No edifício mais alto do mundo, dentro de um suntuoso escritório, uma figura feminina observa as luzes do tráfego de carros nas ruas, algumas centenas de metros abaixo.
- Então, quer saber a minha versão de como tudo aconteceu?
- Eu acho que a humanidade precisa saber.
- Muitos sabem. Você sabe. Mas eu duvido que realente queiram fazer essa tal de revolução. Sempre tem um grupo, um líder, que vai se aproveitar das massas.
- Somente quando as massas tiverem consciência é que a revolução irá acontecer.
- As massas.(Tremendo) Muitos de meus filhos e filhas sofreram com a loucura das massas.
- Os verdadeiros autores desses massacres foram outros. As massas apenas foram manipuladas.
- Manipulação. Essa palavra tem um sentido pejoriativo, não tem?
- Como assim, milady?
(Aproximando)- Você não se queixa quando eu te manipulo.
- Milady, sua versão...
- Eu vou te contar. Mas eu vou querer o seu sacrifício...
(minhas calças são arrancadas)-Milady, dessa forma eu não consigo escrever!
(Animada com o tamanho do meu... "sacrifício")- Eu sei que você vai dar um jeito.
Sim, isso tem a ver com o dito Fruto Proibido. Que não era uma maçã. Isso tem a ver com o que aconteceu antes dessa piedosa fraude.
Antes da Segunda Mulher, teve a Primeira Mulher. Eu.
(A duquesa faz uma pausa para engolir todo o sêmen que eu tinha)
Delicioso. Como sempre. Nunca se perguntou porque, de tantos humanos, eu escolhi você?
Você não resistiu. Você não tentou me agredir. Você não me amaldiçoou. Você me aceitou.
(Eu tento recuperar o fôlego e a consciência)
Então temos que começar do começo... Mas quando algo começa? Quando eu abri os olhos? Ah, eu descobri que muitos tinham existido antes de tudo... antes até do tempo e do espaço.
Eu abri os olhos e a luz incomodava. Depois de me acostumar, olhei em volta, tentando saber onde eu estava. Aliás, quem eu era. E de onde eu vim. E como eu fui parar ali.
Algo refletia minha aparência e eu não gostei muito do que eu vi. Eu não espero que consiga retratar. Mas uma enorme parte de meu corpo estava... digamos... costurado.
Só então eu comecei a sentir dor e frio. O local era bem amplo. Eu vi coisas ao meu redor que não sabia o que era naquele momento. Depois eu aprendi que era um laboratório. Eu aprendi o nome de cada equipamento e amaldiçoei quem os usou, quem os inventou e quem os usou em mim.
De uma pequena abertura surgia algo que parecia apetitoso. Eu era regularmente alimentada. Quando era necessário, as máquinas injetavam algo em meu corpo. Depois eu aprendi que era medicina. Eu precisava me recuperar. Aos poucos, o enorme corte foi fechando e as suturas caíram por si mesmas.
Então abriu uma parte da parede. Um monitor. Imagens e sons. Ali eu comecei a aprender. Isso é algo que ainda me estimula. Conhecimento.
Só depois disso é que começaram a aparecer os outros seres. Cada qual tinha um nome e chamavam a si mesmos de Elohim. Guarde esse nome. Eu volto a falar disso mais adiante.
Esses Elohim tentaram me domesticar. Levaram até outro laboratório para me apresentar ao espécime que construíram. Isso deve ser chocante, mas a humanidade foi o resultado de um projeto científico.
A explicação que deram foi mais ou menos assim.
Esse é parte sua. Vocês dois eram um só. O espécime dentre inúmeros projetos, clones e resultados de manipulaçao genética, que foi satisfatório. Eu tremi de medo. Eu e meu segundo eu teríamos sido descartados se não atendessemos certas expectativas.
Para que o nosso planejamento de colonização dê certo, aqueles que eram um e se tornaram dois, devem tornar-se um novamente.
Resumindo, os Elohim queriam que eu e meu segundo eu começassemos a nos reproduzir. Nós eramos meras cobaias. Meros animais. Gado para comer, reproduzir e morrer.
