quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Heterogênese XX

Essa é a vantagem de se ter um espírito alimentado por uma mente desenvolvida: consegue-se viver ainda mais, pela força e pela vontade. Desimpedido da casca mortal, pode-se ver melhor ainda. Como, por exemplo, ver os espíritos que rondam os mortais e os influenciam, por conselhos e orientações. Inclusive pode-se ver claramente o caminho que leva ao Império das Luzes e ao Reino das Trevas. Como bom filho sabe o caminho do lar, segui a trilha das Trevas. Dirigi-me ao primeiro comando que encontrei, para saber como estava indo a guerra. Reconheceram-me de imediato e acharam melhor pôr-me a salvo da área do fronte, levando-me aos comandos centrais.
A cidade fortaleza para onde me levaram era magnífica, sombria e tão receptiva quanto uma cripta, toda em granito negro. Tinha algo nela que me parecia ser familiar, como se já estivesse estado ali, como já pertencesse há muito tempo a este lugar.
Disseram-me que o nome era Ogiel, capital do reino de Gamaliel, cuja reinante não era outra que a minha adorada deusa da Lua Negra, Lilith. É óbvio que devia me sentir à vontade, pois estava bem próximo de minha venerada rainha. Quantas coisas que passaram na minha cabeça para agradá-la e impressioná-la! Eu desejei inclusive lutar, mesmo sem treino, contra o Império das Luzes, pela bandeira dela. Mas me reservaram, infelizmente, a escrever o que foi omitido no Apocalipse.

Tendo o Cordeiro terminado sua obra, foi descansar um instante no trono que lhe custou tanto conquistar. Lamentou durante alguns instantes, os extremos a que teve de chegar, mas era necessário, para que finalmente o Reino de Deus prevalecesse sobre as forças das Trevas malignas, para salvar a Terra.

O falso profeta balançava feito pingente na ponta de uma corda. A Besta foi lançada aos Infernos, onde ficaria encarcerada junto com o Dragão de Sete Cabeças e Dez Chifres. Tudo estava finalmente tranqüilo e a construção da Nova Jerusalém terminada, estava instalado o Paraíso na Terra, sinal da vitória de Deus Pai Todo Poderoso, conhecido aqui como o Espírito das Luzes. Agora a Terra pertencia aos eleitos de Deus, os justos e os santos, junto com os humildes.

Foi quando lhe ocorreu um raciocínio assustador. Como havia utilizado todos os recursos de que dispunha, estaria vulnerável aos contra-ataques das forças malignas, pelo menos durante algum tempo. Tranqüilizou-se, ao pensar que seus súditos acudiriam ao primeiro sinal de invasão. Neste momento, a massa dos eleitos era um imenso exército, mais que necessário para se garantir a segurança.

Foi dada então, ao que foi denominado de falso profeta, uma tarefa, já que se mostrava tão ansioso a ajudar sua rainha de alguma forma. Levaram-no até próximo dos portões da Nova Jerusalém, vestido de camponês, querendo terras para plantar.

O camponês entrou na Nova Jerusalém com a semente da verdade, mas a verdade que é trazida pela iluminação da mente pelo Fogo Negro. É como se costuma dizer: o melhor método de ruir um Império é fazendo-o de dentro para fora.

Dirigindo-se a uma praça pública, começou a gentilmente plantar as sementes. Ninguém o parou ou protestou, pois sua aparência era inocente, assim como suas ações. Da mesma forma que entrou, saiu, dizendo que ia trazer água potável, de fonte conhecida por ter trazido grandes revelações, porém jamais retornou.

O Cordeiro, um certo dia, após ter acabado todos os seus afazeres, que foram tomadas todas as decisões que precisava, foi passear pela sua bela cidade. Foi quando notou o crescimento de uma bela árvore, já com flores abundantes, prestes a se transformarem em frutos. As flores pareciam-se com orquídeas, só que tinham mais pétalas, de bordas recortadas em dentes, com um tom de cores, variando do azul, ao violeta, ao negro. O perfume que exalavam era sensacional, faziam com que, quem cheirasse, sentisse se elevar, o pensamento funcionar mais intensamente. Até mesmo o Cordeiro não pode resistir aos efeitos, dos quais, num momento, pôde vislumbrar os primeiros momentos da criação. Pôde lembrar que, foi por uma árvore e seu fruto tentador, que todo pecado começou. Neste exato instante, o Cordeiro, esquecendo-se de sua condição, começou a atacar e depredar a árvore indefesa. Todos que ali estavam olhavam abismados, mas nada comentavam, com medo do que lhes podia acontecer.

