sexta-feira, 27 de maio de 2022

Juliano, o Apóstata

É válido retomar, brevemente, de onde e como nos chegou primeiramente uma noção de deus; depois, comparar as coisas que são ditas sobre o divino pelos helenos e pelos hebreus e, com isso, perquirir os que não são nem helenos nem judeus, mas são da seita dos galileus, por que escolheram as suas crenças em vez das nossas e, depois disso, questionar por que, com efeito, não permaneceram com aquelas, mas, afastando-se delas também, dirigiram-se para um caminho próprio."

De que não é por ensinamento, mas por natureza que se dá o conhecimento de deus entre os homens, seja-nos uma primeira prova o desejo comum a todos os homens, particular e publicamente, como indivíduos e nações, concernente ao divino. Todos, com efeito, sem ensinamento, acreditamos em algo divino, acerca do qual não é fácil para todos conhecer com exatidão, nem possível, para os que o conhecem, comunicá-lo a todos. Com certeza, além dessa ideia, comum a todos os homens, há ainda outra. Todos, pois, dependemos do céu e dos deuses que aparecem nele tão naturalmente, que, mesmo que outro homem concebesse um outro deus além desses, de qualquer maneira lhe designaria o céu como morada, sem separá-lo da terra, mas supondo que o rei de tudo, sentado num lugar mais honorável, por assim dizer, sobrevigia de lá as coisas daqui.

Flávio Cláudio Juliano, Imperador Romano, chamado (e conhecido) posteriormente de Juliano, o Apóstata. Obra: Contra os Galileus.

Em 11 de janeiro de 361, Juliano, o Apóstata, responsável pela negação do cristianismo e pelo restabelecimento do paganismo em Roma entra triunfalmente em Constantinopla, sua cidade natal.

Foi o último imperador romano pagão. Depois da morte de Constantino, seu tio, em maio de 337, o pai de Juliano e outros parentes foram vítimas de um massacre em Constantinopla desencadeado por Constâncio II. Ele e seu meio-irmão, Galo, foram poupados devido à idade.

Durante seis anos, Juliano e Galo viveram encerrados numa villa em Macellum, na Capadócia. Juliano recebeu severa educação cristã, tendo sido ordenado leitor de Sagradas Escrituras. À parte, leu os autores clássicos pagãos que sempre o fascinaram. Mais tarde, por volta de 350, em Constantinopla e Nicomédia, estudou ao lado de filósofos neoplatônicos como Máximo de Éfeso, que inspirou sua conversão a uma forma mística de paganismo.

Era homem de formação erudita. Redigiu Hino ao Rei Sol, bem como um conjunto de vários textos que constituiriam uma teologia pagã unificada, fundada sobre um monoteísmo neoplatônico e solar.

Constâncio nomeou-o César em 355, quando foi chamado a Milão. Foi então enviado à Gália para conter as invasões de francos e alamanos, aonde foi vitorioso e restabeleceu a linha fronteiriça do Reno.

Em 360, Constâncio decidiu retirar as melhores tropas de Juliano, deslocando-as ao oriente, para a campanha contra os persas. O descontentamento entre os militares foi grande. Com o início da marcha das tropas, nas imediações de Lutécia, elas se amotinaram e trataram de aclamar Juliano como Augusto. Constâncio recusou tal aclamação, o que fez com que Juliano marchasse contra ele em 361. Constâncio, então em Antióquia, decide contra-atacar, mas morre em Tarso, vítima de uma febre.

Ao entrar em Constantinopla, Juliano logo impôs um programa de reformas. Livrou-se dos funcionários mais odiados de Constâncio e proclamou a liberdade de culto para cristãos e pagãos, reabilitando o clero que estava no exílio. Reduziu de forma drástica o pessoal do palácio imperial. Diminuiu alguns impostos e reforçou o controle das finanças públicas. 

Em sua religião helenística, acolheu toda a cultura grega, tentando devolver à literatura pagã o seu conteúdo religioso. Cristãos como São Gregório de Nazianzeno indignaram-se com a medida. É verdade que houve um favorecimento dos pagãos, mas proibiu-se qualquer ação depreciativa contra os cristãos. Isso não impediu que Juliano atacasse duramente o cristianismo, como na sua obra Contra os Galileus.

A austeridade e o desprezo ostentados por Juliano com relação aos prazeres populares do teatro e das corridas de cavalo irritaram ainda mais a plebe cristã. Homem de inteligência viva, respondeu aos insultos do povo com a publicação do Misopogone, uma defesa satírica da sua obra em que, depois de zombar de si mesmo, condena o povo de Antióquia.

Juliano foi um elegante e refinado escritor em língua grega e suas obras constituem uma rica fonte de informações sobre a história do Império no seu tempo. Além dos títulos mencionados, escreveu panegíricos, cartas e uma sátira sobre os imperadores que o precederam.

Fonte: https://operamundi.uol.com.br/historia/19088/hoje-na-historia-361-juliano-o-apostata-retorna-a-sua-cidade-natal-constantinopla

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