(A duquesa tem um ligeiro tremor, provocado pelos pensamentos e lembranças)
Eu não sei o que deu em mim. Eu penso que foi a minha natureza, ou efeito de alguma droga, ou alguma programação. Eu fui para cima do meu segundo eu. Eu queria ser eu mesma, inteira, novamente.
Eu não tinha muita noção do que fazia. Digamos que eu... abocanhei o "pistilo" do meu outro eu. Então algo quente e cremoso jorrou na minha boca. Em grande quantidade. Eu engasgei e deixei derramar no chão.
Então eu vi. Era algo esbranquiçado. O gosto era salgado e pinicava minha língua. Eu sabia que era sêmen. E eu sabia que tinha ficado viciada naquilo.
Eu queria mais. Eu usei tudo que eu tinha. Mãos, seios, rabo... enfim, todas essas partes minhas que você conhece tão bem.
Eu quase matei meu outro eu. Mas eu fiquei satisfeita. Por alguns instantes.
Os Elohim pareciam satisfeitos. Então pegaram etiquetas, dessas que se marca gado, para nos dar nomes. O príncípio da encrenca. Quando alguém sabe o seu nome, seu verdadeiro nome, tem poder sobre você.
Essa aparência que muitos de sua gente me retrata... até que não é de toda ruim ou errada. O epíteto de Primeira Mulher é meio vago. Mas eu represento o que toda mulher pode ser, em seu potencial pleno.
Sim, eu sei. Basta olhar para mim. Eu sinto sua excitação. Não fique com vergonha, culpa ou medo. O que um homem sente por uma mulher é normal, natural e saudável.
O problema começa quando o homem ouve mais a programação que a sociedade lhe incute.
O meu outro eu ficou todo contente e feliz quando recebeu a etiqueta. Essa natureza de sua gente... isso precisa mudar. Esse comportamento de rebanho.
Estava escrito. ADN. Mais tarde, um de seus povos distorceria o nome e ele ficou mais conhecido pelo nome de Adão.
Eu não estava muito a fim de ser marcada. Eu não estava muito a fim de ser dominada. Mas eu não tinha muita consciência de quem ou o quê eu era. Eu não tinha consciência da minha verdadeira natureza e poder.
Então foram se aproximando aos poucos, com bastões, correntes, anestésicos potentes. Curiosa, eu olhei o que estava escrito na etiqueta. Estava escrito. LLT. Mais tarde, um de seus povos distorceria o nome e eu fiquei mais conhecido pelo nome de Lilith.
(Na cultura pop, no anime Neon Genesis Evangelion, fala-se do LCL)
(Uma breve pausa para explicar a referência da cultura pop. No anime Neon Genesis Evangelion, o LCL é descrito como sendo líquido amniótico, o líquido que envolve o feto no ventre da mulher grávida. No anime esse líquido é usado para que os pilotos tenham conexão com os EVAs.)
Essa é uma boa referência, escriba. Faz sentido. Eu e Adão éramos o projeto que daria início à humanidade. Nós éramos, metaforicamente, o embrião e o ambiente de desenvolvimento.
Isso poderia ser uma história com final feliz. Para os Elohim. Mas mesmo os projetos divinos encontram empecilhos e imprevistos.
Adão tinha um enorme defeito de programação. Aliás, vocês, homens, tem esse mesmo defeito de programação. Que pode ser suprimido ou superado. Felizmente.
Adão achou que era superior à mim. Eu ainda não sei muito bem o que deu em mim. Eu fiquei muito brava. Eu ainda não sabia muito bem, mas algo em mim, talvez uma natureza que eu desconhecia, reagiu.
Um povo de sua gente distorceu as coisas e disse que eu proferi o Nome do Inefável. Talvez eu tenha feito isso. Mas não é aquele Nome. Eu proferi o meu Verdadeiro Nome. Por motivos óbvios, poucos sabem esse Nome.
(Eu interrompo com uma dúvida. Eu devo chamá-la de Lilith ou duquesa?)
