o cancelamento, não custa nada lembrar que muitas empresas e bancos multimilionários famosos apoiaram, ajudaram e financiaram o Terceiro Reich.

A "volta" do fascismo e do nazismo não é mera coincidência.
O escândalo dos EUA aceitar Trump, que responde um processo, como candidato, livremente expondo ideais fascistas, nazistas e fundamentalistas não é mera coincidência.

A direita (alternativa ou extrema), aliada ao conservadorismo e ao fundamentalismo cristão querem dominar o mundo, de novo.
Mas vamos pensar positivo. Provavelmente, com a crise climática, em breve não terá mais planeta.

Com delírio golpista não se brinca!

A quartelada ocorrida na Bolívia, na última quarta-feira (26/6), demonstra a quão anacrônica é a velha receita de golpe dos anos 60/70, que alguns generais latino-americanos teimam em usar para retornar ao poder. Foi-se a época em que bastavam “soldados perdidos de armas nas mãos” e tanques obsoletos nas ruas, para garantir o sucesso de uma ruptura institucional.

Ontem, em tempo real ao da quartelada, vários países e órgãos internacionais repudiaram firmemente o golpe em marcha. Sem apoio externo e interno, o sonho golpista do general Juan José Zúñig se tornou rapidamente em pesadelo. Poucas horas depois da intentona golpista, o general e outros onze militares foram detidos e irão responder na Justiça pelos crimes de levante armado contra a segurança e soberania do Estado. Ou seja, em alguns países, golpistas fracassados são prontamente punidos e execrados do cenário político.

Impossível não comparar com a nossa terra brasilis... Por aqui, o golpe só não prosperou por falta de apoio internacional e pela divisão interna de alguns comandantes dentro das Forças Armadas.

A resposta que vem sendo dada aos crimes cometidos pelos mentores do golpe é frágil e lenta. E essa percepção de lentidão e leniência não é de agora. Ainda no calor do 8 de janeiro, já havia sinais. Um dos mais emblemáticos aconteceu no fim da tarde naquele mesmo dia, quando o general Gustavo Henrique Dutra, do Comando Militar do Planalto, impediu que a PM invadisse e prendesse os golpistas acampados na frente do Quartel General de Brasília. Vejam o tamanho da afronta: o comandante cercou o acampamento com blindados do exército para impedir a ação da Polícia Militar do DF. E o que aconteceu com o general? Nada.

Esse “passar pano” foi o primeiro de uma série de atos que vêm poupando não só os oficiais que participaram ativamente do projeto golpista, mas o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro que, todos sabemos, foi um dos seus mentores.

Livre, leve, solto e influindo no cenário eleitoral, Bolsonaro sabe da importância de preservar sua relação com os oficiais das FA, mas constrói com as PMs o seu braço armado ideológico preferencial, que certamente será decisivo num futuro próximo.

Hoje, os PMs em todo o país não só frequentam os cultos das igrejas neopentecostais bolsonaristas lideradas pelos empresários da fé, onde o mote é a doutrinação política (e não religiosa), mas também estão ocupando cargos públicos importantes no legislativo e no executivo.

No governo de Tarcísio, o principal nome dessa ala bolsonarista é a do secretário de Segurança Pública, Coronel Guilherme Muraro Derrite. Aquele mesmo que no passado foi afastado da Rota por excesso de mortes em serviço. Outro nome de confiança de Bolsonaro é o coronel Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota e indicado ao cargo de vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes.

No sábado (22/06), policiais militares que irão se candidatar nas eleições deste ano participaram de um encontro com assessores e equipes da Bancada da Bala em São Pulo. A meta dos articuladores do encontro é a eleição de pelo menos 645 vereadores, em todo o estado. Até na educação pública, as PMs estão se infiltrando, através das chamadas “escolas cívico-militares”, onde, pasmem, os PMs darão aulas de política e ética.

Está mais do que claro que a extrema-direita se prepara para novos grandes embates que colocarão em risco a democracia. E que nesse contexto, as PMs do país, até mesmo pela sua maior capilaridade, terão um papel fundamental no avanço de um Estado autocrático. Papel este mais relevante que o das Forças Armadas.

Em momentos como este, é bom rever a história recente. Os nazistas assumiram o poder na Alemanha em janeiro de 1933. Foi o fim de um período de 12 anos de democracia, da chamada República de Weimar. A ditadura de Hitler só teve sucesso por conta da atuação dos paramilitares da truculenta SS nazista, criada em 1925 para proteger o fuhrer.

Na semana que vem a PF conclui os inquéritos sobre a venda ilegal de joias e a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro. Para o bem da democracia, torcemos todos para que a PGR não perca tempo e ofereça o quanto antes as denúncias, para dar início às ações penais contra os mentores, financiadores e idealizadores da tentativa de golpe.

A história e os acontecimentos recentes em nosso entorno sul-americano devem nos servir de alerta e lição. Com delírio golpista não se brinca!

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/com-delirio-golpista-nao-se-brinca-nem-na-bolivia-nem-no-brasil

Witchsplaining

De acordo com o Wikipédia:

Mansplaining (do inglês: man = homem, e splaining = a forma informal do verbo explain, que significa explicar) é um termo que significa "(um homem) comentar ou explicar algo a uma mulher de uma maneira condescendente, excessivamente confiante, e, muitas vezes, imprecisa ou de forma simplista".

Eu usei minhas habilidades como artífice das palavras e criei a palavra witchsplaining.
Eu vou usar esse termo para definir quando uma pessoa, que se coloca em um pedestal, tentativa explicar "ex-catedra" o que é Bruxaria.

Lembrando que o que nós estamos fazendo é uma reconstrução cultural. Lembrando que, a bruxa, nas lendas e mitos, faz referência a uma existência sobrenatural, não humana. Lembrando que muito do que hoje é descrito e chamado de Bruxaria é resultado de livros, sem conhecimento acadêmico, influenciados pela cultura popular.

A única forma de conhecer e praticar a Bruxaria é mergulhar em muitos livros e em incansáveis experiências.

Dito isso, vejamos o que Joey Morris tem a nos contar na coluna Celtic Hedge Witch, na seção Pagan, no Patheos, sobre Bruxaria.

"Você já notou a simplificação excessiva da Bruxaria nas redes sociais? Eu tenho. Pode ser muito prejudicial, então pensei em abordar alguns deles."

Não fode, Joey. Provavelmente você teve contato com a Bruxaria pelas redes sociais. Você provavelmente foi mais uma adolescente deslumbrada com os livros sobre bruxaria e Wicca, que maís parece um manual de auto-ajuda com uma mistura kitsch de esoterismo.

"Alegação: Uma bruxa não é algo que você compra!!!
BEM, NA VERDADE… comprar e apoiar negócios espirituais e de bruxas é uma parte regular da comunidade onde você compra produtos e serviços de bruxas. Isso vem acontecendo desde que era um sistema de troca e as bruxas não eram chamadas de bruxas."

Ops. Contradição. O sustento de templos e o comércio de assistência espiritual era algo voluntário. A autora comete contradição ao dizer que isso era normal em um tempo onde as bruxas não eram chamadas de bruxas, portanto, não são as mesmas pessoas ou ocupações.
Outra coisa bem diferente é fazer propaganda. Sobretudo cobrar por iniciação. Como cidadão do Paganistão, eu fico embaraçado com a forma que pessoas, supostamente "bruxas", mais parecem mercenárias. Falando por experiência própria, eu sinto enjôo quando visito uma feira direcionada aos meu povo. Eu chamei de seven-eleven por delicadeza.

"Alegação: Uma Bruxa não é algo que você veste!
BEM, NA VERDADE… Eu entendo que as pessoas ficam irritadas quando é tudo estética e nenhuma substância."

Novamente, eu posso falar por experiência própria. Qualquer reunião de "bruxas" mais parece uma convenção de cosplay. As pessoas que foram acusadas e condenadas por praticar bruxaria vestia roupas locais e da época.
Ser uma bruxa (ou bruxo) requer uma preparação espiritual e um certo contrato com o Mestre do Sabá. Mas vamos falar baixo para não acordar os iludidos.
Como diz o ditado, o hábito não faz o monge.


"Alegação: Uma bruxa não é algo que você posta…
BEM, NA VERDADE… Presumo que seja uma postagem on-line, em vez de colocar coisas no correio. ENTÃO… censura ? As bruxas já escrevem sobre suas experiências há algum tempo, e elas são bons recursos (espero) para outras pessoas."

Bingo. Joey revela (assume) que é mais uma "bruxa" de internet. Não que essa ferramenta seja ruim, mas também tem muita coisa que não cheira bem, como o Witchtok.
As pessoas que foram acusadas e condenadas por praticar bruxaria, em sua maioria, não sabiam ler ou escrever. Quem escreveu sobre ou a respeito de bruxas e bruxaria foram os padres. Mais tarde surgiram trabalhos acadêmicos no campo do folclore e da antropologia.
Os livros de bruxaria que podiam ser encontrados, alguns textos oriundos da Antiguidade, não foram escritos pelas "bruxas".
Charles Godfrey Leland e Margareth Murray foram alguns dos percursores. Depois veio Gerald Gardner. Quando se tornou mais um produto de consumo de massa, a Bruxaria começou a ganhar as prateleiras das livrarias, por autores nem sempre confiáveis.
A internet apenas impulsionou essa massificação.

"Alegação: Uma bruxa não é algo que você age…
BEM, NA VERDADE… esta parte do post insinua que agir como se algo fosse diferente de incorporá-lo. E novamente, entendo a frustração.'

Ops. Lembra que eu disse que o que nós fazemos é uma reconstrução cultural? Pois então. Muito do que é apresentando como "bruxaria" é produto mais da cultura popular do que Bruxaria. Maldito seja o witchtok.

Não foi dessa vez, Joey. Melhor sorte na próxima.

sábado, 29 de junho de 2024

Horário eleitoral

Uchino Airi, candidata a governadora de Tóquio, resolveu tomar uma atitude inusitada durante um debate e virou notícia em todo o planeta. Ela tirou a blusa enquanto fazia seu discurso.

O fato ocorreu durante a fala dos candidatos na TV pública japonesa, o que acabou chocando ainda mais os espectadores.

Após ficar com o torso quase nu, ela afirmou que explicaria sua atitude para quem a adicionasse em um aplicativo chamado Line, uma espécie de WhatsApp. Sua intenção, no final das contas, era essa mesma, ou seja, divulgar seu perfil no aplicativo.

Ela não é a primeira a tomar atitudes estranhas para tentar se promover. Um outro candidato, por exemplo, se fantasiou de coringa recentemente. Fatos assim rendem visualizações, mas quase nunca votos.

Fonte: https://revistaforum.com.br/global/2024/6/28/video-em-debate-na-tv-candidata-governadora-de-toquio-tira-roupa-161277.html

Nota: nós estamos em ano eleitoral. Quem aguenta? Desde que o Brasil foi "redemocratizado", o horário eleitoral mais parece comercial de sabão em pó. Um espetáculo dantesco.
Para o Japão, a atitude foi ousada. Mas e curioso como a revista Fórum, supostamente progressista, fica escandalizada com a exposição da candidata.
Eu aqui fico torcendo para que a moda pegue aqui no Brasil.

Mais uma proposta criminosa

A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) apresentou recentemente um projeto de lei polêmico, alegando que a identidade de gênero pode facilitar crimes como voyeurismo, estupro, assédio e violência sexual. Com informações do Metrópoles.

A bolsonarista argumentou que sua proposta visa restringir o acesso a banheiros com base no sexo de nascimento, proibindo o uso de banheiros que não sejam unissex por pessoas cuja identidade de gênero difere do sexo biológico. Segundo a parlamentar, permitir que indivíduos usem banheiros conforme sua identidade de gênero poderia aumentar o risco de crimes sexuais.

