sábado, 7 de maio de 2022

As Brunas de Avalon

Para encerrar essa série de literatura medieval, mais especificamente, o romance de cavalaria e a poesia épica, nós temos as obras que fazem parte da Matéria da Bretanha.

Existem sub-ramos, um destes lida com a mitologia gaélica, típica da Irlanda. O Ciclo de Ulster centrado no rei (mitológico) homônimo, falando da época pré-cristã.

O mesmo pode ser dito do Ciclo Feniano, centrado no herói (mítico) Fionn Mac Cumhaill. Ambos fazem tanto parte do chamado Ciclo Histórico quanto do Ciclo Mitológico e citam os Tuatha De Dannan.

Entretanto, eu não creio ser exagero dizer que as lendas mais conhecidas pertencem ao Ciclo Arturiano, dentre as quais se encontra o Mabinogion.

Parcialmente baseado nos relatos de Godofredo de Monmouth sobre Uther Pendragon cersceu a lenda sobre o rei Artur, ao redor de quem o Mabinogion (bem como toda a literatura do Ciclo Arturiano) orbita.

O Mabinogion tem quatro lendas, de acordo com o Wikipédia:

Pwyll, Príncipe de Dyfed fala dos pais de Pryderi, de seu nascimento, perda e recuperação.

Branwen, Filha de Llyr fala principalmente do casamento de Branwen com o rei da Irlanda. Pryderi aparece, mas não desempenha um papel de destaque.

Manawyddan, filho de Llyr fala do retorno ao lar de Pryderi com Manawydan, irmão de Branwen, e das desventuras que lá se seguem.

Math, filho de Mathonwy fala principalmente de Math ap Mathonwy e Gwydion, que entram em conflito com Pryderi.

Além do protagonista, outros personagens são amplamente conhecidos pela cultura popular: Merlim, Morgana e Mordred.

Essa lenda é a fonte de inspiração do sucesso da série de livros "Brumas de Avalon", bem como o filme homônimo.

Uma cena, tanto do livro quanto do filme, que certamente causou polêmica no mundo ocidental contemporâneo, é aquela em que Morgana e Artur realizam o Grande Ritual durante as festa de maio.

Parte das tradiçoes e crenças antigas, as fogueiras de maio marcavam a celebração do equinócio de primavera e era comum as pessoas terem relações sexuais. Nessa época, a comunidade escolhia a rainha e o rei de maio, para representarem a Deusa e o Deus. Nessa cerimônia era realizado o hiero gamos e Artur e Morgana eram irmãos. No livro, Morgana aparenta ter remorso contra essa tradição, mas eu vejo aqui um reflexo da influência cristã.

Entretanto não foi apenas por ter retratado o casamento sagrado que a escritora, Marion Zimmer Bradley, teve seu nome maculado. Foi pelo envolvimento dela (e de seu esposo) em relações sexuais proibidas.

Alguns até chegam a citar trechos da obra como indício. Novamente, reflexos de nossa cultura influenciada pelo Cristianismo. Até a Idade Média era bastante comum jovens mulheres casarem com homens bem mais velhos do que elas. Isso pode ser visto até na lenda de Cristo, onde Maria/Miriam se vê praticamente obrigada a se casar com José, sendo que alguns estudiosos dizem que ela tinha menos que 18 anos e José tinha mais de 40.

Outro tabu que a sociedade ocidental é sensível é o do incesto. Ainda que as lendas da Bíblia estejam repletas de incesto e relações sexuais proibidas.

Apesar de estramos na Era Contemporânea, no século XXI, o mundo ocidental praticamente desconhece (ou ignora) o trabalho de Freud e Kinsey. O mundo ocidental ainda tem forte influência do Cristianismo e sua doutrina contrária a tudo que se refere ao mundo, à natureza, ao desejo, ao prazer e ao sexo.

O resultado evidente é a opressão e repressão sexual, recalques e traumas. Nada disso nos faz entender ou resolver nossa libido.

Talvez a solução seja adotarmos o Paganismo Moderno. Aqui, o mundo, a natureza, o desejo, o prazer e o sexo são reconsagrados.

Ao invés de continuarmos nesse culto de dor, sofrimento e morte, voltemos a celebrar os ritos antigos, onde há alegria, felicidade, arrebatamento e êxtase.

Para que todas as Brunas achem seu Richelli e possam tornar-se um só no encontro dos corpos.

Assim seja, assim é, assim será.

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