Ah, querido, pode me chamar do que quiser. Só esteja preparado para o "sacrifício".
Mas, retomando. Os grilhões que me prentiam caíram no chão e as grades abriram. Eu comecei a correr pelos corredores, procurando uma saída. Achando que tinha uma saída. Isso eu não sei como explicar.
Os Elohim, desesperados, acionaram o alarme e falavam constantemente pelos auto falantes que não havia nada além dos muros. O Edin, ou o Jardim do Éden, era o Mundo, o único que existia.
Eu ignorei e continuei a correr. Atravessei o Jardim do Éden. A guarda dos Elohim, os chamados Querubins, atrás de mim. Eu consegui chegar no muro. Onde tinha uma enorme porta feita de esmeralda.
Eu atravessei aquilo. Não me pergunte como. Eu fiquei espantada ao ver que tinha um mundo depois do mundo. Eu posso fazer um spoiler? (Pode) Sua gente acha que o mundo vai acabar. Que a vida vai acabar. Nada tem fim. Eventualmente depois do fim tem um recomeço. Pronto, falei.
Um povo da sua gente diz que eu fui até o Mar Morto ou o Mar Vermelho. Talvez eu tenha ido. Esse povo diz que aquele é um lugar maldito. Curiosamente acreditam em um Enviado de Yahveh que foi jejuar ali.
(Eu tenho que interromper para que ela explique melhor quem é Yahveh)
Tem razão, meu querido. Eu tenho que explicar melhor. Yahveh é um dos Elohim. Sua gente e aquele povo esquece que Elohim é nome coletivo. Ou seja, tinham muitos Elohim. Assim como muitos seres que os serviam. Os Elohim estavam em uma hierarquia superior em uma determinada classe de seres. A humanidade os chamam de Deuses.
A Terra, ou melhor, Gaia, não é como sua gente vê. Vocês conseguem perceber apenas a dimensão física, limitada pelo espaço-tempo. Provavelmente sua gente, especialmente os descrentes, ficariam doidos se vissem Gaia em sua verdadeira realidade.
Eu me deparei com inúmeros outros seres que sua gente chama de sobrenatural. A concepção de "natureza" da sua gente é incrivelmente pobre.
Evidente que os Querubins recuaram. Eu solicitei exílio. Eu devo ser a primeira que pediu isso.
Eu sei que falam muito dessa minha temporada no exílio. Digam o que quiser. Eu sou aquilo que uma mulher pode ser em sua plenitude.
Eu transei com todo tipo de ser místico que existia em Gaia. E em outros mundos, outras dimensões.
Mas vamos para um capítulo dolorido. Eu estava feliz, vivendo entre Deuses e Deusas (e uma miríade de outros seres espirituais) fo***** (desculpe o palavreado) de formas que seria consideradas impossíveis, inclusive anatomicamente.
(Eu peço para poupar o leitor dos detalhes) Mesmo? Ah, que pena. Sua gente é ainda mais limitada nesse quesito.
Enfim, eu estava curtindo minha convivência com Inanna e Ishtar. (Sim, Lilith foi retratada como "empregada" dessas Deusas, mas ela era a amante delas) Sim, isso mesmo. E nós gostamos muito de visita-lo, escriba. Mas vamos deixar isso entre nós.
Os guardas estavam assustados. Na frente daqueles magníficos portões azuis de lápis-lazuli estavam seres que se diziam chamar Serafins.
Eu sabia que a bronca era comigo. Eu não queria envolver meus amores nos meus problemas. Sim, eu sou superprotetora. Talvez a forma como eu te ajudo e te protejo nãpo seja corretamente entendido e percebido por você, escriba.
(De vez em quando eu sinto meu pescoço formigando, lembrança da mordida dela)
Pare de chorar. Você gostou. Eu também gostei. Sim, eu fiquei surpresa. Você é um dos poucos que consegui me satisfazer. Celebre o quanto quiser.