Porém, como era uma árvore do fruto do Fogo Negro, cresceu mais forte e resistente,no dia seguinte. O Cordeiro temendo o que poderia acontecer, cercou a árvore com grades e guardas, para que ninguém dela se aproximasse. O Cordeiro logo perdia aquela tranquilidade e serenidade que deveria caracterizá-lo.
Tomado de pânico, que ainda assim poderia haver quem comesse do fruto proibido, decretou lei marcial, ninguém podia ficar nas ruas depois das 19 horas. Além de serem proibidas quaisquer reuniões, públicas ou privadas, para evitar que houvesse tramas contra o Cordeiro.

Mesmo sem o fruto, todos os justos perceberam que seu redentor, o Cordeiro, não era exatamente a pessoa que dizia ser. Descontentamento geral leva a protestos e seus respectivos choques com os anjos. O povo todo já estava disposto a rebelar-se por completo, contra o Cordeiro, de qualquer forma.
Quando tudo parecia desfavorável aos revoltosos, surge avançando, em direção das muralhas da Nova Jerusalém, o exército das Trevas, que foi recebido pelo povo nas portas que estes abriram. Foi aí que o Império das Luzes sentiu a força real das Trevas, apanhou feio e não tinha mais nada a fazer, senão render-se. O Cordeiro sofreu o escárnio público, depois que todos viram sua verdadeira face, antes de ser abandonado, sem condenação, pois não era preciso.

Todos os arcanjos não puderam conter os arquidemônios. Não sem o apoio dos que foram o povo eleito, agora somados às legiões das Trevas. O Espírito das Luzes, para que seus colaboradores não sofressem, capitulou, baixou a bandeira nos pés do Espírito das Trevas. Todo o Império das Luzes deixou de existir, junto com a renúncia do Espírito das Luzes.

Tomando a administração de todos os planetas, sóis e galáxias, o Espírito das Trevas permitiu que seu irmão lhe auxiliasse, fornecendo luz e energia necessária para alguns tipos de vida de certos planetas, como a Terra, que não podiam viver sem luz.
Tornou o Espírito das Trevas a falar com seu Pai, o Universo. Pois cometera, de certa forma, os mesmos erros que seu irmão, o Espírito das Luzes, esperando um perdão de seu Pai.
O Universo sorriu e suas partículas coroaram o Espírito das Trevas. A euforia tomou conta das criaturas, de qualquer nível existencial, sem se importarem se eram notívagas ou diurnas.

Tenha isto nas mãos, como um guia básico para que aprenda definitivamente que deve tomar cuidado com as aparências superficiais, evitar ser dominado pela força e pela estupidez religiosa. Nunca se pode, efetivamente, falar contra algo que não se conhece ou se experimentou.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Sahasetaum

