Saturno estava na beira do grande lago que se formava onde antes era a Cidade dos Deuses. Quando Ninmag apareceu nos céus, os sentimentos de Saturno estavam divididos, ele não sabia se ficava desesperado ou extasiado. Esses sentimentos não estavam dirigidos a Anu a quem se poderia supor que Saturno tivesse lealdade e companheirismo. A parceria era uma necessidade, uma ferramenta, uma situação tolerável, para os objetivos e sonhos que Saturno tinha. A tensão entre desespero e êxtase era acusado porque Saturno temia pelo seu couro. O porte e o poder de Ninmag o impressionou.
Com o arremate da luta, Saturno vê o reino e o poder de Anu afundar em um torvelinho. A sensação era a de perder o lar familiar, o de ser órfão, mas enquanto a Cidade dos Deuses era engolida pelo grande lago que se formava, muitos planos tomaram o lugar dos sentimentos. Nisto Saturno tinha muito em comum com Anu, sua personalidade violenta era apenas comparável com sua ganância. E Saturno queria tornar a sua Albion tão grande e tão gloriosa, senão maior, que a Cidade dos Deuses. Nestes sonhos mirabolantes ele via a necessidade de se resgatar a coroa, a espada e a armadura de Anu. Com isso em mãos, os outros Deuses se ajoelhariam diante dele e as outras colônias seriam suas vassalas.
Fazer planos é uma coisa, realizá-los é outra. Saturno conhecia o poder de Ninmag sobre as águas. A Deusa havia caído junto com Anu. E se seu poder submergiu junto dela ou haveria mais algum Deus ou Deusa que conhecesse o segredo, não era de conhecimento de Saturno. Ele teria que apelar a Deuses e Deusas mais velhos que pudessem orientá-lo. Por mais doloroso que fosse, Saturno teria de ir até Urânia, sua mãe. Não pela distância, não pela dificuldade, mas pela carga emocional e feridas que seriam revividas.
Por um capricho do Destino, Urânia foi buscar seu refúgio entre as sete colinas sagradas ao norte de Alba, onde os boatos contam que ela vivia como uma Lupina, uma família de Deuses menores. Para ir até lá, o único em quem Saturno poderia confiar era Cronos, seu filho bastardo e exilado. Pontus, seu irmão mais novo, inexperiente e irresponsável não se queixou ao ter de assumir a coroa. Saturno entrou na floresta e certamente deve ter nos notado, mas como Cronos não nos deu muita importância. Ele também sabia dos boatos de que ali habitava um Deus desconhecido, mas orgulhoso como era não se deu o trabalho de conhecê-lo.
As sete colinas sagradas era o último lugar onde os Deuses queriam estar. Ali existiam, perambulavam e habitavam diversos espíritos, entidades e divindades, locais e estrangeiras, com uma ligação muito física com a natureza e viviam de uma forma inaceitável para os padrões aristocráticos dos Deuses. Ver a altiva e antes poderosa Urânia, sua mãe, cercada de entes que faziam questão de se manifestar em formas tão revoltantemente carnais, não foi agradável. Ritos repugnantes viscerais, animais e selvagens ocorriam em diversas clareiras, e círculos marcados por pedras. Saturno sentiu que, em algum momento, ele teria que submeter estas entidades ou civilizá-las.
- Eu desejo falar com Urânia.
- Vinde adiante! Apresente-se! Mostre-se amistoso e visita-nos em paz e conforto, pois somos vosso igual.
- Não sou vosso igual, pois minha linhagem é pura e meu sangue das estrelas. Vós sois selvagens, eu sou civilizado. Vós sois Deuses menores.
- Menores? Quem é menor, nanico?
Um Deus em uma forma de um enorme urso negro aproxima-se de Saturno pronto para arrancar a cabeça dele.
- Basta Avvagdu! Este é Saturno, o meu filho amado. Diga-nos, grande Rei de Alba, o que deseja de nós?
- Salve Urânia, Rainha Excelsa do Firmamento, a Formosa Deusa Mãe…
- Basta! Nós não queremos ouvir mais estas fórmulas aristocráticas vazias e hipócritas. Diga-nos logo vosso desejo.
- Antes, nobre Urânia, saiba que Anu caiu.
- Aquele que almeja ser mais do que pode ser há de cair. Nós não estamos interessados em fofocas da corte e vós não vieste até aqui por compaixão a vosso rei. Diga-nos o vosso desejo.
- Nobre Urânia, ainda que tenha se afastado de vossa família, deveis saber que deve ter começado a corrida para o trono. O que eu desejo é recuperar as relíquias de Anu e clamar pelo trono.
- Tolo! Nós saímos da corte e vós quem ignora que o trono é concedido ao Deus que é consagrado como consorte pela Deusa Mãe! Ah, raça das estrelas! Por vossas origens vós vos considerais tão superiores, tão altivos! Esqueceram-se até das Leis do Universo! Vos custará caro tanta arrogância e presunção! Vossas conquistas serão vossas sentenças.
- Eu não temo o Destino! Eu vos imploro que me diga como reaver as relíquias de Anu.
- Apenas quem conhece o mistério das águas poderia do grande lago trazer à superfície o tesouro de Anu. Deveis procurar Ninmag.
- Nobre Urânia, Ninmag, a Senhora das Águas caiu com Anu.
- Isso é lastimável. Vós tereis ou que encontrar o báculo de Ninmag ou aprender a domar as águas com a Senhora dos Mares. Procureis pela Pithon, no santuário além da Hélade, a colônia de nosso irmão, Urano.