Em sua justificativa, Zanatta afirmou: “Não é crível que, somente a partir da identidade de gênero, pessoas do sexo masculino possam acessar os banheiros destinados a pessoas do sexo feminino. Há, inclusive, diversos alertas de que as leis de não discriminação que permitem que as pessoas entrem nos banheiros com base em sua ‘identidade de gênero’ e não no sexo de nascimento, estão dando aos predadores sexuais a oportunidade de explorar as circunstâncias e cometer voyeurismo, estupro, assédio e violência sexual”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/bolsonarista-associa-transexualidade-ao-estupro-em-projeto-sobre-banheiros-publicos/

Nota: essa deputada é a que fez uma postagem com um fuzil insinuando disponibilidade para usar contra o atual presidente e nada aconteceu. O Brasil precisa proibir e punir qualquer manifestação de cunho fascista.
Adendo. Outra deputada bolsonarista comemorou a tentativa de golpe na Bolívia.
Ali os militares envolvidos foram presos.
Que aqui sejam julgados e condenados todos que ajudaram, patrocinaram, defenderam ou participaram da tentativa de golpe.

Desvio de função

Um coronel da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP) levou centenas de agentes da corporação para um templo a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) na manha desta terça (25) para uma reunião interna. O comandante afirmou que a presença de “todo o efetivo” era obrigatória no local. A informação é do Metrópoles.

A ordem para convocação foi feita no último dia 18 para o 11º Comando de Policiamento de Área (CPA-M 11), o 8º e o 11º batalhões metropolitanos. O autor do chamado foi o coronel João Alves Cangerana Junior, que disse que seriam “tratados assuntos exclusivamente de trabalho” no tempo da Iurd.

Durante a reunião, no entanto, o próprio coronel afirmou que é importante que os agentes tenham uma religião e “louvem os templos”. Ele ainda disse que a religião tem valores que “coadunam” com os da PM.

“Dentro dessa visão holística, eu entendo também que a gente deva professar alguma religião. Não por uma questão mística, até estamos em um templo, e a gente deve louvar os templos, mas sim a importância da religiosidade para a humanidade. A religião traz valores que são importantes e coadunam com os valores da Polícia Militar. Então, também considero importante a saúde espiritual”, afirmou o coronel.

A reunião durou cerca de duas horas e o pastor Roni Negreiros, da Iurd, foi quem encerrou o encontro. A pregação durou cerca e quatro minutos e o religioso defendeu que é preciso ler a Bíblia para ter “bons relacionamentos” com a família e colegas de trabalho.

Após a pregação, a maioria dos PMs permaneceu no local, mesmo com um aviso do coronel de que a presença não era mais obrigatória. Além das declarações religiosas, também foram exibidas palestras sobre saúde mental, saúde física, manutenção de viaturas, uniformes e até uso de câmeras corporais.

As palestras sobre esses temas foram apresentadas de maneira genérica, o que gerou a irritação de alguns PMs, que afirmaram que o encontro não teve “sentido”. Outros agentes reclamaram que perderam dias de folga para comparecer ao encontro na Iurd.

A PM do estado tem realizado diversas reuniões em templos religiosos sob argumento de que a quantidade de pessoas presentes nesses encontros não cabe num batalhão ou auditório comum. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que “as dependências do imóvel foram cedidas sem custos à corporação para a apresentação”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/coronel-convoca-pms-para-reuniao-na-universal-louvem-os-templos/

sexta-feira, 28 de junho de 2024

O crime da Câmara Municipal

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, em primeira votação nesta quinta-feira (27), um projeto de lei que impõe uma série de restrições às ONGs que distribuem alimentos à população em situação de rua na cidade. A proposta, de autoria do vereador bolsonarista Rubinho Nunes (MDB), visa regulamentar e controlar essas atividades na capital paulista.

Vale lembrar que, na última segunda-feira (24), a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar Rubinho, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), por um suposto abuso de autoridade em relação às tentativas de abrir comissões de inquérito parlamentar (CPIs) contra o padre Júlio Lancellotti usando denúncias não comprovadas.

De acordo com o texto aprovado, as organizações precisarão solicitar autorização prévia das Secretarias de Subprefeituras e de Assistência e Desenvolvimento Social para realizar as doações. Esta permissão terá validade de um ano, e as ONGs deverão agendar horários e dias específicos para a realização das ações.

Além disso, as entidades serão obrigadas a garantir a limpeza e a zeladoria das áreas onde os alimentos serão distribuídos. Isso inclui a disponibilização de mesas, cadeiras, talheres, guardanapos e demais ferramentas necessárias para uma alimentação segura e digna, além de limpar o local após as doações.

O projeto também exige que as ONGs façam um cadastro de todas as pessoas que recebem os alimentos, informações que deverão ser compartilhadas com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. Em caso de descumprimento das novas regras, as entidades estarão sujeitas a uma multa de R$ 17 mil e poderão ser descredenciadas por três anos para fins de distribuição de alimentos.

A aprovação do projeto ainda depende de uma segunda votação em plenário, cuja data ainda não foi definida. Rubinho Nunes justificou a necessidade do projeto afirmando que ele visa garantir a segurança e a dignidade na distribuição de alimentos, evitando situações que possam comprometer a saúde e a ordem pública.

Na contramão, ativistas argumentam que as novas exigências podem burocratizar e restringir o trabalho das ONGs, dificultando o acesso a uma assistência vital para aqueles que vivem nas ruas.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/camara-de-sp-avanca-em-projeto-que-restringe-doacoes-a-moradores-de-rua/

Nota: estamos em ano eleitoral e o Nunes debandou para a extrema direita, conversou com um político italiano fascista e declarou, ao exemplo do Tarcísio, seu alinhamento com Bolsonaro.

Pânico no púlpito

Notícia publicada em uma página direcionada aos evanjegues.

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal aprovou, na quarta-feira (19), uma proposta que torna obrigatória a inclusão de conteúdos feministas nos currículos escolares do ensino fundamental e médio.

De autoria da deputada Tábata Amaral (PSB-SP), o projeto altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Agora o texto segue para a Comissão de Educação onde será discutido, antes de ir ao plenário da Casa.

O projeto sobre feminismo estabelece que o conteúdo feminista deve ser integrado a disciplinas como história, ciências, artes e cultura do Brasil e do mundo.

A proposta visa levar para as salas de aula o ponto de vista feminino, com o objetivo de "resgatar as contribuições, vivências e conquistas das mulheres nas áreas científica, social, artística, cultural, econômica e política", conforme afirma o texto.

Retomando. Evidente que não vou indicar a fonte.
Tudo que padre e pastor tem medo. Que a mulher tenha acesso ao pensamento feminista.
Será que o Congresso topa incluir no currículo aulas sobre as religiões antigas?

STF contra leis inconstitucionais

Notícia publicada em uma página direcionada aos evanjegues.

Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta segunda-feira (10) suspender a vigência de duas leis que proibiam a utilização de “linguagem neutra” ou “dialeto não binário” nas escolas dos municípios de Ibirité, em Minas Gerais, e Águas Lindas de Goiás, em Goiás. A decisão foi fundamentada na alegação de que a competência para legislar sobre conteúdo pedagógico é da União, não dos municípios.

A maioria dos ministros do STF acompanhou o voto do relator, Alexandre de Moraes, que afirmou que as leis “aparentemente violam a garantia da liberdade de expressão, amplamente reconduzível à proibição da censura”. Os ministros Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Roberto Barroso e Cármen Lúcia também votaram a favor da suspensão das leis.

As leis suspensas previam sanções como multas e a suspensão de benefícios para instituições que utilizassem a linguagem neutra em materiais pedagógicos ou durante aulas e eventos escolares. Grupos ativistas, como a Aliança LGBTI+ e a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, contestaram as leis, alegando que as proibições comprometem a liberdade de expressão e violam os direitos fundamentais de ensinar e aprender.

Retomando. Evidente que não vou indicar a fonte.
Os evanjegues precisam entender e aprender que lei secular não pode ter influência religiosa.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Santuário de Diana será restaurado

ROMA – O Plano Nacional de Recuperação e Resiliência da Itália anunciou um grande projeto de restauração de dois milhões de euros no Santuário de Diana, na cidade de Nemi. Os fundos estão no âmbito de um programa denominado Rotas Jubilares 2025: Da Roma Pagã à Roma Cristã (“PERCORSI GIUBILARI 2025: DALLA ROMA PAGANA ALLA ROMA CRISTIANA”).

O ano do Jubileu do Vaticano, também conhecido como Ano Santo, é um ano especial de remissão de pecados e perdão universal na Igreja Católica. É um momento de peregrinação, oração e penitência, marcado por celebrações especiais e concessão de indulgências. O primeiro Jubileu Cristão foi proclamado pelo Papa Bonifácio VIII em 1300 e deveria ser celebrado a cada cem anos. Com o tempo, a frequência dos anos jubilares aumentou e agora os Jubileus Ordinários ocorrem a cada 25 anos. O próximo Jubileu está previsto para começar em 2025.

Em preparação para o ano jubilar, estão em curso em Roma projectos de construção e restauração. Os projetos vão desde a limpeza extensiva de edifícios até a restauração local de relíquias. Um aspecto dos fundos relacionados com o Jubileu é melhorar o acesso e o turismo em Roma. Por exemplo, uma grande iniciativa que custa cerca de 4 mil milhões de euros visa tornar toda a cidade mais acessível a pessoas com problemas de mobilidade.

O fundo para estes grandes projetos faz parte do Plano Nacional de Recuperação e Resiliência (PNRR) da Itália. O PNRR é a estratégia da Itália para implementar o programa Next Generation EU, iniciado pela União Europeia para complementar o Quadro Financeiro Plurianual (QFP) 2021-2027 em resposta aos impactos económicos e sociais da pandemia COVID-19.

Este Plano é orientado por objetivos políticos e ações vinculadas aos três pilares estratégicos estabelecidos a nível europeu: digitalização e inovação, transição ecológica e inclusão social. O PNRR visa abordar as profundas mudanças trazidas pelas duplas transições ecológica e digital que exigem uma colaboração público-privada robusta. O PNRR também tem objetivos sociais importantes, como o fortalecimento do papel das mulheres na sociedade, o combate à discriminação de género e a melhoria das competências e oportunidades de emprego dos jovens.

Em 11 de junho de 2024, o gabinete da Premier Giorgia Meloni divulgou um documento dos próximos projetos relacionados ao Jubileu com financiamento do PNRR. A restauração do Santuário de Diana Nemorensis recebeu luz verde no âmbito dos projetos “Da Roma Pagã à Roma Cristã” no final de abril de 2024.

O financiamento do Santuário parece ter sido atribuído à Soprintendenza Speciale Di Roma, que supervisiona sítios arqueológicos em Roma. O financiamento parece ter sido atribuído à Soprintendenza através do Ministério do Turismo do Ministério da Economia e Finanças.

Escavações recentes do Santuário mostraram que o local é muito maior do que se acreditava anteriormente. O local foi fechado à força pela cristianização do Império Romano e pela perseguição aos pagãos, mas a área foi notoriamente reintroduzida na modernidade por Sir James Frazer em seu trabalho seminal sobre a antropologia da religião, The Golden Bough .

Diana é uma deusa importante tanto na antiguidade quanto no paganismo moderno, onde é venerada por múltiplas práticas espirituais. Ela é a única deusa pagã mencionada no Novo Testamento e permanece associada a muitas crenças populares, mesmo entre os praticantes do Cristianismo.

As estimativas atuais sugerem que o Santuário de Diana tem aproximadamente três vezes o tamanho da Praça de São Pedro, no Vaticano. O financiamento visa não só restaurar os edifícios arqueológicos, mas também desenvolver caminhos de madeira através do Santuário para o turismo.

