terça-feira, 12 de novembro de 2024

Festival da Diversidade

Maior evento cultural LGBT+ da América Latina ocorre em São Paulo.
Toda programação é gratuita; evento traz filmes, exposições, música, games, festas etc.

A 32ª edição do Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade, maior evento cultural LGBT+ da América Latina, começa na próxima quarta-feira (13/11) com o tema “É na Luz que a gente se encontra”, em diversos locais de São Paulo.

Esta edição apresenta 93 filmes de 32 países e de 12 estados brasileiros, 11 experiências XR, exposição, música, literatura, games, festas, performances, workshops e o Show do Gongo, que este ano traz a edição especial Gongada Drag.

Abertura
O MixBrasil abre na próxima quarta-feira (13/11) para convidados com o filme brasileiro, inédito na capital paulista, “Avenida Beira-Mar”, vencedor do Prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio deste ano. São Paulo também recebe o maior festival de hambúrguer do Brasil.

Festival gratuito traz gastronomia asiática e K-Pop para São Paulo
Festival inédito e gratuito de pistache chega a São Paulo
Para completar, o evento terá a apresentação da Escola de Samba do Grupo Especial de São Paulo “Estrela do Terceiro Milênio”. Toda a programação pode ser consultada no site, confira um pouco do que esperar:


Cinema
A programação de longas-metragens internacionais exibirá títulos de cineastas e atores consagrados que fizeram parte da seleção dos principais festivais ao redor do mundo, a maioria inéditos em São Paulo.

Experiências Imersivas
O MIX.XR segue como um espaço de vanguarda e traz 11 instalações de experiências XR que abrangem trabalhos com inteligência artificial, instalações interativas, documentários, curtas experimentais, dramaturgias desenvolvidas em realidade virtual, combinação de VR e holografia.

Ocupação Mix Brasil
A Ocupação Mix Brasil acontece na casa de cultura Ocupação Artemísia, em parceria com o ateliê NaUapi e o coletivo Cuscuz. A exposição apresenta os trabalhos de mais de 100 artistas, incluindo performances e apresentações de bandas.

Outra novidade é a comemoração dos 30 anos de Mercado Mundo Mix na programação do Festival. Para celebrar essa história, que começou como uma lojinha no 2º Festival MixBrasil em 1994 e se tornou uma referência nacional de moda e economia criativa na década seguinte.

Música
O Show do Gongo, que excepcionalmente não estará presente fisicamente nesta edição, trará a celebração do improviso do fenômeno Gongada Drag, que reúne drags, comediantes da diversidade e o apresentador Bruno Motta em uma mistura de stand-up, auditório, reality shows e muito talento drag.

Literatura
Com curadoria de Alexandre Rabello, o Mix Literário chega à sua sétima edição, trazendo debates, entrevistas, leituras, premiações e o Workshop de Criação Literária Queer: entre identidades e universalismos no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.


Games
O MixGames traz da Alemanha dois jogos inéditos: Sibel's Journey, jogo educativo interativo voltado para jovens de 11 a 18 anos, promovendo conhecimento e atitudes positivas sobre gênero, sexualidade, consentimento e relacionamentos saudáveis, e Year of Springs retrata o percurso de um trio de amigos ao lidar com seus sentimentos de amor, conexão e o desejo de pertencer.

Serviço
32° Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade
13 a 24 de novembro de 2024
Toda programação é gratuita, exceto o show do Gongo.

Locais e ingressos
Cinesesc - Os ingressos serão disponibilizados na bilheteria do cinema 1h antes do início de cada sessão;
Centro Cultural São Paulo (Sala Paulo Emílio) - Os ingressos serão disponibilizados na bilheteria do espaço 1h antes do início de cada sessão;
Spcine Olido - Os ingressos serão disponibilizados na bilheteria do espaço 1h antes do início de cada sessão;
MIS – Museu da Imagem e do Som - Os ingressos serão disponibilizados na bilheteria do espaço 1h antes do início de cada sessão, o acesso às experiências XR e exposição acontecerão por ordem de chegada;
IMS – Instituto Moreira Salles - Os ingressos serão disponibilizados na bilheteria do espaço 1h antes do início de cada sessão;
Teatro Sérgio Cardoso – Show do Gongo| Entrada: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia);
Ocupação Artemisia (Vila Mariana) - Gratuito e sujeito a lotação;
Galeria Vermelho – Gratuito e sujeito a lotação;
Galeria Piege – Gratuito e Aberto ao público.

Fonte: https://www.gazetasp.com.br/entretenimento/maior-evento-cultural-lgbt-da-america-latina-ocorre-em-sao-paulo/1146101/

Catarinenses querem proibir halloween

O projeto de lei que proíbe a celebração do Halloween em escolas públicas catarinenses foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) nesta semana. A aprovação ocorreu um ano após a proposição da pauta, que foi considerada inconstitucional pelo governo do Estado.

De autoria do deputado estadual Marcos da Rosa (União Brasil), o projeto de lei 0447/2023 prevê a proibição de qualquer evento, atividade didática, decoração ou celebração ao Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas, nas escolas públicas catarinenses.

O deputado justifica que o objetivo é “resguardar a integridade cultural, ética e moral dos estudantes, bem como preservar os valores educacionais e familiares”. Ele usa como justificativa a decoração de Halloween feita em uma escola de Penha no ano passado, que simulava um assassinato e teria assustado alunos da unidade e gerado reclamações.

Além disso, argumenta que “a restrição não é apenas uma ação em defesa da integridade de nossas crianças e jovens, mas também um passo importante na preservação de nossa identidade cultural coletiva, afastando influências que não são apenas alheias, mas potencialmente contraproducentes ao meio ambiente educacional saudável e enriquecedor que sempre oferecemos em nossas escolas”.

Ao ser avaliado pela Comissão de Constituição e Justiça, que analisa a constitucionalidade dos projetos, a relatora Ana Campagnolo (PL) solicitou que a Secretaria de Estado da Educação e a Procuradoria Geral do Estado se manifestassem sobre o assunto.

No início deste ano, a Secretaria de Estado de Educação enviou ofício argumentando que a “festividade é milenar, que foi sofrendo ressignificações ao longo da histórica, especialmente no Ocidente, por meio do Cristianismo Católico no período medieval, e, nos Estados Unidos, a partir do século XIX”.

Além disso, enfatizou que “não se trata de negar o conhecimento aos estudantes do que vem a ser o Halloween, mas de assumir no Projeto Político Pedagógico (PPP), no planejamento dos Professores e nos Planos de aula que tipo de abordagem será realizada”, usando o Halloween como “elemento de aprendizagem”.

Já a Procuradoria Geral do Estado, também consultada a pedido da comissão, avaliou que o projeto “apresenta vício de inconstitucionalidade por violar o princípio da reserva da administração e o princípio da separação dos poderes”, uma vez que “invade as atribuições de gestão escolar da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina”.

Mesmo considerado inconstitucional, o projeto teve parecer favorável da relatora Ana Campagnolo. “Com relação aos aspectos da legalidade, juridicidade e regimentalidade, não vislumbro nenhum obstáculo à tramitação da proposição legislativa em apreço”, avaliou.

Os deputados presentes na sessão da comissão da última terça-feira (5) foram favoráveis ao parecer da relatora e aprovaram o projeto por unanimidade. Agora, ele passa pela Comissão de Educação e Cultura antes de ser enviado ao plenário da Alesc.

Fonte: https://ndmais.com.br/educacao/declarado-inconstitucional-projeto-que-proibe-halloween-em-escolas-avanca-em-sc/

Nota: se vão querer proibir o halloween para "resguardar a integridade cultural", tem que proibir o natal e a páscoa. Que também tem origem européia, não é "cultura brasileira".

A crise do ser

Autora: Sara York.

Entrevista com David Tenório.

A palavra “santimônia” tem origem no latim sanctimonia, que significa santidade, pureza, probidade. A santimônia é uma postura de falsa piedade ou hipocrisia moral, frequentemente adotada para exibir virtudes e moralidade acima de outros. Como corpo trans, impossibilitado de práticas comuns como estar na rua com meu filho ou com meu neto sem qualquer preocupação, sempre me preocupei com discursos "meia-boca" sobre a fácil/difícil vida de todos "nós". O discurso para com o corpo TRAVESTI, que ora vai para a piedade, ora vai para a completa desautorização. Nesse sentido a santimônia manifesta uma suposta superioridade ética, que muitas vezes desvia a atenção das contradições internas de quem a adota. No contexto do capitalismo e neoliberalismo, essa postura moralista serve como uma ferramenta de controle social, sustentando o status quo ao mesmo tempo em que disfarça a exploração e as desigualdades estruturais promovidas por esses sistemas econômicos.

O que é o discurso anti-aborto, senão a sedução para um paraíso religioso qualquer que ignora o passado da "mãe" e o futuro da "criança"? Roe & Wade retornar com argumentos melhorados, mas longe da real compreensão sobre quem vai pagar o preço que o patriarcado delegou.

No capitalismo neoliberal, práticas de santimônia são usadas para legitimar certas normas sociais e comportamentos enquanto desvalorizam outras formas de existência, especialmente aquelas que questionam ou desafiam as estruturas hegemônicas. A santimônia se manifesta, por exemplo, no discurso que privilegia a família heteronormativa, idealizando-a como a “base da sociedade”. Essa idealização coloca a família tradicional como um exemplo de responsabilidade e moralidade, deslegitimando formas alternativas de vida familiar e relações não convencionais, como aquelas formadas por pessoas LGBTQIA+ ou aquelas que optam por relações não monogâmicas.

Quantas vezes falamos sobre as traições alheias sem nos importar de fato se entre aquele casal na sua intimidade há um contrato que permite escapadas? Mas seguimos os velhos parametros que não contemplam a "high-society". Como sempre digo: lá as regras são super flexiveis e o amante de hoje é o compadre ou marido ou empresário de amanhã.

Esse moralismo neoliberal também cooptou a ideia de meritocracia, promovendo uma visão de que o sucesso é fruto exclusivo do esforço individual. Ao se apresentarem como exemplos virtuosos de trabalho duro e ética, alguns líderes e empresários mascaram o fato de que as oportunidades e os privilégios são desigualmente distribuídos. Assim, as desigualdades sociais e econômicas são justificadas como merecidas, como se aqueles que ocupam posições de vantagem econômica fossem moralmente superiores. A santimônia reforça essa narrativa, fazendo com que as pessoas vejam a precariedade de alguns como uma “consequência” de sua falta de mérito ou disciplina, ao invés de uma falha estrutural do sistema.

O moralismo também é amplamente aplicado ao discurso ambiental e de consumo consciente. Por meio de campanhas que culpabilizam os indivíduos por sua “pegada de carbono”, o neoliberalismo desloca a responsabilidade ambiental para o consumidor comum, ao invés de responsabilizar as grandes corporações que promovem a exploração desenfreada dos recursos naturais. Sob o manto da santimônia ambiental, empresas se vendem como sustentáveis, mas frequentemente não fazem mudanças reais em suas práticas produtivas que levem a um impacto significativo no meio ambiente.

A santimônia dentro do capitalismo neoliberal funciona como um mecanismo de cooptação e controle, mas nao sobre o opressor. Agora ela é maior, se senta com os poderosos e sabe que sua existência nao é mais rastejante. Ao impor padrões morais e de conduta que privilegiam certos modos de vida e culpabilizam outros, ela mantém as hierarquias e desvia a atenção das estruturas de poder que geram e sustentam as desigualdades.

Para falar sobre capitalismo, identidade, sujeira (sic) e meritocracia, eu convidei o Professor David Tenório a conceder-me uma entrevista.

