Quando, pela primeira vez, eu estive diante do círculo das bruxas, eu não soube dar uma resposta para uma questão tão simples.
Eu trazia perfeito amor e perfeita confiança ao círculo? Evidente que não.
Nós vivemos em um mundo, em uma sociedade e em um tempo nos quais estas coisas não são conhecidas, valorizadas, ensinadas, vivenciadas.
Nós fazemos poesias, músicas, quadros, teatros, falamos e cantamos o amor, mas não somos tão versáteis em demonstrar ou manifestar amor. Nossas vidas erótico-afetivas vão da mediocridade à indigência, por causa dos recalques, dos medos, das inseguranças, das proibições, dos tabus, que as elites, seculares e eclesiásticas, impõem.
A confiança, pobrezinha, nunca teve muita chance com brasileiros. Aqui a única lei que funciona é a Lei de Gérson. Esperamos, em vão, que nossos representantes, aqueles que compõem o nosso Governo, tenham e sigam um ideal que nós mesmos não temos nem seguimos. Confiança exige caráter, vontade e ação. O brasileiro médio é comodista, preguiçoso e covarde.
Por mais que se fale e cante, o amor somente pode existir e ser compreendido se ele for vivenciado, manifestado. Amar e ser amado é uma arte, pede ação e forma, não existem restrições ou limites. E esta vivência começa em amar-se, conhecer-se, aceitar-se. Acredite, não é fácil contrariar os ditames sociais, do que é estéticamente aceitável, a opressão e repressão sexual, os modelos fossilizados de gêneros e relacionamentos.
Enquanto amar pede ação, confiança pede sentimento, entrega, rendição. Sentimento porque deve vir do coração, da emoção; não da mente, da razão. Entrega porque a doação deve ser total e voluntária. Rendição porque não deve ter resistência nem suspeita. Somente há confiança quando se abandona o orgulho e isso não tem coisa alguma a ver com humildade, mas sim acreditar na capacidade e na competência do outro.
Na dimensão humana, ter amor e confiança soam como uma utopia. Na entrada do círculo, diante de sua sacerdotisa, de sua comunidade, de nossos Deuses, nos é demandado que sejam perfeitos. Eu pedi compaixão e misericórdia, pois eu tinha para apresentar apenas as mãos vazias, a alma aberta e o coração faminto.
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