Esta é outra versão de como poderia ser o conflito final entre o Império das Luzes e o Reino das Trevas, pela conquista do Cosmo e das criaturas evoluídas, a fim de agradar ao Universo e mostrar qual dos filhos é o melhor soberano de suas posses.
Ao menos, essa era a intenção do Universo, criou Leviathan e Iahravel para ajudá-lo a comandar o Cosmo em toda sua extensão, mas não imaginou que isso iniciaria uma luta entre os irmãos, pela conquista de mais galáxias para suas possessões.
Isso o deixou irritado, tanto com seus filhos como consigo mesmo. Entretanto ele não era capaz de tomar atitudes drásticas. Se fosse para punir seus filhos, deveria punir-se primeiro. Mas o conflito tomava dimensões assustadoras e isso o angustiava.
Suas partículas, prestativas, puseram-se a trabalhar para tranqüilizá-lo, tirando dele o fluxo irado até este assumir uma forma de vida independente e pronta para agir pelo Universo, já que este não queria.
Foi com satisfação que o Universo viu surgir um quase meio irmão, pronto para ser a força da justiça, pelo bem da harmonia no Cosmo, mais a sua própria, antes que ficasse conturbado e tudo acabasse. Melhor que isso era então dar boas vindas a este e deixá-lo trabalhar. Assim surgiu Sahasetaum, que partiu em missão para advertir Leviathan e Iahravel de que este conflito estava tomando proporções perigosas.
Como a reclamação de inúmeras criaturas imoladas era em maior número contra o Império das Luzes, para lá se dirigiu Sahasetaum.
No castelo de Iahravel, a corte estremeceu ao perceber algo estranho acontecendo no firmamento. Foram perguntar ao Imperador o que ele estava fazendo, pois o julgavam responsável, já que dizia sempre ser o Deus único e todo poderoso. Talvez o fosse, mas entre os seus, mas não muito diante de seu irmão e nem um pouco diante de seu Pai. Como sabia que seu Pai não o atacaria, achou que só poderia ser coisa de seu irmão.

-Meus filhos! Eis que vejo que as forças infernais têm a ousadia de vir até nossa presença e nos atacar! Preparemo-nos e vamos enfrentá-las!

Assim se equiparam com todas as armas, o exército inteiro, paramentado e pronto para enfrentar todo tipo de força. Quando Sahasetaum saiu dentre os redemoinhos de estrelas e energias cósmicas, o exército inteiro entrou em comoção, o próprio Iahravel se assombrou com semelhante aparição. Mas logo deu o comando de ataque, sendo seguido por inúmeros disparos das armas mais pesadas.
Os fachos luminosos ricocheteavam pelo corpo de Sahasetaum, como pipocas na panela, mas o ataque o enfureceu. Simplesmente com uma de suas patas, golpeou toda a tropa, jogando-a de volta ao castelo de Iahravel, que quase não vem abaixo com o impacto.
Embora desacordado, Iahravel pode escutar bem a advertência de Sahasetaum que, se me permitirem, irei omitir, pois é terrível demais para que se escreva e pior ainda de se ler. Avisado o primeiro filho, Sahasetaum dirigiu-se ao outro. Esperemos que Leviathan receba melhor Sahasetaum, que já está irritado. Que o faça ainda ter confiança ao menos em um filho e o tranqüilize, senão, toda luta terá sido em vão!
Do mesmo jeito que se aproximou do centro do Império das Luzes, Sahasetaum aproximou-se do centro do Reino das Trevas, com as mesmas consequências disso.
O Conselho das Trevas, receoso de que isso fosse um plano de Iahravel para derrotá-los, estava para ordenar a prontidão,quando Leviathan acordou e ergueu-se.

-Soberano Leviathan! Melhor se esconder e vestir tua armadura! Sentimos que teu inimigo está tramando tua morte!
-Não sabem o que dizem, amigos. Este não é meu irmão, senão já o sentiria. E? algo maior, que me toca o coração. Devo recebê-lo em minha casa e tratá-lo bem, seja lá qual for o motivo de vir me visitar.

Apesar dos pedidos, Leviathan sai, dispensando sua guarda e até seus ministros de acompanhá-lo, sai sem uma arma sequer. Não contendo sua euforia, deixa ser visto em seu poder, como o Dragão de Sete Cabeças e Dez Chifres. Diante da tempestade cósmica faz uma saudação reverente.

-Pai, o que queres de mim? Diz o Soberano das trevas. No que surge Sahasetaum e lhe explica:
-Não sou seu Pai, mas vim por causa dele, para advertir a ambos os filhos de que o conflito deve ter fim.
-Se não é meu Pai, quem és, criatura, capaz de trazer ternura ao meu negro coração?
-Eu sou Sahasetaum, o que foi designado pelo Universo, para controlar as atividades das Luzes e das Trevas. Se necessário, julgá-las!
-Então entre e seja bem vindo. Nada tenho a esconder ou me envergonhar. Antes de dominar, prefiro mais a livre associação dos seres à minha causa. Se eu luto, é para manter a salvo tantos planetas e vidas que existem pelo Cosmo, sem esperar destes, gratidão ou reconhecimento. Como criaturas racionais e feitas da mesma matéria que a minha, embora mortais e frágeis, devem ser livres para terem seu destino e sua crença, seja nos princípios das Luzes ou das Trevas.