Na entrevista com o Professor David Tenorio, pesquisador mexicano e docente nos EUA na última década, discutimos o impacto da extrema direita e do neoliberalismo sobre populações minoritárias na América Latina e nos Estados Unidos. Com profundidade analítica, Tenorio aborda a diferença entre “minorias” e “minorizados”, os ataques contra direitos LGBT+, e os desafios que trans e queer enfrentam sob regimes autoritários. O pesquisador explora também conceitos centrais de autores renomados, como Michael Warner, Homi Bhabha, Deb Vargas e Roderick Ferguson, destacando a necessidade de uma agenda política queer que priorize prazer, cuidado e resistência.

Sara Wagner York: Professor David Tenorio, antes de mais nada, quero agradece-lo em nome de toda a comunidade brasileira, incluindo pesquisadores e pesquisadoras LGBTQIAPN+, mas, principalmente, a comunidade trans, travesti e queer no Brasil e na América Latina. Muito obrigada por aceitar nosso convite.

Professor David Tenorio: Sara York, muito obrigado por esse convite e pela oportunidade de discutirmos o impacto iminente das políticas conservadoras nas eleições dos EUA e suas consequências para comunidades de dissidência sexual na América Latina e no Brasil.

Sara Wagner York: Professor, o senhor é mexicano, com uma carreira acadêmica, apesar de jovem, consolidada nos Estados Unidos, onde obteve seu mestrado e doutorado na Califórnia, e agora atua como professor associado em Pittsburgh. Como o senhor analisa sua trajetória acadêmica desde o início da sua carreira até hoje?

Professor David Tenorio: Essa é uma questão complexa, pois minha trajetória acadêmica e intelectual sempre foi marcada pela ruptura de fronteiras e ordens estabelecidas. Sou um migrante mexicano e me identifico como um acadêmico queer latino, e meu trabalho explora a vida noturna queer e trans como um espaço de ativismo político. Minha trajetória nos EUA foi, e ainda é, cheia de desafios, mas também de superações que desafiam estruturas que tentam nos apagar. Meu doutorado foi em estudos culturais latino-americanos, comparando culturas sexuais em Cuba e no México. Descobri, por meio dessa pesquisa, a importância da vida noturna como um espaço de cuidado, resistência e conexão com nossa comunidade, um lugar onde podemos sonhar com outras possibilidades. Minha identidade e trajetória são definidas por diversas interseções: sou um acadêmico e também drag queen, o que exemplifica a complexidade da vida queer e trans no sul global.

Sara Wagner York: Quando você menciona seus estudos sobre México e Cuba, o que podemos entender sobre gênero, sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos nesses países? Como Cuba vive sua sexualidade?

Professor David Tenorio: Existe uma visão estereotipada de que o México ainda é um país muito “macho” e conservador, mas isso não é mais verdade, especialmente em áreas urbanas como a Cidade do México, que é bastante progressista em questões de diversidade sexual. No entanto, o México ocupa o segundo lugar no continente em violência contra pessoas trans, o que mostra as contradições existentes. Minha pesquisa buscou entender como coletivos queer e trans constroem sua relação com o Estado-nação e a sociedade em um contexto de capitalismo neoliberal. Já Cuba ofereceu uma perspectiva distinta: um país com realizações sociais notáveis, mas que falha em proteger vidas queer e trans, muitas vezes controlando e vigiando dissidentes sexuais.

Ao final, Tenorio reflete sobre como a vida noturna queer e trans oferece formas de resistência e afirmação diante das lógicas normativas. Agradecendo pela oportunidade de diálogo, o professor enfatiza a importância da alegria e do prazer na luta por direitos. Então, enquanto travesti brasileira, encerro a conversa destacando a conexão profunda do entrevistado com seu objeto de estudo — a noite e suas subjetividades — e a importância de discussões que vão além do consumo e do neoliberalismo, enraizando-se em solidariedades e afetos transnacionais.

Sara Wagner York: Professor, qual a sua visão sobre a relação entre as dissidências sexuais e a Revolução Cubana?

Professor David Tenorio: A relação entre dissidências sexuais e a Revolução Cubana é bastante complicada. Desde o início da Revolução, em 1959, homossexuais foram vistos como contrarrevolucionários, assim como outros grupos, como as Testemunhas de Jeová ou qualquer pessoa que divergisse das ideias revolucionárias. Na década de 1960, houve a criação dos UMAPs (Unidades Militares de Ajuda à Produção), onde homossexuais foram colocados em campos de concentração para “reformar” sua sexualidade através de trabalho forçado. Em 1980, tivemos o êxodo de Mariel, com uma diáspora cubana, em grande parte composta por homossexuais, que se estabeleceu em Miami.

Essa perseguição às dissidências sexuais contrasta com a imagem hipermasculina do revolucionário cubano, personificada por figuras como Che Guevara e Fidel Castro. A Revolução Cubana só permite que a homossexualidade, a transgeneridade e a queerness prosperem quando estão alinhadas aos ideais comunistas. Se não aderem aos valores do Partido Comunista e do regime socialista, não são validadas pelo Estado. Isso gera contradições, pois há um grande número de ativistas trans que se identificam como revolucionários. Neste contexto, temos o CENESEX (Centro Nacional de Educação Sexual), liderado por Mariela Castro, filha do ex-presidente Raúl Castro.

Sara Wagner York: A liderança de Mariela Castro no CENESEX levanta questões. Por que não há uma mulher trans ou um ativista afro-cubano à frente dessa organização?

Professor David Tenorio: Esse é um ponto crucial. Mariela Castro, como uma mulher cis, branca, de boa condição física e com afinidades políticas com a Revolução, ocupa uma posição de destaque, apesar de representar uma instituição que deveria defender os direitos e modos de vida da população LGBT cubana. Isso nos leva a uma questão ainda mais ampla: a relação complexa entre capitalismo e Cuba. Minha pesquisa sugere que Cuba já não é mais um país socialista único e exclusivo. O governo falha com as populações LGBT e continua a vigiar dissidências sexuais que criticam validamente o establishment político.

Além disso, o regime cubano reconhece que a cultura LGBT atrai o turismo sexual, especialmente de países como Canadá, Europa e outras regiões das Américas. A cultura LGBT se torna, assim, um ativo econômico para o governo.

Sara Wagner York: Vamos falar sobre fake news e o impacto dessa desinformação nas políticas atuais, especialmente nos EUA.

Professor David Tenorio: A questão das fake news e essa “realidade alternativa” de esferas informacionais tem sido amplamente usada como ferramenta política. Nos EUA, a desinformação é manipulada para fazer afirmações falsas sobre as plataformas e agendas políticas de candidatos. No caso de Trump, ele não apenas fez declarações absurdas, mas manipulou a falta de habilidades de pensamento crítico e de alfabetização digital para influenciar o voto.

Nos Estados Unidos, vemos como a ideologia política se transformou em uma guerra informacional e cultural, onde o que está em jogo é a própria noção de fatos e pensamento crítico.

O capitalismo neoliberal organiza a vida de maneira complexa no século XXI, privatizando e monetizando até as formas mais íntimas de existência. Sob essa lógica, certos modos de vida são considerados inferiores, enquanto outros são priorizados para manter o status quo, como o modelo heterossexual tradicional. No caso das pessoas queer e trans, o neoliberalismo transforma suas vidas em corpos descartáveis e objetos de desejo, forçando-as a viver em condições precárias, onde tudo — do aluguel à saúde, passando pela roupa e pelo lazer — se torna inacessível devido aos altos custos.

Sara Wagner York: Em 1991, Susan Faludi, no seu trabalho “Backlash”, destacou um retrocesso em conquistas feministas. Como o senhor vê esse retrocesso nas políticas dos EUA e seu impacto na América Latina?

Professor David Tenorio: “Backlash” é um raio-X do futuro. Nos anos 1990, uma década de muita turbulência política mundial, presenciamos o colapso da União Soviética, a queda do Muro de Berlim, a assinatura do NAFTA e o Massacre do Carandiru, no Brasil. Essa década condensou ansiedades históricas sobre o que o século XXI traria.

Hoje, a realidade americana nos lembra que muitos dos problemas nunca foram realmente superados. Em um lado, temos conferências globais sobre os direitos das mulheres; por outro, práticas violentas e conservadoras que continuam a existir. O “backlash” apenas nos mostra que o establishment político é heteropatriarcal. E isso se reflete, por exemplo, na recente reversão do direito ao aborto nos EUA. Direitos LGBT, direitos das mulheres, direitos políticos para minorias e pessoas racializadas continuam sempre em risco.

Sara Wagner York: Aproveitando o termo “minorias”, temos optado pelo termo “minorizados”, pois essas populações não são necessariamente minoritárias. Poderia comentar sobre como isso se aplica às políticas do chamado “terceiro mundo” e sobre o atual levante conservador contra essas populações?

Professor David Tenorio: Concordo plenamente. Não se trata de “minorias” no sentido numérico, mas sim de estruturas que colocam essas pessoas em posições minoritárias. Essas condições não são escolhas individuais, mas sim resultado de sistemas que garantem que certas populações vivam de forma precária. Nos últimos anos, vimos a ascensão da extrema-direita nos EUA, o que, por sua vez, revitalizou movimentos semelhantes nas Américas, como o caso de Bolsonaro no Brasil e movimentos autoritários em países como Argentina e Venezuela. Para entender esse cenário, precisamos ir além da dicotomia entre esquerda e direita. As lógicas neoliberais que exploram a vida operam de forma complexa e fracionada, desafiando as categorizações tradicionais entre regimes autoritários de direita e esquerda.

Sara Wagner York: Como você vê a ascensão da direita conservadora, especificamente em relação à privatização da vida e ao apoio de grupos religiosos conservadores?

Professor David Tenorio: A questão com Trump e outros líderes conservadores é que eles promovem a desmantelamento do Estado de bem-estar social em benefício de grupos religiosos conservadores. Nos EUA, isso se reflete no apoio à agenda Republicana por grupos religiosos, que encontram uma via para manter uma visão nacionalista e nativista que persiste mesmo em comunidades imigrantes. Observamos um processo de privatização das instituições públicas e um benefício direto para certos grupos de poder.

Sara Wagner York: No Brasil, um candidato de São Paulo teve como uma de suas metas prioritárias a retirada de pessoas trans dos banheiros. Como você enxerga essa questão?

Professor David Tenorio: Essa é uma questão complexa porque pessoas trans, bem como outras identidades de gênero não heteronormativas, desafiam o sistema binário do Estado-nação. Não é surpreendente que candidatos anti-LGBT tenham tanta influência, pois alimentam medos de uma sociedade que ainda se baseia em uma visão heterossexual e reprodutiva. Esse tipo de política também é comum em estados como Texas, Oklahoma e Arkansas, onde há legislações anti-LGBT sustentadas pelo voto popular. Ter legislações LGBT não significa que os sentimentos anti-LGBT desapareceram, e esse é um ponto crucial para entendermos o conservadorismo atual.

Sara Wagner York: Como o neoliberalismo tem utilizado sentimentos anti-LGBT e anti-minorias para obter vantagem?

Professor David Tenorio: O neoliberalismo é mais que um sistema econômico; é, como diz Wendy Brown, uma forma de organizar a vida. Termos e lógicas do mercado, como “tomada de risco” e “financeirização”, influenciam as interações sociais. O neoliberalismo reconhece que as emoções são um tipo de capital. Sarah Ahmed, teórica feminista, fala de “economias afetivas”, onde reações emocionais se tornam uma força impulsionadora. O neoliberalismo usa essas emoções para criar circuitos de produção e reprodução de capital, onde o “nós versus eles” é sustentado pela mídia, que explora nossas capacidades cognitivas e emocionais para impulsionar ações políticas.

