Havia um mau homem em terras de Além Douro, a quem a justiça encarniçadamente perseguia por vários crimes e que sempre escapava, como conhecedor que era dos esconderijos proporcionados pela natureza. Apertado, porém, muito de perto, embrenhou-se um dia no sertão e, transviado, achou-se de repente à borda de uma ribeira torrencial, em sítio alpestre e medonho, pelo alcantilado dos penedos e pelo fragor das águas que ali se despenhavam em furiosa catadupa. Apelou o malvado para o Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o Diabo lhe apareceu. ‘Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma’, disse-lhe. O Diabo aceitou o pacto e lançou uma ponte sobre a torrente. O réprobo passou e seguiu sem olhar para trás como lhe fora exigido, mas pouco depois sentiu grande estrépito, como de muitas pedras que se derrocavam, e ninguém mais ouviu falar da improvisada ponte.[wikipedia]
- Dizem que se alguém passar por esta ponte vai parar em outro mundo.
- Besteira! Superstição! Crendice! Daqui dá pra ver nitidamente o outro lado. Eu não vejo coisa alguma diferente.
- Então eu te desafio a passar comigo na ponte no próximo solstício.
- Bah! Eu não vou perder meu tempo.
- Aha! Eu sabia! Você tem medo!
- Eu? Medo? De que?
- Então combinado. Eu te espero aqui no próximo solstício.
Pedro e Paulo foram para casa. Pedro contava os dias para o solstício. Se achava tão inteligente, tão certo de que apenas a ciência tinha as respostas, mas não encontrava nenhuma para as coisas que aconteciam na ponte. Paulo conversou bastante com sua mãe e pai naquela noite, contando que iria partir, que iria passar pela ponte e ver o que havia além da vila. Seus pais choraram bastante, fizeram a comida preferida de Paulo, arrumou uma mala para a viagem.
Passadas as semanas, Pedro e Paulo se encontram na entrada da ponte, ´nas ultimas horas do solstício, com a lua cheia despontando ao leste. Paulo, previdente, trouxe a bagagem que seus pais deram a ele. Pedro, teimoso, veio apenas com a roupa do corpo e a cara amarrada.
- Para que você trouxe essa bagagem toda? Você vai ver como não tem coisa alguma do outro lado, nada vai acontecer.
- Mesmo se nada acontecer, eu estou preparado para acampar. Não é seguro andar sozinho de noite.
Pedro andava cambaleante a cada passo que dava em direção ao fim da ponte, enquanto Paulo andava confiante de que estava preparado. Ha poucos passos de completar a travessia, um forte vento, a lua mudou de cheia para minguante e as estrelas mudaram de lugar. Não é muito, mas foi o suficiente para fazer Pedro mijar nas calças.
- V-viu como não a-aconteceu n-nada?
Do nada, voando acima de suas cabeças, passa voando um dragão. Logo depois, uma amazona montada em um unicórnio tentava jogar uma lança no dragão.