Tendo escutado e visto tanta sinceridade, sabedoria e nobreza, Sahasetaum acalmou-se, até esquecendo-se do incidente com Iahravel. Aceitou o convite e entrou na casa de Leviathan.
Foi então apresentado à rainha das Trevas, Nahema, esposa de Leviathan. Apresentou-o à princesa das Trevas e sua filha, Lilith, mais seu companheiro, Samael.
Lilith saudou o imponente guerreiro, com o mesmo beijo carinhoso que uma neta daria a seu avô. Tanta força e poder lhe provocavam, mas apesar deste amor súbito, sua paixão verdadeira era por Samael.
Sahasetaum até poderia tirar partido disso, mas para ele, Lilith era quase menos que uma criança. Nahema era tão bela, senão mais que Lilith, mas sentia-a como sua própria filha. Então preferiu continuar só.
Leviathan levou-o então ao Conselho das Trevas, que o recebeu atordoados, tamanha era a potência. Era o mesmo que um ancião ter entrado numa brincadeira de roda.
Preparou-se então uma festa de boas vindas, para apresentarem-se todos ante Sahasetaum. Satan e Moloch pediram-lhe para que abençoasse a união deles, mas Sahasetaum era mais juiz que sacerdote. Belphégor fez uma bela explicação dos princípios das Trevas, mas Sahasetaum a escutava, como um professor que tentava prestar atenção à apresentação de uma aluna. Lucifuge apresentou sua tese de acusação contra o Império das Luzes, mas Sahasetaum como juiz sabia perfeitamente os prós e os contras dos dois filhos do Universo. Belzebu e Baal Chanan fizeram um verdadeiro espetáculo aéreo, mas Sahasetaum, que já tinha visto a dança das estrelas, planetas e galáxias, nem se entusiasmou. Enfadonho, para Sahasetaum, foi ouvir as abordagens alquímicas sobre fenômenos naturais e sobrenaturais de Astaroth, já que Sahasetaum era a própria essência do que existe de mais sobrenatural. Uma última tentativa por Asmodéia, em sua dança de fogo com serpentes inflamadas, apresentação aparentemente inútil, já que Sahasetaum poderia facilmente brincar com o maior e mais poderoso dos sóis. Mas não poderia deixar de admirar, com que determinação defendiam seu Reino. Os acompanhava com os olhos quando estes, exaustos, voltavam aos seus lugares.
Foi ao observar Asmodéia que notou uma criatura sem igual em toda a extensão do Cosmo. Estava a cobrir com uma manta a Asmodéia e a servi-la com vinho para relaxar, refrescar e acabar com a sede dela. No meio daquele carnaval, era a única que, calma e dedicadamente cuidava do seu trabalho, sem nunca desviar a atenção a ele, o convidado e o festejado. Quis conhecê-la melhor, mas naquela folia era impossível. Então se retirou junto com ela, para outro espaço, a fim de conversar.
Assustada com a repentina desaparição de todas as coisas em torno dela, olhou para o único lugar onde havia mais alguém, que era Sahasetaum.

-Quem é, adorável criatura? Perguntou o gigante.
-Que quer de mim, senhor? Não sou mais que a governanta de Asmodéia.
-Não serás mais, se assim quiseres. Peço-te que me acompanhes.
-Onde irás levar-me, senhor?
-Quero levar-te até onde criatura alguma jamais foi.
-Mas por que eu, que te sou completamente desconhecida?
-Pois então, apresente-se. Eu sou Sahasetaum, incumbido de julgar as Luzes e as Trevas. Agora é tua vez.
-Eu sou Vrtra, venho da mesma tribo de Moloch e fui incumbida de cuidar de Asmodéia, enquanto ela não alcança a idade da responsabilidade.
-Criaturas como tu foram feitas para comandar. Como eles puderam relegar-te tão degradante serviço, a tão pueril criatura como Asmodéia? Agora vejo porque tentam enganar-me. Tentaram esconder-me essa injustiça!
-Oh, não, senhor! Não foi por injustiça! Na verdade, Asmodéia cuida de sua parte, mas eu a administro, sugerindo-lhe indiretamente, por conselhos.
-Pois então, deixe-a agora, deve ter tido aulas suficientes, ela já está bastante crescidinha para precisar de uma governanta. O que me diz, queres ir ou não?