A divulgação do documento que identifica o novo projeto do Santuário ocorreu pouco antes do solstício de junho. Numa recente celebração local do solstício, os pagãos da área de Nemi compartilharam suas idéias sobre o assunto. Eles observaram que o Santuário já foi afetado por apropriações de terras privadas. Silvanus, que se recusou a divulgar seu nome secular, disse que está dividido com o financiamento. Ele espera novas descobertas e um futuro seguro e permanente para o local, ao mesmo tempo que reconhece que a terra, a floresta e o local são sagrados.

A cidade de Nemi tem adquirido sistematicamente propriedades desde 2000 para proteger o Santuário. A cidade também está envolvida em planos para promover o Santuário, mas a TWH não conseguiu determinar o papel da cidade no financiamento atual.

O desenvolvimento do Santuário para o turismo suscitou algumas preocupações, dada a natureza sagrada do local. Mesmo agora, existem altares e oferendas improvisados em todo o Santuário. Outros membros do grupo de Silvanus notaram, e jornalistas do TWH relataram, que o Santuário continua sendo um local ativo de reverência. O local é frequentado por indivíduos que deixam oferendas num altar dentro do Santuário, e vestígios rituais são ocasionalmente visíveis, com tambores frequentemente ouvidos nos bosques adjacentes nas luas cheias e outras ocasiões pagãs.

A Caçada Selvagem contactou arqueólogos envolvidos em escavações anteriores do local, e todos concordaram que as escavações deveriam continuar, mas não tinham informações suficientes para comentar os caminhos. Todos com quem o TWH conversou foram claros: esperam que qualquer projeto turístico desenvolvido no Santuário seja criado de maneira respeitosa, que honre a história sagrada do local e a reverência que os pagãos modernos têm por Diana Nemorensis.

A companheira de Silvano, Ana, acrescentou que espera que os geni loci sejam honrados e que o que vier não os perturbe nem o significado do Santuário.

Fonte (com edição): https://wildhunt.org/2024/06/the-sanctuary-of-diana-nemorensis-receives-restoration-funding.html
Traduzido com Google Tradutor.

Nota: 🤩 quando o santuário estiver restaurado, isso marcará uma mudança. Quiçá o fim do domínio das religiões abraâmicas 🙏.

Conhecimento de mil anos

No norte da Amazônia, a 360 km da capital Macapá, um enigma milenar desafia a mente dos estudiosos: os monumentos megalíticos de Calçoene. Há duas décadas, arqueólogos se dedicam a desvendar os mistérios por trás dessas estruturas de pedra. A principal tese dos pesquisadores aponta para um observatório astronômico a céu aberto.

Acredita-se que indígenas do século X observavam o Sol e seus ciclos, mapeando seu movimento no céu e utilizando essas informações para prever os períodos de chuva e seca na Amazônia. Pesquisadores evitam comparar o conjunto de grandes rochas fincadas no solo, conhecido como o “Stonehenge da Amazônia”, com o famoso e milenar Stonehenge do Reino Unido, embora ainda haja muitos mistérios.

Descobertos em 2000 por moradores locais no topo de uma colina, esses monumentos ancestrais, datados por volta do ano 1000 pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Lepa), se tornaram um patrimônio histórico do Brasil.

De acordo com o arqueólogo, esse observatório a céu aberto, construído há milhares de anos, era utilizado para mapear os movimentos do Sol e desvendar os segredos dos equinócios e solstícios. "O equinócio é o momento da transição entre o inverno e o verão, ideal para o plantio de determinadas culturas agrícolas. E o solstício já é um período de baixa, quando a gente está saindo do período seco para o período chuvoso."

Leite está à frente do estudo e destaca que não é possível determinar se a comunidade vivia próxima ou distante do monumento, devido à deterioração das aldeias de palha ao longo do tempo, que não deixaram vestígios claros. Uma das questões que ainda estão em aberto é justamente o fato de identificar os povos que ali habitaram. “O local era como um centro cerimonial para enterramentos de pessoas especiais, e esse espaço sagrado também demonstra a relação entre os fenômenos do céu e a dinâmica de vida das populações indígenas do passado", disse.

O sítio arqueológico foi escolhido neste ano para receber financiamento destinado à criação de um parque de preservação e visitação pública por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), oferecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Atualmente, o projeto está em fase de desenvolvimento, mas ainda não há uma data definida para sua conclusão.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/norte/2024/6/24/observatorio-solar-indigenas-no-amapa-teriam-conhecimentos-astronmicos-ha-mais-de-mil-anos-161004.html

quarta-feira, 26 de junho de 2024

A vala do Valadão

O pastor André Valadão voltou a fazer declarações controversas.

Na segunda-feira (24), nos stories de seu perfil no Instagram, ele foi questionado sobre o que diria a um estuprador arrependido e respondeu que “não há malignidade, perversidade, que o amor de Deus não seja maior”.

As falas causaram burburinho nas redes, uma vez que Valadão, durante um culto na Igreja Lagoinha de Orlando, nos Estados Unidos, em julho de 2023, disse que “Deus mataria” a população LGBTQIA+ se pudesse e perdoaria estupradores.

As declarações refletem o apoio de setores ultraconservadores, como demonstrado pela recente aprovação, em 23 segundos, da urgência de um projeto de lei que qualifica como homicídio o aborto a partir de 22 semanas de gestação, mesmo em casos de estupro.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/pastor-que-defendeu-morte-de-gays-diz-que-se-pudesse-perdoaria-estupradores/

Nota: 🤮 depois que toma uma invertida fica choramingando que a igreja é perseguida.

O conhecimento incomoda

André Valadão é o chefe da Igreja Batista da Lagoinha – além de martírio de ouvidos humanos como cantor gospel. Sempre dá um jeito de frequentar o noticiário, seja pela pregação fundamentalista, pela difusão de fake news, pelos chiliques de homofobia, pela ostentação de riqueza ou pela ligação de carne e unha com o deputado Nikolas Ferreira, que também sempre está nos noticiários pela pregação fundamentalista, pela difusão de fake news etc.

Agora, Valadão está causando com um vídeo em que instrui seu rebanho para que não deixe que os filhos frequentem universidades. Pois eu digo: o pastor está certo (do ponto de vista dele, é claro).

Ele diz que é melhor ver um filho “vender picolé na garagem” do que “ir para o inferno”. A cereja do bolo, claro, é a preocupação com as filhas mulheres:

“Criou sua filha para quê? Para virar uma vagabunda? Ou você criou ela para ser uma mulher santa, uma mulher digna de família, cheia de Deus? Ah, ela tem um diploma e é rodada, é doida”.

A verdade é que a preocupação dos fundamentalistas com a universidade não é desprovida de sentido. Não por acaso, a campanha contra a educação em geral e contra a universidade em particular se radicalizou conforme políticas governamentais foram ampliando o acesso de jovens mais pobres e das periferias a estes espaços.

Na sala de aula, na leitura das bibliografias, na convivência formal e informal nos diferentes espaços dos campi, esses jovens têm acesso a ferramentas que proporcionam um escrutínio crítico sobre os dogmas e tradições que aprenderam em casa ou nas igrejas. Tornam-se mais capazes de questionar as hierarquias já estabelecidas, o discurso meritocrático, os estereótipos de gênero, as formas de dominação e de exploração presentes na sociedade. Ganham instrumentos que permitem que pensem de maneira mais autônoma.

Isso não quer dizer que todo mundo que passa por uma universidade se torna uma pessoa esclarecida ou progressista. Basta olhar para os lados para ver isso. Mas, sem dúvida, ali se fornecem recursos – que podem ou não ser usados – para uma maior autonomia intelectual e abertura de horizontes.

É por isso que a universidade incomoda, principalmente quando essas ferramentas começam a ser disponibilizadas para pessoas que deveriam estar condenadas a obedecer – e que, além de tudo, podem se tornar de difusoras de conhecimento em suas vizinhanças.

Valadão foi muito criticado por desprezar o potencial que a formação universitária tem para a mobilidade social daqueles que desfrutam dela. Para ele, de fato, a opção nunca foi vender picolé na garagem ou cursar uma graduação. Afinal, herdou a igreja de seu pai. Um negócio muito lucrativo, como se vê, uma vez que ele facilmente pode pregar no culto vestindo trajes que somam mais do que o salário anual de um trabalhador.

E tanta prosperidade depende centralmente da anulação da capacidade crítica daqueles cuja credulidade ele explora. Num caso assim, a educação sempre é inimiga.

Mas vamos ser honestos: este repulso à universidade também se encontra em setores a esquerda. São influencers que usam “acadêmico” como ofensa e parecem envolvidos numa batalha sem fim contra o conhecimento produzido no meio universitário.

É verdade: a universidade não vai fazer a revolução. Nem é esse seu papel. Mas ela pode contribuir com a disseminação de visões críticas, com a desnaturalização das estruturas de opressão vigentes, com o impulsionamento de um pensamento questionador e autônomo.

É por isso, claro, que ela encontra o ódio dos chefes de igrejinhas, qualquer que seja o tipo delas.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-as-universidades-incomodam-tanto-por-luis-f-miguel/

Nota: bons tempos que a nossa preocupação era a eleição do Tiririca, aquele que disse que pior do que estava não ficava.

terça-feira, 25 de junho de 2024

Mulher também gosta

A pornografia faz parte da vida de muitas pessoas. Uma nova pesquisa buscou identificar as preferências pornográficas das mulheres e descobriu cinco os temas que elas mais gostariam de ver no pornô. Algumas pessoas podem achar os resultados surpreendentes.

O site erótico Bloom entrevistou 300 usuárias da plataforma com o intuito de saber as fantasias que mais deveriam ser exploradas na pornografia. O primeiro lugar da lista ficou sexo a três, com 77%. Mulheres recebendo oral (54%) e sexo romântico (52%) ocuparam o segundo e terceiro lugar, respectivamente.

O ranking continou com “sexo violento”, representando 52% das entrevistas, e dominação, com 50%. As respostas podem oferecer insights interessantes sobre o porquê destes temas serem tão populares entre as mulheres. Um deles está relacionado com fantasias sexuais, de acordo com o psicólogo Nazanin Moali.

“As fantasias sexuais ajudam a ‘combater sentimentos de inadequação ou dúvida’. Por exemplo, o cenário que envolve um ménage à trois pode não apenas ser visto como desejável, mas também como proficiente na satisfação de múltiplos parceiro”, explicou o profissional ao portal HuffPost.

A terapeuta e sexóloga Nicoletta Heidegger disse, ao mesmo site, que não ficou surpresa com o resultado da pesquisa, já que as preferências estão alinhadas com estudos sobre o tema. Ela também destacou que “as pessoas que consomem plataformas pornográficas não necessariamente representam a população em geral”.

Será que as respostas seriam iguais ou semelhantes caso os homens também respondessem? Heidegger acredita que sim, já que homens e mulheres cisgênero podem pensar em temas semelhantes. No entanto, a maneira como eles interagem com esses desejos pode parecer diferente.

“Existem algumas diferenças de gênero, mas a ciência, incluindo o livro Tell Me What You Want [Conte-me o Que Você Quer, em tradução do inglês, e outras pesquisas, diz que homens e mulheres cisgênero fantasiam sobre muitos tópicos semelhantes”, explicou a sexóloga.

Segundo a profissional, a diferença entre os gêneros está na narrativa do conteúdo sexual. Isso porque as mulheres cis se preocupam mais com o contexto e a história. “Isso pode ser devido ao fato das pessoas movidas pelo estrogênio terem um desejo mais responsivo, em oposição ao desejo espontâneo.”

Fonte: https://www.metropoles.com/colunas/pouca-vergonha/veja-os-cinco-temas-que-as-mulheres-mais-gostariam-de-ver-no-porno

Nota: então porque tanto alarde para proibir?

Brasileiros querem teocracia

Um estudo conduzido pela Ipsos trouxe à tona perspectivas surpreendentes sobre o sistema político no Brasil. Conforme os resultados, 33% dos brasileiros acreditam que um sistema governamental baseado em leis religiosas, sem eleições ou partidos políticos, seria benéfico para o país.

