Oh, nobre visitante, que aqui vem em busca de algo para entreter, surpreender, informar ou pensar, sente-se e me ouça.
Um profeta disse: "maldito o homem que confia no homem". Mas eis o homem seguindo mais seus sacerdotes, padres e pastores do que os Deuses.
Eis um mantra para levar em sua jornada: um sacerdote, padre ou pastor não é melhor que você mesmo, apenas mais um humano. Um texto sagrado é igual a todos os outros, foi igualmente escrito por um humano como tu.
Que a minha voz ressoe e chegue até estes que se postam na encruzilhada, cheios de pompa e gravidade, proferindo palavras no alto do pedestal que fizeram para si mesmos. Eu os conheço e sei bem seus talentos, pois eu estive no mesmo lugar em que estão. Falar palavras a esmo é fácil, difícil é praticar o que se acredita.
Eu ouvi aquela em mágoa fingida dizer: "oh, a ingratidão". Diga a ela, na volta, que disso não pode fazer queixa, pois dela recebi traição e abandono. As juras feitas dentro do círculo sagrado foram lançadas fora, ou por capricho, ou por não ter conseguido tirar meu dinheiro.
Pergunte a ela se consegue ver no espelho de Circe o orgulho, a arrogância e a prepotência nas quais ela faz o trono que ela mesma construiu.
Diga a ela que só ensina quem tem algo a ensinar. E que o vínculo entre mestre e aprendiz não pode ser vilipendiado. Diga que, se fez porque quis, não lhe cabe exigir ou cobrar. Se fez porque quis, não pode esperar retorno ou compensação. Diga que, ao se colocar comodamente na posição de professora, assume um compromisso que não pode ser quebrado.
Diga que acolhimento e confiança são caminhos de duas mãos. Como dizem os Romanos, quid pro quo (ou do ut des). Quem pretende acolher, não pode mandar embora seu hóspede. Quem pede confiança, deve dar confiança.
Diga que compartilhar significa partir e comer do mesmo pão. O que se compartilha não é alugado nem cobrado.
Ah, pobre sombra, quando diz: "não ensinei porque esperava o reconhecimento", o que sua alma grita é: "reconheça-me!". O que ela diz, na verdade, é: "eu sou sua professora, portanto, superior à você".
Ah, pobre sombra, quando diz: "não acolhi porque esperava acolhimento", o que sua alma grita é: "submeta-se à minha vontade e pague o aluguel da minha acolhida".
Ah, pobre sombra, quando diz: "não confiei por tolice, mas por acreditar em honra", o que sua alma grita é: "seja grato e obediente, que talvez eu te dê respeito e consideração".
Ah, pobre sombra, quando diz: "não compartilhei esperando devolução", o que sua alma grita é: "assuma sua dívida comigo e pague seu dízimo".
Diga que se ela fez o que fez por ser da natureza dela, que devia aceitar que eu fiz o que fiz conforme a minha natureza. Então, nós somos iguais e admitir isso pode custar muito a ela e aos seus semelhantes.
Diga que o que ela diz do ingrato serve ao prepotente. O prepotente é erva daninha que encanta com a beleza de suas flores. O prepotente acredita que os outros precisam dele. O prepotente aponta para vultos (erros) na esquina (comportamento) que ele mesmo projeta. O prepotente chama as migalhas que ele joga no chão de abundância.
Diga que, quando e se, ela ficar cansada de toda essa pose, de ficar estática como uma Musa solitária no pedestal, ela sabe onde me encontrar, para que ambos possamos rir muito de tudo isso.
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