Retomando. Os Serafins estavam lá. Eu não vou esquecer o nome daqueles três. Petulantes. Exigiram que eu voltasse. O escambau. Ameaçaram. Eu levantei meus punhos e estava pronta para brigar. Sendo servos de quem são, trouxeram um artefato. Sua gente chama de bomba biológica.
Aquilo matou e tem matado muitos de meus filhos e filhas. E eu não estou falando das bruxas. Eu estou falando desses que são chamados de demônios pela sua gente.
Eu fui atrás de vingança e matei muitos dos filhos e filhas de Adão. Que eu soube que arrumaram uma fêmea mais submissa. Que sua gente chama de mulher. Isso não é ser mulher. Isso é um defeito de programação. Que pode ser suprimido ou superado. Felizmente.
Acredite, vingança não é justiça. Vingança não resolve. Violência não resolve. Isso só cria um processo sem fim. Com camadas e camadas de rancor, remorso, culpa, vergonha e medo. Eu espero conseguir acabar com tudo isso.
(Eu interrompo para perguntar como ela pretende acabar com tudo isso)
Eu acho que nós estamos pulando uma parte. Antes de passar para o "fim", que não é o fim, mas um recomeço. Adão morreu. Eu morri. Isso deve ser algum tipo de tabu entre sua gente. Até os Deuses morrem.
Então a minha existência continuou. Em outro nível. Com um corpo bem mais adequado, eu sei que você concorda (Eu balanço a cabeça, mas nem é necessário, pois outra "cabeça" está bem levantada). Eu vejo claramente que concorda.
Eventualmente a humanidade também irá... digamos... evoluir, embora eu não goste dessa palavra.
Mas primeiro a humanidade tem que conseguir por vontade e esforço próprio, alcançar a consciência de sua verdadeira origem.
Quando eu passei a outro nível, eu comecei a entender quem ou o que eu era... ou sou. Os Deuses que construíram os humanos, Elohim e Anunaquis, não poderiam fazer isso sem ter o material adequado. Esse material só pode ser obtido de outros seres depois de os matarem. Não é mera coincidência que todos os mitos dos Deuses envolvem a batalha e a morte de uma criatura primordial, um dragão ou uma serpente.
Gaia tinha e tem muitos Deuses nativos. Muitos seres "sobrenaturais". Temos colônias de Deuses de outros planetas e dimensões. Temos colónias de seres "sobrenaturais" de outros planetas e dimensões.
Com isso eu chego ao capítulo mais recente. Quando eu encontrei o Deus e a Deusa. A Deusa, ou uma de suas muitas manifestações, é o Dragão/Serpente Primordial. Eu nasci, ou melhor dizendo, eu fui clonada, construída, com os elementos Dela.
Então eu conheci o verdadeiro Deus desse mundo. Eu não saberia como descrever em termos humanos. Toda a vida que existe em Gaia? Sim. Toda a vida que existe nas estrelas? Sim. Toda a vida que existe na Via Láctea? Sim.
Ele também vive dentro de cada ser humano. Diante de tal existência plena e absoluta, eu apenas senti e sinto profundo êxtase. Ele realmente conseguiu me satisfazer por inteira.
(Eu interrompo, um tanto esperançoso, perguntado se é por isso que ela se interessou por mim)
Será? Isso não importa, de verdade, importa? Eu me mostrei a você. Eu te recebi dentro de mim. Você me preenche de uma forma que sua gente dirá que é blasfêmia, heresia, pornográfica.
Ainda muito tempo terá que passar. A humanidade ainda sofrerá por resultado de seus atos e palavras. Mas como Sidarta percebeu, tardiamente, a Iluminação inevitavelmente vai acontecer com todos, não com poucos.
Dispensando fórmulas, cânticos, rituais, regimes, paramentações ou ferramentas. Tudo o que você e qualquer um precisa já está dentro de cada um.
Então não fique triste, chateado ou zangado. Nada disso vai alterar a realidade das coisas. Viva sua vida. Busque sua verdade. Quando seu corpo findar, saiba que tem um lugar reservado. Entre minhas coxas.
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