Um cachorro pensando:
-Meu dono me dá abrigo, me alimenta e cuida de mim. Ele deve ser Deus.
Um gato pensando:
-Meu dono me dá abrigo, me alimenta e cuida de mim. Eu devo ser Deus.
Os cinófilos que me perdoem, eu sou ailurófilo. Quem tem gato, sabe. Esses seres estão ganhando popularidade, mas seu porte é nobre e seu carisma é divino.
O Egito Antigo sabia disso. E os egípcios antigos mumificavam seus gatos. Em Bubastis, havia um templo dedicado à "Senhora do Leste": Bastet.
Pela árvore familiar dos Deuses egípcios, ela é filha de Rá e parente de Ísis. Quando eu comecei a estudar a mitologia egípcia, eu achava que ela era consorte de Anúbis. Mas quando falamos de Deuses e mitologia, Bastet é também considerada consorte de Rá. Por sua associação com Rá, Bastet é tida como uma Deusa Solar e, por sua natureza, uma divindade doméstica, protetora do lar e da família.
Antes da cultura pop moderna redescobrir (e interpretar) os Deuses egípcios (gregos, romanos e celtas), o culto de Ísis quase se tornou uma religião de massas pelas mãos do Império Romano, o mesmo que disseminou a helenização pelo mundo conhecido, também disseminou a primeira "egitomania". Os ingleses fizeram a segunda. Isso preservou, embora de forma superficial e distorcida, a cultura do Egito Antigo. Quando Apuleio escreveu sua obra, o culto de Ísis (bem como a dinastia egípcia) estava decadente, sobreviveu depois de ser helenizada e romanizada.
Um bom exemplo da apropriação comercial de símbolos antigos é o ankh, ou cruz de ansata, um dos muitos símbolos que foram apropriados pela "New Age", que surgiu na Era Moderna e foi criada pelo sistema capitalista, que transformou esse símbolo em mais um produto para consumo em massa e é (ab)usado (indevidamente) pela subcultura (pop) vampírica.
Certamente os quadrinhos ( especialmente a Marvel) têm rico e farto material nos mitos antigos. O mesmo pode ser dito do cinema e dos videogames. Um bom exemplo é o jogo "God of War". Mas não foi a violência explícita desse jogo que causou furor e comoção. Foi uma pequena animação erótica (pornográfica) com Ankha.
Essa gata faz parte dos personagens do jogo "Animal Crossing" e sua aparência (e nome) é uma evidente referência aos mitos egípcios, à cruz de ansata e Bastet. Inventaram até sua lenda, de que ela foi a gata de Cleópatra.
Outra característica curiosa da cultura ocidental, é a glorificação da violência e a vilipendiação do sexo. Toda essa repressão/opressão sexual, esse recalque, os traumas e tabus em torno do sexo, são consequências da influência do Cristianismo. Igualmente curioso é ver na língua portuguesa diversas palavras, prefixos e sufixos emprestados de outras línguas, mas dependendo do uso, têm significados perniciosos. Como o sufixo "filia", uma das muitas palavras que os gregos antigos usavam para definir "amor". Tem valor positivo em algumas palavras, tem valor negativo em outras. Quem gostou da animação erótica feita com Ankha poderia ser acusado/a de zoofilia. O mundo ocidental inventou os problemas e as criminalizações para as expressões da sexualidade.
Alheias a tudo isso, Ankha e Bastet continuam com suas vidas felizes, tendo uma vida sexual mais saudável do que nós, desfrutando da bem-aventurança divina, fazendo do sol uma bola.
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