Sara Wagner York: Para finalizar, gostaria que comentasse sobre a teoria do hibridismo de Homi Bhabha e sua aplicação para entender novas identidades culturais.

Professor David Tenorio: Bhabha nos apresenta a ideia das “comunidades imaginadas”, onde o pertencimento não se limita ao território, mas também à imaginação. Essa noção de hibridismo é essencial nos estudos latino-americanos e de sexualidade, permitindo-nos ver como as hegemonias coloniais e contemporâneas se misturam. Essa teoria nos ajuda a analisar a complexidade das identidades híbridas e a responder ao contexto atual com novas lentes teóricas, metodológicas e políticas.

Sara Wagner York: O professor Michael Warner, em seu trabalho de 1991, nos desafia com a pergunta sobre quem tem medo do Queer, quem tem medo de um planeta Queer. Recentemente, Judith Butler lançou *Quem Tem Medo do Gênero*, abordando dinâmicas do patriarcado e do neoliberalismo. Como o trabalho de Warner influencia seus escritos?

Professor David Tenorio: Michael Warner é realmente central para o meu trabalho, especialmente na questão da vergonha e de como certas emoções são mobilizadas para criar o que ele chama de “contrapúblicos”. No meu trabalho, que investiga o afeto na vida noturna, também me interessa como o afeto não só constrói contrapúblicos, mas como ajuda a criar espaços que coexistem com a lógica do capitalismo neoliberal.

Além disso, os espaços que antes eram de escape e diversão, como clubes e eventos, também encarecem, refletindo um sistema que privilegia o modelo familiar heteronormativo e reprodutivo. Esse modelo, centrado na reprodução biológica, na intimidade monogâmica e na herança por linha sanguínea, continua a ser o local de reprodução e acumulação de capital. Assim, para aqueles que não se encaixam nesse molde, o neoliberalismo os coloca à margem, onde suas vidas e relacionamentos são menos valorizados e economicamente inviabilizados.

Sara Wagner York: Já que mencionou a questão da vergonha, gostaria de trazer Deborah Vargas. Ela explora o conceito de “sujeira” como uma ferramenta analítica na crítica queer latino-americana, ligando-o a raça, classe e afetando especialmente corpos latinos. E Fátima Tayeb fala sobre o direito de LGBTs a “comer, dormir e viver”. Como essas teóricas influenciam seu trabalho?

Professor David Tenorio: Essas feministas radicais de cor na academia americana nos lembram da importância das vidas não-brancas e como modos de vida minoritários sustentam as estruturas brancas do Estado-nação nos EUA. O trabalho delas é inspirador porque me ajuda a olhar para práticas subterrâneas e formas de sentir e viver que, no México, sustentam a vida queer e trans. Estou escrevendo um livro que aborda como a vida queer e trans precisa de direito ao prazer e à alegria, um modo de resistência às lógicas brancas e normativas da vida LGBT. O conceito de Vargas permite repensar o que permanece “sujo” e subterrâneo para preservar a alegria queer pura.

Sara Wagner York: E para finalizar, gostaria de falar sobre o pensamento de Roderick Ferguson, um dos proponentes do *Queer of Color*. Ele faz uma crítica ao queer que chamamos de “Creep”, abrangendo corpos deficientes e outras formas de existências marginalizadas. Poderia comentar?

Professor David Tenorio: O trabalho de Ferguson e outros pensadores do *queer of color* nos lembra que a queerness não é apenas uma identidade política; é uma forma radical de viver. Ferguson, para mim, foi fundamental ao enfatizar que o objetivo queer não é consumir produtos queer, mas sim buscar reparações históricas para populações indígenas e negras, reformas imigratórias nos EUA, direitos trabalhistas, direitos das mulheres e acesso a cuidados afirmativos de gênero. Ele expande as possibilidades políticas do queer além do consumo neoliberal, colocando no centro a solidariedade transnacional e os movimentos hemisféricos de resistência radical. Refletir com esses autores me permitiu reposicionar a alegria, o cuidado e o prazer queer como pilares de uma agenda política queer.

E gostaria de agradecer a você, Sara York, pelo seu interesse no meu trabalho, pela escuta atenta e pelo cuidado na entrevista. Espero por mais conversas como esta, de queer para trans. Muito obrigado!

A última palavra tem que ser de uma travesti… (risos) Então, enquanto travesti, agradeço por essa entrevista e por se despir das suas próprias pesquisas para mencionar quem o compõe e o compõe junto. Você é um pesquisador da noite, e é inspirador ver como você teve que compreender o mundo para chegar à noite. Muito obrigada mais uma vezes, professor David Tenorio!

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/santimonia-a-crise-do-ser

Um café para Atena

[Eu senti] um arrepio percorrer sua aura ao ver Atena, a deusa da sabedoria, adentrar o Pantheon. A deusa da guerra, da sabedoria e das artes, com sua beleza atemporal e olhar penetrante, parecia ainda mais majestosa do que nas esculturas que havia estudado.

  "Um café bem forte, por favor, espectro", pediu Atena, sua voz suave contrastando com a aura de poder que a envolvia. "E os bolos de Asherah, por favor. Ouvi dizer que são os melhores da casa."

  "Bolos de Asherah para a deusa Atena", [eu anunciei], com a voz firme, tentando disfarçar a excitação. A fragrância adocicada dos bolos tomava conta do ambiente, mas nada se comparava ao aroma de mistério que pairava no ar.  

  Enquanto [eu] servia a Atena, a deusa começou a conversar, sua voz carregada de curiosidade.

"Espectro, tenho uma pergunta que me intriga há algum tempo. Alguém me disse que estou sendo usada como personagem em uma história chamada 'Cavaleiros do Zodíaco'. Você tem alguma ideia do que se trata?"

"Atena, a história que lhe contaram é uma obra de ficção japonesa. É como um desenho animado, mas com uma narrativa mais complexa e direcionada para um público mais adulto. Nessa história, você é representada como uma deusa que reencarna em diferentes épocas para proteger a humanidade."

A deusa franziu o cenho. "Reencarnar? E por que escolheram Saori Kido para ser a minha encarnação? Uma jovem humana, aparentemente frágil?"

"Na história, Saori Kido é escolhida por ter uma alma pura e um coração compassivo. Ela é vista como a reencarnação ideal para a deusa da sabedoria e da justiça."

Atena permaneceu em silêncio por um momento, digerindo as informações. "E esses 'cavaleiros'? São guerreiros que me servem?"

"Sim, Atena. Eles são chamados de 'Cavaleiros de Bronze' e representam as constelações. Cada um possui uma armadura sagrada e poderes especiais."

A deusa sorriu, um sorriso enigmático. "Interessante. Parece que os humanos têm uma imaginação fértil. Mas confesso que me surpreende que tenham me escolhido para ser o centro de uma história tão grandiosa"

"Imagine que a história do anime seja como um grande tabuleiro de xadrez, onde os personagens são as peças. Saori Kido, como Atena, é a rainha desse tabuleiro. Ela é uma líder nata, com um grande coração e um forte senso de justiça. Os autores a usaram como símbolo de esperança e inspiração para os outros personagens."

Atena ficou pensativa. "Entendo. Mas e os Cavaleiros? Aqueles homens que a protegem e lutam em meu nome?"

"Os Cavaleiros são como os heróis das antigas lendas. Eles representam o bem, a coragem e a lealdade. Cada um deles tem uma história única e um papel importante a desempenhar na trama. É uma forma de homenagear os mitos e as lendas que inspiraram a criação do anime."

Atena sorveu seu café, ainda um pouco incrédula. "É um mundo fascinante, espectro. Mas confesso que a ideia de que minha imagem seja usada para fins de entretenimento me causa certa estranheza."

"É compreensível, Atena. Mas pense por este ângulo: ao serem representados em histórias, os deuses e as deusas se tornam mais próximos das pessoas. As novas gerações podem conhecer e se inspirar em suas histórias, mesmo que de forma adaptada."

Atena ponderou as [minhas palavras]. "E os poderes cósmicos? As batalhas épicas? Isso tudo parece distante da minha natureza."

"Deusa, a ficção permite que exploremos diferentes facetas de uma mesma história. Ao atribuir poderes sobrenaturais aos personagens, os autores criam narrativas mais envolventes e emocionantes. As batalhas representam os conflitos internos e externos que todos nós enfrentamos, e a sua participação nessas batalhas simboliza a luta entre o bem e o mal."

Atena sorriu, um brilho nos olhos. "Entendo. A arte, em todas as suas formas, busca conectar as pessoas e transmitir mensagens importantes. Agradeço sua explicação, espectro. E este bolo, por sinal, é divino."

"Mas, Atena, quem deu autorização aos criadores desse anime para usá-la como personagem? Não seria uma invasão de sua privacidade?"

A deusa deu de ombros. "Na verdade, não sei. Os deuses não se preocupam muito com essas coisas. Acredito que os humanos tenham uma necessidade inata de contar histórias e de encontrar significado em suas vidas. E usar os deuses como inspiração é uma forma de fazer isso."

  "Acho que vou acompanhar essa história", disse ela, com um brilho nos olhos. "Quem sabe, possa encontrar algumas lições de sabedoria nesse anime."

Criado com Gemini, do Google.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Cartório de feiticeiras

por Fernanda Foggiato | Revisão: Ricardo Marques.

Briga entre vizinhos. Dizer "não" a uma investida amorosa. Comportamento fora dos padrões aceitos socialmente. Má reputação de um parente. Vingança. No Brasil Colonial, essa era a fórmula mágica - com o perdão do trocadilho - para alguém ser denunciado por feitiçaria e poder ser condenado à morte, inclusive. Para deixar o enredo dos pecados capitais ainda mais tenso, só se a pessoa na mira dos inquisidores fosse mulher e, ainda por cima, negra, indígena, parda ou escravizada.

Em reportagem especial pelo Dia das Bruxas, ou Halloween, data celebrada nesta quinta-feira (31), o Nossa Memória, projeto da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), resgata a história de processos criminais contra mulheres acusadas de “malefícios diabólicos”, no século 18, em plena Inquisição. Naquela época, as câmaras municipais também eram responsáveis por investigar, julgar e prender os suspeitos de crimes.

Entre 1450 e 1750, aproximadamente 110 mil pessoas foram torturadas sob a acusação de bruxaria, em todo o mundo, sendo que de 40 mil a 60 mil delas foram mortas. A Inquisição foi criada, no século 13, para combater as heresias. Ou seja, o objetivo não era só identificar e julgar apenas os delitos de feitiçaria, mas também os cristãos-novos (judeus e muçulmanos recém-convertidos), os protestantes e os sodomitas, entre outros.

A Inquisição, no entanto, não foi a única responsável pela “caça às bruxas”. “A feitiçaria era um crime, uma heresia e um pecado, previstos nas Ordenações do Reino, no Regimento Inquisitorial e nas Constituições dos Arcebispados, em todo Império Português”, explica a doutora em História do Direito Danielle Regina Wobeto de Araujo, autora da tese “Um Cartório de Feiticeiras: Direito e Feitiçaria na Vila de Curitiba (1750-1777)”, em entrevista ao Nossa Memória.

Isto é, existia uma espécie de "força tarefa" para investigar e punir a feitiçaria. Danielle esclarece que a chamada justiça secular, exercida pelas câmaras municipais e ouvidores, em nome da Coroa portuguesa, era quem se debruçava sobre a feitiçaria enquanto um crime. O objetivo, nesse caso, era apurar os danos causados pelo delito.