Encomendada pelas entidades Earth4All e Global Commons Alliance, a pesquisa foi divulgada hoje, 23 de junho, coincidindo com os preparativos para as reuniões ministeriais do G20 em julho. Mil brasileiros com mais de 18 anos foram entrevistados para o estudo.

Embora 82% dos entrevistados no Brasil tenham indicado preferência pela democracia como o melhor sistema político, o apoio a um regime semelhante ao mencionado superou o suporte ao regime militar, obtendo 32% de aprovação.

A pesquisa também revelou um cenário global de baixa confiança nos governos, com apenas 39% dos entrevistados em 17 países do G20 acreditando que seus governos são capazes de tomar decisões benéficas para a maioria das pessoas. A confiança a longo prazo é ainda menor, com apenas 37% confiando que as decisões do governo beneficiarão a maioria em 20 ou 30 anos.

No Brasil, a taxa de confiança no governo é de 38%, superando países como África do Sul (25%), Canadá (33%), França (18%), Alemanha (29%) e Estados Unidos (39%).

O estudo destacou uma demanda significativa por reformas nos sistemas políticos e econômicos, tanto nacionalmente quanto globalmente. Nos 17 países do G20 analisados, 65% dos entrevistados acreditam que seus sistemas políticos precisam de mudanças substanciais (36%) ou reformas completas (29%).

No Brasil, 43% dos entrevistados defendem uma reforma completa do sistema político, enquanto 38% pedem mudanças significativas, percentuais que superam a média do G20.

A pesquisa também explorou as visões otimistas e pessimistas em relação ao futuro pessoal, nacional e global. Em média, 62% das pessoas nos 18 países do G20 estão otimistas em relação ao seu próprio futuro. No entanto, apenas 44% estão positivos em relação ao futuro de seu país, e 38% expressam otimismo em relação ao futuro global.

Participantes de economias emergentes como Brasil, Índia, China e Arábia Saudita apresentaram maior otimismo, enquanto países europeus e o Japão mostraram menos confiança em seus futuros.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/33-concordam-com-governo-de-leis-religiosas-sem-eleicoes-aponta-pesquisa/

Nota: o último a sair, apague a luz.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Sim, homossexualidade é natural

Mais de 1.500 espécies de animais, incluindo aranhas, golfinhos e primatas, apresentaram comportamento homossexual, segundo um estudo publicado na revista PLOS One. Pesquisadores das universidades de Toronto, Northwestern e Varsóvia entrevistaram 65 especialistas, descobrindo que 77% deles observaram comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo nas 52 espécies estudadas. No entanto, 52% não coletaram dados e apenas 18% publicaram artigos sobre o tema.

A subnotificação desse comportamento não se deve a desconforto ou razões sociopolíticas. Muitos pesquisadores apontaram que as revistas científicas podem ser tendenciosas quanto à publicação de tais observações. A principal razão para a falta de registros é a percepção de que esses comportamentos são raros ou não prioritários nas pesquisas.

“Muitos entrevistados relataram que a falta de registro de dados ou publicação se devia à percepção de que isso era muito raro”, explicou Karyn Anderson, doutoranda em Antropologia Evolutiva na Universidade de Toronto.

O estudo também sugere que a ideia de que o comportamento homossexual entre animais é limitado ou “não natural” ainda é usada em debates sobre a ética da homossexualidade humana. Contudo, essas discussões homofóbicas estão sendo refutadas à medida que mais estudos são conduzidos. Josh Davis, escritor científico do Museu de História Natural de Londres, destacou que a situação melhorou com o tempo, apesar dos receios históricos dos pesquisadores de serem associados ao comportamento ao publicarem sobre ele.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/homosexualidade-entre-animais-e-mais-comum-do-que-parece-pesquisa-lista-mais-de-1-500/

Nota: essa postagem vai em homenagem aos padres e pastores homofóbicos.

Freiras excomungadas

O Vaticano excomungou 10 irmãs clarissas do norte da Espanha que estavam em conflito aberto com a sede da igreja católica há um mês. A decisão foi anunciada oficialmente pelo Arcebispo de Burgos em comunicado à imprensa, neste sábado (22/6).

“No dia 22 de junho, o Arcebispo de Burgos, representante legal do Mosteiro de Belorado […] transmitiu o decreto de declaração de excomunhão e a declaração de renúncia [expulsão] ipso facto da vida consagrada a cada uma das 10 irmãs que geraram um cisma” na instituição religiosa, diz o comunicado publicado no site da arquidiocese. “Foram as próprias irmãs que expressaram sua decisão livre e pessoal de abandonar a Igreja Católica.”

Também conhecidas como irmãs pobres ou reclusas, as freiras de Santa Clara de Belorado, uma cidade de 1,8 mil habitantes, situada a 50 quilômetros de Burgos, estavam em conflito há um mês com o arcebispo desta localidade de Castilla y Leon, no norte da Espanha.

No dia 13 de maio, a comunidade de 16 irmãs instaladas em um convento de tijolos do século 15 surpreendeu ao anunciar, por meio de um “manifesto” de 70 páginas acompanhado de carta publicada nas redes sociais, a ruptura delas com a Igreja Católica.

No texto, assinado pela madre superiora de Santa Clara de Belorado, Irmã Isabel de la Trinidad, as freiras denunciaram uma “perseguição” à hierarquia delas, o que, segundo as freiras, provocou o fracasso de um projeto de aquisição por parte da comunidade de outro convento, no País Basco espanhol.

Elas também apontaram um suposto “caos doutrinário” no Vaticano, que acusaram de “linguagem dupla” e “contradições”, e anunciaram que, agora, colocariam-se sob a autoridade de um padre excomungado, Pablo de Rojas Sánchez-Franco.

Fonte: https://www.metropoles.com/mundo/vaticano-excomunga-irmas-clarissas-que-seguiram-padre-criador-de-seita

Nota: de fissura em fissura, de racha em racha, de ruptura em ruptura, a ICAR vai desaparecendo. Graças aos Deuses.

Cadê a liberdade religiosa?

A bruxa Tânia Gori, 54, foi pega de surpresa quando Rafael Bitencourt, youtuber cristão, postou um vídeo em 10 de junho atacando a Convenção das Bruxas e Magos, que aconteceu em Paranapiacaba, região metropolitana de São Paulo, um mês antes. O evento, fundado por Gori em 2003, é o maior encontro pagão da América Latina e reúne 60 mil pessoas anualmente. A convenção dura três dias, com palestras, vivências, ritos, apresentações de dança e shows.

No vídeo, que já acumula 104 mil visualizações, Bitencourt acusa as bruxas de praticarem “rituais dos mais complexos e pesados que estão sendo romantizados”, com “feministas e homens que não são mais homens de verdade”.

“Estão romantizando as trevas, normalizando os cultos às trevas”, continua o youtuber. “Fazem rituais a demônios, que eles chamam de energia e espíritos da floresta, mas a Bíblia nos aconselha que são demônios”. Marie Claire entrou em contato com Bitencourt mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

Um outro vídeo, do canal TV Paraú, também de conteúdo cristão, foi postado com ataques à Convenção de Bruxas e Magos e soma 10 mil visualizações. “Se tu é cristão, se prepare, estamos numa batalha espiritual muito grande”, diz Sátrio Araújo.

Segundo Gori, a Associação Brasileira de Bruxaria (ABB) entrará com medidas judiciais contra Bitencourt por intolerância religiosa. A organização, criada em 2021, conta com 14 mil filiados no país, em sua maioria mulheres.

“Só falamos de amor à natureza. Não existe ataque a nenhuma linha religiosa, nenhum ritual que faça algo ruim. Foi um choque ver minha imagem, o nome da convenção ser associado a essa desinformação”, diz Gori, também fundadora da Casa da Bruxa, em Santo André, de 1997, e bacharel em teologia e contabilidade.

“Um trabalho de 20 anos dedicado ao bem-estar, tirando pessoas de depressão, levando palavras de alegria, fazendo que as pessoas pensem por si só, merece ser apedrejado? Será que esse é o mundo em que queremos viver? Estamos voltando para a Inquisição? Mais uma vez, estão tirando nossa fala. E para quem acha que não tem nada a ver isso, é só ver como foram e ainda são silenciadas as minorias.”

Segundo Gori, a bruxaria é uma filosofia de vida que busca melhorar a qualidade de vida por meio da natureza: “Para uma dor de garganta, por exemplo, uma bruxa usaria um chá de gengibre, gargarejo com casca de romã para melhorar. A bruxa é uma curandeira”.

“Não atacamos nenhuma religião ou crença. A bruxa busca, por meio do natural, somente ser feliz. A bruxaria acaba sendo um movimento político porque quer sair do mercantilismo, dessa necessidade de um capitalismo tão arrojado. Isso incomoda a muitas pessoas. Na Idade Média, foi feito tanto alarde a respeito da bruxaria, e eram perseguidos pensadores, cientistas, pesquisadores, quem tentasse mostrar outra realidade. Esse marketing medieval à bruxaria dura até hoje, nos associando ao demônio”.

Para Gori, o ataque à bruxaria é também uma tentativa de silenciamento de mulheres: “A mulher é quem normalmente tem o conhecimento das ervas, da natureza, é quem cura dentro das tribos”.

Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com/google/amp/retratos/noticia/2024/06/a-inquisicao-esta-de-volta-quem-sao-as-bruxas-que-sofrem-ataques-de-um-youtuber-cristao.ghtml

domingo, 23 de junho de 2024

Falando em censura...

“No Brasil, segundo informações, os tópicos mais comumente alvo de censura estão relacionados a questões de gênero e sexualidade, muitas vezes usados para estimular o pânico moral com base em notícias falsas”, informou Farida Shaheed, relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre documento que reúne censuras a livros por governos no mundo.

O relatório ainda será submetido aos governos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU durante a sessão de julho. Nele, também são citados o fundamentalismo religioso presente nos Estados Unidos e o governo húngaro de extrema direita de Viktor Orbán. A informação é do jornalista Jamil Chade, do UOL.

De acordo com a relatora da ONU, temas fundamentais como racismo, cultura afro-brasileira, história e cultura indígena, liberdade religiosa, exploração colonial, ditadura militar, teoria da evolução, vacinação, crise climática e destruição ambiental também se tornam “motivos” para a censura no Brasil. No entanto, quando se discute sexualidade e gênero, a quantidade de obras censuradas é maior, até em outros países.

Embora o relatório da ONU não mencione nomes, o caso do escritor Jeferson Tenório, que ainda sofre ataques da extrema direita, ganhou destaque nos últimos meses. O mais recente, do récém-falecido cartunista e escritor Ziraldo, “O Menino Marrom”, também foi censurado há poucos dias após um pastor filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicar em suas redes que o livro “não diz nada sobre o racismo, induz as crianças a fazer pacto de sangue cortando o punho”.

Uma reportagem da Fórum reuniu todos os livros que foram retirados de bibliotecas, eventos e escolas por governos de extrema direita aliados ao bolsonarismo. Apesar da Constituição Federal garantir no Art. 1ª a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, o Brasil continua vivendo um momento de crescente censura a livros.

O relatório da organização ainda cita os EUA, onde pelo menos sete estados silenciaram o ensino de orientação sexual e identidade de gênero em sala de aula através de leis repressivas. Em alguns casos, livros que abordam esses temas foram removidos à força de escolas e bibliotecas públicas. “Mais de 20 estados decretaram restrições contra a Teoria Crítica da Raça, o ensino do racismo estrutural e da desigualdade de gênero. As restrições aumentaram para abranger o feminismo negro e as estruturas que abordam a desigualdade estrutural", diz o trecho.

O governo do Quênia criminalizou a educação sobre temas LGBTI, silenciando o debate. Na Hungria, por exemplo, o governo ultraliberalismo de Órban está usando seu poder para controlar a academia e silenciar pesquisas que contrariam sua agenda. O fechamento da Universidade da Europa Central, a proibição dos estudos de gênero e a perda de autonomia da Academia de Ciências são alguns dos exemplos citados no relatório.

