Jason Mankey escreveu em sua coluna “Raise the Horns” o
seguinte trecho [traduzido pelo Google Tradutor]:
“É uma história adorável, mas não verdadeira. O Deus
Chifrudo é uma construção moderna, não antiga, e embora seja verdade que ele
tem um pouco do Diabo em Seu DNA, isso também é uma adição moderna. Os
antigos não tinham um Deus com chifres universal, o que eles tinham eram vários
deuses com chifres (e chifres) que serviam a uma variedade de
necessidades. Esses deuses eram todos muito diferentes também, e às vezes
não se sincronizam de outra forma a não ser por terem ornamentação no topo de
suas cabeças”. [https://www.patheos.com/blogs/panmankey/2016/02/the-horned-god-not-as-old-as-you-think]
Eu acho engraçado, afinal, o Paganismo Moderno,
especialmente a Wicca e as religiões da Deusa, divulgam a Deusa Mãe, usando a
tese de Marija Gimbutas. Existem inclusive páginas que fazem uma leitura
[tendenciosa] de achados do período Neolítico para “provar” a “antiguidade”
dessa Deusa Mãe. Essa leitura/interpretação é bastante comum entre Diânicos e
grupos das “religiões da Deusa”, mas eu devo, infelizmente, seguir o raciocínio
de Jason Mankey e apontar que a Deusa Mãe é uma construção moderna, que os
povos antigos tinham diversas Deusas, muitas inclusive que simplesmente não se
encaixam nessa “teologia do sagrado feminino” patrocinada pelo Dianismo e pelas
“religiões da Deusa”.
Se vamos coletar a arte do neolítico para ler/interpretar como
sinais de uma religião primordial, então o Deus Hasteado é tão antigo quanto a
Deusa Mãe. Desde o Neolítico, ao lado da ”Donzela”, havia a presença de um "Bisão".
“Por milhares de anos, o símbolo do touro foi cercado por
uma aura mítica que abrange não apenas eras de história, perdurando até os dias
atuais, mas também a vasta gama de culturas que surgiram no mundo mediterrâneo.
As lendas e cultos tecidos em torno do touro e a parte integrante que este
animal maravilhoso, quase divino, representava na vida das pessoas é o tema de
"O touro no mundo mediterrâneo, mitos e lendas" no Museu Benaki. Uma
exposição sobre antiguidades do paleolítico à época cristã (objetos foram
emprestados do Museu do Louvre, do Museu Britânico, do Museu Ashmoleon, do
Museu de Chipre e de museus arqueológicos na Grécia), é organizada conjuntamente
pelo Museu d'Histoira de la Ciutat em Barcelona, onde também foi
originalmente exibido, e é realizado em Atenas sob os auspícios da Olimpíada
Cultural. De âmbito amplo, a exposição considera as imagens do touro como um
símbolo de fertilidade e poder, uma entidade divina e um objeto de medo e
veneração associados a antigos ritos de passagem, crenças sobre as origens do
mundo e a vida após a morte, como bem como com a vida de uma comunidade. A
exposição contém uma riqueza de ideias, reflete a semiótica dos mitos, os
cruzamentos culturais e os valores de todas as diferentes civilizações que se
desenvolveram na Mesopotâmia e na bacia do Mediterrâneo, desde a cultura
suméria à itálica, ibérica e romana pré-cristã, e em todas as regiões de
Chipre, Palestina, Assíria-Babilônia, Pérsia, Anatólia e Egito. Como costuma
acontecer com exposições que cobrem um terreno tão extenso, a exibição de
antiguidades no Museu Benaki não consegue desvendar totalmente essa teia de
ideias. É por isso que a exposição gira em torno de pontos gerais selecionados
e é estruturada em seções temáticas para facilitar a compreensão do espectador.
O catálogo suplementar fornece uma análise mais aprofundada por meio de ensaios
de especialistas. Touros pintados ou gravados nas paredes das cavernas
paleolíticas sugerem que, desde os tempos pré-históricos, o touro era associado
à energia cósmica e às forças de vida e morte. Na Anatólia, o touro era adorado
como filho da deusa-mãe, e seus chifres, que sustentavam o mundo, eram vistos
como os pilares do universo”. [https://www.ekathimerini.com/culture/13743/the-bull-in-the-ancient-world]
– traduzido com o Google Tradutor.
Na gruta de Trois Frères foi achada pinturas rupestres do
que foi chamado de “pequeno feiticeiro”. Nos sítios arqueológicos de Gobeklitepe,
Çatalhöyük, Alaca Höyük e Alişar Hüyük, frequentemente citados para falar dessa
“Deusa Mãe”, possui sinais de um “culto ao touro”. A presença do culto ao touro
está presente no povo Hitita, no povo Hurrita e no povo Anatoliano. No vale do
rio Indus, na civilização Harappan, foi encontrado o “Selo de Pashupati”. Na
Dinamarca foi encontrado o Caldeirão de Gundestrup. Em Paris foi encontrado o
Pilar dos Barqueiros. Esses são sinais da sobrevivência da crença do Deus
Touro, o Consorte da Deusa Serpente.
Uma simbologia não é imitada ou copiada sem que haja uma
origem em comum. Se a “Deusa Mãe” e seu culto tem sua origem no Neolítico, o
Deus Hasteado e seu culto tem sua origem no Neolítico. No âmbito do
subconsciente, no folclore popular, essa crença antiga sobreviveu aos reinos,
impérios, colonizações e aculturamentos. As crenças populares na Europa durante
a Idade Média e que foram denunciadas como heresia e bruxaria, são o registro
de que essa crença antiga resistiu até a imposição do Cristianismo. Quando a
Igreja e os Tribunais Seculares deram início ao Santo Ofício, tanto a
população, como os padres, os inquisidores, os juízes e reis, carregavam em si
esse conceito subconsciente de uma entidade cornuda que foi identificada com o
Diabo. O conceito, a ideia, de uma entidade cornuda de poderes mágicos imensos
que governa o mundo é, portanto, anterior ao Cristianismo e ao Judaísmo.
Toda a mitologia que envolve a bruxa, como o “sinal das
bruxas”, o voo com vassouras, a presença de “familiares” [animais que são guias
espirituais], o cozimento de poções no caldeirão. Todo o imaginário, popular,
clerical e governamental, sobre a Assembleia de Bruxas, sobre o Sabat e seu
Mestre, o “Homem de Preto”. Esses registros estão além de meros testemunhos
obtidos, na maioria das vezes, com tortura (o que não descarta os testemunhos
voluntários), são resquícios que estão presentes no imaginário coletivo por que
o poder clerical e secular é formado por pessoas que preservaram [ainda que inconscientemente]
essa antiga crença. A Igreja simplesmente vestiu Satã com esse conceito, de
onde procederam as acusações de que as bruxas faziam um pacto com o Diabo.
Então eu afirmo que qualquer pessoa que afirme ser um
sacerdote wiccano, mas que não acredita na antiguidade do Deus Hasteado, perde
todo o sentido de seu sacerdócio, perde toda credibilidade. Eu, que sou um
pagão ordinário (bem ordinário), tenho o orgulho e a ousadia de clamar bem alto
e em bom som o Nome do Antigo.
Ave, meu Doce Senhor.
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