Basta o interessado digitar no Oráculo Virtual [Google] o
termo “rede wiccana” para aparecer centenas de resultados. Como bom estudioso e
conhecedor dessa religião, eu vou abordar o assunto de forma mais panorâmica.
A citação mais apresentada é: "An Ye Harm None, Do What
Ye Will".
Eu escrevi sobre como Doreen Valiente teve o trabalho de
editar os sinais da influência de Aleister Crowley no Book of Shadows, eu até
traduzi um texto de Roger Dearnaley que abordava o assunto.
Não há como não notar a semelhança do Al Vel legis de
Aleister Crowley:
“Do what thou wilt shall be the whole of the Law.” [Al Vel
legis, III, 60].
Então, quando eu estudei o Tio Crowley, eu encontrei e fiquei
muito interessado nessa linha do Al Vel Legis:
“The word of Sin is Restriction. O man! refuse not thy wife,
if she will! O lover, if thou wilt, depart! There is no bond that can unite the
divided but love: all else is a curse. Accurséd! Accurséd be it to the aeons!
Hell”. [Al Vel Legis, I, 41].
Em suas obras, ao comentar a Lei de Thelema, ele endereça
esclarecimentos sobre o mistério do pecado e sobre a concepção da “palavra de
pecado é restrição”.
Eu escrevi “um estranho chamado pecado” e devo ter abordado
como os povos e religiões antigas viam o “pecado”. Eu escrevi sobre valores que
nos foram legados pelos pensadores antigos, como a chamada “regra de ouro” das
religiões: “faça aos outros o que gostarias fosse feito a ti”. Infelizmente eu
não encontrei se eu escrevi algo sobre a ética da moral contida no “mandamento”
da rede wiccana sobre “harm none”. Afinal, um médico, para tratar de um
traumatismo, precisa fazer um procedimento que irá causar “dano” para que o
paciente possa ser curado.
Eu tive aulas de cabala e lembro-me do rabino falar algo sobre
restrição e eu cito um texto que eu encontrei explicando esse conceito:
“Restrição, ou esforço pessoal ou resistência, é o que gera
luz duradoura em nossa vida, assim como na lâmpada elétrica, é a “resistência”
ou filamento que gera a luz, a nossa restrição nos faz gerar a luz verdadeira.
Uma lâmpada é composta por polo negativo, polo positivo e filamento que é a
resistência entre esses polos, se caso o filamento arrebentar por algum motivo
o que acontece? Um curto circuito, e um posterior apagão, a lâmpada queima, o
mesmo ocorre conosco, uma luz sem restrição, gera uma faísca de luz e um vazio subsequente.
Sem resistência ou filamento ou restrição a luz verdadeira não pode existir”. [http://universo72.blogspot.com/2011/10/o-que-e-restricao.html]
Eu vou indicar ao caro e eventual leitor que assista o episódio 26
do anime Neon Genesis Evangelion. Ao contrário do que se diz, anime não é coisa
de criança, é possível aprender muito e coletar muita filosofia. O anime tem
referências budistas e cabalísticas. Eu vou citar a parte importante:
Shinji: O quê? O mundo sem nada. O mundo sem ninguém.
Shinji: O mundo da liberdade.
Shinji: Liberdade?
Shinji: O mundo da liberdade que nunca seria restringido por ninguém.
Shinji: Isso é liberdade?
Shinji: Sim. O mundo da liberdade.
Rei: Como resultado, não há nada.
Shinji: A menos que eu pense.
Misato: Sim, a menos que você pense.
Shinji: Que diabos! Não sei o que devo fazer.
Rei: Você está inquieto.
Asuka: Você não tem sua própria imagem.
Shinji: Muito vago.
Misato: Tudo é vago. Isso é liberdade.
Ryouji: O mundo em que você pode fazer o que quiser.
Misato: Ainda assim, você está inquieto.
Fuyutsuki: Você não sabe o que deve fazer.
Shinji: O que devo fazer?
Gendou: Eu te dou uma [restrição].
Pelos meus estudos, práticas e experiências próprias, eu cheguei
na conclusão que está contida em uma frase da música do Legião Urbana: “Disciplina
é Liberdade”. Eu creio que não é complicado entender isso, você tem que optar
por vontade própria se vigiar, ter autodisciplina. Eu falhei nessa lição que eu
aprendi e eu estou pagando caro por isso. Quando você não conduz a sua vida,
você vai errar e o mais provável, dependendo do seu erro, é que a sua vida
acaba sendo conduzida por outra pessoa.
Entretanto o “pecado” é um artigo, um produto realmente
notável, tanto para a Igreja, quanto para o Satanismo LaVeyano [ainda que se
diga não-teísta]. Eu li e estudei as obras de Anton Szandor LaVey e cheguei na
conclusão que seu arcabouço pseudo-filosófico é repleto de plágios e é muito imaturo.
Nas “Nove Declarações Satânicas” está bem na primeira
declaração:
“Satã representa indulgência ao invés de abstinência”.
Um pálido reflexo do Hedonismo e do Epicurismo, mas até aí, toda
religião é fundada em imitações, assimilações, plágios e piedosas fraudes.
Indulgência é apenas outra face da moeda, do outro lado está a abstinência.
Inúmeras religiões [inclusive as da Nova Era] apregoam a abstinência como
método para a transcendência. A indulgência foi explorada pela própria Igreja
com o comércio [venda] de indulgências, o que anula a bravata do Satanismo
LaVeyano.
Qual a opção, se considerarmos a possibilidade que não
existe “livre-arbítrio” [eu citei um texto sobre isso]? Como o pagão moderno
pode encarar qual sua posição e papel, se tudo que existe é Vontade dos Deuses?
Como o pagão moderno pode encarar qual a política dos Deuses, quando nós
interpretamos algo como benéfico ou maléfico conforme nossa dúbia moral?
Afinal, nós somos filhos e filhas dos Deuses ou somos meros peões? O que eu
posso responder é que nós encarnamos nesse mundo, nos foi dado vida, exatamente
para descobrir isso e resgatar nosso verdadeiro propósito. Essa foi a minha
escolha: a de acreditar e confiar nos Deuses e nos meus Ancestrais. Eu espero
estar fazendo as melhores escolhas para chegar no meu objetivo.
Assim seja, assim é, assim será.
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