sexta-feira, 20 de maio de 2022

Quando Ibraim fechou a loja

O Paraíso, para o ateu, é esta ilusão de ser mais racional, inteligente, lógico do que outras pessoas, simplesmente pelo fato de se dizer ateu.


[Apologia ao Frei Onfray]


Ninguém entendeu muito quando Ibraim abriu sua loja na Vila Olimpo. Quando uma alma chega nessas paragens, sabe-se quase tudo dela. Então é realmente muito engraçado quando uma alma como a do Ibraim chega por aqui. Pois em sua encarnação humana, ele se vangloriava de dizer que era ateu. Sim, isso é hilário, aconteceu o mesmo com Albert Einstein que tem algo em comum com Ibraim: sua descendência e herança Judaica.


A minha entrevista com Tanya descreve mais ou menos a interessante contradição. Na época em que o Orkut existia e eu participava da saudosa Evangelize-me Se For Capaz, o que mais me divertia era perceber que essa autopromoção que os ateus fazem é o mito inerente ao ateísmo. Eu até inventei uma alcunha para o Daniel Sotto Maior, o sobrenome dele parecia marca de arroz.


No Patheos eu conheci o Bob Seidensticker que também é criticado e satirizado em meus textos. Ele agora desfila no Onlysky, um blog coletivo feito e mantido por humanistas, secularistas e ateus, muitos dos quais migrados do Patheos, mas que cometem os mesmos deslizes embaraçosos.


Bob, por exemplo, comparou as orações com o botão de fechar a porta que tem nos elevadores. Eu comentei: “Você mesmo disse que esse botão não funciona porque estava desabilitado, portanto, funciona. Portanto, com uma lógica simples e comum, você quase concorda que as orações são como uma espécie de tecnologia. Que fracasso!”


Neil Carter compara o Cristianismo com o Bitcoin e (como todo ateu faz) comete o “pecado” da generalização (ou da hipérbole), pois embarca todas as religiões na mesma analogia. Eu comentei: “Você não tem o conhecimento do que é dinheiro e como funciona o mundo financeiro.”


Phil Zuckerman tentou orar para Pan para que Ele o ajudasse a chegar em casa. Se Phil tivesse o mínimo de cuidado em se informar, teria visto que “enviou suas orações” para o destinatário errado. Pan lida com “outros assuntos”, viagem é mais o ramo de Hermes e Mercúrio.


Ele diz: “Através desses jogos mentais instantâneos, experimentei um profundo entendimento sobre como a religião funciona.”


Mais adiante: “Quaisquer eventos – mesmo os exatos dois eventos opostos – podem ser interpretados da mesma maneira e para a mesma conclusão divina. Se Deus responde a sua oração – voilà! – prova de Deus. Se Deus não responde a sua oração, certamente há um plano mais profundo em jogo, e assim —voilà! — ainda prova de Deus.”


Eu comentei: “Quando você pensa que se Deus não responde suas orações é uma prova de que Deus não existe, é o mesmo jogo mental.”


Mas nem tudo é um desfile de embaraçosa estupidez. Tem textos interessantes. Como o texto de Hemant Mehta sobre 26 perguntas aos cristãos que cantam música de adoração no avião. Eu conheço bem essa realidade, mas em outros transportes: eu vejo isso em ônibus e metrô. Provavelmente isso acontece em barcos (navios) também. Recentemente eu fui testemunha de um evento assim e eu pude ver (extasiado) a reação adversa das pessoas diante desse “spam” público.


Eu vou reproduzir (traduzido) algumas perguntas que são realmente pertinentes:


— Você entende que algumas pessoas preferem o silêncio no avião para tirar uma soneca, ou trabalhar, ou simplesmente fugir dos cristãos irritantes que existem em todas as outras esferas de suas vidas?


— Você percebe que essa música não é divertida mesmo fora do avião?


— Qual seria sua reação se não-cristãos tentassem algo assim? [medalha de ouro]


— Você pediu permissão a todos ou apenas assumiu que todos queriam ouvi-lo porque você vive em uma bolha?


— Você entende agora por que as pessoas dizem que a “perseguição” cristã é um mito?


— Por que nenhum dos outros cristãos no avião não fez nada sobre isso?


— Por que você acha que sequestrar um avião para Jesus é bom, mas uma bandeira de arco-íris em uma sala de aula é muito agressiva ?


— Que tipo de desconto a companhia aérea oferecerá aos passageiros em um voo futuro? Porque é melhor eles estarem recebendo alguma coisa.


As perguntas 5 e 6 fazem muito sentido, afinal, a página Gospel Prime adora distorcer fatos para mostrar como a Igreja é perseguida, mas não mostra as circunstâncias em volta da “notícia”. Basta ver (e ler) as notícias (e pregações) em torno das pessoas LGBT [ou das religiões da Diáspora Africana, ou das religiões não-abraãmicas], do pânico moral gerado em torno da “Ideologia de Gênero” e da “Agenda Gay” ou mesmo do absurdo da “Terapia Gay” para entender o que eu estou falando. Grupos de cristãos, padres e pastores estão cometendo crimes e os cristãos nada fazem a respeito dessa intolerância, desrespeito e ignorância. Então eu meio que entendo o ateu, mas isso não é desculpa para esses momentos embaraçosos de estupidez. O que me faz voltar ao Ibraim. Ele abriu uma loja de livros de filosofia e ciência. No primeiro dia, a loja recebeu a visita dos pensadores e cientistas ali citados. Foi vergonhosamente ridicularizado. Fechou a loja no dia seguinte. Tal como em Salvador, não existe ateu por aqui.

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