À justiça eclesiástica, composta pelo papa, bispos e padres, "interessava o pecado relativos à feitiçaria, como a ira, a luxuria e a sodomia". Já na justiça inquisitorial, os inquisidores buscavam combater "a heresia envolvida na feitiçaria, como o culto ao diabo ou a outros deuses, a exemplo de rituais indígenas e afro-descentes na América Portuguesa". "Por fim, destaco que, até onde se sabe, a Inquisição não atuou no Sul do país", reforça ela.

Em 2014, quando a pesquisa do doutorado de Danielle estava na metade, a matéria “A Câmara de Curitiba e os processos contra feitiçaria no século 18” contou, em primeira mão, as histórias de mulheres presas sob a acusação de serem feiticeiras. Agora, dez anos depois, uma nova reportagem revela informações e documentos inéditos.

Dia 22 de fevereiro de 1751, Igreja Matriz da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba. Pela primeira vez, a história de Cipriana Rodrigues Seixas, “parda forra”, moradora da freguesia de São José, seria marcada por dois “homens bons” de nome Manoel. Um deles, o vigário Manoel Domingues Leitão, foi quem celebrou o casamento entre a jovem e Antonio de Lima, “na forma do sagrado concílio tridentino”. O outro, o escrivão da Câmara Municipal, Manoel Borges de Sampaio, assinou como testemunha da união.

Em fevereiro de 1751, quando selaram o matrimônio, Cipriana e Antonio já eram pais do menino Francisco, nascido dia 18 de dezembro de 1749 e batizado, na capela de São José, como “bastardo”. Além disso, os registros paroquiais mostram que o casal teve, nos próximos anos, pelo menos mais duas crianças, Anna Maria e Manoel.

No dia 7 de março de 1763, mais de uma década depois daquele domingo na Igreja Matriz, o destino de Cipriana voltaria a ser marcado por outros dois “Manoéis” - eram, novamente, “homens bons”, ou seja, a elite da Vila de Curitiba. Naquele dia, o juiz ordinário e presidente da Câmara de Curitiba, o capitão Manoel Gonçalves Sampaio, recebeu uma denúncia: havia feiticeiras à solta na freguesia de São José. O queixoso, Manoel Cunha Reis, reclamou que o crime se alastrava na região devido à falta de castigos e pediu a abertura de uma devassa.

Reis denunciou que sua esposa e as quatro irmãs, “que lhe pertencem”, sofriam de “malefícios diabólicos” praticados por feiticeiras. Ele alegou que as vítimas estavam esmorecidas, com um sono constante, e que “lançavam por cima e por baixo coisas estranhas à natureza humana, como são penas de aves, cascos e dentes de animais, pedaços de sapos, baratas, gafanhotos, e até mesmo um camaleão”. 

Reis afirmou que nem mesmo um padre exorcista teria conseguido curar as mulheres. Como a aplicação da justiça ao povoado cabia à Câmara de Curitiba (a freguesia de São José só foi elevada à categoria de vila em 1853), o juiz Sampaio atendeu à queixa de Manoel Cunha Reis e instaurou a devassa para investigar o delito de feitiçaria.

Ao todo, a devassa ouviu 33 testemunhas, apenas 2 delas mulheres. As ocupações mais comuns citadas pelos homens ouvidos foram as de viver da mineração, de roças e de lavouras. Mas também havia alfaiates, marceneiros, carpinteiros, um sapateiro, e quem fizesse “carretos do caminho do porto” ou vivesse “debaixo da administração de sua mãe”.  

Sem apresentar provas, 20 das testemunhas alegaram apenas “ouvir dizer” que as acusadas eram feiticeiras. A maior parte das acusações recaíram justamente sobre Cipriana, além de Januária, uma administrada de origem indígena. Também são citados outros nomes de supostos feiticeiros e de vítimas da feitiçaria, além da mulher e das irmãs do queixoso.

João Barbosa Calheiros, por exemplo, disse que a filha de Paulo Rocha “lançara por baixo um bicho chamado camaleão, e que botando-se este em fogo, saltara para fora”. O homem de cerca de 33 anos, que “vivia de suas roças”, acusou de feitiçaria “Elena, administrada [escrava indígena] de Ursula de Siqueira de Almeida” - uma das mulheres que seriam presas no caso do “Cartório” - porque ela costumava usar “uma cinta com um livrinho com penas de aves, cabelos e algumas raízes de pau encruzadas”.

O minerador João Simões da Costa, 50 anos, por sua vez, jurou ter visto duas das irmãs de Manoel Cunha Reis, chamadas de Jozefa e Maria, “botar pela boca, à força de vômitos, cabelo de gente”. As outras duas irmãs, uma apelidada de Neca (o nome da outra vítima não é citado), testemunhou ele, só melhoraram após exorcismos e remédios, os quais as levaram a vomitar “coisas estranhas à natureza humana, como eram pedaços de rãs”. 

Ele disse que “uma crioula escrava” de Pedro Antonio Moreira, chamada Monica, vomitara casco de mocotó de boi, panos de algodão e sete baratas vivas, e que presenciara “uma crioula” de João Baptista Vitorianno vomitar “as mesmas porcarias e caroços de pêssegos” e, ainda, saber de “muitas outras pessoas enfeitiçadas”. Além disso, mencionou um outro feiticeiro da região, chamado Francisco, que seria escravo de Maria de Mendonça.

Sobre a “parda forra” Cipriana Rodrigues Seixas, Costa “ouviu dizer que ela matou Maria Diaz por meio de farinha de mandioca envenenada ou enfeitiçada, como também matou um negro escravo de Thereza Correa, chamado Julião”. Uma das testemunhas a apresentar o maior leque de acusações, o homem foi o primeiro a citar o “cartório das feitiçarias”, que deu nome à tese de doutorado de Danielle. 

A doutora em História do Direito pondera que o termo “cartório” insinua uma reunião entre as mulheres acusadas de feitiçaria, mas “não permite falar em sabá”. “Poderiam ser rituais de outros hábitos culturais”, esclarece a pesquisadora. “Não se sabe o que acontecia em tal cartório, pois o juiz não buscou saber mais. Logo, não se pode associá-lo a qualquer ritual, como os catimbós, por exemplo, muito menos com o sabá, que quase não habitou o imaginário português e ali era designado como assembleia, conventículo, ajuntamento ou sinagoga.”

Em 12 de março de 1763, cinco dias depois do começo das investigações, o juiz Manoel Gonçalves de Sampaio determinou a prisão de oito das mulheres citadas pelas testemunhas. Cipriana é a única sem parentesco com as demais. As outras mulheres, identificadas como administradas, regime de escravidão indígena, têm laços familiares. Elena de Siqueira, por exemplo, é a mãe de Ana, Clara e Veronica. Também são presas Joana, uma outra Clara e Januária.

O processo revela que apenas cinco das oito rés são inquiridas pelo juiz. Januária, 35 anos, respondeu que não sabia “porque vinha presa, só lhe disseram que ela era uma feiticeira”. A administrada relatou que certa vez ganhara “uma raiz” de “uma negra já falecida”, mas que foi repreendida por um padre missionário e “a botou fora”. A ré Ana de Siqueira declarou que “ouvia dizer que sua mãe [...], por nome Elena, usava de suas artes diabólicas, mas que ela, depoente, não vira, nem menos concorrera para coisa alguma”.

Já Elena de Siqueira afirmou “que sabia que vinha presa por feiticeira, e [...] respondeu que uma tia, por nome Januária, também presa nesta cadeia, lhe dera uns embrulhos”, para que fossem enterrados e, assim, fizesse mal à filha de Estevão Ribeiro. Além disso, declarou que “só de longe via várias coisas, em diversas figuras, mas que nunca chegou a falar com o Diabo, nem teve com ele pacto, e que só usava das ditas coisas por lhe ensinar a dita Januária”. 

A última ré a depor foi Cipriana, casada com Antonio de Lima e filha do “defunto João Mulato [João Bueno da Conceição]”. Ela disse que “já tivera notícia no Arraial Grande, onde era moradora, que cá se falava, nesta vila [de Curitiba], que era uma das feiticeiras que tinham feito os malefícios”. Arraial Grande era o principal povoado da freguesia. Foi lá que se deu, com a mineração às margens do rio Arraial, na divisa com Morretes, o começo da colonização do hoje Município de São José dos Pinhais, em torno de 1690.

Segundo o relato de Cipriana ao juiz, ela seguia à Vila de Curitiba para alegar sua inocência junto ao padre missionário quando “topou Antonio Malaquias”, que na chegada à vila “a entregou neste juízo”. Na verdade, Malaquias, 37 anos, casado, foi a segunda testemunha inquirida na devassa. No depoimento, ele acusou nove mulheres de feitiçaria, inclusive Cipriana.  

O padre exorcista e as vítimas dos supostos malefícios não testemunharam. A devassa foi encerrada em 13 de setembro de 1763, com as oito mulheres pronunciadas, mas que fosse estipulada uma pena. “Pressupõem-se que as rés foram pronunciadas pelo delito de feitiçaria por malefícios, ou feitiçaria propriamente dita”, aponta Danielle Regina Wobeto de Araujo.

Segundo as Ordenações Filipinas, livro cinco, parágrafo primeiro do item três: “Qualquer pessoa que, em círculo ou fora dele, ou em encruzilhada, invocar espíritos diabólicos ou der a alguma pessoa a comer ou a beber qualquer coisa para querer bem ou mal a outrem, ou outrem a ele, morra por isso morte natural. Porém, nestes dois casos, primeiro que se faça execução”. 

O juiz ordinário também determinou ao escrivão que “traslade esta devassa com toda a brevidade, para com ela serem remetidas as rés presas para a cadeia da cabeça desta comarca”, a Vila de Paranaguá (status que a Vila de Curitiba só alcança em 1812). O procedimento era obrigatório, continua a pesquisa de “Um Cartório de Feiticeiras”, para que o ouvidor desse a palavra final sobre o caso de cada uma das mulheres.

Além disso, “réus que cometessem delitos graves deveriam ficar presos sob a responsabilidade do ouvidor”, prossegue a entrevistada do Nossa Memória. Apenas Cipriana, por estar “carregada de filhos”, ou seja, grávida, é poupada do envio a Paranaguá e permanece na cadeia de Curitiba.  

Como os processos de feitiçaria eram sigilosos, a reportagem do Nossa Memória localizou uma única menção à devassa nas atas da Câmara. Consta, no “termo de vereança” de 28 de abril de 1765, o deferimento do pedido apresentado pelo tabelião público, João de Bastos Coimbra, que cobrava o pagamento “de quatro devassas que lhe estava devendo este Concelho, [...] uma de sessenta e três, outra de sessenta e quatro e as outras duas que são de quarenta e sete e de quarenta e nove”.

Outra possível menção ao caso foi identificada no “termo de vereança” de 10 de setembro de 1763, quando o capitão Manoel Gonçalves de Sampaio, pediu dinheiro para remeter à cadeia da Vila de Paranaguá “umas mulheres presas por crime que lhes arguiram”. O tesoureiro, no entanto, informou que o gasto não era possível “pelas muitas despesas que se haviam feito”, dando fim à sessão.

Os processos com as sentenças definitivas das sete mulheres administradas de origem indígena, enviadas à cadeia de Paranaguá, não foram localizados por Danielle no Arquivo Público do Paraná. Acreditava-se, no caso de Cipriana, que em 1763 estava grávida, que ela havia ficado presa em Curitiba até o julgamento de um recurso, quase dez anos depois. 