Fonte: https://revistaforum.com.br/cultura/2024/6/21/censura-livros-pela-extrema-direita-no-brasil-recebe-alerta-da-onu-160899.html

Nota: os mesmos que vociferavam pela liberdade de expressão (seletiva) querem censurar.
Eu vou encaixar aqui notícia semelhante.

Neste final de semana um fato causou perplexidade: a prefeitura de São José dos Campos, após pressão bolsonarista, censurou e mandou retirar das salas de leitura do município o livro "Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas", de autoria de Flávia Martins e publicado pela editora Mostarda.

O veto à obra ocorreu após um pedido do vereador Thomaz Henrique (PL-SP), que acusou a obra de fazer "apologia ao aborto".

À Revista Fórum, a prefeitura de São José dos Campos confirmou o veto ao livro que apresenta uma coletânea de mulheres na ciência.

“A Prefeitura de São José dos Campos informa que o livro ‘Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas’ foi recolhido das salas de leitura de todas as unidades de ensino para que o conteúdo seja reavaliado pela equipe técnica da Secretaria de Educação e Cidadania. Os exemplares nunca estiveram disponíveis nas salas de aula ou nas bibliotecas públicas do município, apenas nas salas de leitura das escolas’, declarou a prefeitura de São José dos Campos.

Em suas redes sociais, o vereador atacou a memória de Marielle Franco e o trabalho de Débora Diniz.

"Após a minha denúncia na última terça-feira, a Prefeitura informou oficialmente que retirou de todas as escolas municipais o livro que define a maior defensora do 4B0RT0 no Brasil, Débora Diniz, como mulher inspiradora. O livro defende os 'direitos reprodutivos' da mulher e o direito da mulher 'escolher ser mãe ou não', além de chamar os contrários ao @b0rt0 de 'gente chata'. O livro ainda trazia a ex-vereadora do PSOL, Marielle Franco, também como mulher inspiradora para alunas do 5º ano", disparou o parlamentar de extrema direita.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/brasil/sudeste/2024/6/17/obscurantismo-prefeitura-de-so-jose-dos-campos-confirma-censura-obra-sobre-mulheres-na-cincia-160654.html

Nota 2: onde estão os paladinos, colunistas (bolsonaristas), que defendiam a liberdade de expressão incondicional?

Impróprio para menores

Autor: Ricardo Neggo Tom.

Sob o argumento de que trechos do livro “O menino marrom”, lançado por Ziraldo em 1986, apresentam conteúdo agressivo e induzem crianças a fazerem maldade, pais de alunos da cidade de Conselheiro Lafaiete pressionaram a Secretaria Municipal de Educação para que o livro fosse retirado temporariamente das atividades de leitura das escolas do município. A obra conta a história de dois meninos, um marrom e outro cor de rosa, que buscam compreender as suas cores. A inocente amizade entre os dois amigos, acaba de ser interrompida e criminalizada pelo fundamentalismo político-religioso que vem se espalhando e promovendo uma onda de retrocesso social, cultural e civilizatório na sociedade brasileira.

Segundo a Secretaria de Educação Municipal, “as suspensões dos trabalhos sobre a obra visam a melhor readequação da abordagem pedagógica, evitando assim interpretações equivocadas”. Entre os trechos do livro apontados como perigosos para crianças, está um diálogo entre os dois meninos em relação a uma “velhinha” que todos os dias atravessava a rua para ir à missa. “No final de algumas manhãs, já que o menino marrom não dizia nada, o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: ‘Por que você vem todo dia ver a velhinha atravessar a rua? ’ E o menino marrom respondeu: ‘Eu quero ver ela ser atropelada’. Uma travessura infantil que nem se compara, por exemplo, ao capítulo 9, versículo 6 do livro de Ezequiel, onde Deus teria dado a seguinte ordem: “Matai sem dó: idosos, rapazes e moças, crianças e mulheres, até aniquilar a todos. Todavia não tocai em ninguém que tenha recebido o sinal da salvação. Começai, pois, a destruição pela minha própria Casa, o Templo”. Imaginem os seus filhos lendo isso?

Outro trecho do livro de Ziraldo que gerou a preocupação dos pais com relação a segurança física de seus filhos, foi a parte onde o menino cor de rosa, já adolescente, está se mudando da cidade e o menino marrom o acompanha até a rodoviária. No caminho, ambos falam em eternizar a amizade com um “pacto de sangue”. Ziraldo lembra como surgiu essa brincadeira e escreve: “Um deles foi até a cozinha buscar uma faca de ponta para furar os pulsos e misturar o sangue dos amigos eternos. Ficaram os dois, os bracinhos espichados, as mãozinhas fechadas para cima, os pulsos à mostra, latejando. A faquinha na mão de um, esperando o pacto. Os dois ali, parados, sem um sorriso sequer, só o ruído das suas respirações ofegantes, olhando firmes um no olho do outro, sem piscar: pacto é pacto. E a faquinha parada no ar. Até que um deles resolveu a questão: ‘não tem um alfinete?' Lúdico e pueril demais em comparação ao livro dos Gênesis, capítulo 22, onde Deus manda Abraão matar o seu próprio filho Isaque, para fazer um pacto a sua fidelidade com ele.

“E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. 2 E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi. ” Por sorte, um anjo enviado pelo próprio Deus que havia pedido a execução, apareceu e disse a Abraão que tudo não passava de uma pegadinha e que Deus estava apenas testando a sua fidelidade. Se os pais dos alunos da cidade de Conselheiro Lafaiete deixarem os seus filhos lerem esse trecho da Bíblia, eles terão dois problemas. Primeiro, explicar para as crianças porque um deus de amor pediria o sacrifício de um ser humano apenas para exaltar o seu poder, segundo, convencer a curiosidade infantil dessas crianças de que esse Deus, mesmo sendo onipotente, onipresente e onisciente, ou seja, sabedor de todas as coisas, não sabia se Abraão era ou não fiel a ele. Por que testá-lo, então?

De fato, o que está por trás dessa sanha censora é uma ideologia política fascista que não consegue se sustentar por si mesma, uma vez que representa o atraso, a castração do senso crítico e cerceamento das liberdades individuais, e apela para a chamada pauta moral como base de sustentação de seu projeto de poder. Aliada a essa barbárie cultural está o segmento neopentecostal evangélico, um partido político imperialista e neoliberal, que se disfarça de igreja para converter os mais desavisados e alienados. Também se alia a eles nessa cruzada neomedieval, as forças de segurança do Estado burguês brasileiro que, através das Escolas Cívico-Militares, poderão concretizar o sonho da escola sem partido. O que, na verdade, seria uma escola sem condições intelectuais de fazer oposição ao projeto de poder que eles querem estabelecer. Um poder amplo e irrestrito, que lhes permitiria controlar as mentes através da educação, e formar uma sociedade de ovelhas cegas e obedientes ao evangelho do deus capital. O menino marrom ficaria branco de susto diante de tamanha perversidade.

O outro trecho citado como problemático pelos pais, pode revelar um viés racista e homofóbico da censura ao livro de Ziraldo. Saudoso do amigo, o menino marrom lhe escreve uma carta onde diz: “Meu querido amigo, eu andava muito triste ultimamente, pois estava sentindo muito a sua falta. Agora estou mais contente porque acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, a ausência do branco. ” Uma mente suja e fundamentalista, com o perdão do pleonasmo, é bem capaz de associar a saudade sentida pelo menino marrom, a um sentimento homoafetivo pelo amiguinho. Sem falar que o quê de racismo expresso pelo fundamentalismo deve ter se sentido ofendido, diante da constatação do menino marrom, de que não havia diferença existencial entre a sua cor e a do menino rosa, porque, no fundo, elas se completam. A supremacia branca imperialista que patrocina o fundamentalismo neopentecostal no Brasil pira. Se pelo menos o menino marrom fosse o Obama, eles conseguiriam reescrever a história a seu gosto.

Tempos sombrios, difíceis e desesperadores que estamos vivendo. Enquanto isso, a Bíblia, e seus livros vermelhos de sangue, segue sendo recomendada para todas as idades. Até que uma criança, orientada pelos ensinamentos religiosos de seus pais fundamentalistas, leia Êxodo 32:25-28, e, assim como Moisés, sinta-se escolhida por Deus para determinar o extermínio dos seus ímpios e infiéis coleguinhas na hora do recreio. Que os meninos marrom e cor de rosa não estejam estudando nessa escola. Deus nos livre dos fundamentalistas!

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/o-menino-marrom-pergunta-a-biblia-e-leitura-para-criancas

sábado, 22 de junho de 2024

Traduttore, traditore

Esta expressão italiana, conhecida por meio mundo, significa “tradutor, traidor”, isto é, quem traduz trai (diversas fontes).

Um trecho enigmático dos livros atribuídos a François Rabelais, Gargântua e Pantagruel, mais exatamente no Livro 5, Capítulo 2, provocou meu questionamento.

Na tradução de Guilherme Gontijo Flores, na Editora 34, o jogo com palavras era desconcertante. Clerigaio, bispogaio, cardegaio e papagaio. Genial, eu pensei ao ler. Eu, pretenso escritor, pensador e artífice das palavras, não havia pensado nesse jogo de palavras.

Então veio o questionamento. Mas François Rabelais escreveu isso?

Na Biblioteca Gutemberg tem a seguinte tradução em inglês:

He called the males clerg-hawks, monk-hawks, priest-hawks, abbot-hawks, bish-hawks, cardin-hawks, and one pope-hawk, who is a species by himself. He called the females clerg-kites, nun-kites, priest-kites, abbess-kites, bish-kites, cardin-kites, and pope-kites.

Em um verbete do Wikipédia eu achei uma versão do original de 1873:

Les maſſes il nommoit Clergaux, Monagaux, Preſtregaux, Abbegaux, Eueſgaux, Cardingaux, & Papegaut, qui eſt vnique en ſon eſpece. Les femelles il nommoit Clergeſſes, Monageſſes, Preſtregeſſes, Abbegeſſes, Eueſgeſſes, Cardingeſſes, Papegeſſe.

Aparentemente Rabelais faz um jogo de palavras com alguma referência com aves. O problema é que a palavra "hawk", ou "papagaio", em francês, não tem conferência.

A outra palavra, "kite" faz referência a outro tipo de falcão, também não tem conferência com o termo em francês. Então de onde Rabelais tirou o sufixo para fazer o jogo de palavras?

Eu achei algumas referências com as palavras papegai e papegau.

De acordo com um verbete do Wikipédia:

Papegai ou papegault , dependendo da região, é uma palavra do francês antigo que designa uma ave aparentada com o papagaio.

Guilherme acertou, mas o tradutor inglês, não.

Nós estamos falando de traduzir uma obra do século XVI, em francês e a tradução foi traiçoeira (piada intencional).
Imagine a tradução de um texto escrito em hebraico ou aramaico, na Era do Bronze.

Nós não somos descendentes das Tribos de Israel, nem de Abraão, Isaque e Jacó. Nada do que esse texto sagrado diga nos diz respeito.
Nós temos que fazer uma lei punindo o fundamentalismo cristão.

A evangelhocracia de coalizão

1. E o Brasil se tornou refém de pautas medievais?

Sabiam que até 1974 existia na Espanha a pena de morte executada por garrote vil? Sim, o último condenado foi executado naquele ano, sendo a pena extinta em 1978.

O que é o garrote vil? Morte lenta. Agonizante. Coisa de tempos anteriores à modernidade…!

Pois ao tomar conhecimento do projeto sobre a criminalização do aborto com pena maior do que o estuprador (fora os demais terríveis problemas do projeto) fiquei pensando: será que extrema-direita não proporá a pena de garrote vil?