Vrtra aceitou, pois temia o que poderia lhe acontecer se recusasse. Sahasetaum a fez voar consigo pela imensidão do Cosmos através de todas as regiões, tanto das Trevas quanto das Luzes. Levou-a então, por através da região que o Universo regia, o lar de Sahasetaum e ela maravilhou-se.
Pousaram em um lugar que superaria qualquer definição de beleza ou feiúra, porque simplesmente ali tais conceitos não tem utilidade, já que na região mantida pelo Universo estão os planetas, galáxias e seres que superaram todos os medíocres referenciais de valor.

-Seja bem vinda Vrtra, ao coração do Universo e ao meu lar. Onde coração e mente são coisas únicas, existindo por todos os princípios negativos.

Sahasetaum pousou suave, delicadamente e ternamente uma de suas mãos no ombro de Vrtra que estremeceu.

-Compreendo teu temor, criatura. Eis porque te trouxe para cá. Somente aqui poderia fazer-te tocar no nervo do universo e torná-la como uma galáxia ou algo de uma existência tão complexa como Leviathan, Iahravel e quase tão poderosa quanto eu.
-Senhor! Mas eu?!
-E mais ninguém conheço que pudesse ser assim. Só assim perderá o medo por mim, terá tua liberdade. Se algum dia tu vieres a nutrir apreço por mim, terá capacidade de me falar por igual, como igual será recebida e viverá comigo. Acha que é possível? Por mérito e esforço, uma criatura evoluir tanto?

Das garras de Sahasetaum surgiu uma esfera que mais parecia a própria vontade do Universo, a mesma vontade que criou tantas coisas

-Sim, é possível! Eu mesma vi inúmeras vezes, criaturas menos evoluídas que nós, chegarem ao extremo. Faço parte de um reino, cuja característica e formação está em criaturas que conquistaram formas de existência mais dignas. Então...eu também...

Vrtra tocou,ainda receosa a esfera, na expectativa de que fosse sentir dor ou de que seria destruída. Mas a esfera desvaneceu ao seu toque, como uma bolha de sabão. Tão simplesmente como a chuva cai de nuvens carregadas, Vrtra agora irradiava essa força, que antes era a esfera.

-Agora retornaremos. Dar-te-ei o tempo que quiser para decidir teu destino, pois agora tempo é o que não lhe faltará.

No instante seguinte, já estavam de volta no mesmo lugar de onde partiram. Sahasetaum deu a entender que já partia, logo todos se puseram a fazer as despedidas.
Ao desaparecer Sahasetaum, Leviathan ainda parecia senti-lo presente. Notou Vrtra, que estava diferente. Esta lhe contou tudo, pois ainda o considerava o seu soberano.

-Então agora eu é que te devo respeito, Vrtra. Disse Leviathan, inclinando-se em reverência.
-Não, meu soberano. Ainda não decidi. Seria muito fácil tirar proveito de minha condição, para forçar Sahasetaum a ter preferência pelo nosso Reino.
-Tenho certeza que ele o faria por ti. Mas desconfio que, antes mesmo de a ter visto, ele já tenha nos julgado, nos considerando dignos de sua piedade e confiança. Caso contrário, não teria feito o que fez contigo. Antes, já o nosso Reino escolheu por viver, de forma a orgulhar o Universo. Agora, estamos praticamente morando no coração do Universo, graças a ti.