No entanto, a reportagem identificou, durante a análise dos autos de libelo, que Cipriana estava em liberdade, morando no rocio da Vila de Curitiba, e não mais na freguesia de São José, quando foi presa novamente, em 1773. Foi um “visto em correição” do ouvidor da comarca, Antonio Barbosa de Matos Coutinho, de 14 de junho daquele ano, que determinou que a ré, “já pronunciada pelo juiz ordinário da Vila de Curitiba”, retornasse à prisão.

O “visto em correição”, explica Danielle, “significa que o ouvidor estava fazendo uma espécie de vistoria na justiça ordinária da Vila e constatou uma irregularidade: Cipriana foi presa e indiciada há dez anos pela devassa tirada pelo juiz ordinário da Vila, em 1763, sem ainda ter sido instaurado o processo para o seu julgamento”.

Não é possível precisar por quanto tempo a mulher ficou presa depois de finalizada a devassa, em setembro de 1763. “Eu acredito que no momento que ela ganhou a criança, deve ter sido colocada em liberdade”, avalia a doutora em História do Direito. Danielle pondera que, mesmo fora da prisão, “ela continuou como indiciada, ou seja, ela não sabia se era culpada ou não, e imagine isso em Curitiba, no século 18, ela não deve ter voltado para São José porque a fama dela era péssima”. 

A busca nos livros paroquiais identificou que a criança da qual Cipriana estava grávida durante a devassa foi batizada, no dia 9 de agosto de 1764, pelo vigário Manoel Domingues Leitão, mas a data do nascimento não foi informada. O menino recebeu o nome de Joaquim e, segundo o registro, a paternidade é desconhecida porque o marido de Cipriana, Antonio de Lima, “anda ausente há mais de três anos”.

O processo de 1773 revela que o estado da mulher era de “suma pobreza”. O auto de prisão descreve que Cipriana vestia uma saia de camelão (tecido feito de lã) e uma bata, que ela tinha “altura ordinária, quarenta anos, mais ou menos, [...] cabelos grandes e corredios [lisos], cara redonda e cor parda”. O libelo criminal contou com um promotor, Francisco Gonçalves Cordeiro, e um defensor, Francisco Caetano Noronha, nomeado como procurador de Cipriana, isto é, um rábula ou prático, sem a formação universitária em Direito.  

O promotor alegou que a ré deveria ser condenada  “com todas as penas da lei, [...] castigo não só para a sua emenda, mas também para satisfação e exemplo” à população. “Sendo a ré cristã, batizada no grêmio da Igreja, e devendo ser temente a Deus e à Justiça de Sua Fidelíssima Majestade, e viver com bom procedimento, lisura, e sã consciência, obra [age] pelo contrário, porque a ré é famosa feiticeira, useira e vezeira [reincidente] em fazer malefícios a várias pessoas, [...] e tudo por obra do Diabo, sem temor de Deus, lembrança da morte, nem compaixão de sua própria alma”, argumentou Cordeiro.

Já a defesa buscou desqualificar as testemunhas da devassa, que seriam “inimigos capitais da ré”. A tese de Noronha é que Antonio Malaquias, responsável por conduzir Cipriana à prisão, e João Batista eram “invejosos” e teriam conspirado porque desejavam manter “tratos ilícitos com a mesma”. O procurador também questionou a “fama pública” e o fato de não haver provas de que alguém ficou doente ou morreu por ter bebido ou comido algo entregue pela mulher.

São ouvidas cinco testemunhas de defesa, enquanto o promotor não produz novas provas. Quatro dos depoentes relatam ser vizinhos de Cipriana no rocio da Vila de Curitiba, um deles há seis anos. Danielle chama a atenção para o testemunho da viúva Romana Alves Teixeira. Ela negou que a ré fosse feiticeira, e sim “muito barulhenta, raivosa e tiradora de crédito a pessoas honradas”. 

Para a entrevistada, a fala de Romana evidencia que a denúncia de Cipriana teve como base o comportamento social inadequado. “No processo da Cipriana, eu acho que a questão é mais social mesmo, a não submissão da mulher, do que uma questão religiosa, o que difere muito o caso das outras feiticeiras [do Cartório], de seguirem outros cultos”, avalia.

Os documentos do processo, localizados na pesquisa de Danielle no Arquivo Público do Paraná, terminam em meio aos argumentos finais do defensor de Cipriana. Portanto, não é possível saber qual foi a sentença final do ouvidor. E pela análise jurídica, a partir de casos semelhantes, a ré teria, ou não, sido condenada? Para a doutora em História do Direito, “se fosse levar a cabo o Direito, faltam, realmente, provas no processo para ela ser condenada, como o exame de corpo de delito”. 

A advogada também observa que a ré deveria ter sido absolvida se o critério fosse o prazo de quase dez anos entre a devassa e o processo de 1773. “Hoje você tem um prazo para ser processado, senão [o processo] decai”, argumenta a autora da tese de doutorado. “Mas, lendo as entrelinhas do processo”, pondera Danielle, “eu acho que o ouvidor ia acabar condenando ela”. “A ideia de justiça na época era você apaziguar a sociedade, se fosse para apaziguar a cidade, ele não ia perder a chance de condenar Cipriana.”

A reportagem não localizou novos registros sobre Cipriana nos livros de batismos, casamentos e óbitos da Igreja Católica, relativos à Vila de Curitiba. Os documentos, entretanto, possuem lacunas, em especial quanto à população negra, parda, indígena e escravizada, além de páginas inelegíveis. Na lista nominativa da população de 1786, é identificada uma “Siprianna”, com a idade aproximada de 50 anos, moradora do bairro de Campo Largo, mas não é possível afirmar que se tratava da mesma pessoa.

As jornalistas Fernanda Foggiato e Michelle Stival, da Diretoria de Comunicação da Câmara de Curitiba, conversam com a doutora em História do Direito e autora da tese do “Um Cartório de Feiticeiras”, Danielle Regina Wobeto de Araujo, e a psicóloga Maria Rafart. O episódio também traz uma entrevista com a historiadora e escritora Mary Del Priore, autora de mais de 50 livros e referência na história do Brasil Colônia.

Além dos processos criminais da Cipriana e das demais mulheres do “Cartório de Feiticeiras”, o programa revela mais dois casos pesquisados pela Danielle, de curandeiras das vilas de Curitiba e de Paranaguá, investigadas e presas, também no século 18. Uma das histórias se passa em 1775 e tem como protagonistas Francisca e Luiza, mãe e filha, moradoras do Rocio, que admitem a prática, mas negam fazer o mal. Elas são denunciadas após uma devassa geral e alguns dos personagens até mesmo se repetem.

No caso da Vila de Paranaguá, tema de um artigo publicado por Danielle após a defesa de sua tese, as denúncias recaem sobre a Índia Maria, também curandeira. Será que as mulheres foram inocentadas?

Fonte, citado parcialmente: https://www.curitiba.pr.leg.br/informacao/noticias/halloween-em-curitiba-a-bruxa-cipriana-e-o-cartorio-de-feiticeiras

Too hot to handle


“I'm not bad; I'm just drawn that way.

- Jessica Rabbit.

Os nostálgicos do cinema dos anos 1980 vão ficar de coração partido, mas o diretor Robert Zemeckis - especialista em blockbusters, que tem no currículo 'De Volta para o Futuro' (1985) e 'Forrest Gump: O Contador de Histórias' (1994) - confirmou que realmente existe um roteiro para a continuação de um dos seus grandes sucessos da época, 'Uma Cilada para Roger Rabbit' (1988), mas não acredita que ele possa ser produzido nos dias de hoje.

O motivo? O conservadorismo da Disney, detentora dos direitos da história e dos personagens, em relação a Jessica Rabbit, que ficou marcada pelo vestido cintilante vermelho decotado, acentuando suas formas voluptuosas, no longa-metragem vencedor de três Oscars - Melhor Edição, Melhores Efeitos Visuais e Melhores Efeitos Sonoros - e que foi a maior bilheteria no ano do seu lançamento, arrecadando superlativos 351 milhões de dólares, valor estratosférico para a época.

A femme fatale animada é considerada pela corporação gigante do entretenimento como "hot demais", de acordo com a percepção do cineasta.

"Aqui está o que você precisa saber: a Disney atual nunca faria ‘Roger Rabbit’ hoje. Eles não podem fazer um filme com Jessica. O roteiro da sequência nunca verá a luz do dia por melhor que ele seja. Quero dizer, veja o que eles fizeram com a personagem no parque temático. Eles colocaram um sobretudo nela", afirmou Zemeckis em entrevista nesta semana ao podcast 'Happy Sad Confused'.

'Uma Cilada para Roger Rabbit' tem como marca registrada a combinação de animação e live-action, com cartoons interagindo com atores reais à perfeição com uma técnica até então considerada revolucionária.

Traz Bob Hoskins interpretando o investigador particular Eddie Valiant, que precisa superar seu rancor e preconceito contra desenhos animados ao ser contratado por Jessica para encontrar elementos que inocentem seu marido, Roger, de uma acusação de assassinato.

"Conseguimos acertar no timing, a Disney estava se reconstruindo [naquela época]. Tinha começado um novo regime e eles estavam cheios de energia. Continuei dizendo, e digo isso sinceramente: 'Estou fazendo ‘Roger Rabbit’ do jeito que acredito que Walt Disney teria feito'. Digo isso porque Walt nunca fez nenhum de seus filmes para crianças. Ele sempre os fazia para adultos. Foi isso que decidi fazer com 'Roger Rabbit'", lembrou o cineasta, que já tinha se chocado anteriormente contra o estúdio por conta de 'De Volta para o Futuro' - o estúdio de Mickey, Pato Donald e Pateta tinha se recusado a produzir o filme por causa de cenas consideradas incestuosas entre Marty McFly (Michael J. Fox) e sua mãe, Lorraine (Lea Thompson).

Fonte: https://revistamonet.globo.com/google/amp/filmes/noticia/2024/11/conservadorismo-da-disney-com-jessica-rabbit-barra-continuacao-de-classico-dos-anos-1980-diz-diretor-e-impossivel-hoje-em-dia.ghtml

Apenas mais uma crônica eleitoral

Findo o segundo turno em São Paulo e a notícia infelizmente era o que eu esperava.
Ricardo Nunes foi eleito prefeito. Agora a minha dúvida é se esse é o segundo ou primeiro mandato dele.
Afinal, ele era o vice de Bruno Covas. Tornou-se prefeito com a morte de Bruno.
Então o paulistano teve o péssimo gosto de eleger Tarcísio.
O paulistano é bolsonarista enrustido. Nunes recebeu o apoio do Inominável.

Mas o que fica é o nojo da propaganda eleitoral. Sujeira. Complementada e potencializada por fake news.
Marçal, o Bossal, e seu laudo falso. Tarcísio, o Robô Cop, e sua falsa denúncia sobre o "salve" do PCC.
Nunes escondeu que era apoiado pelo Inominável. Escondeu os escândalos com as creches.
Escondeu-se em mais um apagão em São Paulo.

Mas nem isso é novidade. Quem tiver memória deve recordar que essa manipulação da verdade foi feita lá na eleição onde a presidência era disputada entre Lula e Collor.
Os meios de comunicação tradicionais são, como eu mesmo defino, um latifúndio midiático.
Os meios de comunicação digital usam, por assim dizer, a economia da atenção e, por likes e curtidas, permitem que grupos de extrema direita surjam e cresçam.
O resultado é essa disseminação de fake news que definiu a eleição de 2018. Bem como o aparecimento de grupos de negacionismo, racismo, xenofobia, fascismo e (neo)nazismo.

Ao invés de [reclamar] falar (retórica repetida ad nauseam) do peso de nosso passado e cultura colonial, o que os políticos da esquerda fizeram para plantar, criar e cultivar a consciência de classe e política do brasileiro?
O que farão até a próxima eleição? O ativismo e a conscientização tem que começar imediatamente, não apenas em 2026.