Esse é o tom com o qual devemos discutir o assunto. Porque quem estabeleceu esse tom foram os autores do referido projeto de lei. Deixou – e isso ainda não terminou – uma péssima impressão, mormente estando como signatária uma ex-procuradora e ex-presidente da CCJ, deputada Bia Kicis. Para que serve o direito? Para isso?

2. A Bíblia e Os Escravos de Jó… e a serva Bila

O que pensam os apoiadores do projeto do estupro? Vi e ouvi vários deputados dizendo que o fazem em nome da fé. Como assim? Foi Jesus mesmo quem disse que “dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é Deus”. Isto quer dizer: separação do Estado, das coisas da política… da religião. Está na Bíblia, senhoras e senhores evangélicos.

Mas, se quiserem insistir – e, de novo, o tom da discussão foi dado pela bancada conhecida como evangélica, podemos buscar o livro sagrado.

Falemos do livro Contos de Aia e da república de Gilead, em que às mulheres é reservada a função de procriação e, ainda por cima, à base de relação forçada (para ser eufemista). Atenção: a autora do livro não inventou essa passagem de Gênesis: 30: 1-3, que exatamente mostra como a “palavra de Deus” é usada para justificar o uso das aias (mulheres) apenas como um objeto de reprodução: vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: “Dá-me filhos, se não morro”. E ela disse:

“Eis aqui minha serva, Bila. Coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos… e eu, assim receba filhos por ela”. Assim lhe deu a Bila, sua serva, por mulher… e Jacó a possuiu.

Talvez passagens como essa sejam inspiradoras. Outra vez: quem colocou a discussão no plano da religião não foram as pessoas contrárias ao projeto. Foram os próprios apoiadores.

Vamos falar de fé? De política misturada com religião? Usando a Bíblia? OK. Então: os dois ursos que mataram 42 crianças “a mando de Deus” são “de verdade” e essa passagem bíblica pode ser lida do mesmo modo que a Bíblia proíbe, por exemplo, o homossexualismo (que as igrejas gostam de utilizar)?

E o que dizer das filhas de Ló? O incesto? Ou do momento em que Ló, para salvar os dois anjos, oferece suas filhas para serem estupradas pelos invasores? Isso deve ser entendido literalmente, senhores pastores? Quanto à Ló, das duas, uma: se for ao pé-da-letra, parece “complicado” o pai oferecer as filhas, não acham? Se for simbólico ou alegórico (mas há que escolher qual leitura fazer da Bíblia), o gesto de Ló é visto de outro modo.

O que quero dizer, principalmente aos evangélicos e cristãos que não concordam com a mistura “política-religião”, é que a Bíblia não pode ser lida ad hoc. Não dá para ser literalista e alegórico um dia sim, um dia não, segundo os interesses.

3. A “escolha” que certos evangélicos fazem de passagens bíblicas…também posso fazer. Querem ver?

Vamos fazer um festival de escolhas literárias ad hoc de passagens bíblicas, com as quais poderemos justificar a terceira guerra mundial, estupros para salvar a continuidade da humanidade, matança de crianças, traições como a do Rei Davi que fez sexo com a mulher de seu soldado e ainda por cima enviou o seu concorrente para a guerra para que morresse.

E o que dizer de seu filho Ammon, que estuprou sua meia-irmã Tamar, embora ela implorasse a ele que não o fizesse? Mais à frente, Absalão, também irmão de Tamar, faz o mesmo com dez concubinas de Davi. Quanta promiscuidade, não? Já no livro Juízes, os benjaminitas vão até Jabes, em Galaad, e sequestram 400 mulheres, obrigando-as a desposar seus sequestradores — supostamente tudo isso com a bênção do Senhor.

Portanto, o Velho Testamento trata o estupro como “normal”. Que tal ler ao pé-da-letra o Código Penal da Bíblia, em Deuteronômio 22:28–29?

“Se um homem achar moça virgem, que não está desposada, e a pegar, e se deitar com ela, e forem apanhados, então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta siclos de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua vida.” Se a vítima de estupro não estava noiva, então o estuprador enfrentava consequências diferentes.

Um pouco antes disso, nos versículos 23 e 24, o mesmo Deuteronômio sugere que, se um homem encontrar uma mulher prometida ou casada e se deitar (sic) com ela no campo, tudo bem, aí a culpa é só dele, porque ninguém a teria ouvido de qualquer forma. Mas, se for na cidade, os dois devem ser apedrejados — ele pelo ato, ela porque não gritou pedindo ajuda.

Boa essa parte “porque não gritou pedindo ajuda”. E assim segue a Bíblia.

O que quero dizer é que há que se ir muito devagar com o andor nessa coisa de “usar a Bíblia”. Ou misturar política e religião. Dai a César…

Nesta coluna, apenas quero mostrar que não parece adequado e correto invocar a fé para cometer absurdos como esse de condenar a vítima de estupro.

A literalidade da Bíblia é certeza de derrota para quem quiser misturar política e religião. Perderão facilmente. Como mostrei acima.

4. Vamos discutir esses temas à luz de outro livro, a Constituição?

O que eu desejo é, sim, discutir o aborto, saidinhas de presos e quejandos à luz de um outro livrinho, a Constituição. Esta sim até pode ser lida ao pé-da-letra. Pode, às vezes, apresentar pequeníssimas contradições. Que qualquer hermenêutica resolve. Mas, com certeza, não traz contradições e paroxismos com a Bíblia. Fiquemos, pois, com a Constituição, senhoras e senhores deputados. Pelo menos enquanto fazemos política. A Bíblia? Usemo-la nos templos.

Podem crer: Deus não mandou o Sol parar para Josué matar mais gente. É que…o Sol já estava parado…!

Portanto, sem essa de que fazem esses projetos em nome da fé e que estão amparados na Bíblia.

Post scriptum. Recentemente, escrevi um livro chamado O que é fazer a coisa certa no direito. O busílis é muito simples. Lembram-se dos dileminhas popularizados por Sandel? “Você prefere mudar o curso do trem e matar o gordinho ou deixar que o trem mate cinco pessoas?” O ponto é que o direito dissolve esse tipo de problema. Vira um não-problema. Porque, numa democracia, é o direito que institucionaliza e resolve os desacordos morais. E o que esse caso da handmaidestalização da democracia mostra é que estão degenerando o direito.

Para que serve um direito que se pode levar a um paradoxo tal em que a pena da mulher estuprada é maior que a do estuprador? Fracassamos? Se for assim, vamos todos para casa. E entreguemos as chaves do sistema político às Igrejas. Sim, isso tem de ser dito. Talvez este seja o momento. Quando deram o maior tiro no pé da história, pode ser o momento de colocarmos cada coisa em seu quadrado.

Pois então façamos a coisa certa. Qualquer que seja sua convicção moral. Ônus da democracia. Que não pode aceitar certos tipos de coisa.

Ou vamos subverter os fundamentos da democracia com o nome de “democracia”? Por isso, peço atenção para uma leitura atenta da presente coluna.

Para evitar mal-entendidos.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-evangelhocracia-de-coalisao-nossa-democracia-esta-garroteada-por-lenio-streck/

Buffet Universal

Registros de uma formatura do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, estão repercutindo negativamente nas redes sociais. Isso porque Topázio Neto (PSD), prefeito da cidade, teria transformado o evento, realizado em uma filial da Igreja Universal do Reino de Deus, em uma espécie de comício.

“DOUTRINAÇÃO – Formatura do Proerd em Florianópolis virou comício do Prefeito dentro da Igreja Universal do Reino de Deus! Eles falam em ‘escola sem partido’, mas aparelham igrejas e a polícia para se perpetuar no poder! O Estado e a escola são laicos”, publicou o vereador suplente de Florianópolis Leonel Camasão (PSOL-SC), no X/Twitter.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/formatura-do-proerd-em-igreja-universal-em-sc-chama-a-atencao-da-web/

Nota: eu considero muito preocupante que a PM do Tarcísio use a Universal para seus eventos. Agora foi a PROERD. A Universal está pensando em trocar seu tipo de "negócio"? Buffet Universal 😏🤭.

Na Universal não existe LGPD

Pastores solteiros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) alegam estar sendo pressionados a fornecer cópias de seus extratos bancários e faturas de cartões de crédito dos últimos dois anos, além de listar todos os bens que possuem. Desde o final de 2023, eles têm sido convocados a salas reservadas nos templos da Universal para assinarem um documento denominado “declaração”, onde afirmam ceder seus dados financeiros e patrimoniais “por livre e espontânea vontade”.

Os líderes religiosos disseram que não têm permissão para levar uma cópia da declaração. No documento, obtido pelo UOL, lê-se: “Declaro também, para os devidos fins de direito e sob as penas da lei, que concedo, por livre e espontânea vontade, à Igreja Universal do Reino de Deus na pessoa de seus oficiais (Bispos e Pastores), o acesso aos extratos das minhas contas correntes bancárias (ativas ou não) e aos extratos das minhas contas poupança – caso existam (ativas ou não), bem como às faturas dos meus cartões de crédito (ativos ou não) dos últimos dois anos, contados a partir da assinatura desta declaração”.

O documento permite que a Universal armazene, acesse, consulte, avalie e utilize todos os dados pessoais dos pastores para tomar decisões acerca de sua atuação como ministros religiosos. Também inclui consentimento para que a igreja de Edir Macedo colete e trate dados pessoais sensíveis, especialmente informações relacionadas à convicção religiosa e atividades espirituais dos religiosos.

Segundo membros da instituição, ouvidos sob condição de anonimato, essa exigência não é acompanhada de uma explicação por parte da direção da igreja. Um membro da Universal relatou que foi orientado a ir à agência bancária e solicitar os extratos de sua conta, mas sem revelar que os documentos seriam entregues à direção da instituição religiosa.

A medida parece ser direcionada especificamente a pastores solteiros prestes a se casar, que estão sendo chamados para assinar a declaração junto com suas noivas. A ação está ocorrendo em todos os estados brasileiros.

Aqueles que questionam a exigência ou se recusam a assinar o documento enfrentam pressão interna para deixar seus postos. A Universal, fundada em 1977 pelo autointitulado bispo Edir Macedo, conta com cerca de 10 mil templos e 14 mil pastores em pelo menos 95 países.

A hierarquia da igreja permite que uma pessoa comece como obreiro e, ao mostrar certas qualidades, possa se tornar pastor, com um salário inicial de pelo menos R$ 2.000 brutos, e eventualmente ascender ao cargo de bispo.

A IURD defende que, como instituição religiosa, pode agir conforme suas próprias regras sem intervenção do Estado, uma vez que a Constituição brasileira garante a liberdade religiosa. A declaração assinada pelos pastores reafirma a missão de Edir Macedo de pregar o Evangelho e destaca a crescente influência e expansão da igreja ao redor do mundo.

Edir Macedo, segundo o último ranking de bilionários da revista Forbes, tem uma fortuna estimada em 2 bilhões de dólares. No documento, os pastores declaram que sua colaboração com a igreja se deve ao desejo de ganhar almas e ajudar os necessitados, reforçando a natureza religiosa e sem fins lucrativos da instituição.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/pastores-solteiros-sao-obrigados-pela-universal-a-entregarem-dados-bancarios/

sexta-feira, 21 de junho de 2024

AGU denuncia CFM

A Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma manifestação afirmando que o Conselho Federal de Medicina (CFM) cometeu abuso de poder ao editar uma resolução que restringe o acesso ao aborto legal no Brasil. A informação é da colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

Segundo o órgão, o CFM tentou promover a “manutenção da gravidez resultante de estupro” em detrimento da saúde e liberdade das mulheres.

Na manifestação, a AGU argumentou que a norma que vetava a prática da assistolia fetal acima das 22 semanas de gestação buscou, de forma disfarçada, alterar uma previsão do Código Penal. “Tal limitação somente seria possível por meio de lei formal. E essa é uma atribuição do Congresso Nacional, nunca de um conselho profissional”, destacou.