Eis talvez o porquê, leitores, no final, as Trevas venham a vencer as Luzes. Primeiro porque as Luzes perderam completamente o contato com o Universo, vivendo em seu estúpido fanatismo. Em segundo, porque as Luzes não souberam receber, nem reconhecer Sahasetaum, como enviado do Universo ou como um dos seus. Por outro lado, as Trevas, em primeiro, viveram sempre em acordo às regras básicas do Universo, sabendo viver seu destino. Em segundo, por ter Sahasetaum encontrado alguém com quem poderia deixar seu coração repousar.
Vrtra ainda não sabe se aceita a oferta, pois estará muito preocupada por vários milênios, com a ameaça constante que se tornou o Império das Luzes ao seu Reino. Talvez, quando tiverem paz em si, possa levar um pouco a Sahasetaum, ao simplesmente aceitar a oferta. Mas o mais irônico nisso é que só será possível, quando finalmente a prepotência do Império das Luzes for detido pelo reino das Trevas. Ou seja, o conflito que Sahasetaum queria deter, continuará. Só que, a partir deste momento, será ele que ficará angustiado e irritado, sem saber ao certo o momento exato de agir, já que foi criado com esse propósito. Mas isso não demorará, assim espero! Sahasetaum deseja dar fim a este conflito, viver o quanto mais cedo possível com Vrtra e ter um pouco de paz!

Consultem minha pequena versão sobre a criação, sobre o surgimento de Leviathan e de Iahravel, do reino das Trevas e do Império das Luzes. Tem um capítulo, onde faço uma pequena tentativa de antever como será tal conflito final entre os dois irmãos.
Pode lhes parecer um pouco pretensioso. Praticamente me delego a posição de escritor do profano e que serei para as Luzes, o falso profeta que anuncia a Besta, o que fará com que tenham de me eliminar.
Irão rir da minha fantasia, de que justamente um ser tão medíocre quanto eu, possa vir a tumultuar o Império das Luzes, após sua vitória provisória, ao plantar a árvore do Fogo Negro em plena Nova Jerusalém.
Bom, meus amigos, hão de convir que meu intenso trabalho já deve ter surtido algum efeito em minha Deusa, Lilith. Sem dúvida, ela comentou minha predisposição com Vrtra. Se esta me julgar merecedor de tal apreço, certamente irá pedir por minha proteção a Sahasetaum, para que minha missão seja bem sucedida. Porque não seria muito ético, da parte de ambos, tomarem nitidamente parte do conflito, então se servem de peças mais sutis, que possam trazer, enfim, o resultado almejado por ambos.
Afinal, por uma paixão a Vrtra, Sahasetaum se diminuiria a ponto de proteger uma vida mortal e tão medíocre quanto a minha. Sensacional vai ser testemunha-los consumando esse amor, ao fim do conflito. Podem ter certeza de que estarei observando como Sahasetaum ficará feliz com a recompensa desse esforço.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Quinta revelação

Não os consulteis, mas vossos corações. 
Não prestigiem os cultos que orquestram, 
mas antes, dais culto aos vossos lençóis. 
Aos homens foi dado um bastão, 
porque aí se encontra a verdadeira magia. 

Cuide bem de vossa chave, 
pois se quiserdes desvendar os mistérios da existência, 
vos é imperativo que saibais buscar a fechadura, 
o encaixe perfeito só se poderá alcançar na tentativa! 

As mulheres têm a coroa, 
porque aí se encontra a verdadeira sabedoria. 
Cuide bem de vossa fechadura, pois sem uso enferrujará 
e vos tornará em mulheres amargas, histéricas ou neuróticas. 
Como vos podeis querer manter um tesouro guardado? 
Sem ele não haverá evolução da humanidade! 
Somente pelo vosso portal que tal riqueza poderá passar, 
por isso que vos é necessário 
que deixeis que a chave experimente a fechadura!

Deixe de lado a vergonha ou o recato, 
que isso é submissão moral a pequenos! 
Eu proíbo-vos apenas isto: que se cubra ou vele vossa beleza, 
pois o que é bonito é para se mostrar. 
Cobrir-vos, somente com vossos lençóis, na cama, com vossos escolhidos. 

O único sacrifício agradável a Mim, seu Senhor, 
não é sangue de animal, mas o sangue virginal 
que ofertar em vossa primeira noite, uma única gota Me basta. 

O único louvor, não se encontra em templos, mas em motéis; 
não em cânticos, mas nos gemidos que precedem o orgasmo. 
Vós não encontrareis a salvação na observância das virtudes, 
nem na caridade, nem no dízimo, nem na oração, 
nem na busca obsessiva da pureza de espírito, como vos ordenam.