Pensando em casos, como o Azarão, que é apenas um exemplo da mentalidade reacionária normatizada pelo sistema, temos muito a lutar e mudar.
Por enquanto, o caminhão da mudança furou o pneu. Mas a mudança pode continuar, um passo por dia, uma pauta por dia.

Se o bolsonarismo acabar, for erradicado, eu já me contento.

domingo, 10 de novembro de 2024

Por falar em instituição medieval...

O Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou recentemente com uma ação civil pública contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O objetivo é renegar a reserva de 30% de vagas destinadas aos grupos sociais vulnerabilizados aplicado no Exame Nacional de Residência (Enare).

A matéria foi apresentada à 3ª Vara Cível de Brasília, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Segundo o órgão, que também emitiu nota, as cotas que favorecem pessoas com deficiência, indígenas, negros e moradores de comunidade quilombola, representam “vantagens injustificáveis” e usa ainda o abominável termo “discriminação reversa”. O CFM sustenta que a seleção para residência médica deveria basear-se exclusivamente no “mérito acadêmico de conhecimento.”

A estupidez do CFM não é novidade. O órgão, que tem como figura central e uma de suas lideranças o ginecologista Raphael Câmara – ex-secretário de Atenção Primária do ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (PL), chegou a defender durante a pandemia a autonomia dos médicos para que, se achassem por bem, prescrevessem cloroquina para tratar a covid-19.

A nova diretoria eleita em agosto, é, em sua maioria, composta por chapas de perfil conservador. Defende pautas como restrições ao direito ao aborto legal, pautas “pró-vida” e, como dito acima, a defesa de práticas sem comprovação científica, como o uso da cloroquina para tratar a COVID-19.

Reações

Tanto a Ebserh, estatal vinculada ao ministério da Saúde responsável pela organização do Enare, quanto a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se posicionaram contra o CFM. A Ebserh lembrou que a política de cotas está de acordo com decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e representa um esforço para garantir que o acesso às residências médicas e multiprofissionais seja mais representativo da diversidade demográfica do país.

Já a Fiocruz alertou que o acesso à pós-graduação e às residências em saúde continua profundamente desigual no Brasil. “O acesso às diferentes modalidades de pós-graduação, inclusive às residências em saúde, ainda é extremamente desigual, com sub-representação das pessoas negras (pretas e pardas), indígenas e pessoas com deficiência”, afirmou em nota.

A nota do CFM ainda ignora um fato determinante. A presença de profissionais de diversas classes sociais e várias origens étnicas não se atém apenas a preencher cotas. Trata-se de um mecanismo que colabora diretamente para a formação de médicos com maior compreensão das realidades das comunidades brasileiras.

Tanto a nota do CFM quanto as críticas que desabam sobre ela destacam um grave e velho problema brasileiro. A elitização da medicina e a exclusão histórica de determinados grupos. Além disso, deixam ainda mais clara a invasão de crendices e disputas ideológicas na esfera da ciência. Uma disputa que nos remete, no mínimo, a mais de um século de atraso.

Fonte: https://revistaforum.com.br/direitos/2024/11/6/cfm-discriminao-reversa-ultimo-limite-da-estupidez-168808.html

Nota. O bolsonarismo deveria ser considerado doença.

Consuma-me

Debaixo desse mesmo céu
Debaixo dessa mesma lua
Iluminada pelas mesmas estrelas

A Primeira
A Original
A Magnífica
Ela disse não

Não, eu não vou me submeter
Não, eu sou igual ao Homem
Não, eu sou livre
Não, eu não serei domesticada

O Firmamento tremeu
A Terra sacudiu
Ventos e trovoadas
Quando Ela pronunciou o Nome

Esse era um Nome antigo
De Deuses anteriores aos Elohim
De uma antiga Deusa Serpente
Ocultada e apagada
Pelo poder patriarcal

Deuses e Homens
Tentaram erradicar
Esse conhecimento ancestral
Mas o sangue sempre lembra

Muitos a maldizem
Muitos a condenam
Mas bendita seja Ela
Mas louvada seja Ela

Queria eu ter Arte
Para poder descrevê-la
Espírito da Noite
Espírito do Vento
Habitante da árvore Huluppu
Donzela de Inanna
Companheira de Ishtar
Rainha dos demônios
Soberana de Gamaliel
O signo da lua negra

Onde quer que esteja
Eu rogo que me ouça
Divina forma feminina
Coloque seu ninho
No fundo do meu coração

Venha como vieste em sonho
Venha e me morda novamente
Venha e me devore
Venha e me drene
Eu te entrego meu sangue
Eu te entrego meu semen
Eu te entrego minha alma

Que minha existência
Seja consumida por Vós
Aceita-me e sorva-me
Dentro de Vosso ventre

sábado, 9 de novembro de 2024

Mentalidade medieval

Uma recente declaração em vídeo do padre Leonardo Wagner sobre o uso de biquínis gerou um intenso debate nas redes sociais. Respondendo a uma pergunta de um internauta sobre a postura da Igreja Católica em relação a trajes de banho, o padre afirmou categoricamente que o uso de biquínis é um "pecado grave", chegando a considerá-lo um "pecado mortal".

A questão foi levantada no Instagram, através da página Catolicismo Apostólico. O internauta queria saber se, na visão católica, o uso de biquínis por mulheres e sungas por homens seria aceitável. A resposta do padre foi direta e enfática: "Perguntas tão óbvias. Biquíni é pecado? Pecado grave. Não é só pecado, é pecado mortal. Você está pelada. Deixa de ser louca."

Na publicação, o perfil afirma que “o biquíni, por ser uma peça muito reveladora, pode acabar incitando pensamentos impróprios e distraindo do respeito que devemos uns aos outros. A Igreja nos ensina que nossas vestimentas não devem servir de ocasião de pecado para nós ou para os outros (Catecismo da Igreja Católica, 2521-2524).”

A postagem rapidamente viralizou, alcançando quase 2 milhões de visualizações e provocando uma enxurrada de comentários. Embora alguns concordassem com a posição do padre, a maioria dos comentários expressava indignação. Uma das críticas mais repercutidas questionava: "É pecado se esconder por detrás da religião e ficar atacando os outros por raiva de não poder ser quem realmente é?" Outro usuário fez referência aos casos de abuso envolvendo membros do clero: "Pecado mesmo é abusar de crianças e se esconder atrás da batina."

A declaração do padre trouxe à tona discussões sobre a influência da religião na vida cotidiana, especialmente em temas ligados à liberdade individual e à expressão corporal. A fala também reacendeu o debate sobre a conduta de líderes religiosos e os limites da moralidade religiosa em relação aos costumes sociais modernos.

Além disso, há de se levar em conta o aspecto machista da fala, pois coloca a culpa na mulher de uma possível “tentação” ao homem, que neste caso seria vítima da astúcia feminina. Absurdo. E foge do que foi ensinado por Jesus, de que “se teus olhos forem bons, todo teu corpo será”. O problema, para Jesus, nunca será da mulher, mas dos olhos machistas que objetificam mulheres e ainda colocam a culpa de seus desejos animalescos no corpo feminino.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/2024/11/5/padre-diz-que-usar-biquini-pecado-mortal-voc-esta-pelada-deixa-de-ser-louca-168773.html

Nota. O cacatólico vai querer comentar - ah, mas e a decência?
A notícia lembrou outra. Citando:

Uma estudante que se despiu no Irã em sinal de protesto contra o assédio de milicianos da Guarda Revolucionária foi detida, segundo grupos estudantis e ativistas pelos direitos humanos.

A jovem estudante da universidade Azad de Teerã, cuja identidade não foi revelada, era assediada por membros da milícia Basij, segundo esses ativistas.

Em sinal de protesto, ela se despiu em frente à universidade e caminhou pelas ruas em roupas íntimas, de acordo com um vídeo que circula nas redes sociais. A jovem caminhava de braços cruzados, até que agentes chegam nela de forma brusca e a prendem.

Fonte, citado parcialmente: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/11/04/estudante-e-presa-no-ira-apos-se-despir-publicamente-em-sinal-de-protesto.ghtml

Retomando. Resumindo, o padre tem a mesma mentalidade do Talibã. Eu insto às mulheres que ainda sejam católicas que largue essa instituição obsoleta e arcaica. Venha ao Paganismo Moderno. Aqui você pode ser sacerdotisa e vestir (ou despir) o que quiser.

O que a Globo não mostra

A TV Globo tinha uma relação complexa e tensa com a ditadura militar, que durou entre 1964 e 1985 no Brasil, segundo o jornalista Ernesto Rodrigues, que produz o livro “A Globo”. A obra tem cerca de 400 depoimentos dos arquivos da emissora e outras 60 entrevistas com figuras importantes na história do canal.

Segundo o primeiro volume da obra, “Hegemonia: 1965-1984”, o fundador da emissora, Roberto Marinho, tinha uma relação de “subserviência imposta” com o regime. Rodrigues cita, por exemplo, o programa apresentado pelo coronel Edgardo Erickson, que diariamente lia textos de apoio entusiasmado à ditadura ao vivo na emissora.

O militar andava armado nos estúdios e ocupava o “cargo-fantasia de diretor do Departamento de Relações Públicas”, segundo o livro, produzindo o conteúdo sem o crivo de ninguém da Globo e intimidando funcionárias do canal. Ele e o coronel Paiva Chaves, oficial do Exército que se tornou um executivo importante da Globo, “foram contratados com a função de fazer a ponte entre a emissora e o regime”.

Os coronéis ainda fiscalizavam o que jornalistas escreviam, segundo ex-funcionários. O diretor de jornalismo Armando Nogueira chegou a pedir a Marinho para afastar Erickson, mas o dono da emissora temia perder a concessão da emissora.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/livro-expoe-a-relacao-da-globo-com-a-ditadura-militar/

Carta à nação

Entidades acadêmicas, movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos, parlamentares e pastores, entre outros, em total que supera a 60, divulgarão à nação a Carta em Defesa da Escola Laica e Contra a Discriminação de Credo e Religião, de acordo com que determina a Constituição.

A divulgação da Carta ocorre em momento em que evangélicos promovem mais uma ofensiva de ocupação do espaço público para proselitismo, incluindo horário de recreio em escolas, como ocorre em escolas de Pernambuco.

"Em um país com um dos maiores quantitativos populacionais do mundo, formado a partir da influência de povos tão diversos, a laicidade do Estado é, antes de tudo, uma garantia democrática", afirma a Carta.

"Nesse contexto, a educação toma contornos fundamentais para a promoção de uma sociedade que compreenda a multiplicidade das formas de expressão religiosa no país, sem privilegiar nenhuma religião ou manifestação de credo no espaço educativo."

A disputa pela ocupação de espaço público tende a aumentar nos próximos anos, tendo em conta que a direita religiosa sai fortalecida das eleições municipais deste ano, 2024.

Íntegra da Carta

A Constituição Federal prevê a laicidade do Estado Brasileiro. Isso garante que as instituições públicas não devem pautar suas atividades sob o prisma da religião, muito menos atuar com o intuito de privilegiar determinado credo.

A Carta Fundamental do nosso país busca possibilitar a diversidade de crenças, promovendo um ambiente plural e inclusivo para o povo brasileiro.

Em um país com um dos maiores quantitativos populacionais do mundo e formado a partir da influência de povos tão diversos, a laicidade do Estado é, antes de tudo, uma garantia democrática.

Nesse contexto, a educação toma contornos fundamentais para a promoção de uma sociedade que compreenda a multiplicidade das formas de expressão religiosa no país, sem privilegiar nenhuma religião ou manifestação de credo no espaço educativo.