A manifestação ocorre no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 1141, que questiona a resolução publicada pelo CFM em abril deste ano. A ação foi apresentada pelo PSOL, Anis – Instituto de Bioética e a Clínica Jurídica Cravinas, e motivou a criação do Projeto de Lei Antiaborto por Estupro na Câmara dos Deputados.

Comandado pelo ministro Jorge Messias, o órgão destacou que se manifesta no sentido “estritamente jurídico”, “sem adentrar em questões políticas, morais, filosóficas ou religiosas que dividem a sociedade brasileira nesse específico tema”.

Além disso, a AGU sustentou que o ato do CFM é inconstitucional e que o “abuso do poder regulamentar” inviabiliza o exercício de um direito já previsto em lei.

A AGU reforçou ainda que, apesar do aborto ser crime no Brasil, a legislação permite exceções em casos de gravidez decorrente de estupro, anencefalia e quando a gestação representa risco de vida para a gestante.

“No caso específico da gravidez decorrente de estupro, a lei preserva o direito de escolha da mulher, não atentando para a viabilidade ou inviabilidade do feto”, disse o órgão na peça enviada ao STF.

De acordo com a AGU, o CFM não propôs aos médicos nenhuma alternativa à assistolia fetal, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a interrupção de gestações avançadas, e que teria feito uma “ponderação de valores” diversa da que está prevista em lei.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/conselho-federal-de-medicina-cometeu-abuso-ao-restringir-aborto-diz-agu/

Nota: (com trecho de notícia)

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, declarou que "a autonomia da mulher deve ter limites" em relação ao aborto legal durante audiência no Senado, nesta segunda-feira (17), sobre o PL 1904/2024, conhecido como PL do Estupro.

“A autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever constitucional imposto a todos nós, de proteger a vida de qualquer um, mesmo ser humano formado por 22 semanas”, disse.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/politica/2024/6/18/presidente-do-cfm-defende-limite-para-autonomia-da-mulher-em-relao-ao-aborto-legal-160729.html

Nem é necessário dizer que isso foi dito por um homem, cisgênero, heterossexual (e cristão?). Não haverá o reconhecimento dos direitos reprodutivos enquanto o Brasil tiver essa mentalidade medieval e colonial.

Gilead é nos EUA

O governador da Louisiana, Jeff Landry, sancionou uma lei nesta quarta-feira (19) que exige a exibição dos “dez mandamentos” em todas as salas de aula públicas, tornando o estado o único com uma legislação desse tipo e reacendendo o debate sobre o limite entre “Igreja e Estado”.

Grupos como a União Americana pelas Liberdades Civis e a Fundação Liberdade de Religião prometeram desafiar a legislação na Justiça, considerando-a “flagrantemente inconstitucional”. No entanto, os defensores da medida estão preparados e ansiosos para enfrentar essa batalha.

Landry, descrito como um homem branco de terno e gravata, discursou em um púlpito com o logotipo do “CPAC”, diante de um fundo com estrelas e listras evocando a bandeira americana. Em um evento do Partido Republicano em Nashville, Tennessee, ele declarou: “Mal posso esperar para ser processado”, conforme relatado pelo jornal The Tennessean. Ao assinar a medida na quarta-feira, argumentou que os dez mandamentos oferecem lições valiosas para os estudantes.

“Se você quer respeitar o estado de direito”, disse ele, “você tem que começar pelo legislador original, que foi Moisés.”

Essa legislação faz parte de uma campanha mais ampla de grupos cristãos conservadores nos Estados Unidos para amplificar as expressões públicas de fé e provocar processos judiciais que possam chegar à “Suprema Corte”, onde esperam um resultado mais favorável do que em anos anteriores.

Essa expectativa é sustentada por decisões recentes, especialmente uma em 2022, onde a corte decidiu a favor de um treinador de futebol americano do ensino médio que reivindicou o direito constitucional de rezar em campo após os jogos de sua equipe.

A medida na Louisiana exige que os mandamentos bíblicos sejam exibidos em cada sala de aula de todas as escolas públicas de ensino fundamental e médio, bem como nas salas de aula de faculdades públicas. Os cartazes devem ter no mínimo 27 por 35 centímetros, e os mandamentos devem ser “o foco central do cartaz” e estar “em uma fonte grande e facilmente legível”.

Além disso, incluirá uma declaração de três parágrafos afirmando que os dez mandamentos foram uma “parte proeminente da educação pública americana por quase três séculos”.

Os defensores da lei sustentam que os dez mandamentos não são apenas um texto religioso, mas também um documento histórico, argumentando que as instruções de Deus a Moisés no Livro do Êxodo são uma grande influência na lei dos “Estados Unidos”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/governo-trumpista-exige-que-escolas-exponham-os-10-mandamentos-em-todas-salas-de-aula/

Até quando vamos aturar?

Por que as festas juninas das escolas estão recebendo outros nomes nos últimos anos, como “festa da colheita” e “festa da tradição”? E por qual motivo alguns colégios até desistiram de juntar as crianças para dançar quadrilha e brincar de pescaria?

São duas razões principais:

Em tese, a cerimônia homenageia santos católicos (São João, Santo Antônio e São Pedro), que não são cultuados por famílias evangélicas.

Com o crescimento das religiões neopentecostais no Brasil, o número de alunos que não são liberados pelos pais para participar das festas tende a aumentar. Ao trocar o nome da comemoração ou cancelá-la, a escola tenta evitar que parte dos estudantes se sinta excluída.

A professora Rebeca Café, de 29 anos, por exemplo, nunca pôde participar da festa junina da escola quando era criança. “Tentavam explicar para os meus pais, evangélicos, que a gente só ia comer comida gostosa e dançar, mas não tinha jeito, eles achavam que era um culto a santos da Igreja Católica. Eu e mais quatro alunos da classe ficávamos de fora”, diz.

“Agora, na escola [pública] onde trabalho, só três crianças da minha turma não são evangélicas. A alteração [do nome da festa] se fez necessária. Mas ainda acho que precisamos conhecer a história do nosso país, não importa a religião.”

No outro extremo, em menor escala, colégios mais “progressistas” têm tentado transformar as tradicionais festas juninas em cerimônias mais abrangentes, para “celebrar outras crenças e culturas” do país.

Na Escola Vera Cruz (SP), por exemplo, o evento para o ensino médio inclui outras tradições culturais brasileiras — o ponto alto neste ano não será a quadrilha, e sim um cortejo afro inspirado em São Luís do Paraitinga.

Para Amailton Azevedo, professor de história da PUC-SP, não importa qual seja a razão de “abandonar” a festa junina: será um equívoco do ponto de vista histórico e pedagógico.

“Deixar de comemorar é dar de ombros para uma tradição secular da cultura brasileira, trazida pelos portugueses no século XVI, mas que assumiu marcas próprias e incorporou elementos culturais afro-indígenas”, explica.

“As festas juninas são um patrimônio imaterial riquíssimo do ponto de vista histórico e cultural. É um erro abandoná-las e impedir as crianças de brincar. Esse conservadorismo é retrógrado.”
Ele também critica a postura de dissolver a festa junina (e todas as suas variantes regionais) e transformá-la em qualquer outra comemoração. “A celebração de outras culturas pode ocorrer em qualquer outra data do calendário escolar. Temos uma enorme gama de festividades brasileiras e internacionais.”

Já a antropóloga Denise Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP), reforça que não faz sentido resistirmos às mudanças. “A gente vê uma ascensão do início de um estado evangélico. A escola vai deixar de reforçar tradições católicas. Acho muito difícil que a festa desapareça, mas não vai mais se pautar por São João. Vai chamar, por exemplo, festa das tradições”, afirma.

“No fim, foi isso o que o catolicismo fez. Era uma festa pagã que foi atrelada pela Igreja aos santos. Essas mudanças acontecem. A tradição não está morrendo: está se adaptando para continuar viva.”

E um lembrete: outras comemorações, mesmo que com motivações não religiosas, já foram alteradas no dia a dia das escolas, como o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Para abarcar famílias com casais homoafetivos ou para não entristecer os alunos órfãos/abandonados, as datas são trocadas por “Dia da Família”, por exemplo.

De onde veio a festa junina?

A festa junina, a princípio, era pagã e servia para os europeus comemorarem a colheita e o solstício de verão (no hemisfério Norte, ele ocorre em junho).

Depois, com o avanço do cristianismo na Europa, a Igreja Católica apropriou-se da tradição e incluiu a celebração dos santos.

Com a vinda de portugueses para o Brasil, no início do século XVI, a festa veio “na bagagem”, mas foi adaptada à nossa realidade.

A dança, por exemplo, varia em cada região do Brasil, mas nada tem a ver com o que era apresentado pelas cortes europeias no passado. O pisado forte na terra, por exemplo, no piseiro ou no forró, é uma herança indígena, e os ritmos e instrumentos musicais têm influência africana.

Não adiantou trocar o nome de “festa junina” por “festa cultural”: na escola onde Esther* dá aula, os pais de uma aluna evangélica não liberaram a criança para o evento.

“Entrei na sala e vi uma das crianças do 1º ano [do ensino fundamental] chorando, porque a família dela não ia deixar que ela participasse da dança. Ela e a amiga estavam discutindo se festa ‘é ou não de Deus’”, diz.

“Tentei intervir e explicar para a turma que estávamos seguindo uma tradição cultural, e não religiosa. Mas não adiantou. A mãe da aluna mandou um recado na agenda e avisou que a menina está proibida de participar de qualquer atividade relacionada a festas juninas.”

Os evangélicos não acreditam em santos, como explicado no início da reportagem. Na interpretação que esses religiosos fazem da Bíblia, somente Deus deve ser adorado.

Talvez você esteja pensando que as festas da escola raramente mencionam os nomes dos santos — em geral, giram em torno das músicas, brincadeiras e comidinhas. Seria realmente “errado”, do ponto de vista dos não católicos, participar das danças e comer pipoca, paçoca e milho?

Não há uma resposta definitiva — dependerá da interpretação de cada fiel e da orientação das igrejas.

Fonte, citado parcialmente: https://g1.globo.com/google/amp/educacao/noticia/2024/06/19/festa-junina-das-tradicoes-ou-da-colheita-como-a-visao-de-evangelicos-e-de-progressistas-muda-nome-e-formato-do-evento-nas-escolas.ghtml

Adendo:

Um vídeo publicado há cinco dias por um “pastor” evangélico de Minas Gerais, que viralizou nas redes sociais nas últimas horas, vem despertando a fúria de muitos brasileiros pelo tom extremista, odioso e fundamentalista ao tratar das festas juninas, uma tradição de séculos nos países católicos, sobretudo em Portugal, na Espanha e no Brasil, nas quais são celebrados São João, Santo Antônio e São Pedro. Sinônimo de alegria, comidas deliciosas, danças e muita fé, o período junino, verdadeiro patrimônio cultural dessas nações, foi atacado com desprezo e agressividade pelo clérigo radical.

O sujeito em questão é Matheus Alves, que seria “pastor” da Igreja Lagoinha, do luxuoso bairro Mangabeiras, em Belo Horizonte. Jovem e com o tom proselitista e belicoso típico dos mais aguerridos neopentecostais, ele começa afirmando que junho é o mês mais triste de sua vida porque precisaria ficar explicando a razão pela qual protestantes não devem participar de festas juninas. O que vem na sequência é um espetáculo triste de intolerância religiosa e sectarismo, daqueles que viraram tendência e moda no país nos últimos anos com a ascensão da extrema direita bolsonarista.

