Envolta por seu fogo negro, tal qual veste cerimonial, trouxe uma solução muito interessante para o homem:
-Inquietação, tormenta e insatisfação diante das regras. Não é castigo, tão pouco vergonha, é um privilégio saber duvidar e criticar, apontar as falhas e os erros, procurando uma solução melhor e mais justa. Muitos dentre os homens fizeram isso, transformando e inovando o jeito de ser, estar, ver e agir no mundo de tantas formas sutis ou explícitas. Isso tem lógica e é venerável, visto que tudo foi feito do Verbo dos deuses, estes o torcem, invertem, pintam, modelam ou esculpem, refazendo o Verbo, refazendo todo um mundo a ser visto. Isto se chama Arte, são os feiticeiros do verbo e da forma, são poetas, pintores, saltimbancos, escultores e modeladores do barro que dão forma, como deuses, a criaturas. Mas os autores a deixam livre, para viver na cabeça dos admiradores de sua obra, de acordo com a compreensão individual.
Ao invés de responder e repreender o ceticismo, pergunte, questione e faça sua questão transformar-se em arte, que caiba a cada um que a vir, dar a resposta à sua dúvida. Quanto melhor for sua dúvida, sua arte, mais próximo de nós estará, sem precisar de leis, proteções ou sabedorias fajutas acerca de nós, do oculto, das Trevas.
Tal é como deve ser, o homem aberto às experiências e a experimentos, para ser distinto dos animais, para ser engrandecido por sua arte, para evoluir e realmente poder afirmar sua superioridade sobre os seres. Não pela força, pela loucura, pelo fanatismo, pela ganância. Até que compreenda isso, enquanto o Homem fica confuso diante de sua real função, cairá na desgraça causada por suas mãos. Crie quantas leis quiser, faça-se rei de seus semelhantes, extraia quantas riquezas quiser, sacrifique a terra e a vida, quantas vezes achar-se no direito. Depois não adiantará pedir a um poder divino superior para aliviar o castigo, pois tem a capacidade de ver e raciocinar, sabe que a ruína é consequência dos seus atos. Acha, sentado em seu opulento e portentoso trono, que está isento, mas qual carrasco escapa de cortar-se com o próprio machado? Seja digno de sua inteligência e capacidade de visão, não se deixe enganar mais por palavras bonitas e falseadas, não siga mais os profetas, não se submeta a reis. Tudo que aqui se encontra na terra, à terra pertence, sem divindade ou hierarquia, isso só existe enquanto se continuar cego e tolo, achando que isto o tornará forte e protegido das adversidades. Cabe à Arte e aos artistas, evitarem isso.