Um ambiente educacional democrático deve ser promotor da diversidade cultural, ideológica, artística, religiosa, a partir dos parâmetros contidos na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 9394/1996), na BNCC (Base Nacional Curricular Comum, 2018) e no currículo que rege a educação estadual.

No estado democrático de direito, a administração pública deve ser regida pelos princípios legais e constitucionais da legalidade, impessoalidade, entre outros. Assim como a escola pública não pode favorecer partidos políticos nem campanhas eleitorais, não pode favorecer e abrigar nenhum templo religioso.

O ambiente educacional deve proporcionar um espaço de discussão crítica, no qual o conjunto de estudantes seja capaz de compreender e refletir sobre a pluralidade dos temas, inclusive aqueles concernentes à pluralidade religiosa.

Esta conduta não deve se confundir, de maneira alguma, com proselitismo religioso, que restringe o debate a uma doutrina específica, exclui perspectivas dissonantes e, ao invés de promover um espaço acolhedor, gera conflitos e tensões no ambiente escolar.

É por acreditarmos em uma educação crítica, inclusiva, fundada na garantia de um Estado Laico, que nos solidarizamos ao SINTEPE (Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação de Pernambuco) e repudiamos os ataques de uma parcela conservadora do Legislativo deste estado, que, numa tentativa de ofuscar o debate sobre o que está garantido pela Constituição Federal do Brasil, cria uma tensão que busca impor a perspectiva de uma religião e nega o direito individual de crenças e religiosidade.

Por fim, ressaltamos que são os parlamentares de ultradireita que difamam as estudantes e os estudantes da Rede Estadual de Pernambuco, utilizando-se de casos isolados, generalizam e desqualificam a escola pública.

A política praticada por estes deputados não soluciona os problemas reais que impossibilitam uma educação de qualidade como: merenda saudável, climatização, infraestrutura das unidades e valorização das trabalhadoras e dos trabalhadores. Desaprovamos a violenta estigmatização contra a juventude no Estado de Pernambuco.

Continuaremos vigilantes e combativos na luta por uma educação de qualidade socialmente referenciada para todas as pessoas!

(Segue uma lista de assinantes)

Fonte, citado parcialmente: https://www.paulopes.com.br/2024/11/mais-de-60-instituicoes-divulgam-carta.html 

Demon Slayer: Missão no Brasil

Episódio: A Dança do Sol em Terras Tropicais

Abertura: A icônica abertura de Demon Slayer, com novas cenas dos personagens em paisagens brasileiras exuberantes, como a Amazônia e o Cristo Redentor.

Cena 1: Montanha do Monte Sagrado

Tanjiro, Nezuko, Zenitsu e Inosuke celebram a vitória sobre Muzan, o primeiro demônio. O Mestre dos Hashira, com um olhar sério, revela a eles uma nova missão: investigar a presença de um poderoso oni no Brasil, chamado Bolsonaro.

Mestre dos Hashira: "Tanjiro, Nezuko, vocês demonstraram um poder e uma união extraordinários. Agora, uma nova ameaça surge em terras distantes. Um oni, conhecido como Bolsonaro, está causando terror no Brasil. Suas habilidades são desconhecidas, mas relatos indicam que ele possui um poder corruptivo e manipulador."

Tanjiro e Nezuko se olham, prontos para mais uma jornada. Zenitsu e Inosuke demonstram entusiasmo pela aventura em um novo país.

Cena 2: Preparativos para a Viagem

A equipe se prepara para a viagem ao Brasil. Nezuko, surpreendentemente, demonstra uma maior capacidade de se comunicar verbalmente. Ela pronuncia frases mais complexas e até mesmo faz piadas com Zenitsu, para a surpresa de todos.

Nezuko: "Zenitsu-nii, você ainda tem medo de trovões?"

Zenitsu fica vermelho e gagueja, confirmando a nova habilidade de Nezuko.

Cena 3: Chegada ao Brasil

A equipe chega ao Brasil e é recebida por uma paisagem exuberante. A floresta amazônica se estende por quilômetros, e a cultura brasileira os fascina.

Inosuke: "Que lugar estranho! Cheiro de frutas e bichos esquisitos!"

Tanjiro, mais sensível, percebe a energia vibrante do local e a diversidade cultural.

Cena 4: Descobrindo os Poderes de Nezuko

Durante a jornada pela floresta, Nezuko demonstra novas habilidades. Seus cabelos rosados brilham intensamente, e ela consegue manipular as plantas, fazendo-as crescer rapidamente ou criar barreiras protetoras. Além disso, Nezuko desenvolveu a capacidade de se comunicar com os animais, entendendo suas emoções e intenções.

Tanjiro: "Nezuko, você está cada vez mais forte!"

Nezuko: "Tanjiro... proteger..."

Cena 5: Enfrentando Bolsonaro

A equipe finalmente encontra Bolsonaro, um oni poderoso com a aparência de um político corrupto. Ele utiliza suas habilidades para manipular a população e criar um exército de seguidores.

Uma batalha épica se inicia. Tanjiro utiliza a Respiração do Sol, enquanto Inosuke ataca com ferocidade. Zenitsu, superando seus medos, luta ao lado de seus amigos. Nezuko, por sua vez, utiliza seus novos poderes para proteger a equipe e neutralizar os seguidores de Bolsonaro.

Cena 6: O Clímax

Em um momento crucial, Nezuko entra em um estado de fúria, seus olhos brilham em um vermelho intenso. Ela libera uma poderosa onda de energia que destrói tudo ao redor. Bolsonaro, enfraquecido, tenta escapar, mas é impedido por Tanjiro, que desfere o golpe final.

Cena 7: O Amanhecer

Com a derrota de Bolsonaro, a paz é restaurada no Brasil. Tanjiro e Nezuko são aclamados como heróis. O Mestre dos Hashira, observando tudo de longe, sorri com orgulho.

Final: A equipe retorna ao Japão, vitoriosa e mais forte do que nunca. Nezuko, agora capaz de se comunicar livremente e com poderes extraordinários, mostra-se uma aliada indispensável na luta contra os demônios.

Criado com Gemini, do Google.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Os descrentes piram


Por Constança Tatsch.

Em julho passado, o neuropsicólogo e professor da faculdade de medicina da Northwestern University, nos Estados Unidos, Jordan Grafman publicou um artigo na revista Nature com o título: "Os neurocientistas não devem ter medo de estudar religião". Grafman sabe e não teme dizer: ele cutuca um vespeiro.

Segundo ele, “neurocientistas tendem a evitar estudos sobre religião ou espiritualidade por medo de serem vistos como não-científicos” e defendeu mais pesquisas sobre o tema. O objetivo não é desmascarar ou promover Deus ou a espiritualidade, mas investigar como isso se dá no cérebro e seus efeitos.

O professor está fazendo sua parte. Acabou de firmar uma parceria com a Ciência Pioneira, instituição do IDOR de apoio à ciência de fronteira/pesquisas inovadoras, para criarem juntos um centro virtual de pesquisas em "neurociência das crenças", com pesquisadores brasileiros e estrangeiros. O centro será uma parceria com o King’s College London e o Shirley Ryan AbilityLab. Grafman, especificamente, vai coordenar pesquisadores pós-docs sobre temas como cognição religiosa, bases cerebrais das crenças religiosas, papel da neurociência na exploração das crenças religiosas – em contraste com crenças não-religiosas – entre outros temas.

Escolhemos acreditar em algo ou a fé é algo irracional?

Aprendemos a acreditar. Muitas pessoas ao redor do mundo estão em famílias onde uma crença existia antes de nascerem, assim as crianças são expostas a crenças semelhantes em casa ou em diferentes locais de culto. Então, trata-se de absorver o mundo que está ao seu redor. Você adapta ou adota essas crenças por uma variedade de razões. Mas, sim, às vezes as pessoas realmente escolhem seu sistema de crenças. Elas analisam ou têm uma experiência emocional dramática e dizem: vou acreditar dessa forma por causa da experiência que tive.

Mesmo quem vem de uma família ateia, por exemplo, pode optar por acreditar?

Não acreditar em Deus também é uma crença. Mas certamente é possível escolher suas crenças ou ser influenciado através da sua exposição. Algumas pessoas estão procurando um sistema de crenças que elas possam adotar em parte porque é reconfortante, reduz a ansiedade. Uma vez que você foi exposto à ideia de Deus ou religião, adivinhe onde está? No seu cérebro. Então, até mesmo ateus têm uma representação de Deus em seus cérebros. Não podem escapar Dele. Por causa disso, isso pode soar radical, mas eu digo: Deus existe. Tenho confiança de que Deus existe no cérebro. Então podemos estudar Deus com segurança e em grande quantidade de detalhes estudando como o cérebro processa, representa e permite nossos comportamentos associados à religião.

Nosso cérebro é projetado para a crença?

Sim, com certeza. O que nós tentamos fazer, como humanos, ou qualquer espécie, é tentar explicar os eventos que estamos vendo. Nos tempos muito antigos, quando um vulcão entrava em erupção ou um terremoto ocorria, por exemplo, questionavam: o que causou isso? Quem causou isso? Bem, é mais poderoso do que nós, como humanos. Deve ser outro ser de algum tipo. Então, muitas das primeiras explicações de eventos naturais eram agentes sobrenaturais. Esse foi o começo. Mas depois evoluiu para uma questão social. Crenças frequentemente ajudam a organizar sociedades. Se você tem um grupo de pessoas que acreditam na mesma coisa, você se junta a elas, seja uma família, uma tribo, uma vila, uma cidade, ou um país. Se você acreditasse de uma certa maneira, poderia pensar que seu grupo é forte e, se houvesse uma batalha, poderia vencê-la. Se houvesse uma crença ligada à agricultura, creditaria a ela os frutos de seu trabalho. Isso é parte da evolução humana. A busca por explicações das coisas ao nosso redor nos deu alguma vantagem sobre outras espécies. Nós podíamos pensar sobre essas coisas, e isso nos tornou mais potentes. As religiões antigas claramente tinham esse papel nas sociedades.

Essas crenças costumam ser questionadas?

Uma vez que você se estabelece em uma crença, não precisa se preocupar com certas coisas. É uma crença estabelecida. No entanto, se você não acredita em muita coisa, ou não acredita em nada, sua vida pode ser movida pela ansiedade. E quase todo mundo quer reduzir a ansiedade. Nosso cérebro acha muito importante ter essas crenças. Elas são uma assinatura. Então, se eu quiser conhecer alguém, quero saber o que essa pessoa pensa e acredita. O que você pensa sobre o que está acontecendo na política do Brasil? Ou que música você gosta? Ou o que for. Então as crenças são uma assinatura para nossas identidades como indivíduos, e também como grupos.

Muitas questões que só tinham respostas em crenças, a ciência explicou. É mais difícil hoje acreditar em coisas sobrenaturais, já que temos a ciência explicando as coisas o tempo todo?

Sabemos muito mais, mas não sabemos tudo. Sim, eu acho que, para muitas pessoas, elas têm, por um lado, sua fé. E do outro lado, a ciência e os fatos. Fatos verdadeiros são muito importantes, mas eles não cobrem tudo, não podem explicar tudo. Se a sociedade fizer o trabalho certo, espero que façamos no futuro, então, enquanto tivermos fatos, podemos dizer que sabemos disso. E não sabemos daquilo. E então, se for esse o caso, ainda há espaço para a fé. Por exemplo, não sabemos o que acontece antes da vida. E, em certo sentido, ninguém sabe o que acontece depois.

Como a fé age no cérebro?