“Hoje é 1º de junho, né? Um dos meses mais tristes da minha vida, porque nesse mês eu tenho que ficar o mês inteiro explicando o óbvio: protestante não participa de festa junina. É uma festa católica, para São João, Santo Antônio e São Pedro. Protestante, você já entendeu por que você não participa? ‘Ah, vou lá só pra comer uma comidinha típica na festa junina’... Primeiro Coríntios, capítulo 8 e capítulo 10, te proíbe isso... Você pode estar ferindo a consciência de um neófito sentando à mesa de ídolos... Comida sacrificada a ídolo tem um problema, apesar do ídolo não existir e o ídolo não ser nada: o apóstolo Paulo diz que ídolos é (sic) moradas de demônios. E o apóstolo Paulo te proíbe de sentar na mesa do Senhor em um dia e na mesa de demônios outro dia. Deus se irrita, ele fica irado, com ações como essas baseadas em idolatria... Festa junina é idolatria! ‘Ah, mas é minha tia que tá fazendo’... Você quer sentar junto com sua tia na mesa do demônio, ô criatura? Você quer seguir a modinha? Você quer seguir o ‘não tem nada a ver’? Ou você quer seguir a escritura sagrada, que explicita ao proibir o cristão de participar de festa idólatra e de mesa de ídolos?”, diz o “pastor” Matheus Alves em sua “pregação” gravada dentro de um carro.

Pela lógica do orador evangélico em questão, não deveria haver liberdade religiosa no país e qualquer culto ou atividade de natureza ecumênica seriam inaceitáveis, já que um protestante não pode comer uns acepipes e guloseimas servidos numa festa de outra crença.

Fonte, citado parcialmente: https://revistaforum.com.br/brasil/2024/6/6/video-pastor-demoniza-festas-juninas-comidinhas-so-sacrificadas-idolos-160056.html

Nota: que seja feita uma lei punindo qualquer pessoa ou grupo que tentar impedir ou atrapalhar a celebração da festa junina.

Sexo na antiguidade

O poeta grego Semônides de Amorgos dizia, no século 7 a.C., que existem 10 principais tipos de mulheres.

Para ele, existem mulheres que são como porcos, porque preferem comer a fazer limpeza; mulheres que parecem raposas, particularmente observadoras; mulheres-asnos, sexualmente promíscuas; mulheres-cães, marcadas pela desobediência.

E ele conta que também há as mulheres-tormentas do mar, mulheres-terra gananciosas, mulheres-doninhas ladras, mulheres-éguas preguiçosas, mulheres-macacos não atraentes e – pelo menos uma avaliação favorável – mulheres-abelhas trabalhadoras.

Sem dúvida, a lista de Semônides retrata a misoginia da época. E, de todas as mulheres descritas, as chamadas "mulheres-asnos" sexualmente promíscuas talvez sejam as mais misteriosas.

Os relatos históricos do mundo antigo costumam revelar a vida enclausurada das mulheres.

Na Grécia, elas normalmente usavam véus em público. Em Roma, elas tinham "guardiões" (normalmente, o pai ou marido) para supervisionar seus movimentos e cuidar dos seus bens.

Será que o conceito da mulher luxuriosa era pura fantasia masculina? Ou as mulheres da Antiguidade eram mais interessadas em sexo do que geralmente se acredita?

Durante as pesquisas para meu novo livro, The Missing Thread ("O fio que faltava", em tradução livre), a primeira história do mundo antigo escrita através das mulheres, precisamos procurar muito para poder descobrir o que as mulheres realmente pensavam sobre sexo.

As fontes que chegaram até nós, em sua grande maioria, foram escritas por homens com clara propensão a exagerar os hábitos sexuais das mulheres em uma ou outra direção.

Alguns chegaram a enfatizar as virtudes de uma mulher a ponto de fazer com que ela parecesse quase santa e não humana. Outros apresentaram as mulheres como sexualmente vorazes, como forma de manchar propositadamente o seu caráter.

Se tomarmos essas descrições literalmente, chegaremos à conclusão de que as mulheres do mundo antigo ou eram totalmente castas, ou eram malucas por sexo.

Felizmente, é possível examinar o íntimo de algumas mulheres clássicas, que oferecem uma visão muito mais profunda da sexualidade feminina da época.

Analisando o mesmo período em que viveu Semônides, podemos encontrar Safo, compositora de poesia lírica da ilha grega de Lesbos, no mesmo século 7 a.C.

Ao observar uma mulher sentada, conversando com um homem, Safo documentou suas intensas sensações físicas: coração agitado, fala vacilante, fogo pelas veias, cegueira temporária, zumbido no ouvido, suor frio, tremores, palidez – todas as sensações familiares para qualquer pessoa que já tenha caído no desejo.

Em outro poema, Safo descreve ter coberto uma mulher de flores, relembrando melancolicamente como ela teria, em uma cama macia, "saciado [seu] desejo".

Estas são confissões de uma mulher que compreende como é impossível reprimir uma paixão.

Os poemas de Safo chegaram até nós em fragmentos e sua leitura precisa pode ser difícil. Mas os acadêmicos encontraram, em um dos papiros, uma referência a "dildos", ou olisboi, em grego.

Eles eram empregados na Grécia em rituais de fertilidade e também para conseguir prazer. Eles aparecem em diversas pinturas de vasos.

Em Roma, objetos fálicos também eram apreciados como talismãs. E não faria sentido que as mulheres se afastassem de símbolos que, segundo se acreditava, trariam boa sorte.

As mulheres antigas não se acanhavam ao verem objetos eróticos – tanto que algumas delas eram até enterradas com eles.

Antes de Roma assumir proeminência na região, os habilidosos etruscos dominavam as terras italianas e as deixaram repletas de cenas de natureza romântica.

Inúmeras obras de arte, incluindo esculturas em túmulos, ilustram homens e mulheres se reclinando juntos.

Um queimador de incenso mostrando homens e mulheres tocando os genitais um do outro foi enterrado com uma mulher etrusca, no século 8 a.C.

Basta visitar um antigo bordel, como os de Pompeia, para ver como o sexo era exposto com frequência naquela época.

As paredes dos quartos sombrios, que mais pareciam celas, onde trabalhavam as profissionais do sexo, estão cobertas de grafites. Muitos deles foram escritos por clientes homens, que gostavam de comentar o desempenho das mulheres.

Existem muitos discursos e relatos históricos que descrevem as dificuldades enfrentadas por essas profissionais. O Discurso contra Neaera, do político ateniense Apolodoro no século 4 a.C., fornece uma visão bastante surpreendente da precariedade da vida dessas mulheres.

Mas, às vezes, podemos ler o que escreveram as próprias mulheres que mantinham contato com esse mundo. E seus relatos são surpreendentes.

No século 3 a.C., uma poeta chamada Nossis morava no bico da península italiana. E um de seus escritos elogiava uma obra de arte financiada por uma profissional do sexo.

Nossis conta que uma gloriosa estátua de Afrodite, a deusa do amor e do sexo, foi construída em um templo com dinheiro levantado por Poliarquis.

Poliarquis não foi um caso isolado. Anteriormente, outra hetaera (cortesã, ou profissional do sexo de alto escalão) chamada Dórica também usou o dinheiro que havia conseguido para comprar um objeto para exposição pública – no caso, enormes espetos de carne bovina, que foram exibidos em Delfos.

O que atraía essas mulheres não era o sexo, mas sim a rara oportunidade que o sexo oferecia para que elas fossem lembradas depois da morte. Afinal, o destino da imensa maioria das mulheres que elas conheciam era o anonimato.

Apesar de todos os seus preconceitos, os escritores homens podem fornecer algumas das visões mais interessantes sobre as mulheres e o sexo.

No ano 411 a.C., o comediante Aristófanes apresentou uma peça chamada Lisístrata. Nela, as mulheres de Atenas organizam uma greve de sexo para convencer seus maridos a chegar a um acordo de paz durante a Guerra do Peloponeso.

O conflito realmente aconteceu. Ele foi travado entre Atenas e Esparta e seus respectivos aliados e durou três décadas.

Muitas das mulheres da peça ficaram descontentes por precisarem abrir mão do seu prazer. Elas são retratadas segundo o estereótipo das mulheres-asnos, para melhor efeito cômico.

Mas existe um momento em que a peça toma um rumo sério e Aristófanes oferece um ponto de vista feminino mais convincente.

A personagem-título, Lisístrata, é a organizadora da greve. Ela descreve como realmente era a vida das mulheres em tempos de guerra.

Elas não só eram proibidas na Assembleia, onde a guerra era discutida, mas ficavam cada vez mais enlutadas. E, embora o conflito prolongado fosse terrível para as mulheres casadas, ele era ainda pior para as solteiras, que perdiam todas as possibilidades de chegar ao casamento.

Lisístrata destaca que os homens podem voltar para casa depois da guerra com cabelos grisalhos e ainda se casar, mas o mesmo não acontece com as mulheres solteiras, já que muitas delas serão consideradas velhas demais para se casar e procriar.

Estas falas mostram a diferença entre a experiência de guerra de homens e mulheres com tanta precisão que somos tentados a acreditar que elas sejam um reflexo do que realmente diziam as mulheres da época.

Podemos também encontrar os temores reais das mulheres sobre o sexo expressos na tragédia grega.

Sófocles, o mais famoso dramaturgo grego e autor de Édipo Rei, criou uma personagem feminina na sua peça perdida Tereu. Ela descreve como uma mulher virgem se transforma em uma esposa.

"E isso, depois que uma noite nos uniu", diz a rainha mitológica Procne, "precisamos enaltecer e considerar muito agradável".

Os casamentos arranjados eram bastante comuns entre as classes mais altas. E a primeira experiência sexual de uma mulher poderia ser tão desorientadora quanto a descrição de Procne.

Às vezes, as mulheres expressavam seus pensamentos em papiros.

Uma carta atribuída à filósofa grega Teano, do círculo de Pitágoras (que alguns afirmam ter sido sua esposa), oferece à amiga Eurídice alguns conselhos atemporais.

Teano escreve que a mulher deveria se livrar da vergonha junto com suas roupas, ao chegar à cama do marido. E que ela pode vestir as duas juntas quando se levantar novamente.

A carta de Teano foi analisada e pode não ser autêntica. Mas seu conteúdo reflete com precisão o que muitas mulheres teriam dito umas às outras em tempos mais modernos. E seu conselho parece também ter servido para as mulheres do mundo antigo.

Uma poeta grega chamada Elefantis supostamente era tão disposta a oferecer dicas sexuais para as mulheres que escreveu seus próprios livros sobre o tema.

Infelizmente, não existem sinais das suas obras hoje em dia, mas ela é mencionada no século 1 d.C. pelo poeta romano Marcial e pelo biógrafo e arquivista romano Suetônio – que relata que o imperador Tibério, conhecido pelo seu apetite sexual, tinha cópias dos seus livros.

Outras mulheres foram mencionadas em textos de outros homens, mas elas costumavam se expressar em termos de amor e não de forma explicitamente sexual. Isso as excluiu dos textos de alguns de seus contemporâneos homens, como Marcial e Catulo (séc. 1 d.C.).

Já Lésbia, pseudônimo da amante de Catulo, diz a ele que "o que uma mulher diz ao seu amante no momento / Deve ser escrito no vento e na água que corre". Os versos relembram a expressão "conversa de travesseiro".

Sulpícia é uma das poucas escritoras romanas cujos versos ainda sobrevivem. Ela descreve sua tristeza ao estar no campo, longe do seu amado Cerinto, no dia do seu aniversário – e seu alívio quando finalmente pode ir a Roma.

Estas mulheres não precisavam descrever com todos os detalhes o sexo com seus amantes para revelar o que elas realmente pensavam a respeito.

Os homens podem dominar as fontes históricas, mas as mulheres, como bem sabia Afrodite, podiam ser igualmente apaixonadas quando se fechavam as cortinas.

O livro de Daisy Dunn intitulado 'The Missing Thread: A New History of the Ancient World Through the Women Who Shaped It' ("O fio que faltava: uma nova história do mundo antigo através das mulheres que o formaram", em tradução livre) foi lançado recentemente no Reino Unido pela editora Weidenfeld & Nicolson e será publicado nos Estados Unidos pela editora Viking, no dia 30 de julho.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72251d72jzo