Sabemos sobre sonhos no cérebro. Sabemos sobre emoções no cérebro. Então podemos desenvolver conhecimento sobre redes cerebrais relacionadas a diferentes aspectos da crença e prática religiosa. Esse é o primeiro passo. É mapear a religião no cérebro. O segundo passo é ver a que essas redes estão relacionadas além da religião.

Como assim?

Fizemos pesquisas sobre fundamentalismo. Crenças e regiões no cérebro que são importantes para o fundamentalismo. Podemos fazer a mesma coisa com o fundamentalismo político, com o conservadorismo político. Talvez essas redes estejam próximas no espaço do cérebro. Se for assim, sabemos que ativação em uma rede cerebral pode afetar o funcionamento da rede vizinha. Então, se você for ativo em suas crenças religiosas, isso pode influenciar de uma forma muito sutil suas crenças política e vice-versa. E isso nem sempre está na sua consciência. Já sabemos que existe uma relação. Queremos mapear essas redes no cérebro para que possamos ver como elas se relacionam entre si.

Por que os cientistas ainda hoje evitam estudar espiritualidade?

A ciência não quer falar sobre isso. Em parte, é um dilema social. Muitos acadêmicos, não todos, mas muitos, não acreditam em Deus. E eles podem ridicularizar você se quiser fazer uma pesquisa sobre o assunto. Mesmo que você não acredite em Deus, mas queira fazer uma pesquisa sobre isso. Eles não sabem realmente por que você está fazendo essa pesquisa. Então acontece que muitas pessoas que são cientistas e são religiosas, se afastam disso. Os periódicos não querem publicar artigos sobre o assunto. Eles hesitam.

Por que?

Bem, novamente, há algumas dinâmicas sociais envolvidas que indicam que eles simplesmente não querem nenhuma controvérsia. Há esse preconceito social. Agora, lembre-se, há mais locais de culto no mundo do que escolas ou prefeituras. Não estamos falando de um pequeno subconjunto de pessoas que vivem em algum lugar perdido. Realmente acho que há esse preconceito social, e não deveria haver, especialmente por causa da importância da religião na sociedade. Há todo um ramo dentro da neurociência chamado neurociência social. E o número de artigos sobre religião dentro da neurociência social é minúsculo. Acho que as pessoas têm medo, preocupadas com suas carreiras acadêmicas, etc. Então temos tentado encorajar as pessoas a fazer essas pesquisas.

Não se trata de estudar a religião, mas sim seus efeitos nos cérebros e vidas das pessoas.

Estamos realmente focando nos aspectos intelectuais da religião. Ou seja, como você descreve ou lê sobre religião? Estamos interessados em entender as emoções que podem fazer da religião um sistema de crenças distinto. E pode haver uma relação entre emoção, política e religião, por exemplo, por causa da natureza de suas representações no cérebro. Podemos descobrir tudo isso estudando o cérebro. Agora, também há outras facetas interessantes. Muitas vezes as pessoas rezam porque acreditam que a oração as ajudará a se curar se tiverem uma doença, ou elas também rezam pelos outros. E muitas relatam melhora. Agora, isso dura muito tempo? Elas são curadas? Bem, depende do problema, certo? Há lugares que as pessoas visitam, onde vão com uma doença, andam longas distâncias ou viajam grandes distâncias para se banhar nas águas e rezar e tentar obter uma cura. Muitas religiões têm esse aspecto onde você vai a um lugar onde presumivelmente um milagre ocorreu. Então, novamente, goste ou não, essa é uma atividade da qual bilhões de pessoas participam — ou de uma forma pequena, apenas rezando em seus quartos, ou de uma forma maior, viajando para esses lugares. Então, é realmente motivador para as pessoas irem lá, e estamos interessados nesse tipo de trabalho também.

Há estudos que apontam que a espiritualidade é boa para a saúde e bem-estar, mas como isso funciona?

De muitas maneiras. Alta ansiedade leva ao estresse. Um pouco de estresse, não é tão ruim. Muito estresse, não é bom, mata células e neurônios no cérebro. Então, se você consegue administrar isso, não importa como faça, é bom. Mas nem precisamos chegar a isso. Basta considerar a palavra placebo. Se você acredita que o que está tomando vai funcionar, geralmente funciona. É por isso que você dá medicamentos placebo, para mostrar se há um efeito real de um medicamento ou não. Esse é um exemplo perfeito de quão frequentemente, como eu não sei, cerca de 30% das pessoas se beneficiam do placebo. Como isso acontece? Bem, esse é o poder da crença no cérebro, ajudando a estimular, por exemplo, mecanismos anti-inflamatórios, ou ativando outros processos cerebrais que ajudam a controlar a ansiedade, reduzir o estresse, etc. Essa é uma maneira pela qual a fé e a crença podem afetar a saúde. Agora, se nenhum de nós acreditasse, se a ideia de Deus desaparecesse, e não houvesse mais religião, a fé fosse reduzida, eu me pergunto o que isso faria com a nossa saúde.

Pode falar mais sobre esse centro de estudos no Rio?

É muito complicado estudar essas coisas no mundo. Há muitas disputas sobre o que é Deus. Deus existe, por exemplo? Outras formas de agentes sobrenaturais existem? Então escolhemos, com a ajuda do Centro de Neurociência e Psicologia de Valores e Crenças, o programa IDOR que agora foi estabelecido, olhar para o cérebro. Isso elimina muitos dos problemas que vêm com o estudo da religião no mundo. E a iniciativa que é feita no Rio é muito, muito única e importante, e o impacto vai além do Brasil. É internacional. E também está além da religião. Porque, como falamos antes, crenças incluem crenças políticas, podem incluir crenças econômicas, sobre outras pessoas. Crenças nos dão esse repertório. É muito importante.

Fonte: https://oglobo-globo-com.cdn.ampproject.org/v/s/oglobo.globo.com/google/amp/saude/bem-estar/noticia/2024/11/03/deus-existe-deus-existe-no-cerebro-diz-neuropsicologo-e-pesquisador.ghtml

Nota: Deus existe. Mas, qual? 🤭😏
Para quem quiser mais evidências, basta olhar para a foto. Eu, segurando Deus. 😏🤭

Elitistas?

Texto publicado no Brasil 247 que merece ser citado, mas também analisado e criticado.

Citando:

O ativista Paulo Galo, que ficou conhecido em 2020, quando liderou protestos de entregadores por melhores condições de trabalho durante a pandemia, aponta uma crítica contundente à esquerda brasileira, que, segundo ele, se tornou elitista e alienada das questões reais da classe trabalhadora. Em uma entrevista publicada pelo UOL, Galo detalha como a desconexão com a base e o distanciamento das questões materiais têm fragilizado a atuação da esquerda. Para ele, o problema não está nos “pobres de direita”, mas numa “esquerda branca” e “playboy” que idealiza a consciência política enquanto ignora a realidade concreta.

“É o pensamento da classe média, de toda a esquerda branca, essa coisa de que tudo está dando mer** porque o pobre ‘não tem consciência’ ou ‘não sabe votar’”, declara Galo, em crítica direta à postura paternalista de intelectuais que culpam a população de baixa renda por não aderirem a determinadas ideologias. Ele contesta a ideia de que a classe trabalhadora é alienada e argumenta que as condições materiais de vida influenciam diretamente a consciência política. Para ele, ao contrário do que pensam alguns setores da esquerda, “a materialidade faz cada pessoa ser o que é”.

O ativista denuncia o que considera um erro fundamental: a noção de que a esquerda “acordou” para as injustiças sociais de forma natural, sem levar em conta as oportunidades e privilégios que permitiram o desenvolvimento dessa consciência. “Eles foram para a faculdade, tinham livros em casa, condições para impulsionar essa consciência”, argumenta Galo, em contraste com a realidade de quem enfrenta dificuldades financeiras cotidianas. “Por que eu sou o problema e você é a solução?”, questiona ele, subvertendo a ideia de que só existe uma visão válida para a luta social.

Para Galo, não se trata de uma divisão entre direita e esquerda, mas de entender que, enquanto a classe média permanece em sua “zona oeste” — uma referência à área nobre de São Paulo —, o trabalhador comum lida com dificuldades concretas, distantes das pautas e discussões elitizadas da academia e dos círculos políticos. O resultado, segundo ele, é que a esquerda se torna “arrogante para caralh*” e incapaz de dialogar com quem está fora da sua bolha. “Quando tentam interagir fora da bolha, são arrogantes para caralh*, chatos para caralh*, e as pessoas não aguentam”, afirma.

Uma nova forma de base: a religião e o trabalho com a periferia - Outro ponto levantado por Galo é o abandono do trabalho de base pela esquerda. Para ele, existe um potencial transformador na religião que tem sido negligenciado por lideranças políticas. “Dá para fazer uma nova Teologia da Libertação usando a religião evangélica e a própria palavra de Deus”, explica ele, citando passagens bíblicas que, a seu ver, reforçam a luta de classes e a justiça social. Galo ressalta o poder de mobilização e conscientização que a fé pode proporcionar aos trabalhadores e lamenta que a esquerda se afaste dessa abordagem.

Para ele, passagens bíblicas como “é mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no reino dos céus” demonstram o potencial de resistência e de conscientização contidos na fé popular, algo que deveria ser reconhecido e aproveitado por movimentos sociais. Ao contrário do que muitos líderes progressistas acreditam, a religião, segundo Galo, não é apenas “ferramenta para alienar”, mas uma via potente de encontro e organização popular.

Ele vai além ao sugerir que, com a abordagem certa, seria possível até criar “coaches de esquerda” para a periferia, usando as mesmas estratégias de motivação pessoal que atraem tantas pessoas para o sucesso individual, mas com uma visão coletiva. “Dava para fazer um Pablo Marçal de esquerda”, declara ele, referindo-se a influenciadores que popularizam métodos de enriquecimento pessoal. “Dá para pegar as mesmas ferramentas que alienam e usá-las para desalienar. É só chegar aqui na periferia, tomar uma cerveja e trocar uma ideia normal, do dia a dia".

A esquerda e seu vício na política eleitoral - Galo também critica a dependência da esquerda em relação à política eleitoral, descrevendo-a como um foco estreito que limita o alcance de suas ações. Ele menciona o exemplo do pastor Henrique Vieira, que, ao tentar realizar um trabalho de base, foi “sequestrado pela institucionalidade” e absorvido pela política partidária, perdendo o contato direto com a comunidade. “O problema é que a esquerda parece não saber fazer nada que não envolva voto”, conclui Galo, apontando para uma lacuna que deixa muitas demandas da classe trabalhadora sem uma resposta prática e eficaz.

Em sua visão, a verdadeira luta não se dá exclusivamente nas urnas ou em instâncias institucionais, mas no contato direto com a população, respeitando sua vivência e construindo uma consciência coletiva a partir de suas necessidades reais. Esse movimento, para ele, passa por superar preconceitos, ouvir sem julgamentos e criar uma esquerda que não apenas fale em nome dos trabalhadores, mas que verdadeiramente os compreenda e os represente.

Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/problema-esta-na-esquerda-elitista-nao-no-pobre-de-direita-diz-paulo-galo

Retomando.

Nós somos privilegiados, sem dúvida. Mas foram os partidos de esquerda quem abriu as portas para as pessoas que vivem na periferia. Galo fala nas questões materiais e na realidade concreta, sem se dar conta de que isso é uma consequência de uma política e de um sistema econômico. Então, Galo, isso é alienação. Mas, sim, a esquerda está (ou parece estar) descolada da realidade. Nada foi feito para criar e cultivar a consciência de classe e política. Não podemos só ficar fazendo ativismo em ano eleitoral. Temos que quebrar essa bolha e falar diretamente com a periferia.